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sexta-feira, julho 24, 2015

"Todo mundo feliz de dizer que culpada pela corrupção é a Dilma"

A ex-candidata presidencial Marina Silva criticou, nesta noite, 23, a postura da sociedade brasileira de culpar a presidente Dilma Rousseff pelas mazelas de corrupção no Brasil e discursou sobre a importância de a sociedade brasileira sair da posição de "espectadora da democracia" para passar a autora do processo democrático. "Aqui no Brasil está todo mundo feliz de dizer que a culpada pela corrupção é a Dilma. Quando a corrupção virar um problema nosso, criaremos instituições para coibi-la", disse Marina, defendendo que as pessoas tomem responsabilidade na política.
"Não é sustentável acharmos que a corrupção é o problema de uma pessoa, de um grupo ou de um partido", prosseguiu a ex-candidata ao citar outros políticos que viram alvos de argumentações simplistas como culpados pela existência de corrupção no País, como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Sarney (PMDB).
Marina argumentou que o Brasil só saiu da ditadura quando ela virou um problema de toda a sociedade e não apenas dos militares. "Enquanto a ditadura era um problema apenas dos militares, a coisa era feia."

Internet e democracia
Marina, hoje ainda filiada ao PSB, participa de um evento sobre novas tecnologias e internet, que discute como novas ferramentas podem permitir um envolvimento maior da população. Ela avaliou que a internet pode permitir um envolvimento mais direto com a política, no que classifica de "democracia prospectiva". Essa maneira de interagir, no seu entender, é uma forma de responder à crise civilizatória por que passa o Brasil e o mundo, em que cidadãos tem autonomia para se comunicar e pensar projetos. "A internet possibilita a bilhões de seres humanos entrarem em contato direto um com os outros, de forma que possam prospectar formas de ampliar a democracia", afirmou.
Líder do projeto de um novo partido, a Rede Sustentabilidade, Marina disse que a legenda que tenta criar é uma iniciativa no Brasil, como existem outras no mundo, de "democratizar a democracia", mudando a relação da sociedade com a representação. A ex-candidata discursou sobre sua militância para que a sociedade assuma papel de protagonista e não de espectadora da política. "Esse mundo em crise não terá resposta se for para imaginar que os políticos ou empresários vão fazer as mudanças pela sociedade", afirmou. Ela também defendeu o que chama de "ativismo autoral" para substituir o que classifica como "autorismo dirigido", organizado por grandes corporações, igrejas ou sindicatos.
O evento que Marina participou discutiu ferramentas digitais para ampliar as possibilidades de democratizar a representação política, coordenado pela organização Eu Voto. Além da ex-senadora, participa da exposição o argentino Santiago Siri, cofundador do partido de la Red.
Siri relatou a experiência do partido de la Red, na Argentina. A legenda, que foi oficializada em 2013, com atuação em Buenos Aires, propôs uma espécie de projeto piloto de democracia no Legislativo municipal da capital argentina. O partido usa um software livre, chamado Democracia OS, em que votações de projetos de lei são discutidos com eleitores. Os parlamentares da legenda se comprometem em votar pela decisão tomada através do software.

terça-feira, junho 30, 2015

Grécia: entenda a crise e conheça o novo governo

O guia definitivo para entender, com perguntas e respostas, a crise da Grécia e o novo governo de esquerda do Syriza. Por Gianni Carta
Tsipras-Syriza
Tsipras entre apoiadores do Syriza, no último domingo 25
 
 
 
 
 
 
 
 
Em meio à maior crise econômica de sua história, os gregos foram às urnas no último domingo 25 e colocaram o país nas mãos de Alexis Tsipras, líder da legenda radical de esquerda Syriza. A partir das perguntas e respostas abaixo, entenda de forma simples e direta a dimensão da crise grega, quem é Tsipras e seu partido, o Syriza, e quais são as implicações para o povo grego e a Europa em geral com a ascensão da esquerda radical ao poder no país:
Como explicar a crise na Grécia?
A crise teve início com a recessão, seis anos atrás. Os socialistas (Pasok) cederam a uma política econômica de austeridade imposta pela chamada “troika” (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional). Assim, obtiveram 110 bilhões de euros em 2010. No entanto, a situação do povo é desastrosa. Déficits públicos, desemprego, pobreza, queda de produtividade etc. No plano político, um dos resultados foi a demissão do premier socialista George Papandreou, do Pasok, a legenda dominante no pós-Segunda Guerra Mundial. Papandreou, filho de Andreas Papandreou, fundador do Pasok, deixou o cargo em novembro de 2011. O governo conservador do ex-primeiro-ministro Antonis Samaras, da Nova Democracia, em coalizão com o Pasok, continuou as reformas draconianas para manter a Grécia na Zona do Euro. Samaras achava que o programa de austeridade eventualmente renderia frutos. Não foi o caso. Eis um motivo importante: a taxa de juros tem sido mais elevada do que a de crescimento. Por essas e outras, Alexis Tsipras, líder da legenda radical de esquerda Syriza, venceu as legislativas de domingo 25. A prioridade do premier Tsipras é renegociar a dívida com os credores internacionais, e pôr um fim na política de austeridade.
A crise grega é mesmo assim tão profunda? Quais são os números que a comprovam?
Comecemos pela dívida. Após o já citado primeiro empréstimo de 110 bilhões de euros em 2010, houve um segundo, em março de 2012, de 130 bilhões de euros. Portanto, a dívida é de 240 bilhões de euros, ou 175% do PIB. No entanto, após cinco anos de empréstimos da troika à Grécia ficou claro que o programa de austeridade não funciona. A Grécia sofreu uma queda de produtividade de 25%, tem um nível de desemprego de 26% –entre 25 e 35 anos chega a 50%. Mais de 30% da população está mergulhada na miséria. E os impostos, inclusive o IPTU, têm um enorme impacto na classe média.
O Syriza tem maioria no Congresso para implementar suas medidas?
Sim, o Syriza tem maioria no Congresso. Surpreendeu como Tsipras forjou uma aliança com tamanha velocidade. E eis outra surpresa: o partido radical de esquerda angariou 36,3% dos votos, e, graças ao “bônus” de 50 assentos garantidos ao primeiro partido pela lei eleitoral da Grécia, obteve 149 cadeiras. Com esse resultado, precisava de apenas duas para obter uma maioria absoluta. Para obter mais de 151 cadeiras, forjou uma aliança com os Gregos Independentes (Anel), que obtiveram 13 assentos. Trata-se de uma legenda direitista e populista. Numerosos eleitores ficaram decepcionados com a escolha, mas ambas legendas lutam contra a austeridade, e querem renegociar a dívida. Embora as agremiações não tenham afinidades ideológicas, Tsipras foi hábil na escolha. E, mais uma vez, revelou seu pragmatismo.
Com a vitória do Syriza, há chances reais de a Grécia melhorar sua situação?
O voto no Syriza foi de protesto. Tratou-se de um referendo contra a austeridade, para que a economia possa, assim, ser relançada. Embora sejam atraentes as propostas da legenda radical de esquerda, numerosos eleitores da sigla sabem que várias delas não serão cumpridas. O objetivo-mor de Tsipras é conferir maior poder aquisitivo ao povo. Por exemplo, o premier diz que vai aumentar o salário mínimo de 580 para 750 euros por mês. Oferecerá 13º salários para aposentados que recebem menos de 700 euros mensais. Introduzirá isenções ficais, e políticas de bem-estar para os menos favorecidos. Abolirá a Enfia, o IPTU, o que levou cidadãos de classes mais endinheiradas a votar em Tsipras.
Essas medidas têm um preço, especialmente em um país que não consegue quitar suas dívidas.... como resolver essa equação?
De fato, o preço é alto: 12 bilhões de euros. Ademais, desde o final de 2014 a Grécia espera uma fatia de ajuda financeira dos credores internacionais no valor de 7,2 bilhões de euros. Como se isso não bastasse, terá de reembolsar 4 bilhões de euros aos credores europeus até março, e mais 8 bilhões de euros até julho e agosto. Stan Draenos, analista político e biógrafo de Andreas Papandreou, disse a CartaCapital que Tsipras pretende usar “dinheiro que não existe”. No entanto, o economista Georges Stathakis disse ao vespertino Le Monde que o governo receberá 6 bilhões de fundos europeus, e mais 3 bilhões de euros oriundos da luta contra a fraude fiscal. Segundo Stathakis, agora no novo gabinete de Tsipras, não será difícil levantar os restantes 3 bilhões de euros. Todos esses cálculos, é claro, dependem da negociação da dívida.
Como o novo governo negociará a dívida, e quais são os maiores obstáculos?
Tsipras é habilidoso. Diz, por exemplo, estar em busca de um compromisso, não de um confronto. O premier quer, afinal, que a Grécia continue na Zona do Euro. Os credores dizem que não haverá amortização da dívida, mas algumas vozes da troika já falam em uma possível reestruturação. Dois ministros europeus consideram uma extensão das parcelas de pagamentos da dívida. Neste ano, a Grécia terá de desembolsar 20 bilhões de euros. É importante observarmos como se comportaram os líderes europeus para avaliar com quem Tsipras lidará. Por exemplo, embora prudentes, o presidente francês, François Hollande, e o premier italiano, Matteo Renzi, estiveram entre os primeiros a parabenizar Tsipras. Tanto Hollande quanto Renzi querem servir de mediadores entre a esquerda e a direita europeia. Outros líderes, e em primeiro lugar a chanceler conservadora alemã Angela Merkel, estão inquietos. No início deste mês de janeiro, Merkel disse ao semanário Spiegel que não seria uma “catástrofe” se a Grécia deixasse a União Europeia. Após a vitória de Tsipras a chanceler alemã observou: “Toda nossa política visa a permanência da Grécia na Zona do Euro”. No entanto, observadores sabem que, nas negociações, Merkel será inflexível.
Caso a Grécia decrete o calote da dívida, o país não pode sofrer sanções? Não é pior para a população?
A maior sanção seria a saída da Grécia da Zona do Euro, e da União Europeia. Um calote de Atenas significaria se isolar de outros mercados europeus. Mais: o país não teria acesso aos mercados financeiros. Isso sim seria uma catástrofe, inclusive para o povo grego.
Syriza-tsipras
O novo premier chega para seu primeiro dia de trabalho, na última quarta-feira 28
O Syriza é comunista, bolivariano, ou algo assim?
Em língua grega Syriza é acrônimo para Coalizão da Esquerda Radical. Criada em 2004, a sigla aglutina formações de diferentes inclinações esquerdistas. Na verdade, o partido central para a formação do Syriza foi a sigla Synapismos, também formado de movimentos esquerdistas e ecológicos. Tsipras, vale lembrar, foi o líder da ala jovem do Synapismos. O Syriza, como diz o nome, é de esquerda radical. Em suma, rema contra uma política de austeridade em uma economia de mercado. Acredita que o Estado deva intervir na economia, que não seria regulada pela “mão invisível”. No entanto, se Tsipras quiser continuar na Zona do Euro, ele não poderá ser o líder do único país de inspiração Keynesiana no mercado livre a reinar na União Europeia. Tsipras está se revelando mais social-democrata do que radical de esquerda, e, portanto, mais próximo de Renzi, o primeiro-ministro italiano. Por essas e outras, tem dificuldades em lidar com cerca de 30% de filiados do Syriza contrários a deixar a Grécia na Zona do Euro. Vale anotar que Tsipras deu o nome a um de seus dois filhos de Orphée-Ernesto, uma homenagem a Ernesto Ché Guevara.
A vitória do Syriza na Grécia pode ajudar em outros bons desempenhos da esquerda Europa afora?
Sem dúvida. O Podemos, também esquerdista radical na dianteira nas legislativas de fim de ano na Espanha, ficou mais motivado. O partido de Pablo Iglesias, de 36 anos, já superou o lendário Partido Socialista (PSOE). O premier espanhol Mariano Rajoy tem razões para estar preocupado com a vitória do Syriza. Na Alemanha, o partido de esquerda radical Die Link, líder de uma aliança no estado da Turíngia, parabenizou Tsipras. Embora não seja muito popular na França, o fundador da Frente de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, disse ao saber da vitória do Syriza: “Somos todos gregos nesta noite”. O Partido Comunista Francês também parabenizou Tsipras.
A extrema-direita pode se fortalecer em resposta ao Syriza?
E como. A Aurora Dourada, partido de extrema-direita grego, obteve 17 cadeiras, ou o terceiro lugar no pleito de domingo 25. Empatou com o To Potami (O Rio), de centro-esquerda e pró-europeu. A Aurora Dourada perpetra uma violência inaudita contra imigrantes. Vários de seus líderes estão na cadeia, inclusive o presidente da sigla, Nikos Michaloliakos. E mesmo com uma campanha fraca, por falta de liderança, a legenda obteve o terceiro lugar. Por sua vez, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, na França, apoiou o Syriza. Isso a despeito do fato de Tsipras querer permanecer na Zona do Euro, e Le Pen querer cair fora. Seria uma contradição? Nada disso, sustenta Le Pen. “Trata-se de o povo reassumir a luta contra o totalitarismo da UE.”
Há algum paralelo entre a situação na Grécia e o Brasil ou entre o Syriza e alguma agremiação política brasileira?
O paralelo, no sentido econômico, seriam aqueles anos em que o Brasil teve de negociar com o FMI. No entanto, embora o governo grego tentará negociar com a troika como o brasileiro fez com o FMI, existe uma grande diferença: a Grécia faz parte de uma comunidade chefiada por líderes favoráveis ao mercado livre. Portanto, Tsipras não terá de negociar somente com o FMI, mas também com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, e com líderes inflexíveis como Angela Merkel. Quanto aos partidos, não há ainda no Brasil um partido de esquerda radical com um líder que possa chegar aonde chegou Tsipras. E nem um partido esquerdista com a estrutura do Syriza. O Partido dos Trabalhadores pode ter sido uma formação mais moderada a aglutinar diferentes inclinações esquerdistas, mas nunca foi radical. E agora, sob Dilma Rousseff, adotou uma política neoliberal. Ademais, a ascensão do Syriza, fundado em 2004, foi meteórica. A do PT foi mais lenta.
Fonte: Carta Capital.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



domingo, junho 21, 2015

Crise de 1929 e Regimes Totalitários

REGIMES TOTALITÁRIOs
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Europa teve de enfrentar uma de suas piores crises econômicas. O uso do território europeu como principal palco de batalha acarretou na redução dos setores produtivos e inseriu a população de todo continente em um delicado período de pobreza e miséria. Além dos problemas de ordem material, os efeitos da Grande Guerra também incidiram de forma direta nos movimentos políticos e ideologias daquela época.

Como seria possível retirar a Europa daquela crise? Essa era uma questão que preocupava a população como um todo e, com isso, diversas respostas começaram a surgir. Em um primeiro momento, a ajuda financeira concedida pelos Estados Unidos seria uma das soluções para aquela imensa crise. No entanto, as esperanças de renovação sustentadas pelo desenvolvimento do capitalismo norte-americano foram completamente frustradas com a crise de 1929.

Dessa maneira, a sociedade europeia se mostrava completamente desamparada com relação ao seu futuro. As doutrinas liberais e capitalistas haviam entrado em total descrédito mediante sucessivos episódios de fracasso e indefinição. Paralelamente, socialistas e comunistas – principalmente após a Revolução Russa de 1917 – tentavam mobilizar a classe trabalhadora em diversos países para que novos levantes populares viessem a tomar o poder.

A crise, somada às possibilidades de novas revoluções populares, fez com que muitos vislumbrassem uma nova onda de instabilidade. Foi nesse momento em que novos partidos afastados do ideário liberal e contrários aos ideais de esquerda começaram a ganhar força política. De forma geral, tais partidos tentavam solucionar a crise com a instalação de um governo forte, centralizado e apoiado por um sentimento nacionalista exacerbado.

Apresentando essa perspectiva com ares de renovação, tais partidos conseguiram se aproximar dos trabalhadores, profissionais liberais e integrantes da burguesia. A partir de então, alguns governos começaram a presenciar a ascensão de regimes totalitários que, por meio de golpe ou do apoio de setores influentes, passaram a controlar o Estado. Observamos dessa forma o abandono às liberdades políticas, e as ideologias sendo enfraquecidas por um governo de caráter autoritário.

Na Itália e na Alemanha, países profundamente afetados pela crise, o fascismo e o nazismo ascenderam ao poder sob a liderança de Benito Mussolini e Adolf Hitler, respectivamente. Na Península Ibérica, golpes políticos engendrados por setores militares e apoiados pela burguesia deram início ao franquismo, na Espanha, e ao salazarismo, em Portugal.

Em outras regiões da Europa a experiência totalitária também chegou ao poder pregando o fim das liberdades civis e a constituição de governos autoritários. Na grande maioria dos casos, a derrocada do nazi-fascismo após a Segunda Guerra Mundial, serviu para que esses grupos extremistas fossem banidos do poder com o amplo apoio dos grupos simpáticos à reconstrução da democracia e dos direitos civis.

  

Crise de 1929 e suas conseqüências mundiais


Com o fim da Primeira Guerra Mundial os Estados Unidos viviam o seu período de prosperidade e de pleno desenvolvimento (anos felizes), sua economia tinha se tornado a mais poderosa do mundo.
Entretanto a partir de 1925, a economia norte-americana começou a passa por sérias dificuldades. Entre os motivos que acarretaram essa crise, destaca-se o aumento da produção que não acompanhou o aumento dos salários, a mecanização gerou muito desemprego e a recuperação dos países europeus, logo após a 1ª Guerra Mundial. Esses eram potenciais compradores dos Estados Unidos, porém reduziram isso drasticamente devido à recuperação de suas econômicas.

Diante da contínua produção, gerada pela euforia norte-americana, e a falta de consumidores, houve uma crise de superprodução. Os agricultores, para armazenar os cereais, pegavam empréstimos, e logo após, perdiam suas terras. As indústrias foram forçadas a diminuir a sua produção e demitir funcionários, agravando mais ainda a crise.

A crise naturalmente chegou ao mercado de ações. Os preços dos papéis na Bolsa de Nova York, um dos maiores centros capitalistas da época, despencaram, ocasionando o crash (quebra). Com isso, milhares de bancos, indústrias e empresas rurais foram à falência e pelo menos 12 milhões de norte-americanos perderam o emprego.
Abalados pela crise, os Estados Unidos reduziram a compra de produtos estrangeiros e suspenderam os empréstimos a outros países, ocasionando uma crise mundial. Um exemplo disso é o Brasil, que tinha os Estados Unidos como principal comprador de café. Com a crise, o preço do café despencou e houve uma superprodução, gerando milhares de desempregados no Brasil.

Para solucionar a crise, o eleito presidente Franklin Roosevelt, propôs mudar a política de intervenção americana e aprovou uma série de medidas conhecidas como New Deal. Se antes, o Estado não interferia na economia, deixando tudo agir conforme o mercado, agora passaria a intervir fortemente. Com isso, os Estados Unidos conseguiram retomar seu crescimento econômico, de forma gradual, tentando esquecer a crise que abalou o mundo.

Os efeitos da Grande Depressão foram sentidos no mundo inteiro. Estes efeitos, bem como sua intensidade, variaram de país a país.

Uma conseqüência importante é o peso da crise internacional no processo que levou à Segunda Guerra Mundial.

Crise de 1929 e Totalitarismo – Exercícios
01. (FUVEST) O período entre as duas guerras mundiais (1919 – 1939) foi marcado por:
a) crise do capitalismo, do liberalismo e da democracia e polarização ideológica entre fascismo e comunismo;
b) sucesso do capitalismo, do liberalismo e da democracia e coexistência fraterna entre fascismo e comunismo;
c) estagnação das economias socialistas e capitalistas e aliança entre os EUA e a URSS para deter o avanço fascista da Europa;
d) prosperidade das economias capitalistas e socialistas e aparecimento da Guerra fria entre os EUA e a URSS;
e) coexistência pacífica entre os blocos americano e soviético e surgimento do capitalismo monopolista.
02. (UNITAU) O nazismo e o fascismo surgiram:
a) do desenvolvimento de partidos nacionalistas, com pregações em favor de um Executivo forte, totalitário,
com o objetivo de solucionar crises generalizadas diante da desorganização surgida após a Primeira Guerra;

b) da esperança de conseguir estabilidade com a união das “doutrinas liberais” de tendências individualistas;
c) com a instituição do parlamentarismo na Itália e na Alemanha, agregando partidos populares;
d) com o enfraquecimento da alta burguesia e o apoio do governo às camadas lideradas pelos sindicatos
socialistas;

e) do coletivismo pregado pelos marxistas.
03. (FUVEST) Em seu famoso painel Guernica, Picasso registrou a trágica destruição dessa cidade basca por:
a) ataques de tropas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial;
b) republicanos espanhóis apoiados pela União Soviética durante a Guerra Civil;
c) forças do Exército Francês durante a Primeira Guerra Mundial;
d) tropas do governo espanhol para sufocar a revolta dos separatistas bascos;
e) bombardeio da aviação alemã em apoio ao general Franco contra os republicanos.

04. (FUVEST) “Mas um socialismo liberado do elemento democrático e cosmopolita cai como uma luva para
o nacionalismo.” Esta frase de Charles Maurras, dirigente da Action Française, permite aproximar pensamento da ideologia:

a) fascista
b) liberal
c) socialista
d) comunista
e) democrática

05. (UFES) A Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), em que mais de 1 milhão de pessoas perdeu a vida, terminou com a derrota dos republicanos e com a subida ao poder do general Francisco Franco. O Estado Espanhol, após a vitória de Franco, caracterizou-se como:
a) democrático com tendências capitalistas;
b) democrático com tendências socialistas;
c) populista de esquerda;
d) totalitário de direita;
e) totalitário de esquerda.

06. (FGV) Entre as duas Guerras Mundiais (1919 – 1939), ocorreram alguns fatos históricos relevantes. Merecem destaque a:
a) ascensão da República de Weimar, a eclosão da Guerra da Coréia e a proclamação da república do Egito;
b) quebra da Bolsa de Nova Yorque, a proclamação da República Popular da China e a criação do estado de
Israel;

c) deflagração da guerra entre Grécia e Turquia, a eleição  de presidentes socialistas na França e em Portugal e a constituição do Pacto de Varsóvia;
d) ascensão do nazismo na Alemanha, o início da Nova Política Econômica na Rússia e a deflagração da
Guerra Civil na Espanha;

e) ascensão do fascismo italiano, a criação do Mercado Comum Europeu e a invasão do Afeganistão pela
União Soviética.

07. (FUVEST) A ascensão de Hitler ao poder, no início dos anos trinta, ocorreu:
a) pelas mãos do Exército Alemão, que quis desforrar-se das humilhações impostas pelo Tratado de Versalhes;
b) através de uma  ação golpista, cuja ponta de lança foram as forças paramilitares do Partido Nazista;
c) em conseqüência de uma aliança entre os nazistas e os comunistas;
d) a partir de sua convocação pelo presidente Hindenburg para chefiar uma coalizão governamental;
e) através de uma mobilização semelhante à que ocorreu na Itália, com a marcha de Mussolini sobre Roma.

08. 1. “Ao contrário das velhas organizações que vivem fora do Estado, os nossos sindicatos fazem parte
do Estado.” (Mussolini)

2. “Defender os produtores significa combater os parasitas. Os parasitas do sangue, em primeiro
lugar os socialistas, e os parasitas do trabalho, que podem ser burgueses ou socialistas.”  (Mussolini)

3. “Mesmo neste momento, tenho a sublime esperança de que um dia chegará a hora em que essas
tropas desordenadas se transformarão em batalhões, os batalhões em regimentos e os regimentos em divisões.” (Hitler)

4. “Aqueles que governam devem saber que têm o direito de governar porque pertencem a uma raça
superior.” (Hitler)

Nas citações acima, encontramos algumas das principais características do nazismo e do fascismo. Identifique-as, ordenadamente, nas alternativas abaixo:
a) Expansionismo, nacionalismo, romantismo, idealismo.
b) Corporativismo, anticomunismo, militarismo, racismo.
c) Totalitarismo, socialismo, esquadrismo, anti-semitismo.
d) Liberalismo, comunismo, antimilitarismo, corporativismo.
e) Pacifismo, não-intervencionsimo, industrialismo, anti-semitismo.

09. Por mais de um século, a Espanha estivera dividida entre grupos hostis de reacionários, monarquistas e
religiosos de um lado, e liberais burgueses, anticlericais e socialistas do outro. Em 1931, uma revolução instalou a República e foram promulgadas severas leis contra o Exército, os latifundiários e a Igreja. Em julho de 1936, no entanto, irrompeu a contra-revolução, levando a uma guerra civil que se prolongou por cerca de três anos e que teve como principal conseqüência:

a) a vitória das forças democráticas e da monarquia parlamentar sob o comando do rei Juan Carlos;
b) a ascensão do socialismo, que vigorou até meados da década de 70;
c) a implantação do franquismo, com o apoio da Itália e da Alemanha;
d) o triunfo das forças populares, que levou à união nacional e pôs fim às rivalidades entre os habitantes do país;
e) o enfraquecimento da Espanha e sua submissão à França e Inglaterra.

10.
“Quando a crise estourou, o governo do presidente Hoover, do Partido Republicano, adotou uma
atitude passiva, de acordo com o sistema liberal dominante nos Estados Unidos. Mas os anos
passaram e a crise permaneceu. Viu-se então que os empresários americanos e o governo
republicano que os representava não seriam capazes de solucioná-la. Nas eleições presidenciais, os
republicanos apresentaram a candidatura de Herbert Hoover à reeleição, mas ele foi derrotado pelo
candidato dos democratas.”

O candidato vencedor foi:
a) John Kennedy
b) George Washington
c) Woodrow Wilson
d) Fraklin Roosevelt
e) Harry Truman

Respostas:

01. A
02. A
03. E
04. A
05. D
06. D
07. D
08. B
09. C
10. D

sábado, maio 30, 2015

Samuel Maia fala de Nova Política em entrevista

Samuel Maia  nasceu em uma família de pequenos agricultores do interior do Estado do Rio de Janeiro, que foram tentar a vida na cidade de Duque de Caxias localizado na Região Metropolitana do RJ. Ele sobreviveu à orfandade, ao sofrimento e ao trabalho duro na infância para se tornar um dos organizadores do movimento de estudantil, Pastorais Sociais e ativistas que lutavam pelos direitos dos trabalhadores. Nos anos 80 e 90, eles organizaram Movimentos Sociais. Desde que foi gestor público em governos de chefes de executivos de origem popular; Subsecretário de Estado do RJ de Benedita da Silva (PT), Coordenador do Arquivo Nacional da Presidência da Repúblicano governo de Lula(PT) e Secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Abastecimento do governo Zito (PSDB), Samuel Maia galvanizou a idéia que só a transparência/controle social pode radicalizar e melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro. Jornalista, Mestre em História, Especialista em Gestão Pública e Pós-Graduado em Gestão Ambiental
Desde 2013, tem trabalhado para criar um novo partido, a Rede Sustentabilidade. As leis eleitorais do Brasil exigem 492 mil assinaturas de apoio e autenticação pelos cartórios antes que a legenda possa ser registrada. A menos que isso seja feito até 5 de outubro, exatamente um ano antes das próximas eleições, o partido não poderá eleger candidatos, colocando o futuro político de Samuel Maia em dúvida. Embora tenham conseguido mais de 900 mil  assinaturas em 2013, o TSE não aprovou a criação da nova legenda, apenas 450 mil haviam sido autenticadas, nesta semana foram protocoladas 56 mil novas certidões e solicitado o desarquivamento e registro da REDE, quando o Informe Brasil (IF)  conversou com Samuel Maia na sala de professores de uma das Escolas em que trabalha sobre o programa de governo da Rede e sua corrida contra o relógio. Segue uma transcrição editada dessa conversa.

Informes Brasil – Vamos falar sobre a Rede de Sustentabilidade, o novo partido que você e Marina Silva estão tentando criar. Como fica sua situação com menos de cinco meses para terminar o prazo de 5 de outubro?
Samuel Maia – Nós coletamos 01 milhão assinaturas para que pudéssemos atingir as 492 mil exigidas para o partido ser registrado. Infelizmente a maioria dos cartórios perdeu o prazo para a validação das assinaturas em 2013– há um prazo de 15 dias. E nesta nova coleta de assinaturas tivemos esse atraso. Mesmo assim, encaminhamos agora 56 mil assinaturas já certificadas. Creio que agora o TSE acatará o pedido. Este  não é um partido cartorial. É um partido orgânico que participa das lutas democráticas.
Qual é o seu plano B?
Não tenho. Tenho convicção do Registro da Rede
Os resultados das eleições de 2014 também são uma indicação de apoio social, certo?
Sim, em Duque de Caxias Marina Silva obteve 31% dos votos e aqui Ela fez o seu único Comício em Praça Pública, uma vitoria do Coletivo Municipal da Rede Duque de Caxias
Quando começou o Projeto da Rede?
Começamos em 2011 com o Movimento da Nova Política e tomamos a decisão de criar o partido político em 16 de fevereiro de 2013.
Uma pesquisa de opinião revela hoje que o apoio a você como candidato a prefeito está crescendo na cidade de Duque de Caxias. A que se deve isto?
Ainda é cedo para definirmos as coisas, mas, o que sinto é um esgotamento do modelo atual do fazer política e este atestado de incompetência dos atuais gestores, aliado a isto a corrupção endêmica. Os eleitores ainda estão formando suas opiniões. Assim, as pesquisas, na melhor das hipóteses, refletem um momento e nem sempre conseguem captar as reais intenções dos eleitores.
Um colega meu, o entrevistou alguns anos atrás e escreveu que você era um daqueles políticos raros que parece “muito integro para ser jogado em um duelo eleitoral em uma democracia burguesa.” Algum duque-caxiense, talvez, concorde, porque você tem essa posição de ser uma voz ética na política de Duque de Caxias e alguns duque-caxienses podem pensar que seria melhor ter um líder que sabe tomar parte nesse duelo. Honestamente, você quer ser prefeito da cidade ou quer ser uma voz ética que não tem compromisso?
Política é servir, assim, é como faço, sirvo ao coletivo. Esse serviço pode ser prestado como prefeito,secretário, governador, presidente, como um professor, um senador, um ministro de governo, um cidadão. Quando fui assumir minha primeira experiência de gestor público, muitas pessoas disseram: “Você é um militante social que ajuda o processo avançar, no governo será cooptado e poderá se corromper!”. Passei por três experiências como gestor público e hoje estas mesmas pessoas é que me lançam pré-candidato a Prefeito na cidade de Duque de Caxias.
Você saiu do PT na crise do Mensalão e ficou no governo do PSDB, não há um questionamento a isto?
Minha saída do PT foi um ato político de manter-me fiel aos meus princípios e valores e no governo do PSDB, jamais mudei minha postura ou abri mão destes princípios e valores, fato que em 2011 um grupo ligado ao PSOL me procurou me convidando a ir para a legenda para ser candidato à Prefeito em 2012, em respeito ao governo que Eu participava aos militantes mais sectários do PSOL e a estes que me convidaram declinei do convite, para evitar polêmicas. .
A Rede tem claramente um forte foco no meio ambiente, mas governar um país requer políticas em muitas outras áreas, por exemplo, a economia.
Nosso eixo estratégico é o desenvolvimento sustentável. Isso inclui todas as questões que dizem respeito ao modelo de desenvolvimento social e econômico. Nesse modelo está posto o desafio de preservar as bases do desenvolvimento, que são os recursos naturais.
No Brasil, isso significa, necessariamente, grandes investimentos em educação, tecnologia e inovação. Isso nos dará a possibilidade de transformar nossas vantagens comparativas em vantagens competitivas. O Brasil é o país com a maior área de insolação do planeta. No momento em que estamos buscando fontes de geração de energia para substituir os combustíveis fosseis, isso se constitui grande vantagem comparativa. O problema é que até agora, infelizmente – e esse governo não é diferente – os governos não têm valorizado essa importante fonte de energia. O Brasil é detentor de um potencial hídrico para geração de energia invejável e, se atendidas as necessidades sociais, ambientais e culturais, esse potencial deve ser utilizado. Nós temos um potencial muito grande de energia eólica e biomassa. Temos uma grande área de terra para a agricultura, com tecnologia que nos permite dobrar a produção sem derrubar mais nenhuma árvore, e 11% da água doce disponível do mundo.
O Brasil no século 21 tem tudo o que precisa, tanto para preservar estes ativos quanto para usá-los para dar uma vida digna a todos os seus cidadãos. É essencial, porém, investirmos em infraestrutura para nos tornarmos mais produtivos. Hoje nós perdemos cerca de 30% da nossa produção agrícola por causa de problemas de logística, incluindo armazenamento e transporte.
Uma das coisas que torna difícil a construção de infraestrutura no Brasil é o complicado processo de obtenção de licenças ambientais. Como lidar com essa dificuldade?
As licenças ambientais não atrapalham. Elas podem agilizar os processos. Não é razoável que se tenha investimentos de bilhões e bilhões e não se viabilize alguns centavos para que se tenha uma estrutura de licenciamento à altura desses investimentos. Mas quem conhece o setor sabe que, com a ampliação do quadro técnico, o fortalecimento das diretorias de licenciamento, é perfeitamente possível fazer essa agilização.
Os processos em si não precisam ser simplificados?
Muitas coisas já foram ajustadas. Mas muitas coisas que as pessoas chamam de burocracia são problemas reais que precisam ser resolvidos. Você não pode dizer que é burocracia ter de encontrar uma solução para as populações indígenas. Ou proteger a biodiversidade. Ou garantir que, quando você constrói um reservatório de uma usina hidrelétrica, não aumente a incidência de malária devido à proliferação de mosquitos. O que queremos é uma visão de licenciamento que inclua os dois aspectos: a necessidade de investimentos estratégicos e de proteção social, ambiental e cultural. Quando há falta desses cuidados, há insegurança jurídica e atraso, pois o Ministério Público entra em ação e embarga os procedimentos. Quando são feitos de forma criteriosa, os procedimentos andam e não se cria esse tipo de problema.
No aspecto econômico, o Brasil tem um grande desafio político. Hoje temos um grande atraso na política, o que está ameaçando os avanços econômicos e sociais que conquistamos nos últimos anos. Há uma visão excessivamente patrimonialista da política, sobretudo dos partidos políticos. Hoje temos uma governabilidade baseada na partilha de cargos no governo para os partidos para que, assim, eles possam dar base de sustentação ao governo. Isso é insustentável. Temos, agora, cerca de 20 Secretarias na cidade de Duque de Caxias, o que tem levado a um custo muito alto da máquina pública.
O governo se tornou excessivamente fisiológico também, porque para manter sua base de apoio terceiriza tudo e contrata/nomeia por critérios de apoio de vereadores.
O que você faria diferente?
A população quer seus impostos revertidos em serviços de qualidade. Transparência/controle social, na nossa Lei Orgânica está o Conselho Popular de Orçamento (Orçamento Participativo), a lei está lá na Câmara para votar desde 2012, a gestão das Escolas, Postos de Saúde, Creches e Equipamentos de serviços devem ser compartilhadas com a sociedade. As Planilhas do Custo de Transporte devem ser escancaradas para efetivamente chegarmos a um preço único e justo. Enfim, a cidade deve dar um salto do século XIX e vir para o século XXI
Essa é uma visão utópica.
Bem, a visão de uma administração autoritária está superada em vários lugares e o que falo já existe em tantos outros, falta vontade política e o modelo atual beneficia apenas alguns.
Isso soa muito como a “terceira via”, visão do ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair.
Eu acho que vamos além disso, pois colocamos claramente a sustentabilidade como a superfície de sustentação para tudo. São políticas de longo prazo para os curtos prazos políticos.
Você acha que a política brasileira, em particular nas cidades, de mero curto prazo?
Eu acho que o imediatismo é um problema da política no mundo inteiro. Por exemplo, na reunião Rio+20 (A cúpula ambiental global no Rio de Janeiro, no ano de 2012) os países decidiram abrir mão dos recursos para a crise ambiental em função da crise econômica, sendo que a crise ambiental é mais grave do que a crise econômica. Não é a hora para pensar apenas nas próximas eleições, nem no Brasil, nem na Grã-Bretanha, nem nos Estados Unidos. É o momento de estar fazendo tudo o que é necessário, mas pensando também nas próximas gerações. Em Duque de Caxias o caso é pior há um retrocesso generalizado, porque o Prefeito pensa apenas em sua reeleição.
A minha impressão é que a política no Brasil é particularmente de curto prazo e venal, com o velho e bem conhecido ‘toma lá, dá cá’. Como você lidaria com esse lado mais tradicional da política brasileira, tentando manter a sua reputação como uma voz ética na política?
Eu acho que essa pergunta ficaria mais difícil de responder para os que estão praticando esse tipo de política. Mas quando você pensa em um país com o potencial do Brasil, com os desafios que tem neste início de século de quebrar os velhos paradigmas e ir para novos paradigmas, como pode ser possível continuar a fazer esse tipo de política? Então a questão é como se mover para um novo modelo político. Eu vejo dois caminhos. O primeiro é ter uma governabilidade programática, e não pragmática, que se tenha um projeto de país, não um projeto de poder. Que se tenha uma visão estratégica para os próximos 20, 30, 40 anos, onde o termo de referência é pactuado com sociedade e, com essa agenda estratégica, todos comprometidos com elas, quem decidirá quem vai governar é a sociedade. Isto seria o grande ganho político para sair desta forma predatória de fazer política.
Em uma democracia, o revezamento de poder é muito saudável, e por isso estamos trabalhando em uma segunda agenda, acima dessa agenda, que é um realinhamento político histórico. Nós reconquistamos nossa democracia (o Brasil foi governado por uma ditadura militar entre 1964 e 1985, com a democracia plena só restaurada em 1989). Nós conseguimos consolidá-la, mas infelizmente os governos ainda foram obrigados a governar com os escombros da “Velha República” (este é o nome geralmente dado ao período de 1889-1930, mas Marina Silva o usa em um sentido mais amplo para significar um antigo estilo clientelista da política). Tanto o PT (que detém a Presidência desde 2003) quanto o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira, o maior partido de oposição do Brasil, que governou entre 1994 e 2002) se tornaram reféns da Velha República. E nesse momento há a necessidade de um realinhamento histórico para que a “Nova República” passe a governar o país.
Assim, em cima de um programa de governo, eu advogo que, se porventura a Rede de Sustentabilidade tiver uma candidatura e essa candidatura for vitoriosa, será preciso dialogar com os melhores quadros do PT e do PSDB. Porque eles são a Nova República e estão sendo convidados pela sociedade brasileira que foi às ruas a aposentar a lógica da República Velha, que não tem mais o apoio da sociedade. Aqui em Duque de Caxias o atual Prefeito é oriundo do partido da Ditadura o ARENA e mantêm os mesmos vícios de seus antecessores.
Mas a República Velha ainda é muito forte.
Sim, mas o povo brasileiro é mais forte. Foi o povo que conseguiu reconquistar a democracia (em 1985, a ditadura militar se afastou depois de manifestações massivas de rua). Foi o povo que tornou possível a estabilidade econômica em um período muito difícil (o Brasil venceu a hiperinflação em 1993, com o Plano Real). Foi o povo que deu sustentabilidade política para resgatar 30 milhões de pessoas da pobreza extrema na última década. E foram as pessoas que saíram às ruas em junho para exigir um novo alinhamento político no Brasil.
Esta é, para você, a mensagem das ruas, que é hora de levantar-se contra a Velha República?
A mensagem dos protestos de junho de 2013 foi de que as pessoas querem um Brasil melhor. Não é apenas um fenômeno brasileiro. As sociedades estão demandando em todos os lugares uma melhor qualidade da representação política e uma maior quantidade de espaços de participação. A internet é uma ferramenta poderosa que nos permite manter contato em tempo real. Se as pessoas pensavam que a internet iria revolucionar negócios, ciência, tecnologia, cultura e espiritualidade, mas a política iria continuar do mesmo jeito, isso é uma ilusão que eu não pretendo cultivar. A política está mudando e vai mudar mais. As pessoas estão demandando um mundo melhor, no qual os bens e serviços prestados pelo Estado ou pela iniciativa privada tenham cada vez mais compromissos sociais e ambientais.
Seria justo dizer que o governo entendeu mal a mensagem das ruas, então? Que pensou estar sendo exigido mais consumo e elevação dos salários, ou seja, mais do mesmo?
Acho que havia uma crença muito difundida de que uma vez atendidas necessidades básicas – como acesso à alimentação, algum acesso à educação que ainda deixa muito a desejar em qualidade – isso era o suficiente. Mas as novas classes médias estão exigindo mais do que pão. Eles querem alta qualidade em educação e em outros serviços públicos. As manifestações mostraram que, embora tenha havido melhorias dentro das casas, quando as pessoas olham para a escola ou para o transporte, elas não encontram a qualidade que gostariam. Isso é o que estamos ouvindo: a polifonia de vozes que exigem qualidade na educação, transporte, saúde e assim por diante.
Muitas pessoas dizem que isto era pulverizado, mas não é verdade. O que une essas demandas é que elas todas visam um Brasil melhor, um mundo melhor. Cada pessoa, ao expressar isso, começa com a necessidade que está mais próxima, com certeza, mas isso não deve ser entendido como um individualismo, com uma demanda exclusiva. Alguém que exige um hospital “padrão Fifa” não está exigindo isso só para si, mas para todos (os protestos de junho coincidiram com a Copa das Confederações, um ensaio para a Copa do Mundo do próximo ano, que o Brasil sediará, e muitos manifestantes carregavam cartazes exigindo serviços públicos e infraestrutura do mesmo alto padrão dos estádios que o Brasil está construindo para satisfazer a Fifa, o órgão mundial de futebol). Quando alguém diz que quer ter capacidade de dar uma volta em sua cidade, eles não estão dizendo isso apenas por si, mas para todos. Exigências de segurança não são para uma pessoa, são para todos. A sociedade brasileira está aprendendo muito rapidamente que, em vez de querer viver em uma bolha, as pessoas querem um ecossistema que permita que todas possam florescer.
Quais os passos concretos que devem ser tomadas para melhorar, por exemplo, a educação?
Concordo com a recente decisão do Congresso de se destinar 10% do PIB para a educação. É correta porque temos o desafio muito grande de transformar as nossas vantagens comparativas em vantagens competitivas, e sem educação de qualidade isso não será possível. Também é importante porque o desenvolvimento do nosso país passa por políticas de longo prazo. Os investimentos precisam ser continuados, temos que acabar com esta lógica de que muda o governo e mudam as prioridades com ele. Na área da saúde, educação, infra-estrutura. Essa continuidade é necessária também para a confiança empresarial. Creio que para resolvermos 90% dos problemas juvenis, temos que implantar imediatamente a Escola em Tempo Integral.
O Brasil apresenta altos impostos para um país de rendimentos médios altos. Você acha que os impostos precisam subir ainda mais para acomodar novas demandas ou é uma questão de mudança de prioridades dentro do gasto total?
A qualidade da despesa pública precisa ser melhorada e muito. Hoje, os contribuintes sabem que eles estão tendo um fardo pesado, mas quando eles olham para os benefícios, uma boa infra-estrutura, hospitais e escolas não estão lá. Parte do gasto extra na educação virá do pré-sal (vastos campos de petróleo em águas ultra-profundas do Brasil, descobertos em 2007 e ainda não em plena produção). É um desafio difícil: hoje, não podemos fazer nada sem o petróleo, que é um combustível fóssil e muito prejudicial, mas é essencial usar essas riquezas para investir em tecnologia, o que nos permitirá substituí-las por fontes renováveis. Devemos usar esses recursos tanto para melhorar a educação quanto para estabelecer uma base sustentável para a geração de energia a longo prazo.
Certamente os recursos do pré-sal não serão suficientes para dobrar os gastos com educação. E não são apenas melhores escolas que os brasileiros querem: eles querem também assistência médica e transporte melhores. O Brasil ainda não chegou ao ponto de fazer escolhas: quer mais de tudo. Isso é compreensível, mas em algum momento as prioridades de gastos precisam mudar, não podem ser mais de tudo.
Bem, uma maior eficiência ajudaria muito e o bloqueio do dreno da corrupção pública ajudaria muito também. Neste momento, o Ministério do Trabalho está sendo investigado por desvio de 400 milhões de reais ilegalmente, e isso é uma constante no Brasil, todo o tempo estamos substituindo os ministros por coisas como essa. Precisamos criar mecanismos que diminuam a corrupção e ajudem a controlar os gastos públicos. Hoje em dia é perfeitamente possível colocar todos os dados on-line em tempo real, acesso aberto, o que permite que a sociedade possa fiscalizar o que está sendo gasto. É realmente um desperdício se gastamos uma grande parte do Orçamento na criação de mais e mais ministérios, mais e mais empregos públicos para acomodar aliados políticos. A despesa tem de se tornar mais eficiente, para que possamos gastar em melhores serviços e investimento.
Mas o combate à corrupção vai além de controle e fiscalização: é preciso acabar com a impunidade. Quando pessoas consideram a possibilidade de infringir a lei e percebem que há uma chance muito pequena de serem punidas, aumenta o número dos que estão dispostos a correr esse risco. Quando você tem um grau de certeza maior de ser pego e punido, há uma queda significativa da corrupção. A transparência também inibe a corrupção: quando você sabe que está sendo observado, não apenas pela vigilância governamental habitual, como o Ministério Público, mas pela sociedade, isso ajuda muito.
Mas a corrupção só será enfrentada com eficiência quando deixar de ser vista como responsabilidade do governo e começar a ser vista como responsabilidade da sociedade. Somente quando a escravidão passou a ser vista como um problema social, e não um problema do governo, ela foi extinta. Foi a mesma coisa com a ditadura no Brasil, com a instabilidade econômica e, depois, com a pobreza extrema: essas questões foram finalmente enfrentadas quando deixaram de ser vistas como problemas para o governo resolver e foram adotadas pela sociedade. Será a mesma coisa com a corrupção, e isso já começou. Aqueles que pensam que as coisas vão voltar ao normal só estão se enganando. Nunca será a mesma coisa após os protestos.
Essa é uma visão muito otimista.
É uma visão persistente! Ele vem da minha experiência 35 anos atrás, eu estava, junto com Dom Mauro Morelli (Bispo Emérito da Diocese de Duque de Caxias e São João de Meriti), com estudantes, donas de casa, sindicalistas, lutando por passe-livre de estudante, asfalto, saúde... Hoje, conquistamos algumas das pautas e continuamos na luta para conquistar outras, em uma sociedade tão desigual as pequenas conquistas somadas levam a grandes transformações.


Duque de Caxias teve pouco desenvolvimento de infra-estrutura. O que aconteceu? Erros do governo?

Há uma lógica perversa e elitista neste atraso. Um pequeno grupo a 50 anos atrás, se apropriou da máquina da Prefeitura e das terras da cidade, não tem identidade com a cidade e vivem em endereços de luxo fora dela. Apesar de sermos o segundo município em riqueza no Estado do Rio de Janeiro, esta riqueza vai somente para as contas deste grupo. Uma ponta deste iceberg é que todos os atuais mandatários que se apresentam para a eleição majoritária de 2016 são acusados de corrupção. O clientelismo e compra de votos se faz presente nos processos locais. Mas, acredito na força transformadora do ser - humano.
O I Ciclo de Análise de Conjuntura, organizado pela Rede Sustentabilidade, visa o quê?

Será um momento de acúmulo de idéias, saberes e conhecimentos para uma transformação da cidade de Duque de Caxias. Não se constrói nada novo com idéias velhas. A atual administração em 01 ano já tinha esclerosado, fruto de práticas anti-republicanas e autoritárias. Queremos reunir o que há de melhor de recursos humanos na cidade de Duque de Caxias para construirmos um novo e virtuoso ciclo para a municipalidade.

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