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sábado, fevereiro 20, 2016

Revoluções inglesas do século XVII



MONARQUIAS ABSOLUTISTAS

No século XVII, basicamente, todas as potências europeias viviam sob o regime das monarquias absolutistas. Tais governos se fortaleceram desde os últimos tempos medievais, quando a crise que então assolava a Europa feudal abriu espaço à formação dos Estados Nacionais Modernos. Neste momento, a existência de um governo centralizador foi fundamental ao processo de unificação territorial, jurídica e monetária pelo qual passaram países como Portugal, Espanha, Inglaterra e França.
No entanto, com o passar dos anos, as críticas ao excessivo centralismo político por este Estado absolutista começaram a ganhar força em boa parte do Velho Mundo. A burguesia mostrava-se, então, como o grupo social responsável pelos principais ataques desferidos contra esse tipo de governo, o qual identificava como um poderoso empecilho ao desenvolvimento de práticas econômicas mais liberais e lucrativas.

MONARQUIA INGLESA

Embora as estuturas absolutistas tenham começado a ruir mais visivelmente ao longo do século XVIII, notadamente a partir da difusão dos ideais iluministas, este processo pôde ser percebido na Inglaterra já em meados do século anterior. Após os bem-sucedidos governos de Henrique VIII e Elizabeth I, os reinados de Jaime I (1603 – 1625) e Carlos I (1625 – 1649) foram marcados pelo agravamento das insatisfações sociais, o que acabou por debilitar o poder da Coroa.
O parlamento inglês, que há tempos buscava ampliar sua autonomia frente aos desmandos dos monarcas, mostrou-se ainda mais inconformado com as ações centralizadoras tomadas nesses dois últimos governos. A burguesia, interessada em um sistema econômico mais liberal, colocava-se claramente contrária ao intervencionismo estatal típico das monarquias absolutistas. Por fim, as reações de grupos religiosos perseguidos pelos reis anglicanos contribuíram igualmente para a fragilização do Absolutismo na Inglaterra.

REVOLUÇÃO PURITANA

Resultado de imagem para Oliver CromwellNos últimos anos do reinado de Carlos I, a Inglaterra assistiu ao desenrolar de uma violenta guerra civil. Em lados opostos estavam os defensores do monarca, grupos em sua maioria anglicanos, e a maioria dos burgueses e dos membros dagentry (pequena nobreza rural), em geral defensores da religião puritana. Ao lado do parlamento, estes opositores do rei foram liderados por Oliver Cromwell na bem- sucedida Revolução Puritana, processo que determinou a queda da monarquia inglesa.
A República de Oliver Cromwell (Foto) foi caracterizada por uma grande centralização do poder nas mãos de seu líder. A Revolução Puritana havia rompido com o monarquismo, mas não necessariamente com o autoritarismo. E foi utilizando-se desse seu poder que Oliver Cromwell estabeleceu os “Atos de Navegação”, um conjunto de medidas que favoreceram amplamente as relações comerciais feitas pela Inglaterra e, consequentemente, sua burguesia.

REVOLUÇÃO GLORIOSA

Com a morte de Oliver Cromwell e a renúncia de seu filho Ricardo, a monarquia acabou sendo restaurada. Assim, a dinastia Stuart voltava ao governo e Carlos II era coroado, dando início a um reinado extremamente autoritário. Mesmo com a ascensão de Jaime II ao poder, a monarquia inglesa continuava a tender ao absolutismo, o que gerava grande insatisfação nos parlamentares.
Formado basicamente por burgueses e membros da gentry, o parlamento constitui, então, um exército com o objetivo de depôr o rei. Ao mesmo tempo, negocia com Guilherme de Orange, genro de Jaime II, sua indicação para o trono real. Em contrapartida, o parlamento exigia que o novo rei jurasse obediência à “Declaração dos Direitos” (Bill of Rights). Sucedia-se, assim, a Revolução Gloriosa, cujo principal desdobramento foi a consolidação da monarquia parlamentar e a deposição do absolutismo inglês.
Sugestão de leitura: Através de suas revoluções “Puritana” e “Gloriosa”, a Inglaterra passou por grandes transformações políticas, sendo instaurada uma monarquia parlamentar até hoje existente. A partir de então, os direitos civis foram ampliados, como, por exemplo, o direito ao habeas corpus, que passou a ser mais solidamente garantido a todos os súditos da Coroa. No site JusBrasil você poderá encontrar definições jurídicas e importantes considerações sobre o conceito de habeas corpus, hoje previsto inclusive na Constituição brasileira. 

CAIU NO ENEM

(Enem 2012) Leia o texto a seguir: 
Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu cumprimento.
Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo diferentes dos designados por ele próprio.
Que é indispensável convocar com frequência os Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para corrigir, afirmar e conservar as leis”. 
(Declaração dos Direitos. Disponível em http://disciplinas.stoa.usp.br. Acesso em: 20 dez. 2011).
No documento de 1689, identifica-se uma particularidade da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime político que predominavam na Europa continental estão indicados, respectivamente, em:
a) Redução da influência do papa — Teocracia.   
b) Limitação do poder do soberano — Absolutismo.   
c) Ampliação da dominação da nobreza — República.   
d) Expansão da força do presidente — Parlamentarismo.   
e) Restrição da competência do congresso — Presidencialismo.    

Gabarito comentado: A opção correta é a letra B, pois indica corretamente as duas principais características da política inglesa ao longo do século XVII: até o sucesso das “Revoluções Inglesas” a monarquia encontrava-se estruturada em bases absolutistas, e após esses eventos desenvolveu-se um evidente processo de limitação do poder real e de fortalecimento do parlamento.
Por Leandro Augusto Martins Junior
Mestre em História Política pela UERJ

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Iluminismo

Introdução
O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século XVII na Europa, e pregava maior liberdade econômica e política. O Iluminismo era apoiado pela burguesia, pois os pensadores e os burgueses tinham interesses comuns. As críticas do movimento ao Antigo Regime eram em vários aspectos como: Mercantilismo (intervenção na economia); Absolutismo monárquico (proteção a nobreza); Poder da igreja (verdades reveladas pela fé). O Iluminismo defendia a liberdade econômica (ou seja, sem a intervenção do Estado na economia), o avanço da ciência e da razão (Antropocentrismo) e o predomínio da burguesia e seus ideais. Foi neste contexto que teve inicio a “revolução Iluminista” onde serão discorridos a seguir seus ideais, seus idealizadores bem como sua influência na formalização de um novo contexto dentro antiga sociedade e as futuras também.
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Iluminismo
No século XVIII, uma nova corrente de pensamento começou a tomar conta da Europa defendendo novas formas de conceber o mundo, a sociedade e as instituições. O chamado movimento iluminista aparece nesse período como um desdobramento de concepções desenvolvidas desde o período renascentista, quando os princípios de individualidade e razão ganharam espaço nos séculos iniciais da Idade Moderna. O iluminismo foi um movimento global, ou seja, filosófico, político, social, econômico e cultural, que defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. No século XVII o francês René Descartes concebeu um modelo de verdade incontestável. Segundo este autor, a verdade poderia ser alcançada através de duas habilidades inerentes ao homem: duvidar e refletir. Nesse mesmo período surgiram proeminentes estudos no campo das ciências da natureza que também irão influenciar profundamente o pensamento iluminista. O centro das idéias e pensadores Iluministas foi a cidade de Paris. Entre outros estudos destacamos a obra do inglês Isaac Newton. Por meio de seus experimentos e observações, Newton conseguiu elaborar uma série de leis naturais que regiam o mundo material. Tais descobertas acabaram colocando à mostra um tipo de explicação aos fenômenos naturais independente das concepções de fundo religioso. Dessa maneira, a dúvida, o experimento e a observação seriam instrumentos do intelecto capazes de decifrar as “normas” que organizam o mundo. Tal maneira de relacionar-se com o mundo, não só contribuiu para o desenvolvimento dos saberes no campo da Física, da Matemática, da Biologia e da Química. O método utilizado inicialmente por Newton acabou influenciando outros pensadores que também acreditavam que, por meio da razão, poderiam estabelecer as leis que naturalmente regiam as relações sociais, a História, a Política e a Economia.Um dos primeiros pensadores influenciados por esse conjunto de idéias foi o britânico John Locke. (1632-1704) Ele foi um dos principais representantes da revolução ideológica iluminista e teve como principal obra o Segundo tratado do governo civil. Para ele, contemporâneo da Revolução Gloriosa, os homens possuem a vida, a liberdade e a propriedade como direitos naturais. Para preservar esses direitos, deixaram o “estado de natureza” e estabeleceram um contrato entre si, criando o governo e a sociedade civil. Assim, os governos teriam por finalidade respeitar os direitos naturais e, caso não o fizessem, caberia à sociedade civil o direito de rebelião contra o governo tirânico. Para Locke, “[...] ao governante não lhe caberia jamais o direito de destruir, de escravizar, ou de empobrecer propositadamente qualquer súdito; as obrigações das leis naturais não cessam, de maneira alguma, na sociedade; tornam-se até mais fortes em muitos casos”. Sobre o entendimento humano, definiu sua filosofia, afirmando que todo o conhecimento se faz com a própria capacidade intelectual do homem e se desenvolve mediante sua atividade. O filósofo negava assim, o direito dos governantes ao autoritarismo e à aplicação do direito divino, além de outras prerrogativas fundamentadas em preconceitos. Barão de Montesquieu (1689-1755) – fez parte da primeira geração de iluministas. Sua obra principal foi “O espírito das leis” no ano de 1748 em que sistematizou a teoria da divisão de poderes (legislativo, executivo e judiciário). O equilíbrio entre os três poderes poderia conceber um Estado onde as leis não seriam desrespeitadas em favor de um único grupo. A independência desses poderes era contrária a do governo absolutista, onde o rei tinha completa liberdade de interferir, criar e descumprir as leis. Antes mesmo de a sociologia surgir, Montesquieu levantou questões sociológicas, e foi considerado um dos precursores da sociologia. Essa supremacia do poder real foi fortemente atacada pelo francês Voltaire (1694-1778) – Crítico da religião e da Monarquia, Voltaire é o homem símbolo do movimento iluminista. Foi um grande agitador, polêmico e propagandista das idéias iluministas, defendeu uma monarquia esclarecida, um governo baseado nas idéias dos filósofos. Para ele, a interferência religiosa nos assuntos políticos estabelecia a criação de governos injustos e legitimadores do interesse de uma parcela restrita da sociedade. Sem defender o radical fim das monarquias de sua época, acreditava que os governos deveriam se inspirar pela razão tomando um tom mais racional e progressista. Apesar de ferrenho crítico da igreja, era deísta: acreditava na presença de Deus na natureza e no homem, bastando a razão para encontrá-lo. Segundo historiadores, as correspondências de Voltaire eram concluídas sempre com o mesmo termo: Écrasez l’Infâme (Esmagai a infame). A infame a que se referia era a Igreja católica. Sua principal obra foi “Cartas Inglesas”. Outro importante pensador do movimento iluminista foiJean-Jacques Rousseau (1712-1778) – que criticava a civilização ao apontar que ela expropria a bondade inerente ao homem. Para ele, a simplicidade e a comunhão entre os homens deveriam ser valorizadas como itens essenciais na construção de uma sociedade mais justa. Entretanto, esse modelo de vida ideal só poderia ser alcançado quando a propriedade privada fosse sistematicamente combatida. Ele redigiu alguns verbetes para a Enciclopédia. Suas idéias eram por vezes contrárias as dos seus colegas iluministas, o que lhe rendeu a fama de briguento. Sua principal obra foi “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”. Esses primeiros pensadores causaram grande impacto na Europa de seu tempo. No entanto, é de suma importância destacar como a ação difusora dos filósofos Diderot e D’Alembert foi fundamental para que os valores iluministas ganhassem tamanha popularidade. Em esforço conjunto, e contando com a participação de outros iluministas, esse dois pensadores criaram uma extensa compilação de textos da época reunidos na obra “Enciclopédia”.
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Enciclopédia
A Enciclopédia constitui um resumo do pensamento iluminista e fisiocrata. As idéias que surgiram para a sua elaboração foram: a valorização da razão, como substituto da fé; a valorização da atividade científica, apresentada como meio para se alcançar um mundo melhor; a crítica à Igreja católica, ao clero, pelo comprometimento com o Estado absoluto; o predomínio do deísmo, crença em Deus como força impulsionadora do universo. Constituída de 35 volumes, contou com o trabalho de 130 colaboradores: Denis Diderot (1713-1784) – Era filósofo e dedicou parte de sua vida à organização da primeira Enciclopédia, sendo essa a sua principal contribuição. Jean d’Alembert (1717-1783) – Escreveu e ajudou na organização da enciclopédia. Montesquieu contribuiu com um artigo sobre estética; Quesnay e Turgot versaram sobre economia; Rousseau discorreu sobre música e Voltaire e Hans Holbach sobre filosofia, religião e literatura. Embora pretendesse mostrar a unidade íntima entre a cultura e o pensamento humano, as opiniões de seus autores divergiam muito. Dessa forma, a Enciclopédia acabou sendo principalmente um instrumento divulgador dos ideais liberais na política e na economia.
O Despotismo Esclarecido
O surgimento das teorias iluministas serviu de base para a maioria dos argumentos que criticaram a vigência dos regimes absolutistas europeus. Por conta de suas justificativas religiosas e a opressão do poder centralizado, o regime monárquico era visto como um enorme entrave para o desenvolvimento de uma sociedade igualitária e racional. Dessa forma, podemos chegar ao ponto de acreditar que os regimes absolutistas tinham completa aversão às teorias do iluminismo. Apesar de coerente, essa impressão não refletiu certeiramente as diferenças perceptíveis nas obras de alguns iluministas. Voltaire, por exemplo, apesar de defender a limitação dos poderes atribuídos ao Estado, não via com bons olhos a ampliação das instâncias de participação política da população. Contrário à transformação política radical, prefere que as monarquias sejam reformadas ao adotarem princípios de orientação sustentados pela lógica e pela razão. Não por acaso, essa idéia apontada pelo autor francês trilhou o caminho pelo qual diversos monarcas da Europa permitiriam a incursão de assessores e ministros influenciados pelo ideário iluminista. Entre outras mudanças, as reformas estabelecidas por esses funcionários tinham como objetivo modernizar o funcionamento do Estado, racionalizar a administração, a taxa de impostos, ampliarem o número de instituições de ensino e possibilitar o desenvolvimento da economia nacional. Curiosamente, o despotismo esclarecido parecia fazer uma escolha pontual das idéias do iluminismo, afastando qualquer tipo de medida que viesse a ameaçar ou diminuir a autoridade do rei em seu país. Além disso, no momento em que pregava a expansão das atividades econômicas, o despotismo esclarecido acabou amenizando as tensões políticas que pudessem se colocar entre a burguesia e a realeza. Observado o desenvolvimento de tal tendência na Europa, podemos compreender que a penetração de valores iluministas nos governos monárquicos não aconteceu de forma semelhante. Na França, o amplo poder real e a irredutibilidade mediante as manifestações populares criaram o ambiente de tensões que desembocou no desenvolvimento da Revolução de 1789. Décadas mais tarde, as outras monarquias ruíram por meio da inspiração francesa. Entre os principais governos marcados pelo despotismo esclarecido, podemos destacar os monarcas Catarina II da Rússia, Dom José II de Portugal (influenciado pelo ministro Marquês de Pombal), Frederico II da Prússia, José II da Áustria e Carlos III da Espanha (orientado pelos conselhos do ministro Conde de Aranda).
Bibliografia:
VICENTINO, Claudio. História geral/Claudio Vicentino. – Ed.atual. e ampl.- São Paulo: Scipione, 1997.
PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental: geral e Brasil, integrada/Antonio Pedro; (ilustrações de José Vitor Mazzeo Viana). – São Paulo: FTD, 1997

terça-feira, fevereiro 16, 2016

Pegada ecológica:consumo, logo existo?


A ideia de felicidade acoplada ao consumo, o sonho da moda, a fugacidade das coisas produzidas e a aparente abundância trazem consequências a curto, médio e longo prazos, com impacto nas sociedades humanas e no ambiente. Qual é a marca que estamos deixando no planeta?
Vivemos em uma sociedade pautada pelo consumo, que sustenta a economia mundial. Valendo-se disso, o capital cria produtos para os diversos públicos, gostos e bolsos, de modo que hoje, embora milhões de pessoas vivam abaixo da linha da pobreza, há parcelas de consumidores que são responsáveis por alimentar o ciclo de produção capitalista.
O que chama atenção é a urgência de se fazer circular os produtos e as formas de vida, com a característica de serem rapidamente envelhecidos e substituídos. Isso se traduz em experiências de vida que têm por característica fundamental as conquistas em curto prazo, modos de ser em constante excitação por novas sensações e uma inquietação e insatisfação crescentes.
Impacto no planeta
O consumidor, na sociedade atual, está sempre em movimento, ligado às mudanças, instigado a abolir a durabilidade e a permanência das coisas, ao mesmo tempo em que luta para se reconhecer através dos inúmeros bens aparentemente disponíveis a todos.

Mas alguma vez você já pensou na quantidade de recursos naturais necessários para manter o seu estilo de vida? Já imaginou avaliar o impacto no planeta das suas opções no dia a dia, daquilo que você consome e dos resíduos que você gera?
A pegada ecológica individual mede o quanto a presença de cada pessoa no mundo consome dos elementos que compõem o nosso espaço de vida e existência, com vistas ao atendimento das necessidades que elege para sua vida em sociedade. Como critério para reconhecimento das condicionantes do nosso estilo de vida, a pegada ecológica coletiva pode ser comparada com a capacidade da natureza de renovar esses elementos componentes bióticos e abióticos do meio ambiente.
A pegada ecológica de um país é a área total requerida para a produção de todas as demandas de consumo de sua população, incluindo alimentação, vestuário, educação, saúde, cultura, trabalho, moradia, transporte, comunicação, entretenimento etc., as quais implicam exploração da natureza no que diz respeito a matéria-prima, energia, água, terras agricultadas, áreas urbanizadas e, ainda, a bolsões de absorção dos resíduos gerados por todas as etapas implicadas nesse processo antrópico geral.
Portanto, em decorrência do ato de consumir produtos e serviços diariamente, a população mundial consome componentes ecológicos do planeta como um todo, de modo que a pegada ecológica da humanidade é a soma de todas essas áreas implicadas, onde quer que elas estejam no planeta. A humanidade necessita hoje de 1,5 planetas para manter seu padrão de consumo, colocando a biocapacidade planetária em grande risco.
Cidadania ambiental
Sustentabilidade é a palavra da vez, entretanto é muito mais do que uma palavra da moda. Ser ecologicamente sustentável é uma forma de vida, e a única maneira de permitir que nosso planeta se recupere para que possamos viver em paz e por muito tempo ainda com os recursos naturais que ele tem para fornecer. Além disso, a cidadania possui estreita ligação com o meio ambiente, a partir do momento em que decidimos aplicar sustentabilidade em nossa própria casa e exigir dos órgãos públicos o cumprimento da legislação ambiental. O artigo 225 da Constituição brasileira prevê: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Pensar globalmente, agir localmente, conceito que contribui para mudar o comportamento do cidadão, introduzir a noção que cada um dos bilhões de seres humanos que habitam o planeta deve fazer a sua parte. Não vamos salvar o planeta porque recusamos uma sacola plástica, mas se os sete bilhões de seres humanos que habitam a Terra atualmente a recusarem, serão sete bilhões de sacolas a menos.
Preservar o meio ambiente é preservar a própria pele, e fragilizar o meio ambiente é fragilizar a economia, o emprego, a saúde. O certo é que não existe saída se não houver uma alteração nos costumes predatórios. É imprescindível que cada vez mais os cidadãos tomem conhecimento do seu papel enquanto agentes de conscientização e responsabilidade ambiental, optando decididamente pelos produtos de empresas comprometidas com o meio ambiente e a qualidade de vida da sociedade. Não existe natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.
 
Mirian Fabiane Dickel Stratebióloga e professora, Teutônia, RS.

Publicado no Jornal Mundo Jovem - edição fevereiro/2015.

segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Um olhar sobre o saber histórico

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O ensino de História está, quase sempre, condicionado a uma concepção ou corrente historiográfica. Isso quer dizer que o conhecimento histórico e o ensino da matéria se modificaram ao longo dos tempos.
Antes de constituir-se como disciplina escolar, a História se confundia com a história bíblica e dos deuses. Por isso, da Idade Média até o século 17 evidenciou-se uma História ancorada na religião. Embora a história já fosse ensinada pelos jesuítas desde o século 17, foi somente no século 18 que ela ganhou contornos delimitados como conhecimento objetivamente elaborado e teoricamente fundamentado.
A partir da fundação do Colégio Pedro II e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, a História, enquanto conteúdo de ensino específico, passa a ser difundida no Brasil. O IHGB surgiu como o centro pensante, elaborando um parâmetro de história nacional oficial, e o Colégio Pedro II foi o executor desses parâmetros, influenciados pelo positivismo e pelo catolicismo.
Nessa perspectiva, cabia a tais instituições elaborar uma identidade nacional, visto que naquele momento o Brasil enfrentava um momento delicado, marcado por instabilidade social e política (crise da Independência). Fazia-se necessário induzir o povo a colaborar com a estrutura social e política vigente. O objetivo dessa disciplina era despertar o patriotismo necessário para a emergência de uma identidade nacional.

Nacionalismo e culto aos “heróis”
No período republicano, foi legado à educação o status de redentora da nação. Por conseguinte, buscou-se, a partir do ensino de História, fortalecer o espírito nacionalista necessário para a sedimentação da identidade nacional, abrindo espaço para as discussões concernentes a questões educacionais. Destacou-se a proposta do pedagogo José Veríssimo, o qual acreditava que, para o projeto político da República consolidar-se, era preciso um sistema educacional abrangente e perpetuador de um patriotismo e de um pertencimento nacional. Ao ensino de História cabia priorizar o estudo dos feitos e da biografia dos grandes cidadãos brasileiros. Assim, na I Conferência Nacional de Educação, em 1927, discutiram-se os caminhos para se construir uma identidade nacional comum, a partir do ensino de História, da moral e do civismo.
Apesar dos diversos esforços feitos pelo governo republicano, não se conseguiu construir uma educação sistemática e universalizante. Esse projeto só foi alcançado no governo de Getúlio Vargas, quando houve a consolidação de uma memória nacional e patriótica, contemplando o culto aos heróis e a ênfase nas tradições nacionais nas aulas de História.

História e ditadura
Durante todo o regime militar brasileiro (1964-1985), a disciplina foi usada como mecanismo de manipulação social e controle da ordem social vigente. Sua missão era neutralizar qualquer tipo de crítica ao Estado.
No período da ditadura militar, a História, como disciplina escolar autônoma, foi diluída e passou a coexistir com a Geografia sob a intitulação de Estudos Sociais. Não era intenção formar um aluno crítico e reflexivo, e sim um aluno submisso e passivo ao autoritarismo do Estado.
Com a redemocratização política, o ensino de História passou a ser pensado para instruir o aluno a criticar toda forma de repressão e autoritarismo. Partindo desse pressuposto, infere-se que, a partir de 1980, o ensino de História toma novas direções. Passa a ser uma arma contra o autoritarismo e qualquer tentativa de censura – portanto, um cidadão em consonância com o contexto da época.
Enquanto disciplina escolar no Brasil, a História, desde sua gênese, foi usada como justificação do poder da ordem dominante, como propagadora de uma determinada ideologia. Por isso, é nossa tarefa batalhar por uma História que leve os estudantes a compreender o contexto em que estão inseridos, permitindo que ultrapassem as barreiras da dominação.

Autora: Maria de Lourdes Abrantes Sarmento, graduanda do curso de História da Universidade Federal de Campina Grande, PB.
E-mail: lourdes.abrantes@yahoo.com.br

Sugestões de Leitura
O ensino de História: revisão urgente, de Conceição Cabrini. São Paulo: Brasiliense, 2004.
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas, organizado por Leandro Karnal. São Paulo: Contexto, 2010.

Sugestões de Sites
Tempo, Revista Digital de História da UFF: www.historia.uff.br/tempo
Rede social voltada para o ensino da história: www.cafehistoria.ning.com

Atividade
História é coisa de fofoqueiro?
Por que aprender sobre tanta gente morta se estamos vivos? Estudar história influencia nossas escolhas?

Essas e outras dúvidas estão presentes na cabeça dos jovens, então, que tal aproveitar o começo do ano e debater sobre a importância de estudar História?
Pode-se assistir ao vídeo Por que estudar história? e responder essas e outras perguntas junto com os estudantes. Além de refletir, poderemos colher dicas de interesse dos jovens ao longo do ano.

domingo, fevereiro 14, 2016

Ainda vale a pena ser professor?

O cenário é desanimador: cada vez menos jovens se interessam pela licenciatura, e cresce assustadoramente o número de profissionais que abandonam suas carreiras docentes.
Isso reflete as dificuldades enfrentadas na profissão, que ultrapassam os limites da sala de aula, do ofício propriamente relacionado ao aluno. A desvalorização do profissional, os baixos salários, os planos de carreira não atrativos, a escassez de recursos humanos, físicos e tecnológicos nos espaços escolares e a falta de incentivo para uma formação continuada podem ser determinantes no desinteresse pela carreira. No entanto, arrisco dizer que poucos fatores inquietam mais um professor do que a rotina desgastante de quem precisa substituir, na maioria das vezes, o papel de uma família ausente, do que as dúvidas sobre o seu verdadeiro papel na atualidade e os abismos existentes entre a formação que recebemos academicamente e o cenário de vida real de todo o sistema educacional.
Educar para a diversidade
O papel do professor vem, gradativamente, sofrendo alterações, assim como toda a sociedade em que vivemos. De centralizador de todo o processo educacional, de possuidor inatingível das verdades do conhecimento, o professor passa a ser um facilitador, um mediador do processo de aprendizagem, cedendo cada vez mais espaço em um campo que era incontestavelmente seu, para olhar o seu aprendiz com o intuito de ser um mediador inspirador, e não mais um impositor da vontade do saber.
O professor contemporâneo tem que ter em mente que é um sujeito ativo nas mudanças da realidade em que opera, apontando possibilidades, possibilitando mudanças. Tem que ter olhares múltiplos para o meio onde atua. Mais do que disciplinas componentes do currículo escolar, temos a difícil missão de facilitar um conhecimento que visa a educação para a diversidade, que respeita os direitos humanos, possibilitando o pleno desenvolvimento da cidadania dos nossos alunos.

Por que acreditar?

Respiro fundo antes de começar a elencar tantas razões que me fazem acreditar na docência: vale a pena contribuir para a mudança de mentalidade de todo o meio social que envolve a escola onde eu trabalho; seguir semeando sonhos, empoderando os jovens e encorajando-os a buscarem seu espaço no mundo. Vale a pena demonstrar que o aluno é tão possuidor do conhecimento quanto eu, compartilhando daquele mesmo espaço, construindo experiências e desenvolvendo suas potencialidades. Vale a pena sair da minha zona de conforto e não me conformar com o que não funciona; o desafio de inovar, encantar, entusiasmar e incentivar o meu aluno a refletir, usar a criatividade e habilidades para se posicionar criticamente no mundo. Vale a pena reconhecer que meu trabalho, quando possibilita o desenvolvimento integral do educando, respeita as proposições do Estatuto da Criança e do Adolescente, no que diz respeito ao acesso e à permanência desse aluno na escola, espaço onde qualquer educando deve se sentir seguro e protegido. Vale a pena proporcionar diariamente a interação entre o conhecimento científico e o contexto social, para que a aprendizagem de conteúdos seja uma aprendizagem significativa, valorizando o universo do estudante.
Ser professor em tempos de fundamentalismos, de incitação ao ódio, da desvalorização das diferenças, de descrença na carreira docente, é manifestar coragem, força e resistência, mantendo o ideal de que, através da educação, podemos transformar pessoas para que, então, elas possam transformar o mundo, como diria Paulo Freire. Vale a pena contribuir para a transformação de uma realidade, questionando o que está imposto, propondo novas ideias, respeitando as especificidades e a liberdade de cada um. Se as condições de trabalho ainda não são as ideais e engessam a minha prática pedagógica de alguma forma, vale a pena me posicionar politicamente e lutar por melhorias para toda a minha categoria, pois professor que está lutando, também está ensinando. Vale a pena, em tempos de tanto individualismo, reforçar e assumir diariamente que a educação é um compromisso de todos.
Tenho a prazerosa certeza de que consigo tocar positivamente a vida de muitas pessoas, porque, acima de tudo, respeito meu aluno como ser humano. Quando consigo tocar um coração, quando vejo no olhar do meu aluno a força e a vontade de aprender, uma pequena parte do sistema, ainda tão cheio de falhas, se abre para mim. Vale a pena ser professor porque cada dia mais me certifico de que tenho a oportunidade de reassumir meu compromisso, contribuindo para um futuro melhor para a infância e a juventude brasileira.
 
Cassia Serpalicenciada em Letras - inglês pela PUCRS, professora da rede pública e de aulas particulares em preparação para exames.

artigo publicado na edição 461, outubro de 2015 do Jornal Mundo Jovem.

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