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domingo, maio 21, 2017

Qual o seu lugar na Pirâmide ?

* Samuel Maia
   Publicado na Coluna Resenha do Jornal Clarim da Baixada
Resultado de imagem para Pirâmide Social

Eu sempre quando trabalho Marx em sala de aula puxo para o estudo da " Ideologia alemã", mas esse ano tive uma necessidade imensa de voltar a trabalhar o Capital.
É inadmissível que tenhamos uma geração inteira que não compreende a importância da luta, que não se reconhece como proletariado, que não percebe que é explorado.
O seu diploma, a sua pós não te faz membro da elite. Você não é diferente do gari, da empregada doméstica, do pedreiro. Você apenas vive numa grande ilusão social.
Elite não parcela a compra de um carro em 60 meses, a casa em 20 anos.
Elite não utiliza o FGTS para se sustentar em caso de desemprego , muito menos precisa de seguro desemprego. Elite não conta moeda no final do mês e não briga em aniversário de mercado pelo litro de óleo.
Não importa se você tem um cargo de chefia com carteira assinada numa grande empresa ou é um micro empresário que precisa, volta e meia, de empréstimos para manter sua empresa. A diferença entre você e a auxiliar de serviços gerais que você despreza pq limpa o banheiro da sua empresa é que ela tem consciência da exploração em que vive.
A luta, a greve não é algo de esquerdopata, de petralha. A luta é um direito legítimo do trabalhador para manter a sua dignidade num sistema opressor como o sistema neoliberal.
Mas você só luta quando entende seu verdadeiro lugar na pirâmide e, não tenha dúvida, você está bem na base da pirâmide.
Entenda que se você está criticando aqueles que estão lutando pela manutenção de um direito seu só demonstra o quanto está alienado.
Afinal de contas, o capitão do mato também era explorado e escravo.


quarta-feira, abril 12, 2017

História Local e Micro-História: encontros e desencontros

Este artigo trata da definição de História local e de Micro-História. procura-se conhecer a genese destas modalidades historiográficas, seus encontros e desencontros.

Por Anderson Romário Pereira Corrêa

O objetivo deste trabalho é identificar o que há de comum e o que há de diferente entre a História Local e a Micro-História. O termo História Local muitas vezes aparece na historiografia como sinônimo de História Regional. Percebe-se que a única diferença é no “recorte geográfico”, ou seja, na escala (Regional/local). Embora seja possível encontrar uma farta bibliografia sobre o assunto, essas abordagens historiográficas geram uma série de confusões. Este artigo foi elaborado para o encontro que teve por título “II jornada de Estudos Genealógicos; IV Seminário de História e Geografia e Encontro dos IHGs/RS” que aconteceu em Pelotas – RS, entre os dias 26, 27 e 28 de abril de 2012, promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas. Sabe-se que os Institutos Históricos e Geográficos trabalham com História Local/Regional – dessa forma, pretende-se contribuir no debate metodológico das práticas de pesquisa dos membros dos IHGs.
 
Segundo José D’Assunção Barros, a Micro-História e a História Regional são “abordagens”, ou seja, enfoques ou modos de fazer. (Barros, 2004, p.132s.) Portanto, é um assunto que trata da metodologia da historiografia. Embora o foco deste modesto trabalho sejam os encontros e desencontros da História Local e da Micro-História, é necessário para compreender essas abordagens, conhecer o contexto de onde essa historiografia emergiu. Em seguida, definir o que cada um desses termos – História Local e Micro-História– significam – com uma abordagem que enfatiza a construção processual dessas práticas de pesquisa. .As fontes são bibliográficas e artigos digitalizados na internet. Os autores de fontes bibliográficas são todos reconhecidos como “autoridades” no campo da historiografia. Em relação aos autores de materiais na internet, procurou-se conhecer a trajetória de pesquisa dos mesmos e a coerência argumentativa de suas produções. É importante destacar que a análise que se propõe fazer é desde um ponto de vista “cientifico”.
 

1
. Contextualização
A História Local (nova) e a Micro-História começam a ser construídas entre os anos de 1950 e 1980. O que estava acontecendo em termos historiográficos neste período em que “aparecem” novas abordagens de História Local (na Inglaterra, França e Itália) e a Micro-História? Busca-se descrever a conjuntura historiográfica da França, berço da Escola dos Annales, que influenciou a historiografia ocidental no final do século XX, inclusive a historiografia brasileira. 
A partir da década de 1950, ganham força na Europa as teses “Pós-Modernas”, que fazem sérias críticas ao modelo Iluminista. As ideias pós-modernas são as ideias estruturalistas, mais especificamente o pós-estruturalismo. A História Iluminista (moderna) é dominada pelos conceitos de sistema, totalidade e universal. O iluminismo busca um conhecimento universal fundamentado na razão. (Reis, 2007, p.68s) O estruturalismo ainda subordina o conhecimento à razão; porém, acredita que não existe um sentido teleológico no devir histórico (a história não possui unidade, sentido e nem direção). Os estruturalistas tendem ainda a generalizações ou buscam a totalização – o universal. (Idem, p.72) Na segunda fase do estruturalismo, o pós-estruturalismo – seus seguidores abandonam totalmente o projeto moderno e iluminista, desconfiam da razão; para eles, o universal não é pensável e não sonham mais com a unificação. Segundo José Carlos Reis, na historiografia, pode-se observar que: “O conhecimento histórico pós-estruturalista aborda um mundo humano parcial, limitado, descentralizado, em migalhas. Aparece um olhar em migalhas, assimétrico, antiestrutural, antiglobal, curioso de fatos e indivíduos.” Em termos historiográficos: “Não se busca mais o absoluto e não se quer mais produzir uma obra de valor universal.” (Reis, 2007, p.73)
 
José Carlos Reis dividiu a historiografia dos Annales em três fases ou gerações: a primeira vai de 1929 a 1946; a segunda vai de 1946 a 1968; e a terceira fase, de 1968 a 1988. (Reis, 2000, p.06). Ele afirma que, na segunda geração, de Braudel, ainda que, sob influência do estruturalismo, pensava-se em uma história global. A geração de Braudel esperava uma integração estrutural de estruturas desarticuladas em ritmos, tempos e espaços diferentes. (Ibidem, p.79s). A terceira geração dos Annales pode ser classificada como pós-estruturalista, mas de forma impura. É essa geração que, influenciada pela antropologia, vai preferir “mundos históricos micro”. (Ibidem, p.80)
 
E, no Brasil, o que estava acontecendo no campo da historiografia? Segundo Marcos Lobato Martins, a partir da década de 1940 já existiam vários cursos de História pelo país. O controle da produção historiográfica foi, aos poucos, saindo das mãos dos Institutos Históricos e caindo nas mãos das Universidades. As Universidades paulatinamente foram formando grupos de autores especializados e profissionais. O amadorismo e beletrismo perderam terreno. No Brasil, entre os anos de 1930 e 1950 a historiografia acadêmica desenvolveu praticamente grandes sínteses e “macroabordagens” de “interpretações do Brasil”. (Martins, s.d, p.08)
 
Na década de 1970, houve um embaralhamento das relações entre o regional e o nacional. As pesquisas, principalmente da USP, generalizavam para todo Brasil as características elucidadas pelas pesquisas sobre o estado de São Paulo ou sobre a região sudeste. Foi o que ficou conhecido como o “Modelo Paulista”. (Martins, s.d, p.13)
 
Da década de 1980 até os dias de hoje, houve uma disseminação nos cursos de graduação e de pós-graduação em História. Essa disseminação dos cursos de formação de profissionais da História proporcionou uma “onda” de interesses para a história regional e local. A pesquisa histórica passou a preocupar-se com a história amiúde, com a história local. (Martins, s.d, p.18)
 
Em síntese, para o caso brasileiro podemos dizer que, tanto no aspecto epistemológico (teórico e metodológico), quanto no aspecto da difusão e proliferação de cursos de graduação e pós-graduação, são aspectos importantes para serem levados em conta para a análise sobre o interesse pela História Regional/Local e a Micro-História.
 


2.
 Definição de História Local 

A História Local sofreu mudanças metodológicas significativas nos últimos 50 anos. Sendo assim é possível falar em uma “história Local tradicional” e uma “história local nova”. É importante ressaltar, mais uma vez, que a história local geralmente é abordada como sinônimo de História regional. Para esta última, também é valida a divisão de uma metodologia “tradicional” e de novas metodologias.
 

2.1
 A História Local Tradicional 

Para abordar a História Local Tradicional, suas características, apresentam-se duas notas falando desta historiografia na França e na Itália, detendo-se mais um pouco sobre o caso brasileiro.
 
A História Regional, segundo Peter Burke, era deixada antigamente aos antiquários amadores. Ele explica quem eram os antiquários e, inclusive, seu papel político no século XVII – que ao contestarem a história da Realeza e defendendo as histórias regionais defendiam maior poder ao parlamento. (Burke, 1992, p.07) Segundo Henrique Espada Lima (2006: 29), na Itália, antes de 1950, os estudos de “história local” eram conhecidos como “erudição de províncias”, muito semelhante a Crônicas - uma “história menor”.
 
No livro “História e Estudos Regionais”, Marcos Lobato Martins inventariou as configurações que os estudos regionais assumiram na trajetória da historiografia do Brasil. Segundo o autor, durante o Século XIX e praticamente a metade do Século XX, boa parte dos estudos de história regional e local foi feitos fora dos ambientes acadêmicos (Universidades). Viveu-se, segundo o autor, o auge das corografias. Marcos Lobato Martins define o que são as corografias: “(...) são as descrições geográficas de regiões e localidades associadas ao relato de fatos históricos destacados nelas ocorridos.” (MARTINS, s.d; 02) Essas corografias foram incentivadas, em grande parte, pelos Institutos Históricos e Geográficos, e os corógrafos eram geralmente membros efetivos ou correspondentes dos Institutos Históricos (do Brasil ou os de cada Província/Estado e localidade). As corografias tomavam como fundamento decisivo o espaço e não o tempo. A relação entre as “escalas” do nacional, regional e local é reduzida a descrição dos impactos dos acontecimentos da historiografia nacional nas regiões e localidades. Outra característica das corografias, segundo o autor: “(...) eram recheadas de uma história apoteótica, laudatória, antes de tudo um exercício de exaltação dos feitos das elites regionais e locais.” (MARTINS, s.d, p.03)
 
Segundo Marcos Lobato Martins, na virada do século XIX para o século XX, existiu um padrão, um estereótipo de corografias, que, para o autor, tinham as seguintes características:
 
“Consistiam de descrições fisiográficas das regiões ou localidades, nas quais os autores elaboravam exposições da flora e da fauna e inventários dos recursos naturais. Em seguida, havia relatos, muitas vezes pormenorizados, da produção econômica, do comércio e dos serviços. Finalmente, os autores das corografias elaboravam efemérides e pequenas biografias de pessoas destacadas da história regional ou local.” (MARTINS, s.d, 03)
 

Martins afirma que, no período de 1830 a 1930, as corografias dividiram espaço com as memórias. Estas últimas (as memórias) combinam descrição de aspectos da tradição, dos costumes e textos autobiográficos. (Martins, s.d,p.04)
 
Ainda de acordo com Marcos Lobato Martins, as corografias foram as formas tradicionais mais recorrentes de historiografia, porém destaca que existiam exceções como os casos citados por ele de José de Alcântara Machado de Oliveira – autor da obra Vida e Morte do Bandeirante, publicada em 1929, e de Capistrano de Abreu, autor de Caminhos antigos e povoamento do Brasil (1889) e de Capítulos de história Colonial, de 1907 – que são obras pioneiras da história social no Brasil. (Martins, s.d, p.06)
 
Luís Resnik escreve que, no Brasil, o estudo sobre regiões ou localidades específicas remonta ao século XIX. O pesquisador encontrou duas tendências para os estudos históricos sobre espaços locais na região de São Gonçalo (RJ). A primeira característica é a submissão dos temas e dos ritmos das historiografias locais aos ritmos e temas da historiografia do Brasil: “Ou seja, a experiência do passado local transforma-se em exemplos esparsos em meio a uma narrativa já consolidada pela historiografia nacional”.(Resnik, s.d, p.02) A segunda tendência desses estudos, segundo Luís Resnik, é a colocação em evidência dos acontecimentos das localidades, como se ali fossem experimentados fatos da mais alta relevância. São produções de caráter ufanista. (Ibidem)
 


2.2
 História Local Nova 

Entre 1950 e 1970, na Inglaterra, França e Itália, iniciou-se uma renovação metodológica nas práticas historiográficas sobre as regiões e localidades. Essas mudanças de metodologia vinham das Universidades. Peter Burke, ao escrever sobre a história local e regional, destaca que:
 
“Na década de 50, o ressurgimento da história regional na França tem um paralelo no ressurgimento da história local na Inglaterra, vinculada à escola de W.G. Hoskins, um discípulo de Tawney, cujos livros incluem um estudo da construção da paisagem inglesa e uma história socioeconômica, na longa duração (...)” (Burke, 2010, p.138)
 

Henrique Espada Lima aponta que a referência da nova história local (designada, aqui, por História local Nova) na Itália - em termos metodológicos - é a História Regional francesa. Assim escreve Espada Lima: “Esses estudos locais (...) traduziam de certo modo os estudos monográficos regionais que os seguidores de Braudel estavam desenvolvendo na França naquele período.” (Espada Lima, 2006, p.41)
 
Faz-se necessário destacar alguns dos principais estudos Regionais e locais desenvolvidos na França pela Escola dos Annales na década de 1960:
 
“(...) Catalunha de Pierre Vilar, Languedoc de Emmanuel Le Roy Ladurie, Provence de Michel Vovelle. Demangeon escreveu sobre a picardia, Sion sobre a Normandia, de Maurice Agulhon sobre Provença, de Pierre Deyon sobre Amiens, de AdelineDaumard sobre a burguesia parisiense, de Georgelin sobre Veneza e de J. Nicolas sobre a Savoia.”(Burke, 2010.p.80.)
 

Ainda de acordo com Peter Burke, nesse período, houve um bom número de monografias sobre cidades modernas e sobre cidades mediterrâneas. (Burke, 2010,p.80) Mais adiante, na mesma pagina, Burke descreve as características metodológicas da “nova” História Local:
 
“Esses estudos locais, urbanos e rurais, têm grande semelhança, formando como que um grupo familiar. Quase sempre são divididos em duas partes, estruturas e conjunturas, e se fundamentam em fontes que possibilitam dados bastante homogêneos, do tipo que permite serem arrolados em séries de longa duração (...)” (Burke, 2010, p.80.)
 
As características dos estudos regionais desse grupo eram: iniciava-se com pela geografia da região, descrevia-se em seguida a estrutura econômica, social e mental e concluía-se com uma analise das atitudes políticas e com um balanço das transformações no tempo. (Burke, 2010, p.81) Destacam-se os métodos científicos produzidos pelas universidades que fazem parte da História Local a partir de 1960: “(...) os estudos regionais combinam estruturas braudelianas, a conjuntura de Labrouse e a nova demografia histórica.” (Burke, 2010,p.80.)
 
Cabe destacar a definição de História Regional feita por José D’Assumção Barros:
 
“Quando um historiador se propõe a trabalhar dentro do âmbito da História Regional, ele mostra-se interessado em estudar diretamente uma região específica. O espaço regional, é importante destacar, não estará necessariamente associado a um recorte administrativo ou geográfico, podendo se referir a um recorte antropológico (...). Mas, de qualquer modo, o interesse central do historiador regional é estudar especificamente este espaço, ou as relações sociais que se estabelecem dentro deste espaço, mesmo que eventualmente pretenda compará-lo com outros espaços similares ou examinar, em algum momento de sua pesquisa, a inserção do espaço regional em um universo maior (...).” (Barros, 2004, p.153.)
 

A partir do que foi exposto, podemos definir a História Local Nova como uma prática historiográfica que tem por objetivo o estudo do local. Entende-se como local um lugarejo, aldeia, vila e cidade. As metodologias de pesquisa são herdadas das abordagens construídas pela Escola dos Annales utilizadas na História Regional.
 
Luís Resnik escreve, com o subtítulo “por uma outra história local”, que, nos aspectos historiográficos, as novas formas de fazer esse gênero de história são uma reação contra metodologias e eixos conceituais dimensionados pela história global e total. A História Local Nova é uma mudança na escala de observação, que, segundo o autor, pode construir uma nova densidade no quadro das interdependências entre agentes e fatores constitutivos de determinadas experiências históricas. Existe uma costura de relações sociais que ultrapassam os limites do local, do regional e do nacional. A história local não se opõe, dessa forma, às outras escalas de observação. (Resnik,s.d,p.03)
 

3.
 A Micro-História 

Antes de definir conceitualmente o que significa a Micro-História, cabe descrever o processo de construção desta modalidade historiográfica e perceber como ela foi construída. É notório que a Micro-História nasceu na Itália - nos falta o conhecimento de como isso aconteceu. Segundo Espada Lima, a Micro-História italiana é fruto de um processo não-linear e de diversas práticas historiográficas nem sempre homogêneas. Para compreendera Micro-história, é necessário conhecer um pouco da trajetória dos historiadores italianos reunidos em torno da revista ”Quaderni Storici”. Esse grupo identificou um dado número de problemas e referências mais ou menos comuns que foram identificadas como Micro-História. (Espada Lima, 2006, p.25)
 

3.1
 Da “História Local Nova” a Micro-História 

A Revista Quaderni Storici nasceu em Ancona, uma cidade portuária da Itália, na costa do Adriático, em 1965, sob a direção de Alberto Caracciolo. A primeira edição foi no ano de 1966 e teve o titulo “Quaderni Storici delle Marche”. Manteve esse título até 1969. O título “della Marche” é significativo para ilustrar a marca pelo interesse “local”. Nessa edição inaugural é publicado um texto de Fernand Braudel – “História e Ciências Sociais”. Que aborda a questão da longa duração. (Espada Lima, 2006, p.26) A intenção nitidamente observada na Revista é fixar uma tensão vinculada ao caráter local – colocado no próprio recorte geográfico do título – e monográfico (em oposição ao generalizador e teórico) e o geral. O geral estava expresso na “longa duração” de Braudel. A ideia era conectar as pesquisas locais com problemas muito mais amplos, mediadas pelas discussões historiográficas de vanguarda. (Espada Lima, 2006, p.27) Como já foi feita a referencia, eles queriam uma “nova história local”. Para estes historiadores italianos: “a dimensão local como um campo de testes, de experimentação, marcava então de modo importante o caráter central da revista.” (Espada Lima, 2006, p.29)
 
Para argumentar em defesa da ideia da proximidade e influência dos Annales na historiografia italiana do período, cabe destacar que um dos coordenadores do “Quaderni Storici delle Marche” – Alberto Caracciolo estudou na École Pratique des Hautes Études, “quartel general” de Bruadel nas décadas de 1950 e 1960. (Espada Lima, 2006, p.40)
 
A partir da década de 1970, os debates sobre a “microstoria” aparecem na Revista “Quaderni Storici”. São discussões em torno da História Social, dos estudos de famílias e comunidades, da antropologia histórica etc. Depois de 1970, um grupo maior de historiadores passou a dividir a organização e direção da Revista que, além de Pasquale Villani e Alberto Caracciolo, tinha:Edoardo Grendi, Angelo Ventura, Ernesto Galli Della Loggia, Raffaele Romanelli. Somam-se ainda, entre outros, nos anos seguintes, Giovanni Levi, Carlo Poni e Carlo Ginzburg. (Espada Lima, 2006, p.59.)
 
Segundo Espada Lima, ao analisar os primeiros doze números dos “Quaderni Storici” é possível perceber como seu programa original foi implementado. Segundo o autor, “já não se tratava de seguir no terreno regional as ‘grandes questões nacionais’, mas de pensar a partir da amostra.” (Espada Lima, 2006, p.41)
 
A Micro-História deriva, ou melhor, é uma “evolução” no sentido de transformação, da História Local Nova na Itália. A Micro-História deixa de ter na “delimitação espacial” seu objeto de estudo e passa a se preocupar com problemas gerais da historiografia utilizando-se da redução de escala, ou seja, “pensar a partir da amostra”. Segundo Espada Lima:
 
“Em primeiro lugar, no que dizia respeito à escala de analise: em vez de deter-se sobre as tendências de longa duração e os largos espaços geográficos, propunha-se o estudo intenso sobre comunidades, grupos familiares ou mesmo indivíduos. A justificativa dessa redução de escala estava no fato de que apenas no âmbito microscópio seria possível articular de modo consistente os vários perfis que as fontes seriais produziam – originalmente independentes entre si – em uma compreensão coerente da realidade social. As fontes seriais, tratadas em escala reduzida, não deveriam, portanto, ser consideradas separadamente. Ao contrario, seriam combinadas entre si de modo a revelar, ainda que indiretamente, o conjunto de estratégias comuns e individuais que constituem o concreto das relações sociais. (...)”(Espada Lima, 2006, p.62.)
 

Para diferenciar a Micro-História da História Local, é importante o comentário de José D’Assumção Barros, que escreve assim:
 
“A escolha da micro-historiográfica também pode incidir sobre determinada comunidade microlocalizada, mas tal como já dissemos, nunca o verdadeiro objeto de que se ocupa o historiador será a comunidade em si mesma (como seria o caso da história local), e sim determinado aspecto que incide transversalmente sobre essa comunidade.” (Barros, 2004,p.160.)
 

É possível observar a diferença de História local e Micro-História em uma frase. O micro-historiador Giovanni Levi parafraseia Geertz e diz que “Os historiadores não estudam as aldeias, eles estudam em aldeias.” (Levi, 1992, p.138.)
 

3.2
 A Micro-História
Além da trajetória das pesquisas dos historiadores italianos, a Micro-História também teve a influência do dialogo entre historiadores e antropólogos. Os dois trabalhos mais destacados e conhecidos da Micro-História vêm da França e da Itália: “Montaillou” de Le Roy Ladurie e “O Queijo e os Vermes” de Ginzburg. Isso mostra que a Micro-História pode não ser o resultado de uma transformação dos estudos locais/regionais, mas também o resultado da crise dos paradigmas e da influência da antropologia. Muito embora tenha ocorrido um acúmulo de experiências em História Local/Regional na França também. 
Segundo Giovanni Levi, a micro-história pode ser entendida como uma prática. Essa prática historiográfica é “essencialmente baseada na redução da escala de observação, em uma análise microscopia e em um estudo intensivo do material documental.” (Levi, 1992, p.136.) É importante destacar que não devemos ficar presos a ideias de “espaço” e escalas no sentido geográfico. Por isso, é importante a observação de José D’Assumção Barros, que destaca:
 
“O objeto de estudo do micro-historiador não precisa ser, desta forma, o espaço micro-recortado. Pode ser uma prática social específica, a trajetória de determinados atores sociais, um núcleo de representações, uma ocorrência ou qualquer outro aspecto que o historiador considere revelador em relação aos problemas sociais ou culturais que se dispôs a examinar. Se ele elabora a biografia de um indivíduo (e frequentemente escolherá um indivíduo anônimo), o que o estará interessando não é propriamente a biografia desse indivíduo, mas sim os aspectos que poderá perceber através do exame microlocalizado dessa vida (...).” (Barros, 2004, p.153.)
 

A micro-história tem suas raízes dentro do círculo dos historiadores e possui laços muitos próximos à antropologia. A Micro-História, após iniciar suas observações à massa documental (empírica), não busca impor sobre estes dados e informações uma teoria do tipo legal. A Micro-História parte do conjunto de sinais significativos e busca ajustá-los em uma estrutura inteligível. (Levi, 1992, p.141) Nessa passagem a seguir, Giovanni Levi demonstra esse aspecto interpretativo da Micro-história:
 
“A abordagem micro-histórica dedica-se ao problema de como obtermos acesso ao conhecimento do passado, através de vários indícios, sinais e sintomas. Esse é um procedimento que toma o particular como seu ponto de partida e prossegue, identificando seu significado à luz de seu próprio contexto especifico.” (Levi, 1992, p.154.)
 
Pelo seu Carter interpretativo, a Micro-História rompe com a ideia tradicional de realidade objetiva. Um dos princípios unificadores da prática micro-historiográfica é a ideia segundo a qual um problema abordado pelo microscópio revela questões e respostas que o telescópio não pode captar. Para a micro-história, não é a escala o objeto de análise e estudo, mas sim um problema que é analisado de forma mais densa.
 

4.
 Considerações finais: encontros e desencontros
A História Local é uma modalidade de historiografia muito antiga; porém, no mesmo período em que houve uma renovação nas metodologias e abordagens, surgiu a Micro-História. Pode-se afirmar que a História Local Nova e a Micro-História surgiram do encontro de novas técnicas, metodologias e abordagens que a historiografia estava passando na Europa, no mesmo período histórico. Surgiram no mesmo “lugar” e momento. Esse é um fato marcante do que estas modalidades têm em comum 
Existem duas formas de História Local: uma “tradicional” e outra “nova”. A emergência da História Local Nova na França e na Itália se deu num período de ruptura de paradigmas historiográficos e como resultado de um acumulo de estudos sobre as regiões e localidades. Esse debate vai chegar mais tarde ao Brasil. O interesse pela História local e pela Micro-História no Brasil deve-se, também, pelo fato de ocorrer um acumulo de pesquisas globais e totalizantes, assim como pela ampliação e disseminação dos cursos de graduação e pós-graduação.
 

Se analisarmos alguns aspectos como os objetivos, as fontes, a metodologia e os aspectos relacionados à teoria – veremos que não existe encontros entre as modalides de História local e Micro-História. Isso não significa que um historiador, que pratica uma modalidade de História, não possa se interessar pelos estudos do outro. Os historiadores de questões locais e regionais podem utilizar o método da Micro-História para conhecer aspectos da região ou local que estudam. Um historiador local pode utilizar um estudo Micro-histórico para ilustrar uma trama ocorrida em determinado espaço geográfico. O Micro-Historiador pode utilizar um estudo regional e local para compreender e interpretar um problema analisado em escala reduzida. A História Local Nova e a Micro-História se encontram na Escala. Uma utiliza a escala como fim e a outra como meio.
 

5.
 Bibliografia

ARAÚJO FILHO, Luiz. O Município de Alegrete. Alegrete: Gráfica Coqueiro, 1908. 
BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
 
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da historiografia.2 ed. São Paulo: Editora da Unesp. 2010.
 
BURKE, Peter. Abertura: A nova história, seu passado e seu futuro. In: A Escrita da História: novas perspectivas /Peter Burke (org.). São Paulo: Editora da UNESP. 1992.
 
ESPADA LIMA, Henrique. A micro-história italiana: escalas, indícios e singularidades. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006.
 
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: A Escrita da História: novas perspectivas /Peter Burke (org.). São Paulo: Editora da UNESP 1992.
 
MARTINS,Marcos Lobato. Os estudos regionais na historiografia brasileira. WWW.minasdehistoria.blog.br/.../historia_e_estudos_..._Acesso:22/04/2012, 09:49 (Texto:p.01-19).
 
REIS, José Carlos. História & Teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
 
REIS, José Carlos.Escola dos Annales: a inovação em história.São Paulo, Pz e Terra, 2000.
 

REZNIK, Luís. Qual o lugar da história local? www.historiadesaogoncalo.pro.br/txt_hsg_artigo_03.pdf. Acesso: 22/04/2012, 10:00.

sexta-feira, março 24, 2017

Introdução ao Estudo do Currículo 1ª Parte

Multiculturalismo e Educação
                              Currículo, Interdisciplinaridade e Transversalidade.
•Enquanto projeção do projeto pedagógico, o currículo define o que ensinar, o para quê ensinar, o como ensinar e as formas de avaliação, em estreita colaboração com a didática;
•Etimologicamente, significa “o ato de correr, percurso” (do verbo latino currere = correr)
•No linguajar comum ainda predomina a idéia de currículo como o conjunto das disciplinas que o aluno deve percorrer, ou seja, o plano de estudos ou a grade curricular.
•Significados mais ampliados do termo surgem no inicio do séc. X, identificando quase sempre o conjunto de saberes e/ou experiências que conjunto de saberes e/ou experiências que alunos precisam saber adquirir/vivenciar em função de sua formação
•O currículo é a representação da cultura no cotidiano escolar(...), o modo pelo qual se selecionam, classificam, distribuem e avaliam conhecimentos no espaço das instituições conhecimentos no espaço das instituições escolares (...) um modo pelo qual a cultura é representada e reproduzida no cotidiano das instituições escolares. (Pedra,1999).
Níveis de currículo
•Currículo formal: refere-se ao currículo estabelecido pelos sistemas de ensino ou instituição educacional. É o currículo legal expresso em diretrizes, objetivos e conteúdos das expresso em diretrizes, objetivos e conteúdos das áreas ou disciplinas de estudo. O currículo formal ou oficial é aquele conjunto de diretrizes normativas prescritas institucionalmente como por exemplo, os PCNs. 
Currículo real: é o currículo que, de fato, acontece na sala em decorrência de um acontece na sala em decorrência de um projeto pedagógico e dos planos de ensino. É a execução do plano, é a efetivação do que foi planejado, mesmo com as mudanças do percurso.
Currículo oculto: essa denominação refere-se àquelas influências que afetam a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores provenientes da dos professores provenientes da experiência cultural, dos valores e significados trazidos pelas pessoas de seu meio social e vivenciados na escola
A questão curricular na LDB
•Art.26°. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, cultura, da economia e clientela.
•§1°. Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil.
•§2°. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório nos níveis de educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
•§3°.A educação física, integrada á proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se as faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.
§4°. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígenas, africana e européia.
§5°. Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente,a partir do sexto ano (quinta série) o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição
Quanto as diretrizes curriculares
•I-a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática;
•I-consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; alunos em cada estabelecimento;
•I-orientação para o trabalho;
•IV-promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais.
•No que se refere à cultura afro-brasileira, mais recentemente a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de recentemente a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, modificou o texto da LDB para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira.

O parágrafo 1º do novo artigo 26-A define que a inclusão dessa temática visa resgatar “a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à história do Brasil”.O parágrafo seguinte história do Brasil”.O parágrafo seguinte explica que os conteúdos “serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras”.
Questões para a Reflexão
01) Qual o Currículo Atual?
02) Este Currículo Atende a realidade local?

História Regional e Local 1ª Parte

A afirmação da historiografia nacional

A historiografia brasileira está impregnada por narrativas que discursam sobre a nação, a pátria, a sociedade, o Estado brasileiro. Esta afirmação, longe de ser tautológica, designa o lugar que o recorte temático “nacional” assumiu entre os historiadores brasileiros. Os grandes textos, os clássicos da historiografia, aqueles que tomaram lugar no panteão consagrado pelo pensamento político e social, lidos como referências obrigatórias nas nossas universidades, escritos pelos que se tornaram nossos mestres historiadores, remetem-nos, inequivocamente, à uma História do Brasil.

Essas referências nos levam de volta ao século XIX, momento de constituição do Estado brasileiro. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o atual Arquivo Nacional, ambos criados em 1838, encabeçaram, à época, o conjunto de forças institucionais no campo de produção de uma historiografia nacional. Os dois, em um esforço sistemático de recolhimento e catalogação de fontes documentais e de elaboração de narrativas sobre o Império, produziram memórias fundadoras da nacionalidade. Foram edificados sob os auspícios de um governo monárquico que, orientado pelo princípio da centralização e pelo temor da fragmentação territorial – vista como um dos males da América hispânica -, tornou-se um dos principais agentes interessados em apagar e soterrar memórias e referências de pertencimento marcadas por localismos e regionalismos.3 Nessa perspectiva surge a História Geral do Brasil, de Francisco Varnhagen, em 1854, e as suas “traduções escolares”, em especial aquelas escritas pelo romancista Joaquim Manuel de Macedo, em 1861 e 1863.4

No século XX, os esforços em tornar “brasileiros” todos os que viviam em “terras do Brasil” mobilizou tanto intelectuais como dirigentes estatais. A pesquisa empreendida pelos modernistas dos anos 20 em diante, visava aflorar os traços da nacionalidade brasileira escondida sob os ideais cosmopolitas predominantes nas elites intelectuais do início do século. Nas palavras de Gilberto Freire,em 1926, precisavam sentir o “grande Brasil” que crescia em oposição aos que teimavam ver as coisas “através do pince-nez de bacharéis afrancesados”.5

A nacionalização da escola, a partir da obrigatoriedade do ensino na língua portuguesa e a sedimentação de conhecimentos de História e Geografia do Brasil; as grandiosas comemorações de festas cívicas nacionais, como o Dia da Bandeira, Dia da Raça, Dia do Trabalho; e a criação de agências nacionais de fomento às artes nacionais foram algumas das políticas culturais do Estado Novo (1937-1945). Este foi o único período da República brasileira a impor constitucionalmente o unitarismo político, negando autonomia política-orçamentária-legislativa das localidades estaduais e municipais.

A democratização após a II Guerra Mundial levou à tematização nos meios políticos e intelectuais do caráter “subdesenvolvido” da economia e da sociedade brasileira. Os anos 50 ensejaram projetos nacional-desenvolvimentistas, que articulavam os meios para romper com o que se considerava o atraso econômico e cultural da nação. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado em 1955 e sediado no Rio de Janeiro, reuniu parcela da intelectualidade que, imbuída de convicções acerca da urgência das transformações, pari passu ao Plano de Metas JK (“Cinquenta anos em cinco” – 1956-60), divulgava através de cursos, palestras e textos impressos a “significação do nacionalismo”6 .

Durante os governos autoritário militares (1964-1985), os dirigentes impulsionaram políticas de integração nacional de largo espectro, desde a construção de estradas “integradoras” de várias regiões até a criação de um aparato tecnológico que desse conta da nacionalização dos meios de comunicação, isto é, da difusão de valores e bens simbólicos. A Rede Globo de Televisão, que veio a se tornar, da década de 70 aos dias atuais, a principal rede de televisão do país, em caráter quase monopolista, cresceu na esteira dessas transformações, construindo, a partir do Rio de Janeiro, uma imagem de um Brasil moderno, urbano e nacional. 7

Sintonizada com as transformações mundiais do ofício do historiador – desde a constituição de novos objetos e métodos, passando pela ampliação dos domínios e territórios da historiografia até a discussão dos estatutos e das fronteiras da disciplina –, a moderna historiografia brasileira, posterior à implantação da Pós-graduação nos anos 70, reiterou fortemente o foco na Nação e/ou no Estado nacional.8 Algumas vezes, entretanto, ao anunciar a tematização do nacional, algumas obras focalizavam especificamente algumas regiões, tomando a parte pelo todo, isto é, supostamente a região que foi objeto de estudo deveria ser paradigmáticas das experiências ocorridas em todo o Brasil. Lembro, apenas como exemplo, estudos sobre industrialização, movimento sindical e movimentos abolicionistas, onde os historiadores assumiam que os processos ocorridos ora na cidade de São Paulo, ora na do Rio de Janeiro, seriam exemplares, constituindo-se não em uma determinada experiência, mas na História do Brasil.

Questões para a reflexão:

01) Onde no campo da historiografia, se insere a História Regional e Local?

02) Quais os problemas que se colocam para este campo?

quarta-feira, março 08, 2017

Civilizações americanas


Importantes civilizações das Américas 
Machu Picchu, a cidade dos Incas
As civilizações pré-colombianas correspondem aos povos que habitavam desde o México até a Cordilheira dos Andes, que possuíam uma estrutura organizacional social muito bem instituída.

Dentre as principais civilizações estão os Astecas que ocupavam o território onde atualmente se encontra o México, além dos Maias que também habitavam a América Central e os Incas que viveram em áreas onde se encontram hoje países como Peru, Bolívia, sendo esses ocupados em suas totalidades, além de ocupar parcialmente territórios do Equador, Colômbia, Argentina e Chile.


Os Astecas são povos pré-colombianos que ocuparam no passado, no período dos séculos XIV a XVI, um vale onde é hoje o México. Os Astecas consistem em um conjunto de indivíduos compostos, sobretudo por agricultores, comerciantes e artesãos, esses executavam trabalhos públicos e também militares.

Essa civilização detinha técnicas de drenagem a partir da implantação de ilhas artificiais que serviam para expandir o cultivo de culturas como milho, feijão, tomate, pimenta e batata-doce. A moeda de troca era a semente de cacau, no artesanato destacava a produção de tecidos e cerâmicas.

Os Maias também inserem ente as civilizações pré-colombianas, esse povo viveu principalmente em áreas de florestas tropicais onde hoje encontra-se os territórios da Guatemala, Honduras e da Península de Yucatán, ocupou as respectivas áreas entre os séculos IV a.C e IX d.C.

Alcançaram técnicas de irrigação para o desenvolvimento da agricultura, além de deterem conhecimentos de engenharia e arquitetura, tinham como base de suas construções pedras para a instalação de templos, pirâmides e palácios.

Além de deter conhecimento na astronomia, e por isso criou um calendário, também realizavam cálculos matemáticos.

E por fim a civilização pré-colombiana que habitava a América do Sul, os Incas. Esse povo viveu em toda extensão da Cordilheira dos Andes. Essa civilização se destaca principalmente pelas construções como a cidade de Machu Picchu, além do artesanato de cerâmica entre outros conhecimentos. Machu Picchu é conhecida como a cidade do sol, isso devido à sua altitude, esse fantástico monumento foi descoberto somente nos primeiros anos do século XX, mais precisamente, em 1911

Roma e Grécia Antiga

O Mito da fundação de Roma

Diz a lenda que Roma foi fundada no ano 753 a.C. por Rômulo e Remo, filhos gêmeos do deus Marte e da mortal Rea Sílvia. Ao nascer, os dois irmãos foram abandonados junto ao rio Tibre e salvos por uma loba, que os amamentou e os protegeu. Por fim, um pastor os recolheu e lhes deu os nomes de Rômulo e Remo. Depois de matar Remo numa discussão, Rômulo deu seu nome à cidade. A história, por sua vez, nos diz que algumas tribos de origem sabina e latina estabeleceram um povoado no monte Capitolino, junto ao rio Tibre.

A monarquia 

Num período lendário, Roma foi governada por sete reis que tinham poder absoluto. O Senado, formado por chefes de família, os aconselhava. Por volta de 575 a.C., os reis etruscos dominaram Roma e influenciaram decisivamente o início da civilização romana. Ditaram leis prudentes em favor do artesanato e do comércio, com os quais Roma adquiriu grande importância. Aos poucos, porém, esses reis deram lugar a outros monarcas, violentos e tirânicos, que desprezavam as opiniões do Senado.

Patrícios e plebeus

Os cidadãos livres se dividiam em patrícios e plebeus. Os patrícios eram os descendentes das famílias dos antigos chefes tribais. No início da República, eles constituíam a classe dirigente. Já os plebeus não tinham linhagem aristocrática e não possuíam direitos políticos. No século III a.C., após as guerras, surgiram novas camadas sociais: cavaleiros ou homens novos (plebeus enriquecidos no comércio) e clientes (dependentes dos patrícios). A partir daí, a organização social já não se estabelecia em função do nascimento, mas sim da riqueza.

A república e seus magistrados

As famílias patrícias que formavam o Senado, temerosas de perder seu poder diante da tirania dos reis, os expulsaram e proclamaram a República. Esta se baseava em três órgãos: o Senado, os magistrados e as Assembléias, simbolizados pela conhecida sigla S.P.Q.R. (Senatus Populusque Romanus, ou seja, “Senado e povo romano”).
Roma Antiga

O trabalho dos escravos

Em conseqüência das guerras de expansão, os escravos em Roma eram muito numerosos. Não eram considerados seres humanos, mas sim propriedades e, portanto, eram explorados e vendidos como mercadorias. Seu trabalho, no artesanato e na agricultura, era decisivo para a produção de bens necessários para a sociedade. Podiam comprar a sua liberdade ou então serem libertados pelo proprietário. A partir do século II a.C., sucederam-se diversas rebeliões de escravos, como a comandada por Espártaco.

O exército romano

O Império Romano dependia de um exército forte e bem organizado, que realizava as campanhas de expansão e defendia as fronteiras. Os legionários eram a base do exército romano; a maioria deles eram voluntários. Para entrar no exército era imprescindível ser cidadão romano. O exército estruturava-se em legiões de seis mil soldados, cada uma dividida em dez cortes.

A religião romana

A religião romana foi formada combinando diversos cultos e várias influências. Crenças etruscas, gregas e orientais foram incorporadas aos costumes tradicionais para adaptá-los às novas necessidades do povo. O Estado romano propagava uma religião oficial que prestava culto aos grandes deuses de origem grega, porém com nomes latinos, como por exemplo, Júpiter, pai dos deuses; Marte, deus da guerra, ou Minerva, deusa da arte. Em honra desses deuses eram realizadas festas, jogos e outras cerimônias. Os cidadãos, por sua vez, buscavam proteção nos espíritos domésticos, chamados lares, a quem rendiam culto dentro de casa. O Edito de Milão de Constantino estabeleceu a liberdade de culto aos cristãos, encerrando as violentas perseguições. No século IV d.C., o cristianismo tornou-se a religião oficial, por determinação do imperador Teodósio.

A arte romana

Inspirada no modelo grego, a arte romana incorporou as formas e as técnicas de outras culturas do Mediterrâneo.
Roma destacou-se na arquitetura com grandes edifícios privados e públicos. Entre os privados, incluem-se as casas e as residências coletivas. Os públicos dividem-se em religiosos (templos), administrativos e comerciais (basílicas) e lúdicos (teatro, anfiteatro e circo). O espírito prático de Roma reflete-se no urbanismo e nas grandes obras de engenharia, como estradas e aquedutos.

A cidade de Roma no século I a.C.

No século I a.C., Roma passou por uma transformação espetacular, tornando-se uma cidade repleta de confortos, com casas comerciais, jardins e edifícios monumentais. Construíram-se numerosas residências e locais de diversão – como o Coliseu – e foram feitas grandes melhorias no sistema de esgotos e nos aquedutos da cidade.

A crise do Império Romano

A partir do século III, o Império Romano entrou em declínio. Com o fim das guerras de conquista, esgotou-se a principal fonte fornecedora de escravos. Teve início a crise do escravismo que abalou seriamente a economia, fez surgir o colonato e provocou o êxodo urbano. Além disso, houve disputas pelo poder e as legiões diminuíram. Enfraquecido, o Império Romano foi dividido em dois e a parte ocidental não resistiu às invasões dos
bárbaros germânicos no século V.

Grécia Antiga

História da Grécia

As comunidades gregas, ao longo de toda a Antigüidade, mantiveram duas características constantes: uma feroz autodeterminação e um constante estado de beligerância entre si…
Os antigos gregos nunca constituíram em qualquer período de sua história uma nação no sentido político moderno: suas comunidades independentes nunca se organizaram de forma unificada. Os gregos identificavam-se, no entanto uns com os outros culturalmente, pois falavam a mesma língua e adoravam os mesmos deuses, embora com variações locais em ambos os casos.
Arquitetura da Grécia Antiga

A Historiografia 

A historiagrafia grega começa na segunda metade do século -VI com os logógrafos, dos quais o mais ilustre foi Hecateus de Mileto (-550/-475), e muitos autores de “histórias locais”, gênero que perdurou durante toda a História Antiga.
Heródotos (-484/-425), tradicionalmente chamado de pai da história, escreveu sobre os antecedentes e acontecimentos das guerras greco-pérsicas e fez detalhado relato das regiões que visitou. Ele foi mais um “contador de histórias” que propriamente um historiador, e somente com o ateninense Tucídides (-455/-400) começa realmente a historiografia moderna.
Tucídides foi a rigor um “historiador local”, pois escreveu somente sobre a Guerra do Peloponeso (Atenas vs. Esparta), mas suas agudas análises dos fatores e acontecimentos relacionados com a guerra são respeitadas até hoje.
Sucederam-no historiadores de menor envergadura, como Xenofonte (-428/-354), Ctésias (séc. -IV), Éforos (séc. -IV), Teopompos (séc. -IV), Tímaios (-346/-250).
Políbios (-200/-118) foi o último dos grandes historiadores gregos, mas escreveu sobre a História de Roma; depois dele vieram Dionísios de Halicarnasso (séc. -I/I) Diodoros Siculo (séc. -I), que escreveu uma “História do Mundo” centrada em Roma, e Arrianos (95/175).
Muitos historiadores não-gregos escreveram Histórias de Roma e de outros povos em grego: Díon Cássios (150/235), Flávios Josefos (37/100), Apianos (séc. II), Herodianos (165/250) e o bispo cristão Eusébios (265/340), que também escreveu uma “história universal”.

A Biografia 

A biografia, aparentada à historiografia, não foi muito cultivada pelos gregos. Embora os historiadores Heródotos, Tucídides e Xenofonte apresentem em seus escritos algumas passagens de estilo correlato, somente com Plutarcos (46/120) e Diogenes Laertios (200/250) o gênero se estabeleceu.

A idade das trevas

Com a destruição dos últimos palácios micênicos em -1100 e a desagregação do sistema social controlado e mantido por eles, desapareceu a brilhante e sofisticada cultura grega da Idade do Bronze.
As comunidades diminuíram, empobreceram, isolaram-se, e as trocas comerciais reduziram-se a quase nada. Extinguiu-se, praticamente, o contato constante entre os gregos e as adiantadas culturas da Ásia Ocidental.
Tão rápido e intenso foi o declínio do mundo micênico que os gregos dos tempos posteriores não se lembravam do esplendor da Idade do Bronze a não ser de modo vago e impreciso, como um tempo de deuses, heróis e lendas.
Após quase duzentos anos de estagnação cultural, no entanto, as comunidades começaram novamente a desenvolver-se e a organizar-se em cidades. Os primeiros templos comunitários foram então construídos, o uso do ferro tornou-se cada vez mais comum, a produção de alimentos e a população do continente aumentaram tanto que iniciou-se um movimento contínuo de migração e fundação de novas cidades além-mar.
Há, surpreendentemente, alguns poucos padrões micênicos nas escassas obras de arte produzidas após -900, o que significa que nem todos os conhecimentos adquiridos pelos gregos durante a Idade do Bronze haviam sido perdidos. Como bem disse Finley, “A menos que a própria vida seja destruída numa região, sempre há algum tipo de continuidade”.
E a Idade das Trevas foi, seguramente, um período de transição. Pode-se dizer que praticamente todos os processos políticos, sociais e artísticos que se desenvolveram no Período Arcaico e atingiram o auge durante o Período Clássico começaram durante esses séculos não completamente obscuros…

Ciência Grega

A maioria dos povos antigos (egípcios, chineses, hindus, mesopotâmicos e mesmo os gregos) já possuíam, desde a Idade da Pedra, um enorme cabedal de conhecimentos práticos e eficazes, adquiridos empiricamente através de observações razoavelmente acuradas. Mas foi somente por volta de -600, na Grécia, que os filósofos pré-socráticos deram o primeiro impulso em direção ao pensamento científico.
Durante muito tempo os intelectuais gregos não distinguiram claramente a ciência da filosofia, e mesmo o filósofo Aristóteles (-384/-322), que exerceu enorme influência no pensamento filosófico-científico ocidental durante a Idade Média e Renascença, nunca recorreu à experimentação para consolidar suas minuciosas observações.
Somente duas disciplinas começaram o longo processo de separação da filosofia durante a Antigüidade, a Medicina e a Física. Nos séculos -IV e -V a Medicina consolidou os princípios essenciais que norteiam os médicos até hoje, e a Matemática e a Física Mecânica receberam grande impulso com os trabalhos do matemático, astrônomo e inventor Arquimedes (-287/-212), que além de grande teórico era um engenhoso inventor e em seus estudos recorreu algumas vezes a experimentos.
As demais ciências continuaram ligadas à filosofia em maior ou menor grau durante toda a Antigüidade, e além dela. A ciência, tal qual a conhecemos, começou há apenas 400 anos, em plena Renascença. E foi o físico e astrônomo italiano Galileu Galei (1564/1642) quem estabeleceu, a despeito das perseguições movidas pela Inquisição, o princípio da experimentação e enunciação matemática do resultado dos experimentos como os pilares fundamentais do conhecimento científico.

Outras Ciências

Biologia 

Os gregos preocuparam-se basicamente com a origem dos seres vivos e com a zoologia e botânica descritivas. Os mais importantes biólogos foram Anaximandros (-610/-547), Aristóteles(-384/-322) e seu discípulo Teofrastos (-371/287).

Matemática 

A geometria e o cálculo atraíram especialmente os gregos antigos. Os mais importantes matemáticos foram Pitágoras (séc. -VI), Hipócrates de Quios (séc. -V), Euclides (séc. -IV/-III), Arquimedes(-287/-212), Eratóstenes (-276/-195) e Apolônios de Perga (séc -II).

Física 

Com exceção das especulações sobre a origem do mundo, os gregos desenvolveram mais a física prática que a teórica. Arquimedes (-287/-212), Ctesíbios (séc. -III) e Heron (séc. I) ficaram famosos devido a suas invenções mecânicas, equipamentos e instrumentos científicos que construíam. Outros físicos notáveis foram o médico Empédocles(-492/-432) e Claudius Ptolomeus (100/170).

Química 

Na química, fora o uso de plantas para o tratamento de doenças, destacam-se apenas Demócritos (460 / séc. IV) e Leucipos (séc. V), com a teoria atômica, e os estudos de mineralogia de Teofrastos

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