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segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Um olhar sobre o saber histórico

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O ensino de História está, quase sempre, condicionado a uma concepção ou corrente historiográfica. Isso quer dizer que o conhecimento histórico e o ensino da matéria se modificaram ao longo dos tempos.
Antes de constituir-se como disciplina escolar, a História se confundia com a história bíblica e dos deuses. Por isso, da Idade Média até o século 17 evidenciou-se uma História ancorada na religião. Embora a história já fosse ensinada pelos jesuítas desde o século 17, foi somente no século 18 que ela ganhou contornos delimitados como conhecimento objetivamente elaborado e teoricamente fundamentado.
A partir da fundação do Colégio Pedro II e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, a História, enquanto conteúdo de ensino específico, passa a ser difundida no Brasil. O IHGB surgiu como o centro pensante, elaborando um parâmetro de história nacional oficial, e o Colégio Pedro II foi o executor desses parâmetros, influenciados pelo positivismo e pelo catolicismo.
Nessa perspectiva, cabia a tais instituições elaborar uma identidade nacional, visto que naquele momento o Brasil enfrentava um momento delicado, marcado por instabilidade social e política (crise da Independência). Fazia-se necessário induzir o povo a colaborar com a estrutura social e política vigente. O objetivo dessa disciplina era despertar o patriotismo necessário para a emergência de uma identidade nacional.

Nacionalismo e culto aos “heróis”
No período republicano, foi legado à educação o status de redentora da nação. Por conseguinte, buscou-se, a partir do ensino de História, fortalecer o espírito nacionalista necessário para a sedimentação da identidade nacional, abrindo espaço para as discussões concernentes a questões educacionais. Destacou-se a proposta do pedagogo José Veríssimo, o qual acreditava que, para o projeto político da República consolidar-se, era preciso um sistema educacional abrangente e perpetuador de um patriotismo e de um pertencimento nacional. Ao ensino de História cabia priorizar o estudo dos feitos e da biografia dos grandes cidadãos brasileiros. Assim, na I Conferência Nacional de Educação, em 1927, discutiram-se os caminhos para se construir uma identidade nacional comum, a partir do ensino de História, da moral e do civismo.
Apesar dos diversos esforços feitos pelo governo republicano, não se conseguiu construir uma educação sistemática e universalizante. Esse projeto só foi alcançado no governo de Getúlio Vargas, quando houve a consolidação de uma memória nacional e patriótica, contemplando o culto aos heróis e a ênfase nas tradições nacionais nas aulas de História.

História e ditadura
Durante todo o regime militar brasileiro (1964-1985), a disciplina foi usada como mecanismo de manipulação social e controle da ordem social vigente. Sua missão era neutralizar qualquer tipo de crítica ao Estado.
No período da ditadura militar, a História, como disciplina escolar autônoma, foi diluída e passou a coexistir com a Geografia sob a intitulação de Estudos Sociais. Não era intenção formar um aluno crítico e reflexivo, e sim um aluno submisso e passivo ao autoritarismo do Estado.
Com a redemocratização política, o ensino de História passou a ser pensado para instruir o aluno a criticar toda forma de repressão e autoritarismo. Partindo desse pressuposto, infere-se que, a partir de 1980, o ensino de História toma novas direções. Passa a ser uma arma contra o autoritarismo e qualquer tentativa de censura – portanto, um cidadão em consonância com o contexto da época.
Enquanto disciplina escolar no Brasil, a História, desde sua gênese, foi usada como justificação do poder da ordem dominante, como propagadora de uma determinada ideologia. Por isso, é nossa tarefa batalhar por uma História que leve os estudantes a compreender o contexto em que estão inseridos, permitindo que ultrapassem as barreiras da dominação.

Autora: Maria de Lourdes Abrantes Sarmento, graduanda do curso de História da Universidade Federal de Campina Grande, PB.
E-mail: lourdes.abrantes@yahoo.com.br

Sugestões de Leitura
O ensino de História: revisão urgente, de Conceição Cabrini. São Paulo: Brasiliense, 2004.
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas, organizado por Leandro Karnal. São Paulo: Contexto, 2010.

Sugestões de Sites
Tempo, Revista Digital de História da UFF: www.historia.uff.br/tempo
Rede social voltada para o ensino da história: www.cafehistoria.ning.com

Atividade
História é coisa de fofoqueiro?
Por que aprender sobre tanta gente morta se estamos vivos? Estudar história influencia nossas escolhas?

Essas e outras dúvidas estão presentes na cabeça dos jovens, então, que tal aproveitar o começo do ano e debater sobre a importância de estudar História?
Pode-se assistir ao vídeo Por que estudar história? e responder essas e outras perguntas junto com os estudantes. Além de refletir, poderemos colher dicas de interesse dos jovens ao longo do ano.

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