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terça-feira, fevereiro 16, 2016

Pegada ecológica:consumo, logo existo?


A ideia de felicidade acoplada ao consumo, o sonho da moda, a fugacidade das coisas produzidas e a aparente abundância trazem consequências a curto, médio e longo prazos, com impacto nas sociedades humanas e no ambiente. Qual é a marca que estamos deixando no planeta?
Vivemos em uma sociedade pautada pelo consumo, que sustenta a economia mundial. Valendo-se disso, o capital cria produtos para os diversos públicos, gostos e bolsos, de modo que hoje, embora milhões de pessoas vivam abaixo da linha da pobreza, há parcelas de consumidores que são responsáveis por alimentar o ciclo de produção capitalista.
O que chama atenção é a urgência de se fazer circular os produtos e as formas de vida, com a característica de serem rapidamente envelhecidos e substituídos. Isso se traduz em experiências de vida que têm por característica fundamental as conquistas em curto prazo, modos de ser em constante excitação por novas sensações e uma inquietação e insatisfação crescentes.
Impacto no planeta
O consumidor, na sociedade atual, está sempre em movimento, ligado às mudanças, instigado a abolir a durabilidade e a permanência das coisas, ao mesmo tempo em que luta para se reconhecer através dos inúmeros bens aparentemente disponíveis a todos.

Mas alguma vez você já pensou na quantidade de recursos naturais necessários para manter o seu estilo de vida? Já imaginou avaliar o impacto no planeta das suas opções no dia a dia, daquilo que você consome e dos resíduos que você gera?
A pegada ecológica individual mede o quanto a presença de cada pessoa no mundo consome dos elementos que compõem o nosso espaço de vida e existência, com vistas ao atendimento das necessidades que elege para sua vida em sociedade. Como critério para reconhecimento das condicionantes do nosso estilo de vida, a pegada ecológica coletiva pode ser comparada com a capacidade da natureza de renovar esses elementos componentes bióticos e abióticos do meio ambiente.
A pegada ecológica de um país é a área total requerida para a produção de todas as demandas de consumo de sua população, incluindo alimentação, vestuário, educação, saúde, cultura, trabalho, moradia, transporte, comunicação, entretenimento etc., as quais implicam exploração da natureza no que diz respeito a matéria-prima, energia, água, terras agricultadas, áreas urbanizadas e, ainda, a bolsões de absorção dos resíduos gerados por todas as etapas implicadas nesse processo antrópico geral.
Portanto, em decorrência do ato de consumir produtos e serviços diariamente, a população mundial consome componentes ecológicos do planeta como um todo, de modo que a pegada ecológica da humanidade é a soma de todas essas áreas implicadas, onde quer que elas estejam no planeta. A humanidade necessita hoje de 1,5 planetas para manter seu padrão de consumo, colocando a biocapacidade planetária em grande risco.
Cidadania ambiental
Sustentabilidade é a palavra da vez, entretanto é muito mais do que uma palavra da moda. Ser ecologicamente sustentável é uma forma de vida, e a única maneira de permitir que nosso planeta se recupere para que possamos viver em paz e por muito tempo ainda com os recursos naturais que ele tem para fornecer. Além disso, a cidadania possui estreita ligação com o meio ambiente, a partir do momento em que decidimos aplicar sustentabilidade em nossa própria casa e exigir dos órgãos públicos o cumprimento da legislação ambiental. O artigo 225 da Constituição brasileira prevê: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Pensar globalmente, agir localmente, conceito que contribui para mudar o comportamento do cidadão, introduzir a noção que cada um dos bilhões de seres humanos que habitam o planeta deve fazer a sua parte. Não vamos salvar o planeta porque recusamos uma sacola plástica, mas se os sete bilhões de seres humanos que habitam a Terra atualmente a recusarem, serão sete bilhões de sacolas a menos.
Preservar o meio ambiente é preservar a própria pele, e fragilizar o meio ambiente é fragilizar a economia, o emprego, a saúde. O certo é que não existe saída se não houver uma alteração nos costumes predatórios. É imprescindível que cada vez mais os cidadãos tomem conhecimento do seu papel enquanto agentes de conscientização e responsabilidade ambiental, optando decididamente pelos produtos de empresas comprometidas com o meio ambiente e a qualidade de vida da sociedade. Não existe natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.
 
Mirian Fabiane Dickel Stratebióloga e professora, Teutônia, RS.

Publicado no Jornal Mundo Jovem - edição fevereiro/2015.

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