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terça-feira, fevereiro 09, 2021

ºSOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO - APOSTILA - Unidade 1º Trimestre

 


Sociologia da Educação

Caro(a) aluno(a),

Nossa relação professor/aprendiz começa aqui. E o material impresso é uma ferramenta necessária e importante para caminharmos juntos.

Você está recebendo os textos relacionados à disciplina Sociologia da Educação, que têm por objetivo direcionar seus estudos nesta importante área.

Sociologia da Educação é uma disciplina instigante, dinâmica e interessante, Aborda diversos temas abrangentes, como os clássicos modernos e contemporâneos, a relação com a educação, a Sociologia como uma ciência que estuda os fenômenos sociais e a educação que está presente na vida das pessoas, fazendo essa relação enriquecer ainda mais o conhecimento.

Temas como o surgimento e a formação da Sociologia e sua influência no meio educacional; o conhecimento dos pensadores clássicos e contemporâneos, suas teorias e contribuições para a educação; abordagem neoliberal, sua influência e conseqüências para a educação serão discutidos neste Caderno de Conteúdo e Atividades. Buscamos redigir um material em linguagem acessível e clara, conscientes de que é necessário falar de assuntos delicados sem criar obscuridade, mas sem dispensar a terminologia sociológica e educacional quando necessária.

Se existir algo melhor que felicidade, é isso que desejamos a você. Bons estudos! Boa reflexão!


 PLANO DE ENSINO

EMENTA

A Sociologia como ciência e o surgimento da Sociologia na educação. As teorias sociológicas clássicas e contemporâneas. A educação como processo e suas relações com a cultura e a aprendizagem de papéis sociais. A função social da escola. As relações entre educação e sociedade: a natureza e as especificidades dos fenômenos sociológicos e suas relações com os fenômenos educacionais.


OBJETIVOS

estabelecer uma reflexão ampla sobre as concepções sociológicas que norteiam o trabalho em educação;
conhecer e diferenciar conceitos sociológicos básicos;
analisar os aspectos culturais, políticos e econômicos da sociedade que interferem no contexto educacional;
estabelecer relações entre o pensamento sociológico e o contexto educacional contemporâneo.


CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

a Sociologia no contexto da sociedade capitalista.
teoria sociológica clássica: Durkheim, Marx e Weber;
teoria sociológica contemporânea: Althusser, Bourdieu e Passeron;
questões sociais da educação: informática (inclusão e exclusão digital);
mundialização do capital, Neoliberalismo e reestruturação produtiva;
movimentos sociais e atores na unidade escolar.


BIBLIOGRAFIA BÁSICA

COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2000.

MEKSENAS, Paulo. Sociologia da educação: introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. 11.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003

MORRISH, I. Sociologia da educação. Rio de Janeiro: Zahar, 1993.


BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

GALLIANO, Guilherme A. Introdução à Sociologia. São Paulo: Habra, 2000.

GENTILI, Pablo; SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org.). Neoliberalismo, qualidade total e educação. Petrópolis: Vozes, 2001.

GOMES, Candido Alberto. A educação em perspectiva sociológica. 3.ed., rev. e ampliada. São Paulo: EPU, 1994.OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2001.


Sumário

Unidade 1 - A Sociologia no contexto da sociedade capitalista: origem e formação

Unidade 2 - Principais abordagens sociológicas e suas implicações para a educação

Unidade 3 - Karl Marx: a crítica da sociedade capitalista - a educação e a escola

Unidade 4 - Max Weber: a ação social - educação e burocracia 

Unidade 5 - Abordagem pragmática e a pedagogia progressista 

Unidade 6 - Abordagem reprodutivista da educação 

Unidade 7 - Abordagem reprodutivista da educação - Pierre Bourdieu, Jean Claude Passeron

Unidade 8 - A mundialização do capital, a reestruturação produtiva e a Educação

Unidade 9 Neoliberalismo 

Unidade 10 - Pós-modernidade, multiculturalismo e educação 56

Unidade 11 - Movimentos sociais e educação 

Unidade 12 - Os meios de comunicação e a mídia 


A Sociologia no contexto da sociedade capitalista: origem e formação


Meta da unidade
Apresentação e análise dos principais fatores históricos culturais, como a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, que possibilitaram o surgimento da Sociologia, sua formação e desenvolvimento.

 Objetivos

Esperamos que, ao final desta unidade, você seja capaz de:

identificar os aspectos históricos culturais que contribuíram para o surgimento da Sociologia;
conhecer as bases teóricas da Sociologia que influenciaram o campo educacional.


Pré-requisitos

O estudo da Sociologia, para principiantes do curso de Pedagogia, tem como base disciplinas no nível médio como Filosofia, Sociologia e História.


Introdução

Nesta unidade, vamos conhecer como a Sociologia se consolidou como ciência. Inicialmente, iremos evidenciar a origem da palavra sociologia, depois daremos uma breve viagem histórica na Idade Moderna para conhecer os principais fatores que contribuíram para o surgimento da Sociologia no século XVIII, entre os quais as Revoluções Industrial e Francesa, com amplo significado para as transformações políticas, econômicas, tecnológicas, culturais e sociais na Europa, EUA, ampliando, ao longo do século XIX e XX, para todo o planeta Terra.


O surgimento da Sociologia

A princípio, podemos iniciar esta unidade indagando: o que é sociologia? Como surgiu? Quais os acontecimentos que possibilitaram sua origem? Quem é o autor dessa palavra?

Sociologia é um termo híbrido formado a partir de duas línguas: do latim socio com idéia de social, e do grego logos (razão), que exprime a idéia de “palavra” ou “estudo”. O termo Sociologia significa, portanto, “estudo do social” ou “estudo da sociedade”.


 Essa palavra foi criada em 1839 por Auguste Comte, filósofo francês, considerado o ‘pai da Sociologia’. Comte achava que a Sociologia deveria ensinar os homens a aceitar a ordem existente. Mais à frente, entenderemos o porquê dessa idéia comteana.

Tendo agora conhecido a origem da palavra Sociologia, vamos, neste ver alguns acontecimentos históricos que marcaram seu. Esse surgimento ocorreu em um contexto histórico específico, que coincide com os derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal, bem como da consolidação da civilização capitalista.

Assim, a Sociologia como “ciência da sociedade” não surgiu de repente, nem resultou das idéias de um único autor, mas é, de acordo com Tomazi (2000), fruto de toda uma forma de conhecer e de pensar a natureza e a sociedade, que se desenvolveu a partir do século XIV quando ocorreram transformações sociais significativas, como o fim do Feudalismo e ascensão do Capitalismo.

O mundo europeu ocidental começou a sofrer transformações substantivas do ponto de vista econômico, político, cultural, científico, artístico, social e ideológico, a partir do século XIV.

Do ponto de vista econômico, a expansão do comércio além-mar, para além das fronteiras da Europa ocidental, pelos italianos (séculos XIV e XV), pelos portugueses, espanhóis ingleses, holandeses (a partir do século XVI), propicia o crescimento das principais cidades européias, o enriquecimento de um novo grupo de comerciantes, atrai os camponeses e servos dos feudos para as cidades e desencadeia um processo de desmoronamento do poder dos senhores feudais, que detinham até então o poder econômico, político e ideológico, juntamente com os poderes religiosos da Igreja Católica.

Nesse período conhecido como Renascimento, considerado pelos estudiosos como uma fase de transição para a Idade Moderna, os conhecimentos produzidos começam a descolar-se do poder religioso. A razão, em substituição à fé, é o instrumento de investigação dos cientistas, dos intelectuais, dos escritores e dos artistas. Há um retorno aos valores do mundo antigo grego: renascer do homem e da razão.

A valorização do homem como centro das preocupações e das decisões cria condições para o desenvolvimento das ciências teóricas e experimentais, não sem conflitos com a ideologia católica da época,

paradigma dogmática e controladora dos saberes produzidos. Para Galileu Galilei (1564-1642), a terra gira em torno de seu próprio eixo e do sol, não mais é o centro do universo. Na Política, o italiano Maquiavel (1469-1527) funda a Ciência Política, com pressupostos que anunciam a separação entre os poderes político e religioso.

No campo religioso, Martinho Lutero introduz a Reforma Protestante, enfrenta a autoridade papal e a estrutura da Igreja. Essa reforma é uma tendência que contribuiu de modo significativo para a valorização do conhecimento racional (livre leitura das Escrituras Sagradas, em em contraposição o monopólio do clero na interpretação baseada na fé e nos dogmas). Os artistas renascentistas, célebres por suas obras de arte, utilizam- se do seu gênio criador e inventivo e das técnicas das ciências experimentais, como Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo (Michelângelo), entre outros. maior socialização do conhecimento junto a parcelas de segmentos sociais torna-se possível pela invenção de Gutemberg da imprensa com caracteres.

Esse processo de transformação, em alguns países da Europa ocidental, traz como conseqüência a mudança de paradigma econômico, político, cultural, científico, tecnológico que irá culminar, no final do século XVIII, com as conhecidas revoluções – industrial, na Inglaterra, e política, na França e nos Estados Unidos. Um novo modo de produção é gerado das entranhas do modo de produção feudal, o capitalismo, e novas luzes políticas emergem com os ideais democráticos defendidos pelos intelectuais “iluministas” franceses e também pelos líderes dos EUA. Conforme Costa (1997, p 36),


A legislação americana, instituindo a divisão do Estado nos três poderes e estabelecendo mecanismos para garantir a eleição legítima dos governantes e os direitos do cidadão, puseram em prática os ideais políticos liberais e democráticos modernos. Os Estados Unidos da América constituíram a primeira república liberal democrática burguesa.


.

No âmbito da nossa análise, para você compreender o surgimento da Sociologia como ciência no século XIX, é importante você perceber que, nesse contexto histórico social, as ciências teóricas e experimentais desenvolvidas nos séculos XVII, XVIII e XIX inspiraram os pensadores da área humana a analisar as questões sociais, econômicas, políticas, educacionais, psicológicas com enfoque científico.

Cabe destacar a influência das teorias da evolução biológica elaboradas por Spencer e Darwin, cujo método, calcado na observação e análise da realidade biológica, traz para os pensadores da área de humanas a crença na possibilidade de analisar os fenômenos sociais com objetividade, desde que sejam utilizados os procedimentos adotados pela Biologia. Se as ciências da natureza obtiveram sucesso na verificação e demonstração dos fenômenos, a explicação dos fenômenos sociais poderia utilizar igualmente seus métodos. Os fatos sociais poderiam ser mensurados e analisados objetivamente.



A consolidação do capitalismo no século XIX e as análises sociais do período

A associação da ciência à técnica gera descobertas que propiciaram o aumento da produtividade nas fábricas, como o uso de novas alternativas energéticas, desde a energia a vapor, a energia hidráulica, até chegar ao uso de combustíveis fósseis, como o petróleo, no final do século XIX.

 Registra-se, ainda, o aperfeiçoamento das máquinas de produção, o crescimento das fábricas, a ampliação do leque de produtos industriais, a melhoria dos meios de transporte terrestre, marítimo e fluvial, o aumento do comércio interno e externo entre países produtores industriais, no caso Inglaterra, e países fornecedores de matéria-prima.

Enquanto, na Idade Média, o sagrado era a base e o norte para todo tipo de conhecimento, no século XIX, esse caráter de sagrado passa a pertencer à ciência: com a crença generalizada de que os conhecimentos científicos poderiam descobrir e apontar aos homens o caminho em direção à verdade. Essa crença é generalizada a partir dos meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX.

Simultaneamente, crescem a concentração da renda e a exploração dos trabalhadores pelos patrões. Os conflitos e lutas reivindicatórias dos trabalhadores por melhorias salariais e condições de trabalho surgem tanto na Inglaterra como nos EUA, palco de desigualdades sociais, pobreza, precárias condições de moradia, saúde, educação.

Os reflexos da Revolução Francesa fizeram com que os pensadores da época externassem suas opiniões acerca da ação revolucionária. Entre esses pensadores, destacam-se Aléxis de Tocqueville, Durkheim, Saint Simon.

Auguste Comte

A revolução gerou na sociedade uma “anarquia”, “perturbação”,

“crise”, “desordem” na sociedade. Para tanto, a tarefa a que esses pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem, encontrando soluções para o Estado de desorganização então existente. E, segundo esses pensadores, para obter o restabelecimento da “paz e ordem”, seria necessário conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo, portanto, uma ciência da sociedade.

A formação da primeira escola científica do pensamento sociológico deve-se ao francês Augusto Comte, considerado o pai da Sociologia.


 Augusto Comte (1798-1857): a abordagem positivista

uma primeira forma do pensamento social

Os fundadores da Sociologia assumem a tarefa de estabilizar a nova ordem. Comte, entre os pensadores da época, é também muito claro quanto a essa questão. Para ele, a nova teoria da sociedade, denominada por ele de positiva, deveria ensinar os homens a aceitar a ordem existente, deixando de lado a sua negação.

Se, por um lado, já existiam aqueles que combatiam a revolução e almejavam uma sociedade “organizada”, por outro, a França continuava, no início do século XIX, seu ritmo de uma “sociedade industrial, com uma introdução progressiva da maquinaria, principalmente no setor têxtil” (MARTINS, 1994, p.28). Esse avanço geraria também, na sociedade operária francesa, miséria e desemprego. Essas mesmas características assemelhavam-se às situações sociais vividas pela Inglaterra no início de sua Revolução Industrial.

 Na concepção de Comte, considerado um de seus fundadores, a Sociologia deveria orientar-se no sentido de conhecer e estabelecer as ‘leis imutáveis da vida social’, isto é, essa ciência deveria abster-se de qualquer consideração crítica e, assim, eliminar discussão sobre a realidade existente,

 deixando de abordar, por exemplo, a questão da igualdade, da justiça e da liberdade.

Da forma como Comte idealizou a Sociologia – nos moldes positivistas – estaria, expresso o desejo de construí-la a partir dos modelos das ciências físico-naturais. Uma Sociologia de inspiração positivista, separada da economia política, que postule a independência dos fenômenos sociais em face dos econômicos.

Costa (1997, p.50-51) sintetiza algumas posturas da concepção positivista. A sociedade é interpretada, influenciada pelo darwinismo social, destacando-se os seguintes postulados:

a sociedade evolui de duas formas: buscando a ordem e o progresso;
o primeiro movimento na sociedade levaria à evolução, transformando as sociedades, segundo a lei universal, da mais simples para a mais complexa, da menos avançada a mais evoluída;
o segundo movimento procuraria ajustar os indivíduos às condições estabelecidas, para garantir o melhor funcionamento da sociedade, o bem-comum e os anseios da maioria da população. A ordem social conduz ao progresso;
os conflitos, as contradições, as revoltas deveriam ser contidos se tais movimentos colocassem em risco a ordem estabelecida ou inibissem o progresso.


A concepção de uma evolução linear, de estágios de sociedades mais simples para mais complexas, nos séculos XIX e XX, influenciou a perspectiva etnocêntrica dos antropólogos que consideravam as comunidades primitivas ou sociedades diferentes da sociedade européias. Sendo inferiores, deviam sofrer a intervenção das sociedades consideradas mais avançadas, como ocorreu no século XIX e XX com a política colonialista inicialmente de Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Holanda, Alemanha, entre outros, em países da Ásia, África, América Latina e Central.

O pensamento positivista de Comte exerceu uma ampla influência junto aos intelectuais nos escalões do poder para manutenção da ordem em função do progresso.

Essa abordagem sociológica positivista não é a que irá colocar em questão os fundamentos da sociedade capitalista, nem tampouco a em que o proletariado encontrará a sua expressão teórica e orientação para suas lutas práticas. Foi no pensamento socialista, em suas diferentes nuances, que o proletariado buscou seu referencial teórico para levar adiante as suas lutas na sociedade de classes.

Com esses parâmetros, as análises sociológicas permitem compreender a complexidade dos fenômenos sociais e a importância que essas concepções tiveram para tomada de decisões nos diferentes países, até os dias atuais. Você estudará, nas unidades didáticas posteriores, os clássicos da Sociologia e suas teorias que ampliam as possibilidades de compreensão das sociedades e das relações entre educação e sociedade.

Martins (1994, p.33) concebe que

A Sociologia sempre foi algo mais do que meia tentativa de reflexão sobre a moderna sociedade. Suasexplicações sempre contiveram intenções práticas, um desejo de interferir no rumo desta civilização, tanto para manter como para alterar os fundamentos da sociedade que a impulsionaram e a tornaram possível.

 

 As relações entre educação e sociedade na Idade Moderna

Paulo Freire


Em se tratando de educação no período da Revolução Industrial e do surgimento e formação da Sociologia (entre séculos XVII a XIX), podemos evidenciar algumas características:

ideal de educação: homem de espírito livre, capaz de dominar todos os campos do conhecimento;
desenvolvimento das técnicas – especialização dos saberes;
século da educação, da idéia de progresso e espírito científico, entre outros.


Esses ideais irão acontecer relativamente nas práticas educacionais, pelas condições históricas geradas em cada país no mundo ocidental europeu e norte-americano. As questões educacionais ocorrem de maneira gradativa aos acontecimentos políticos, econômicos e sociais.


As primeiras escolas organizadas nos países europeus (França, Inglaterra, Alemanha, entre outros) atendemos alunos da burguesia nascente e seguem rígidos padrões de disciplina (as crianças devem comportar-se com ordem, ser obedientes). Nos currículos, são introduzidas matérias nas áreas das ciências naturais, matemática, mas a aprendizagem é prioritariamente teórica.

Nos Estados Unidos da América, no final do século XIX, a filosofia democrática, o desenvolvimento da Psicologia como ciência e a mentalidade pragmática dos americanos inspiram pensadores para formular propostas educacionais que irão influenciar até os dias de hoje, a educação escolar das crianças, inclusive no Brasil: a Escola Nova, com ênfase na relação teoria/prática a partir dos interesses das crianças. Você irá estudar, na unidade didática 6, as bases teóricas dessa corrente pedagógica.

A Sociologia possibilita condições, na área educacional, para que as discussões em relação a uma escola de qualidade ainda sejam possíveis. Isso porque, mesmo havendo, de um lado, tendências pedagógicas não críticas, à manutenção e preservação do sistema capitalista, há também, do outro lado, uma tendência progressista, que luta pela transformação social na escola.

Essas duas visões estão presentes na escola hoje. A segunda tem suas características próximas à educação libertadora, trabalhada por Paulo Freire, pedagogo conhecido internacionalmente. Nas próximas unidades didáticas, iremos estudar esse pensador com mais detalhes.

Além desses aspectos discutidos anteriormente, outro também se destaca: a “importância da educação”. Esse fato levou “os sociólogos como Durkheim ou Mannheim a se interessarem por ela, formando uma parte específica da Sociologia: a Sociologia da Educação” (KRUPPA, 1994, p.22). Outra autora que também trata dessa questão é Lakatos (1990, p.27).

A Sociologia da Educação, também denominada Sociologia Educacional ou

 Sociologia Aplicada à Educação, examina o campo, a estrutura e o funcionamento da escola como instituição social e analisa os processos sociológicos envolvidos na instituição educacional. Exemplo desse tipo de Sociologia: a escola como agente de socialização e de controle social. Na próxima unidade didática, vamos conhecer a educação como tema da Sociologia, estudaremos alguns conceitos da Sociologia, presentes na escola, que são fundamentais para entender a relação educação e Sociologia.

Síntese da unidade


Aspectos importantes abordados nesta unidade:

estudamos o significado da palavra Sociologia, as condições históricas para o seu surgimento;

refletimos sobre a visão dos pensadores que defende uma sociedade do tipo conservador e positivista e de outros que acreditam nas mudanças transformadoras;

discutimos o papel da escola no contexto da sociedade capitalista.




- Descreva o desenvolvimento da ciência e, em especial, os fatores que contribuíram para o surgimento da Sociologia. Registre suas percepções em um texto dissertativo com 15 linhas.


- Tendo como base o material exposto na Unidade didática, trace uma linha do tempo sobre a evolução da Sociologia, tentando relacioná-la com os dias atuais.
Comentário
Para responder a essas questões, tenha como base os aspectos fornecidos neste caderno, assim como, os sites relacionados à história da Sociologia. Tanto essa unidade quanto os sites tratam da Sociologia desde seu surgimento até sua, fornecem os primeiros conceitos que permearão nosso material instrucional: a apresentação do pensamento positivista elaborado por Comte, que serve de referência para se compreender o surgimento da Sociologia; o racionalismo, que tem sua nascente no final da Idade Média.


Referências

COSTA, Cristina. Sociologia: uma introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2002.

LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 6.ed. São Paulo: Atlas, 1990. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção primeiros passos: 57)

TOMAZI, Nelson Dacio (org.). Iniciação à Sociologia. 2.ed. São Paulo: Atual, 2000.


Informações sobre a próxima unidade

Estudaremos na próxima unidade as principais correntes de pensamento da Sociologia e relacionaremos com a educação, traçando, assim, um perfil da Sociologia e sua contribuição para o desenvolvimento da educação.

Principais abordagens sociológicas e suas implicações para a educação

Meta da unidade

Apresentação dos principais conceitos sociológicos de Emile Durkheim e 
análise do papel da educação na formação dos indivíduos na sociedade.

Objetivos

Esperamos que, ao final desta unidade, você seja capaz de:

    1. compreeender o significado de fato social e relacioná-lo com a educação;
    2. estabelecer alguns parâmetros da teoria durkheimiana para a educação.


Pré-requisitos

Na unidade 1, estudamos o surgimento e a formação da Sociologia e os conhecimentos básicos para a compreensão das teorias da Sociologia da Educação. Tais conhecimentos são de suma importância para a formação de educadores e sociólogos na corrente de pensamento inspirada em Durkheim.


Introdução

Entre os principais representantes da Sociologia clássica, existe a figura de Émile Durkheim, cujas referências históricas e contribuição educacional são importantes tanto para sua época como para os dias atuais. Você irá estudar sua teoria sociológica e sua visão de educação.


Émile Durkheim

É considerado um dos pioneiros da Sociologia e o mais importante precursor do moderno funcionalismo. Sua abordagem teórica e metodológica é denominada funcionalista. Por que essa denominação?

Influenciado pelo positivismo de Comte e pelas teorias evolucionistas na Biologia, Durkheim concebe a Sociedade como um organismo vivo. O organismo dos seres vivos é constituído de órgãos que funcionam de forma interdependente para manter sua sobrevivência e equilíbrio. As sociedades humanas são semelhantes. Essas sociedades buscam manter seu equilíbrio e coesão por meio das instituições e das interações sociais.

De sua teoria, podemos destacar a concepção de fato social. Para esse pensador, os fatos sociais são o objeto de estudo da Sociologia, são justamente as condutas de regras e normas (leis) coletivas que orientam a vida dos indivíduos em sociedade. Mas o que é sociedade para Durkheim? É um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem apenas na consciência dos indivíduos, mas que são construídOs exteriormente, isto é, fora das consciências individuais. Os homens em sociedade se defrontam com regras de conduta, regras essas conhecidas por leis, códigos, decretos, constituições.

Em outras palavras, fato social é um modo de agir permanente ou não, que DE exercer alguma forma de coerção externa ao indivíduo. Os fatos sociais têm como características: exterioridade, coercitividade e generalidade. A exterioridade consiste em idéias, normas ou regras de conduta que não são criadas isoladamente pelos indivíduos, mas pela coletividade.

A coercitividade consiste em normas e regras que devem ser seguidas pelos membros da sociedade. A não obediência a essas leis gera punição, que ocorre quando alguém desobedece ao grupo. A generalidade (universalidade) consiste em as normas poderem ser percebidas em qualquer lugar.

A educação é um exemplo de fato social. Por quê? Porque o

indivíduo não nasce sabendo previamente as normas de conduta necessárias para a vida em sociedade. Essa deve educar os seus membros para aprenderem as regras necessárias à organização da vida social. Ou seja, as gerações adultas transmitem às crianças e adolescentes aquilo que aprenderam ao longo de sua vida em sociedade. Podemos exemplificar bem essa teoria de Durkheim com as tradicionais famílias brasileiras dos séculos XIX e XX, especialmente aquelas que transmitiram seus valores de comportamento. E a escola, como pode ser contextualizada na concepção de Durkheim?

Conforme vimos, a criança aprende com os adultos as regras e normas que são impostas pela sociedade.

Porém, na escola, seu aprendizado ocorre a partir das idéias, sentimentos e hábitos que são ausentes ao nascer, mas essenciais para a vida em sociedade.


Durkheim e a Educação

Durkheim viu na educação o meio pelo qual a sociedade se perpetua.

A educação transmite valores morais que integram a sociedade, por isso, a mudança educacional é importante a partir de dois prismas: pelo reflexo das mudanças sociais e culturais e por ser agente ativo de mudanças que envolvem a sociedade. Durkheim ainda assinala que os educadores, especialmente no Ensino Fundamental, poderiam provocar mudanças na educação e, por conseqüência, na sociedade. Durkheim (apud Gomes,1994, p.32) considera a educação como a:


Ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social. O objeto da educação faz nascer e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine.


A partir de vários exemplos históricos, Durkheim mostra que a educação é estruturada de modo a assegurar a sobrevivência da sociedade.

Esse pensador destaca duas funções da educação: a uniformizadora, que visa à integração do indivíduo no contexto da sociedade, transmissão de valores e desenvolvimento de atitudes comuns; e a diferenciadora, que reforça a divisão social do trabalho.

A análise desenvolvida por Durkheim revela o grande valor de uma abordagem precursora do moderno funcionalismo e, por isso, ele opõe-se à simples descrição da forma manifesta de um fenômeno social. Fazendo uma análise de sua teoria, podemos observar algumas vantagens e limitações.

Conforme Gomes (1994), Durkheim, como sociólogo do consenso, não considera as contradições da “sociedade política” e não aborda as implicações de a sociedade ser composta por grupos em conflito, com diferentes relações de poder. Devido a essas constatações, alguns autores, entre eles Gomes, consideram Durkheim um pensador do paradigma do consenso.

No tocante a outras definições durkhemianas relativas à educação, podemos constatar limitações, como, por exemplo, quando ele reduz o processo educacional à ação de uma geração “madura” sobre uma geração “imatura” para a vida social. Gomes enfatiza a difícil tarefa de distinguir maturidade e imaturidade, quando, ao longo de sua vida, o indivíduo deve socializar-se para desempenhar vários papéis. Outro momento, dessas definições, relaciona-se ao fato de elas considerarem o processo educativo como unilateral, quando, na verdade, as gerações interagem e entram em conflito. Quanto ao educando, a definição de Durkheim atribui-lhe um papel passivo. A criança estaria “naturalmente” em estado de passividade. A definição de educando, nesse viés, é em grande parte determinista.

Um tema importante discutido nas teorias de Durkheim é relativo à autoridade do professor – é o eixo da pedagogia do pensador. Segundo sua concepção, o professor representa a sociedade e tem o direito legítimo de provocar os “estados físicos, intelectuais e morais” requeridos pela vida social. Portanto a função básica da educação é justamente a de transmitir os valores morais. O professor, por sua vez, exerce o seu poder em nome da sociedade instituída.

Assim, a teoria de Durkheim apresenta suas limitações, mas também tem suas virtudes, como mostra Gomes, assinalando que a obra de Durkheim continua sendo importante fonte de inspiração para o funcionalismo em seus desdobramentos de novas correntes. Sua obra constitui referência para autores de tendências diversas, pois eles têm encontrado nela inspiração. Um caso exemplar é o de Pierre Bourdieu, que aborda em seus estudos as relações entre educação e estrutura social.

Para Durkheim, a educação é importante e nos permite construir uma idéia da realidade, a partir de algumas questões:

a educação tem realmente integrado o indivíduo à sociedade?
  • as autoridades governamentais que representam o Estado têm proporcionado uma educação de qualidade?
  • a escola norte-americana tem contribuído para diminuir a evasão escolar, a repetência e a violência no ambiente escolar?
  • São questões que fazem parte do cotidiano e dos problemas existentes na sociedade e devem ser uma preocupação de todos, especialmente dos gestores educacionais, para buscar alternativas aos problemas sócioeducacionais.

    Síntese da unidade


    Estudamos a abordagem funcionalista de Durkheim e sua concepção sobre sociedade e educação, com destaque para o conceito de fato social e para o papel da educação na formação das gerações mais jovens. Refletimos sobre a força e a importância desse pensamento na compreensão do fenômeno social e das várias esferas de organização da sociedade.


    - Qual a importância dos fatos sociais, segundo Durkheim, e sua relação com a educação? Como você percebe essa importância em seu espaço de trabalho e de aprendizagem?


    Leia a citação:


    A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que ainda não se encontram preparadas para a vida social. Tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio social a que a criança particularmente se destina. (DURKHEIM, 1975, p.45)


    Caracterize a educação, conforme Durkheim formulou em sua teoria. Busque, no cotidiano, exemplos que confirmem essa concepção de Durkheim.


    Referências

    DURKHEIM, E. Educação e Sociologia. São Paulo. Melhoramentos, 1975 GOMES, Cândido Alberto. A Educação em perspectiva sociológica. 3.ed. rev. e ampl. São Paulo: EPU, 1994.

    MEKSENAS. Paulo. Sociologia da educação: introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. 11.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

    KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da educação. São Paulo: 1994. TOMAZI, Nelson Dacio (org.). Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 2000.

    Informações sobre a próxima unidade

    Estudaremos Karl Marx e sua teoria crítica sobre a  sociedade capitalista, bem como sua concepção de sociedade e sua relação com a educação.

    Karl Marx: a crítica da sociedade capitalista – a educação e a escola

    Meta da unidade

    Apresentação da teoria de Karl Marx, enfocando sua visão crítica da sociedade 
    capitalista e sua  concepção de educação.

     Objetivos

    Esperamos que, ao final desta unidade, você seja capaz de:

      1. compreender a concepção marxista quanto às condições oferecidas pela sociedade capitalista no campo educacional;
      2. conhecer e analisar a teoria marxista no que diz respeito à educação.


    Pré-requisitos

    Para que você possa aproveitar esta unidade didática, é importante que faça a leitura da unidade 1 sobre a Sociologia no contexto da sociedade capitalista. Nela, há alguns aspectos relativos a conceitos trabalhados por Marx, em especial o aspecto histórico que nos fornecerá os subsídios necessários para que possamos compreender desenvolvimento do pensamento marxista.


    Introdução

    Em seus estudos, Marx analisa os conflitos e as contradições sociais e propõe alternativas para uma nova sociedade socialista. Sua obra resulta de estudos realizados durante oito anos, na Biblioteca de Londres, sobre os economistas que lhe antecederam, da análise de documentos sobre a situação dos operários na Inglaterra, de sreivindicatórios dos trabalhadores.


     Karl Marx (1818 - 1883)

    Suas obras foram escritas com a colaboração de Friedrich Engels. É autor de célebres obras, como O Capital, um tratado crítico sobre o capitalismo e a sociedade burguesa; o Manifesto Comunista, esboço da teoria.revolucionária destinado aos trabalhadores. O marxismo é uma das fontes clássicas do paradigma do conflito.

    Em seus estudos, Karl Marx analisou os conflitos e as contradições da sociedade capitalista e propôs alternativas para uma nova sociedade socialista.

    Durante o tempo que viveu na Inglaterra, no século XIX, os trabalhos de Marx foram uma resposta aos sérios problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial. Nesse período, o capitalismo gerou contradições sociais e conflitos pela enorme diferença de renda entre capitalistas e trabalhadores.

    Crítica à sociedade capitalista

    Além de ter desempenhado outras funções, como a de jornalista, Marx dedicou-se a analisar alguns aspectos da vida social. Uma de suas contribuições foi discutir a relação entre indivíduo e sociedade. Tomazi (2000, p.21) assinala que Marx considerava que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas relações se dão. Ou seja, para viver, os homens precisam, inicialmente, transformar a natureza, isto é, comer, construir abrigos, fabricar utensílios, entre outros. Marx ainda ressalta que o estudo de toda sociedade deveria partir justamente das relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza.

    Em seus estudos, Marx tem como objetivo maior investigar a sociedade de seu tempo – a sociedade capitalista. Nela, as relações sociais de produção definem dois grandes grupos: os capitalistas, de um lado, que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas e capital) necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias; os trabalhadores, do outro, também chamados, no seu conjunto, de proletariado, que nada possuem, a não ser o seu corpo e a sua disposição para trabalhar (TOMAZI, 2000, p.21).

    Na sociedade capitalista, a produção só se realiza porque capitalistas e trabalhadores entram em relação. O capitalista paga ao trabalhador um salário e, no final da produção, fica com o lucro. Esse excedente é chamado de mais-valia (excedente de horas de trabalho não pagas).

    Esse tipo de relação entre capitalistas e trabalhadores leva à exploração do trabalhador pelo capitalista. A mais-valia está associada ao conceito de alienação. Costa (1997) assinala que Marx desenvolve esse conceito mostrando que a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separam o trabalhador dos meios de produção. Que meios são esses? São as ferramentas, a matéria-prima, a terra e as máquinas, que se

    tornaram propriedade privada do capitalista. Separam, também, ou alienam o .trabalhador do fruto de seu trabalho. Essas idéias são a base da alienação econômica do homem sob o capital.

    O trabalho de Marx, conforme Gomes (1994, p.46), pode ser distinguido a partir de três pontos:

    os fatores econômicos determinam a estrutura social e a mudança social, ou seja, a organização social se sustenta em três fundamentos: as forças materiais de produção, com que o homem assegura sua subsistência a partir dos métodos; as relações de produção (relações e direitos de propriedade); as superestruturas legais e políticas, além das idéias e formas de consciência social;
    a história é a história da luta de classes sociais, que se caracteriza pela oposição das classes, com base em sua posição econômica e interesses divergentes. “A história segue, pois, um movimento dialético, de oposição de classes”;
    a cultura das sociedades de classe se caracteriza pela ideologia: as idéias estão intimamente condicionadas pelo modo de produção.

     Assim, a classe que dispõe dos meios de produção controla a difusão intelectual e a educação.

     O marxismo, propõe a deposição da classe dominante (a burguesia) por uma revolução do proletariado. O capitalismo, como modo de produção, é criticado por Marx pelo fato de possuir o sistema de livre empresa que, segundo ele, pelas contradições econômicas internas, levaria a classe operária à máxima exploração do seu trabalho em função dos lucros dos capitalistas. Propõe, assim, uma sociedade em que os meios de produção sejam de toda a coletividade, com a distribuição igualitária de riqueza produzida.


    Marx e a educação

    Existem na literatura sociológica alguns teóricos como Roger Establet e Christian Baudelot, sociólogos franceses, que tentam seguir e aprofundar o pensamento de Karl Marx no tocante à educação.

    Esses autores, conforme Meksenas (2003, p.70), seguindo as idéias de Karl Marx, tentam reforçar a idéia de que,


    Sendo a sociedade capitalista desigual devido à exploração de uma classe social por outra, o processo educativo que se dá dentro da escola também é desigual, pois a escola é instituição sob controle da classe dominante, reprodutora das desigualdades sociais.


    Outros autores também comentam que a concepção de Karl Marx quanto à educação está, da mesma forma, ligada ao horizonte das relações sócioeconômicas de sua época. Santos (2005) assinala que, segundo Marx e Engels, a educação, na sociedade capitalista, é um elemento de manutenção de hierarquia social.

     Meksenas (2003) assinala as visões diferentes de Durkheim (que considerava a educação una e múltipla, sem analisar as relações de classe) e de Marx (que enfocava a educação segundo a diferença de classes). A classe empresarial é educada para dirigir a sociedade de acordo com seus interesses, enquanto os membros da classe trabalhadora são disciplinados e adestrados para o trabalho e para aceitarem com submissão a sociedade capitalista como ela se apresenta.

    Marx analisa criticamente a educação de classe, cuja escolaridade da classe trabalhadora tem dois objetivos:

    preparar a consciência do indivíduo para perceber apenas a visão de mundo da classe empresarial como correta, isto é, transmitir sua ideologia;
    preparar o indivíduo para o trabalho, fazê-lo aprender o necessário para lidar com seus instrumentos de trabalho, além de disciplinar e treinar corpo e mente, para o adequado desempenho de suas tarefas no trabalho.


    Essa análise está relacionada às características da sociedade capitalista, ou seja, à existência de conflitos, contradições e desigualdades sociais. Porém, diante de tantas adversidades, parece existir alguma aresta, e ela pode ser a educação escolar. Ou seja, o ensino aparece como instrumento para o conhecimento e também para a transformação da sociedade e do mundo. Esse é o potencial revolucionário da educação:

    o conhecimento é fonte de poder - a partir dele é possível dominar com mais facilidade outra pessoa;
    a realidade escolar, vista por meio da educação de classe, é semelhante à grande disparidade entre a classe empresarial e a classe trabalhadora.


    Analisando a crítica de Marx à educação, aparece de maneira evidente a semelhança da escola de seu tempo com a escola contemporânea. Vivemos em um sistema capitalista, no qual quem tem conhecimento tem poder. Por isso, a estratégia de poder da classe dominante é manipular o saber. Em contrapartida, a classe trabalhadora busca o direito à educação e atua para que a escola se transforme em uma instituição que possa representar também os interesses proletários.

    Diante disso, podemos analisar algumas questões:

    as escolas discutem, analisam e trabalham as diferenciações sociais?
    que comparações podem ser feitas a partir das idéias de Marx e a realidade escolar?
    como se comportam as escolas privadas frente a algumas situações de classe (social)?


    O espaço da aprendizagem é também um espaço de desigualdades, pois a escola, enquanto instituição, é reprodutora das desigualdades sociais.

    A realidade vivida pelas escolas, como evasão escolar, repetência, ausência de vagas, devem ser objeto de reflexão, tendo em vista a divisão de classes (dominante e dominada), característica do sistema capitalista.

     Marx assinala que a situação da educação é peculiar no sentido de que “[...] de um lado, é preciso que as circunstâncias sociais mudem para que se estabeleça um sistema adequado de educação, mas, de outro lado, é necessário um sistema educacional adequado para produzir-se a mudança das circunstâncias sociais” (MARX apud GOMES, 1994, p.47).

    Em outro momento, Marx afirma que a educação não possui suficiente força revolucionária.

    Em decorrência dessa concepção, ele considerou que a combinação de trabalho produtivo, educação mental, exercício físico e treinamento politécnico seria muito importante para a educação socialista. A abolição da divisão do trabalho, segundo Marx, requer a associação do trabalho manual e intelectual, de tal forma que a educação seria encarregada da preparação das pessoas para os novos papéis a elas destinados na sociedade socialista (GOMES, 1994, p.48).

     Síntese da unidade

    Nesta unidade, abordamos a visão de Marx sobre a sociedade capitalista, em que aparecem as relações de conflito entre, de um lado, os donos dos meios de produção e, do outro, quem vende a força de trabalho. Dessa relação resulta a mais-valia para a classe burguesa. Também foi objeto desta unidade a concepção marxista acerca da influência da sociedade na educação.

    Observe as situações abaixo e analise-as, tendo como base a teoria marxista
      Zezinho é um aluno de escola particular, que ganhou bolsa integral. Todos os dias ele percorre alguns quilômetros para chegar à escola, depois de ajudar seu pai na padaria todas as manhãs. Porém Zezinho tem tido dificuldade de compreender as aulas de matemática e de português, pois sempre está com sono.

      1. Em uma escola pública, os alunos são taxados cotidianamente por um professor de “burros” por não entender aquilo que é desenvolvido na sala de aula. Diz ele que os alunos só poderão exercer atividades braçais por não possuírem capacidade mental de assimilação.


    - Que importância tem a teoria de Marx para a crítica da sociedade capitalista nos dias atuais? Redija um pequeno texto com 10 linhas.


    - Qual a contribuição da visão marxista sobre a educação para as escolas atuais? Reúna suas percepções e programe um debate com a turma. Tente socializar os conceitos percebidos por você.

     Comentário

     Para responder a essas questões, você necessita reler os apontamentos que descrevem o pensamento de Marx detalhado nesta unidade, além de pesquisar a visão de Marx sobre a sociedade capitalista no.Lembre-se de que você deverá posicionar-se em todas as questões com base na teoria marxista!

     Referências

    COSTA, Cristina. Sociologia: uma introdução à ciência da sociedade. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1997.

    GOMES, Cândido Alberto. A educação em perspectiva sociológica. 3.ed. rev. e ampl. São Paulo: EPU, 1994.

    MEKSENAS, Paulo. Sociologia da educação: introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. 11.ed. São Paulo: Loyola, 2003. SANTOS, Robinson dos. Considerações sobre a educação na perspectiva marxiana.In: Revista Espaço Acadêmico, nº 44, janeiro de 2005. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/044/44pc_santos.htm>. Acesso em: 10 de jul de 06.

    TOMAZI, Nelson Dacio (org.). Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 2000.

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