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segunda-feira, maio 30, 2022

RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO 2

 TÓPICO 2

EVOLUÇÃO E CONCEITOS DA DIDÁTICA

1 INTRODUÇÃO

Até o momento, caro acadêmico, verificamos a caminhada da Pedagogia, vista como ciência na atualidade. Passaremos a tratar neste tópico sobre a Didática. Qual a sua evolução histórica e os conceitos dados a ela.

Até o momento falamos sobre a Pedagogia, mas ela já apresentou fatores que estão na Didática. Assim, podemos utilizar a metáfora da colcha. Essa, para ser feita, necessita de fios, os quais são coloridos, possui enlaces que vão sendo construídos, unidos, formando ao final, um lindo trabalho. Assim é a Didática com a Pedagogia, as duas entrelaçadas, dando significado maior a cada momento histórico vivido por professores e sociedade.

Estaremos nos reportando muitas vezes aos recortes históricos realizados até o momento dentro da Pedagogia, pois tanto a Pedagogia, como a Didática, são como a colcha, cheia de tramas e de enlaces.

É importante termos este conhecimento, para que nossa colcha vá sendo costurada com pontos firmes e entrelaçada de maneira correta, para não ocorrer dúvidas ao final deste percurso do reconhecimento da Didática em nosso cotidiano.

2 A EVOLUÇÃO DA DIDÁTICA

Partimos da ideia que permeou nosso estudo até o momento. Os recortes históricos, os quais nos delimitaram as ideias e momentos sociais de cada época. Vamos retomar um pouco da Antiguidade, até o século XIX, onde vimos que a prática escolar era tratada de forma “passiva e receptiva” (HAYDT, 2006, p. 14).

A autora ainda nos apresentada a seguinte explicação:

Aprender era quase exclusivamente memorizar. Nesse tipo de aprendizagem, a compreensão desempenhava um papel muito reduzido. Essa forma de ensino baseava-se na concepção de que o ser humano era semelhante a um pedaço de cera ou argila úmida que podia ser modelado à vontade. Na antiga Grécia, Aristóteles já professava essa teoria, que foi retomada frequentemente, ao longo dos séculos [...] (HAYDT, 2010, p. 14)

Cabe ressaltar que ao professor cabia o repasse dos textos aos alunos, os quais decoravam inicialmente textos mais curtos e passavam a ser ajustados (aumentando o grau de dificuldade). Com o passar do tempo, os alunos estavam habituados com essa prática de ensino que “durante séculos, passou a ser conhecido como recitação de cor” (HAYDT, 2006, p. 15).

Outro fator interessante que ressalta a autora é que a “forma de aprendizagem era que o aluno reproduzisse literalmente as frases e palavras decoradas”.

Aos poucos foi verificando que somente repasse de textos e a mera “recitação de cor”, já não era mais interessante, e essa passou a ser discutida, dando espaço agora a ideia de que: “o ser humano é capaz de apreender e assimilar o mundo que o circunda. Com base nessas teorias do conhecimento, alguns princípios didáticos foram formulados” (HAYDT, 2006, p.15)

Caro(a) acadêmico(a)! No tópico anterior vimos as tendências pedagógicas. Encontramos alguns educadores, filósofos e pensadores que traduziram sua forma de ensino, através de seus métodos. Desta forma, vamos agora, ver mais alguns deles, realizando um recorte histórico.

Sócrates: construiu um método conhecido como método socrático que foi nomeado de “ironia”, que possui dois tempos: a refutação e a maiêutica.

Conforme Haydt, (2006, p. 15-16):

Na refutação, Sócrates levantava objeções às opiniões que o discípulo tinha sobre algum assunto e que julgava ser a verdade. De objeção em objeção, o aluno ia tentando responder às dúvidas levantadas por Sócrates até que, contradizendo cada vez mais, admitia sua ignorância e se dizia incapaz de definir o que até há pouco julgava conhecer tão bem. [...]

Tendo o discípulo tomado consciência de que nada sabia, Sócrates passa então para a segunda parte de seu método, que ele mesmo denominou maiêutica. Partindo do conhecido para o desconhecido, do fácil para o difícil, Sócrates vai fazendo a seu discípulo uma série de perguntas que o leva a refletir, a descobrir e a formular as próprias respostas.

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Vimos uma palavra já conhecida em nosso meio acadêmico, a palavra Maiêutica. Ela nos remete a nossa revista digital, onde são apresentados os trabalhos classificados de determinado ano. Assim sendo, fique ligado! Este ano teremos a JOIA (Jornada de Integração Acadêmica), onde serão apresentados os trabalhos construídos por vocês.

Por que me utilizei deste exemplo? Por que a Maiêutica, como Sócrates prescreveu, é “dar à luz as ideias” (HAYDT, 2006, p. 16). E este é o objetivo da Revista Maiêutica, de dar ao acadêmico(a) a possibilidade de construir seu conhecimento e expô-lo à comunidade acadêmica.

Cabe ressaltar que mesmo estando na Grécia Antiga, Sócrates afirmava que: “os mestres devem ter paciência com os erros e as dúvidas de seus alunos, pois é a consciência do erro que os leva a progredir na aprendizagem” (HAYDT, 2006, p. 16).

FIGURA 11 - SÓCRATES

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FONTE: Disponível em: <https://psicopapo.wordpress.com/2015/09/10/de-socrates-a-platao/>. Acesso em: 13 jan. 2016.

Uma de suas frases célebres é a presente na figura. Isso não significa que Sócrates era um ignorante, muito pelo contrário, essa frase nos indica que a pessoa que se considera não conhecedora de tudo é alguém sábia, pois vai à busca de mais conhecimento; enquanto aquela que julga possuir todo o saber, fica engessada em seu mundo. Isso significa que estamos em constante movimento, crescimento.

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Para você obter maiores informações sobre Sócrates, deixamos o site abaixo como sugestão. Neste vídeo, o Professor Mario Sérgio Cortella nos dá uma aula sobre esse filósofo e seu método. Aparece intitulado como: Curtas filosóficas: Mario Sérgio Cortella fala sobre Sócrates. <https://www.youtube.com/watch?v=LYTQhRKHfqU>.

Seguindo nossa caminhada histórica dentro da Didática, vamos falar sobre João Amós Comenius.

João Amós Comenius (1592-1670): Caro acadêmico, relembrando o que já foi estudado, verificamos que este foi o maior educador e pedagogista do século XVII e um dos maiores da história.

FIGURA 12 - COMENIUS

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FONTE: Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/didaticamagna.html>. Acesso em: 16 jan. 2016.

Para Comenius, o ser humano é a mais perfeita obra de Deus. Luzuriaga (1985, p. 139) afirma que:

O fim da Educação é, para Comenius, a salvação, a felicidade eterna. Mas essa educação não está enquadrada em determinada confissão religiosa [...]. Em verdade, os fins da vida e, portanto, da educação, para Comenius são três: o saber, que compreende o conhecimento de todas as coisas, artes e línguas; a virtude, ou bons costumes, que inclui não só as boas maneiras como o domínio das paixões; e a piedade ou religião, isto é, a veneração interna pela qual a alma do homem se une ao Ser Supremo.

Pode-se perceber que para Comenius, o homem não pode chegar a ser homem se não for educado. “Ninguém pode crer que é verdadeiro homem a não ser que haja aprendido a formar-se” (LUZURIAGA, 1985, p. 139).

Outro ponto a ser ressaltado, é que esse educador apregoava que a educação deveria ser dada a todos – meninos e meninas – indiferente de sua classe social e nas mesmas instituições, não fazendo separações. Ele também é considerado o fundador da Didática, segundo Luzuriaga (1985).

Comenius valorizava o processo indutivo – “como sendo a melhor forma de se chegar ao conhecimento generalizado, e aplicou-o na sua prática instrucional” (HAYDT, 2006, p. 16).

O pedagogista teve uma longa caminhada como professor, e dentro desta sua vivência educacional, escreveu uma de suas maiores obras, a qual, ainda hoje, se busca referência, a “Didática Magna”, que é vista como um tratado, sendo publicada em 1632. Nesse tratado, Comenius apresenta seus conhecimentos, sua vivência didática e espiritual, pois dispõe nas páginas deste documento, a necessidade da presença divina junto à construção do conhecimento.

Haydt (2006, p. 17) expõe como um professor deve ensinar um assunto aos seus alunos na visão de Comenius:

1. Apresentar o objeto ou ideia diretamente, fazendo demonstração, pois o aluno aprende através dos sentidos, principalmente vendo e tocando.

2. Mostrar a utilidade específica do conhecimento transmitido a sua aplicação na vida diária.

3. Fazer referência à natureza e origem dos fenômenos estudados, isto é, às suas causas.

4. Explicar primeiramente os princípios gerais e só depois os detalhes.

5. Passar para o assunto ou tópico seguinte do conteúdo apenas quando o aluno tiver compreendido o anterior.

Ainda na “Didática Magna”, Comenius expõe a seguinte visão com relação aos objetivos da Didática:

A proa e a popa de nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os alunos aprendam mais; nas escolas hajam menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e sólido progresso; na Cristandade haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, mais luz, mais ordem, mais paz e mais tranquilidade (COMENIUS, 2001, p. 12).

O desejo dele, era que através desse tratado, o objetivo estivesse em “ensinar tudo a todos”, (COMENIUS, 2001, p. 11) ou ainda:

Processo seguro e excelente de instituir em todas as comunidades de qualquer Reino Cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém em siveiarte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente ou futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e solidez (COMENIUS, 2001, p. 11).

Podemos perceber que os seus escritos são ricos em possibilidades de tornar cada ser humano uma pessoa melhor, com cuidados, estudos e tementes a Deus, pois seu tratado está todo fundamentado nas escrituras.

Em pleno século XXI, ainda buscamos muitos dos ensinamentos, que eram apregoados por Comenius, isso no século XVII.

Cabe citar a presença de um notável escritor e filósofo chamado Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Esse filósofo deixou vários escritos, entre eles estão “Emílio, ou Da Educação” e o “Contrato Social”.

Rousseau, conforme Santana (2016, p. 1):

Tem como essência a crença de que o Homem é bom naturalmente, embora esteja sempre sob o jugo da vida em sociedade, a qual o predispõe à depravação. Para ele o homem e o cidadão são condições paradoxais na natureza humana, pois é o reflexo das incoerências que se instauram na relação do ser humano com o grupo social, que inevitavelmente o corrompe.

Dentro de seus escritos, Rousseau apresenta possibilidades de ver o homem como ser reconduzido para o bem. Isso é explanado em seus escritos “Contrato Social” e, pedagogicamente, em “Emílio, ou Da Educação”.

As ideias desse filósofo foram muito importantes para muitos socialistas e anarquistas, pois tratavam da sociedade e do conceito de liberdade. Ressalta-se, entre os influenciados:

Johann Heinrich Pestalozzi: Suíço, preocupava-se com a formação do homem integral. Acreditava que a formação do homem se dá de forma natural, do “aprender fazendo”.

O método partia do que já era conhecido, para algo novo, do concreto, para o abstrato. Assim, “O que importava não era tanto o conteúdo, mas o desenvolvimento das habilidades e dos valores”. (CARVALHO, 2011, p. 1). Pestalozzi foi considerado, de acordo com Hilgenheger (2010, p. 11), “o fundador da nova escola primária”.

FIGURA 13 - PESTALOZZI

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FONTE: Disponível em: <http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2011/10/johann-heinrich-pestalozzi-educador.html>. Acesso em: 16 jan. 2016.

Carvalho (2011, p. 1) afirma que:

Pestalozzi foi um dos pioneiros da educação moderna, influenciando profundamente todas as correntes educacionais, e longe está de deixar de ser uma referência. Fundou escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo, num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo.

O autor ainda aponta que para Pestalozzi, a escola:

[...] deveria ser não só uma extensão do lar, como inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, o pensador suíço não concordava totalmente com o elogio da razão humana. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral, isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade  (CARVALHO, 2011, p. 1).

Pestalozzi, conforme afirma Haydt (2006, p. 17), “O principal objetivo da educação era favorecer o desenvolvimento físico, intelectual e moral da criança e do jovem, através da vivência de experiências selecionadas e graduadas, necessárias para o exercício dessas capacidades”.

Cabe ressaltar que esse filósofo buscava sua inspiração nas leituras de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), o qual tinha como base a doutrina dos naturalistas.

Conforme Carvalho (2011. p. 1), “Ambos consideravam o ser humano de seu tempo excessivamente cerceado por convenções sociais e influências do meio, distanciado de sua índole original que seria essencialmente boa para Rousseau e potencialmente fértil, mas egoísta e submissa aos sentidos, para Pestalozzi”.

A invasão francesa, na Suíça, fez com que Pestalozzi, vendo as misérias que ocorriam nas ruas, buscasse crianças que viviam abandonadas para cuidar e educar. (CARVALHO, 2011):

A invasão francesa da Suíça em 1798 revelou-lhe um caráter verdadeiramente heroico. Muitas crianças vagavam no Cantão de Unterwalden, às margens do Lago de Lucerna, sem pais, casa, comida ou abrigo. Pestalozzi reuniu muitos deles num convento abandonado, e gastou suas energias educando-os (CARVALHO, 2011, p. 1).

Com essa atitude, Pestalozzi inicia seu trabalho com as crianças, aplicando junto a elas seu processo educativo que “deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça (intelectual), a mão (físico) e o coração (afetivo ou moral). O objetivo final do aprendizado deveria ser uma formação também tripla: intelectual, física e moral”. (CARVALHO, 2011, p. 1)

Importante salientar que nas escolas de Pestalozzi, não era aceita a ideia de castigar, ou de dar notas, tudo deveria fluir do íntimo do aluno. Ainda conforme Carvalho (2011, p. 1), Pestalozzi acreditava que:

A criança, na visão de Pestalozzi, se desenvolve de dentro para fora, ideia oposta à concepção de que a função do ensino é preenchê-la de informação. Para o pensador suíço, um dos cuidados principais do professor deveria ser respeitar os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa. Dar atenção à sua evolução, às suas aptidões e necessidades, de acordo com as diferentes idades, era, para Pestalozzi, parte de uma missão maior do educador, a de saber ler e imitar a natureza – em que o método pedagógico deveria se inspirar. 

Podemos buscar em uma síntese de Frank Viana Carvalho (2011) mais subsídios para compreendermos a visão do Método de Pestalozzi:

A ESCOLA IDEALIZADA POR PESTALOZZI

• Não apenas uma extensão do lar, mas inspirar-se no ambiente familiar, (atmosfera de segurança e afeto).

• O amor é a plenitude da educação: só o amor tem força salvadora capaz de levar o homem à plena realização moral.

• Na visão de Pestalozzi a criança de desenvolve de dentro para fora.

• Um dos cuidados principais do professor deve ser o de respeitar os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa.

MÉTODO DE PESTALOZZI

• Do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo, do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, o ideal é aprender fazendo.

• O processo educativo deve englobar três dimensões humanas para uma formação também tripla: intelectual, física e moral.

• O método de estudo deveria reduzir-se a seus três elementos mais simples: som, forma e número (posteriormente a linguagem).

• Nas suas escolas não havia notas ou provas, castigos ou recompensas; mais importante que o conteúdo, o desenvolvimento das habilidades e dos valores.

FONTE: Disponível em: <http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2011/10/johann-heinrich-pestalozzi-educador.html>. Acesso em: 16 jan. 2016.

Caro acadêmico! Podemos perceber que Pestalozzi está muito presente em escolas de nosso país. Fez parte do século XVIII, mas estava à frente de seu tempo. Deixou como discípulos dois grandes sucessores que serão vistos a seguir.

John Frederick Herbart (1776-1841): pensador e educador que tem como influência os trabalhos de Pestalozzi, busca de maneira mais científica, compreender os “fundamentos na ideia da unidade do desenvolvimento e da vida mental”. (HAYDT, 2008, p. 20).

Para Hilgenheger (2010, p. 11):

O perfil do educador e pensador pedagógico J. F. Herbart pode, também, ser delineado a partir de um ponto central marcante, a ideia de instrução educativa. Foi sua experiência de professor e educador que levou Herbart a esta ideia principal de sua teoria pedagógica, verdadeiro traço de união entre seu sistema filosófico e sua “pedagogia”.

FIGURA 14 – HERBART

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FONTE: Disponível em: <http://www.biografiasyvidas.com/biografia/h/herbart.htm>. Acesso em: 16 jan. 2016.

Para Herbart, o ser humano é uma unidade e não um ser compartimentalizado. A partir de seu nascimento passa a conviver com todas as possibilidades de situações, conseguindo assim reagir “de forma global, através do amadurecimento de seu sistema nervoso” (HAYDT, 2006, p. 20).

Ainda conforme Haydt (2006, p. 20):

Por meio da percepção sensorial se estabelece, portanto, a relação com o ambiente, o que dá origem às representações primárias, que são a base da vida mental. A generalização das representações primárias forma os conceitos, e a interação dos conceitos conduz aos atos de julgamento e raciocínio.

Herbart, segundo Haydt (2006, p. 20):

Atribuía grande importância à educação, pois considerava-a o fator determinante no desenvolvimento do intelecto e do caráter. A educação, é segundo ele, a responsável pela formação das representações e pela forma como estas representações são combinadas nos mais elevados processos mentais. A função da escola era ajudar o aluno a desenvolver e integrar essas representações mentais, que provinham de duas fontes principais:

a) Do contato com a natureza, através da experiência, e

b) Do contato com a sociedade, através do convívio social.

O pensador também tem em seu currículo, a formulação da teoria do interesse. De acordo com Haydt (2006, p. 21):

Ele afirmava que o interesse não era apenas um meio para garantir a atenção a atenção do aluno durante a aula, mas uma forma de assegurar que as novas ideias ou representações fossem assimiladas e integradas organicamente àquelas já existentes, formando uma nova base de conduta.

Podemos entender, que o pensador tinha como filosofia, a formação moral do indivíduo, onde as ideias passam a formar o caráter desse. Para ele, segundo Luzuriaga (1985, p. 205), na atividade educativa, são apontados três momentos cruciais: o governo, a instrução e a disciplina.

O governo entende como a conservação da ordem, com a conduta externa das crianças, para a qual o meio mais importante é mantê-las ocupadas, ativas. Outros meios são o amor, a autoridade, a vigilância, a ameaça e o castigo, sendo os dois primeiros os mais eficazes.

A instrução tem por fim, como toda a educação, a virtude, ou seja, ‘a força de caráter da moralidade’. Seu meio essencial é o interesse ou, melhor, ‘a multiplicidade do interesse’. Para que a instrução possa penetrar nas representações do aluno, hão de abrir-se todas as portas do espírito.

A disciplina busca [...] a formação para a virtude, apoia-se, sobretudo, no trato pessoal, mas se diferencia do governo em que este se dirige mais ao comportamento externo que à conduta propriamente dita, isto é, a que se rege pelas ideias morais.

No que tange às ideias de Herbart, podemos compreender que para ocorrer atividades educativas com produtividade, são necessários os três elementos: governança, que trata da ordem das atividades a serem desenvolvidas pelo professor junto aos alunos; da instrução, que precisa ser significativa ao aluno, dando possibilidade de aumento de seu interesse; e por último a disciplina, que se preocupa em desenvolver no aluno a necessidade do saber portar-se, de compreender que cada um é um dentro do processo social.

O educador em questão elaborou e aplicou seu método instrucional, que era composto por cinco passos para um aprendizado eficaz: a preparação, apresentação, associação, sistematização e a aplicação.

QUADRO 1- CINCO PASSOS PARA UM APRENDIZADO EFICAZ SEGUNDO HERBART

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FONTE: A autora

Outro educador e sucessor de Pestalozzi foi Friederich Froebel.

Friederich Froebel (1782-1852) é considerado como o “pai do jardim de infância” (HILGENHEGER, 2010, p. 11). Possuía uma maneira romântica de ver a sua filosofia pedagógica.

FIGURA 15 - FROEBEL

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FONTE: Disponível em: <http://froebeleaeducao.blogspot.com.br/>. Acesso em: 17 jan. 2016.

Para Ferrari, (2011, p. 1), Froebel vê: “o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas – ideia hoje consagrada pela Psicologia, ciência da qual foi precursor”.

Sendo ele o “pai do jardim da infância”, tem essa visão porque:

O nome reflete um princípio que Froebel compartilhava com outros pensadores de seu tempo: o de que a criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo cuidados periódicos para que cresça de maneira saudável. "Ele procurava na infância o elo que igualaria todos os homens, sua essência boa e divina ainda não corrompida pelo convívio social", diz Alessandra Arce, professora da Universidade Federal de São Carlos (FERRARI, 2011, p. 1).

As brincadeiras possuem lugar primordial nesse processo, o brincar leva a criança a desenvolver sua sociabilidade e abre caminho para uma melhor aprendizagem. Isso não lhe parece familiar?

Em nossa Educação Infantil e mesmo nos Anos Iniciais, temos a brincadeira (jogos) como forma de desenvolver o cognitivo das crianças. Froebel nos apresentou isso no século XVIII, e buscamos hoje, em pleno século XXI.

O alemão considerava as brincadeiras não como “apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo” (FERRARI, 2011, p. 1). O compartilhamento das brincadeiras, os jogos e os materiais eram vistos como possibilidades de crescimento e de harmonia. Ele via os jardins de infância como forma criativa de visualizar as brincadeiras. Os materiais utilizados e elaborados por esse educador eram em formas geométricas, de fácil manuseio, leves e macios. O método de educação era a importância dada ao jogo.

Para Froebel, conforme Luzuriaga (1985, p. 201):

O jogo é o mais puro e espiritual produto dessa fase do crescimento. É, a um tempo, modelo e reprodução da vida total, da íntima e misteriosa vida da natureza no homem e em todas as coisas. Do jogo dimanam asa fontes de tudo quanto é bom. [...] A criança que brinca tranquilamente, com espontânea atividade, resistindo a fadiga, chegará, por certo, a ser homem também ativo, resistente, capaz de sacrificar-se pelo bem próprio e alheio.

Ferrari (2011, p. 2):

As brincadeiras eram acompanhadas de músicas, versos e dança. Os objetos criados por Froebel eram chamados de "dons" ou "presentes" e havia regras para usá-los, que precisariam ser dominadas para garantir o aproveitamento pedagógico. As brincadeiras previstas por ele, eram, quase sempre, ao ar livre para que a turma interagisse com o ambiente.

Podemos compreender que as crianças estariam livres e podendo expressar seus sentimentos. Era defendida pelo pedagogista:

[...] a educação sem imposições às crianças porque, segundo sua teoria, elas passam por diferentes estágios de capacidade de aprendizado, com características específicas, antecipando as ideias do suíço Jean Piaget (1896-1980). Froebel detectou três estágios: primeira infância, infância e idade escolar (FERRARI, 2011, p. 2).

Outro fator importante a ser apresentado, é que Froebel, foi o primeiro a apresentar ou a falar sobre “autoeducação, um conceito que só se difundiria no início do século XX, graças ao movimento da Escola Nova, de Maria Montessori (1870-1952) e Celestin Freinet (1896-1966), entre outros” (FERRARI, 2011, p. 1).

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Caro acadêmico! Lembra, no Tópico 1, em que tratamos do método Montessori e de Freinet? Se não lembra, cabe rever estas páginas.

No pensamento desse educador, “a criança, trazia em si a semente divina de tudo o que há de melhor no ser humano. Cabia à educação desenvolver esse germe e não deixar que se perdesse” (FERRARI, 2011, p. 2).

Tanto em Froebel, como em Comenius e Pestalozzi, “predomina uma visão mística e humanitária, que serve de inspiração a toda a obra” (LUZURIAGA, 1985, p. 201).

Estando a frente de seu tempo, o criador do jardim de infância deu amplas coordenadas em relação à psicologia, afirmando que: “os primeiros anos de vida são os decisivos no desenvolvimento mental do homem” (LUZURIAGA, 1985, p. 201).

Caro(a) acadêmico(a)! Podemos com estas palavras, mais uma vez perceber, que as necessidades que eram buscadas no século XVIII, estão presentes em nosso cotidiano. Buscar desenvolver nas crianças e em seus pais os valores, fazer com que as crianças tenham uma formação embasada no amor, no respeito e conseguindo assim formar jovens e adultos conscientes e preparados para o cotidiano.

As palavras que Froebel deixou em seus escritos e que são apresentados por Luzuriaga (1985, p. 203) são de extrema importância e merecem ser lembradas: “Saibamos ver o homem no menino, consideremos a vida do homem e da humanidade na infância. Reconheçamos no menino o germe de toda a atividade futura no homem”.

A partir desses pensadores, passamos a perceber que a psicologia começa a ter espaço dentro dos processos pedagógicos. Passaremos a entender este movimento agora.

3 A DIDÁTICA E PSICOLOGIA NA CONTEMPORANEIDADE

Caro acadêmico, chegamos à contemporaneidade, onde encontramos a Didática e a Psicologia caminhando lado a lado. Este movimento ficou presente na Escola Nova, o qual veio com o intuito de uma renovação na educação.

Haydt (2006, p. 29) afirma que:

Esse movimento tinha por base os estudos realizados pelas ciências do comportamento que vinham se afirmando. A Escola Nova foi, portanto, uma nova forma de tratar os problemas da educação geral, chegando a constituir-se num “conjunto de princípios tendentes a rever as formas tradicionais do ensino [...] Esses princípios derivaram de uma nova compreensão de necessidades da infância, inspirada em conclusões de estudos da Biologia e da Psicologia”.

No período do surgimento da Escola Nova, a sociedade estava passando por transformações econômicas e políticas, fazendo com que as pessoas buscassem as cidades para melhores condições de vida, através de trabalhos na indústria.

De acordo com Haydt (2006, p. 30): “[...] a industrialização intensificava-se, deslocando do campo para as cidades um grande contingente de população que engrossava as fileiras da classe operária emergente; a burguesia industrial firmava-se e difundiam-se as ideias liberais”. Com essas mudanças, as escolas e a forma de ensino passam a ser vistas como um espaço voltado para a “construção política e social” (HAYDT 2006, p. 30).

Podemos perceber que a Escola Nova trazia em sua filosofia práticas educativas voltadas para uma nova visão de homem e de mundo.

As ideias da Escola Nova tinham em seus pressupostos pedagógicos e didáticos os seguintes elementos, conforme Haydt (2006, p. 31-32):

1 A Pedagogia e a Didática devem desprender-se do empirismo e da rotina, adotando uma atitude crítica e dinâmica de investigação e reflexão constantes, no sentido de aprimorar sua prática, tanto no que concerne a seus fins como a seus meios.

2 O processo pedagógico e o trabalho didático devem basear-se nos estudos realizados pelas ciências do comportamento, aplicando na prática as contribuições da Biologia, da Sociologia e, principalmente, da Psicologia.

3 A educação, em geral, e o ensino, em particular, devem respeitar as diferenças individuais e os estágios do desenvolvimento infantil, em seus aspectos físico, cognitivo, afetivo e social.

4 A ação educativa deve considerar as necessidades e interesses próprios de cada fase do desenvolvimento e respeitar as atividades naturais e espontâneas do educando, como jogos e brincadeiras.

5 A aprendizagem é um processo dinâmico, que depende da atividade mental do educando e que se dá por meio da mobilização de seus esquemas de pensamento. Por isso, o ensino deve apelar para a atividade mental do aluno, levando-o a observar, manipular, perguntar, pesquisar, experimentar, trabalhar, construir, pensar e resolver situações problemáticas. Enquanto na escola tradicional a atitude do aluno era de imobilidade, passividade e receptividade, na Escola Nova sua atitude é de participação ativa e dinâmica. A Escola Nova preconiza o uso de métodos ativos de ensino-aprendizagem.

6 A escola deve valorizar o trabalho manual tanto quanto o trabalho intelectual, pois, além de corresponder aos interesses infantis, o trabalho manual desperta o senso de observação, a capacidade de concentração e o espírito inventivo.

7 O ensino deve centrar-se no educando, preocupando-se mais em desenvolver seus processos mentais de pensamento (observação, proposição e comprovação de hipóteses, espírito crítico, capacidade de analisar e julgar etc.), do que em acumular conhecimentos memorizados e sem ligação com a realidade do aluno. É através da ativação dos processos mentais que o educando chega à auto estruturação de conhecimentos significativos.

8 Para realizar um trabalho mais efetivo, a escola deve adaptar-se à comunidade e levar em conta as condições de vida social e cultural dos alunos, pois o desenvolvimento humano é influenciado por fatores ambientais e sociais. O professor deve compreender a interdependência existente entre indivíduos e grupos.

9 A escola deve favorecer a prática das relações humanas, incentivando a livre comunicação, a cooperação e o auxílio mútuo.

FONTE: Adaptado de Haydt (2006)

Com relação aos pressupostos pedagógicos e princípios didáticos, podemos observar caro(a) acadêmico(a), que surgem dentro deste movimento vários estudiosos, psicólogos e educadores. Entre eles temos Jean Piaget e Lev Vygotsky.

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Estaremos falando sobre cada um de forma breve, pois você estudará ou já estudou sobre eles em seu Caderno de Psicologia de Desenvolvimento e da Aprendizagem.

Jean Piaget iniciou seus estudos na psicologia aos vinte e quatro anos “ficando famoso por suas pesquisas no campo da Psicologia do Desenvolvimento” (HAYDT, 2006, p. 32).

FIGURA 16 - PIAGET

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FONTE: Disponível em: <http://www.projetospedagogicosdinamicos.com/piaget.html>. Acesso em: 18 jan. 2016.

Em seus escritos, Piaget apresenta o desenvolvimento do indivíduo junto à construção do conhecimento. Construção essa que está apresentada em três momentos: adaptação, assimilação e acomodação.

Adaptação: diante das ações e atividades cotidianas, o indivíduo interage com o meio, conseguindo assim, adaptar-se para melhor sobreviver. Assim, a adaptação “é o resultado do equilíbrio entre as ações do organismo sobre o meio e das ações do meio sobre o organismo” (HAYDT, 2006, p. 33).

Conforme Haydt (2006, p. 33), a adaptação possui dois subprocessos:

Assimilação: é a aplicação dos esquemas ou experiências anteriores do indivíduo a uma nova situação, incorporando os novos elementos aos seus esquemas anteriores.

Acomodação: é a reorganização e modificação dos esquemas assimilatórios anteriores do indivíduo para ajustá-los a cada nova experiência. (Grifo nosso).

Importante frisar que para Piaget, a inteligência, a aprendizagem e a construção do conhecimento são imprescindíveis. Estão interligados, conforme Haydt (2006).

Para Piaget é a inteligência que determina o que o indivíduo vai coletar de informações e passa a reorganizá-la, conseguindo assim “compreender melhor a realidade em que vive, e nela agir, transformando-a” (HAYDT, 2006, p. 35).

A aprendizagem, conforme Haydt (2006, p. 35, é “a assimilação de dados novos aos esquemas mentais anteriores, e a consequente reorganização ou reestruturação, tanto dos dados assimilados como também dos esquemas de assimilação anteriores, para se ajustarem aos novos dados”.

Já a construção do conhecimento ocorre de maneira particular em cada indivíduo. Assim, a partir de Haydt (2006, p. 36): “o processo de construção do conhecimento é essencialmente ativo, envolvendo a assimilação e acomodação e parte dos esquemas mentais, que são prolongamentos diretos da ação”.

Piaget desenvolveu em seus estudos os períodos ou estágios de desenvolvimento mental que são:

Período sensório-motor: aqui a criança é egocêntrica, isto é, está centrada em si mesma “e todas as relações que estabelece são feitas em função de seu próprio corpo” (HAYDT, 2006, p. 39). Fase que ocorre do nascimento até os dois anos de idade.

Período pré-operatório: nesta fase ocorre o surgimento da linguagem, onde a criança passa a interagir com o meio de forma mais precisa. As atividades lúdicas são fundamentais neste processo. Essa fase ocorre dos dois aos sete anos de idade.

Período operatório: inicia-se por volta dos sete anos e “caracteriza-se pela formação das operações mentais, que são ações exercidas mentalmente, isto é, realizadas de modo interiorizado” (HAYDT, 2006, p. 44).

Período das operações concretas: fase que vai dos sete aos doze anos. Nesse período surgem as operações concretas “que são ações interiorizadas, móveis e reversíveis, cuja aplicação se limita aos objetos considerados reais, isto é, concretos” (HAYDT, 2066, p. 44).

Período das operações abstratas ou formais: inicia por volta dos doze anos e “caracteriza-se pelo surgimento das operações intelectuais formais ou abstratas, que atingem um novo nível de equilíbrio por volta dos quinze anos, aproximadamente” (HAYDT, 2006, p. 47).

A teoria de Piaget é o embasamento do construtivismo, que trata da construção do conhecimento. Junto a ele segue outro psicólogo, Lev Vygotsky, contemporâneo de Piaget, que acredita que a linguagem é a base para uma interação eficaz, dando possibilidades de troca de experiências e de crescimento.

Vygotsky foi psicólogo e professor russo, que fundou a Psicologia Sócia Cultural, conhecida também como Psicologia Sócio Interacionista. Apregoou que a cultura se integra ao homem através das atividades celebrais, estimulada pelos parceiros sociais (o meio), e esse processo é mediado pela linguagem, tornando o homem verdadeiramente humano.

Então para Vygotsky o homem é um ser histórico, construído através de suas relações com o mundo natural e social. Para Vygotsky o homem só se torna humano na medida em que ele vai atuando sobre a realidade, apropriando-se da cultura e transformando-a.

O aprendizado e o desenvolvimento, para Vygotsky, são inter-relacionados. Para tanto deve considerar dois níveis de desenvolvimento: A zona de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento proximal.

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Zona de desenvolvimento proximal, a distância entre aquilo que a criança sabe fazer sozinha (o desenvolvimento real) e o que é capaz de realizar com ajuda de alguém mais experiente (o desenvolvimento potencial). Dessa forma, o que é zona de desenvolvimento proximal hoje vira nível de desenvolvimento real amanhã. Para saber mais acesse: http://novaescola.org.br/formacao/ aprenda-eles-ensine-melhor-423205.shtml

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Para maiores informações sobre Piaget e Vygotsky, busque no YouTube informações que enriquecerão seu conhecimento, como: <https://www.youtube.com/watch?v=YJla-2t-HRY>.

Lev Vygotsky - Vida e Obra. Produzido por Olavo Augusto.

Jean Piaget. Produzido por Vanessa Vídeos.

Com estas observações podemos compreender que a Didática se encontra inserida em todos os momentos históricos da Educação, e nas demais ciências da educação.

Caro acadêmico! O que vimos até o momento perpassou vários continentes, e percebemos que no Brasil, nos deparamos com influências de todos os pensadores que até o momento apresentamos. Assim, vamos buscar informações de como a Didática se apresentou e se apresenta no Brasil.

4 DESENVOLVIMENTO DA DIDÁTICA NO BRASIL

Como em todo o mundo, o Brasil também recebeu influências de outros países, principalmente, se buscarmos o início de nossa colonização.

Para melhor compreensão vamos apresentar um quadro com recortes históricos apresentando os momentos mais significativos da Didática no Brasil. Buscaremos através de material elaborado pela Professora Marluce Jacques de Albuquerque (2002) esta visão histórica.

QUADRO 2 - FATOS HISTÓRICOS DA DIDÁTICA NO BRASIL

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FONTE: Adaptado de Albuquerque, M. J. Retrospectiva histórica da didática e do educador. Revista do Departamento de Educação da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, n. 2, dez. 2002. Disponível em: <http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/7548/7548.PDF>. Acesso em: 23 jan. 2016.

Visto esse recorte histórico, percebemos que no Brasil, a Didática também vem buscar formas de melhor auxiliar no desenvolvimento dos trabalhos desenvolvidos no ensino aprendizagem. Estamos em um momento histórico, onde necessitamos buscar uma Didática que seja uma Didática fundamental, conforme Candau, (2012). Levando a cada profissional da educação condições de adaptar seus métodos a sua realidade, sempre em busca da trama, do enlace de nossa colcha, percebendo em cada momento, a necessidade de reflexão, de postura, de identificar-se com a Didática num todo.

Assim, passaremos, neste momento, a delimitar, se isso for possível, o conceito ou conceitos dados à Didática.

5 OS CONCEITOS DE DIDÁTICA

Já vimos nos estudos realizados até o momento, que o homem, para conseguir repassar suas informações e conhecimentos às gerações futuras, utilizou-se inicialmente da linguagem, passando para a escrita e assim chegando à necessidade de ordenar essas informações, criando a escola, “ instituição social criada, especificamente, para educar e ensinar” (HAYDT, 2006, p. 12).

Para tanto, vê-se a necessidade de desenvolver nas escolas processos de ensino aprendizagem que auxiliem na construção do conhecimento do aluno.

Desse modo, podemos compreender que a Didática “é a ciência e a arte do ensino” (HAYDT, 2006, p. 13). O ensino que é uma ação definida e organizada; passando a considerar o ensino como objeto da Didática; conforme Haydt (2006, p. 12).

Para Libâneo (2010, p. 144):

A Didática tem como objeto de estudo o processo de ensino na sua globalidade, isto é, suas finalidades sociopedagógicas, princípios, condições e meios de direção e organização do ensino e da aprendizagem pelos quais se assegura a mediação docente de objetivos, conteúdos, métodos, em vista da efetivação da assimilação consciente de conhecimentos. Nesse sentido, define-se como direção do processo de ensinar, no qual estão envolvidos, articuladamente, fins imediatos (instrutivos) e mediatos (formativos) e procedimentos adequados ao ensino e à aprendizagem. Ou seja, a atividade teórica e a atividade prática que se unificam nas práxis de quem ensina.

Podemos compreender que o ensino é a preocupação da Didática, pois Domingo (1991, p. 16) apud Libâneo, (2010, p. 144), define ensino como: “uma prática humana que compromete moralmente quem a realiza”, assim como é uma prática social, uma vez que responde às necessidades, funções e determinações que estão para além das instituições e previsões dos atores diretos da mesma”. Importante salientar também que a partir dessas observações podemos compreender que a Didática é uma “disciplina eminentemente pedagógica” (LIBÂNEO, 2010, p. 144).

A Didática dentro dessa perspectiva, passa a ser compreendida como disciplina que tem:

[...] intersecção entre a teoria educacional e as metodologias específicas das matérias (ou de temas), nas quais os problemas específicos do ensino das distintas matérias se esclarecem e se particularizam sob características comuns, básicas, da atividade pedagógica e, em particular, do processo de ensino e aprendizagem (LIBÂNEO, 2010, p. 145).

Simplificando, podemos entender que a Didática liga a teoria à prática.

Em leitura realizada, encontramos em Haydt (2006, p. 13) um parágrafo que determina ou compara a Didática como uma moeda, ficando assim apresentado a relação que esta tem com o ensinar e aprender:

Ensinar e aprender são como duas faces de uma mesma moeda. A Didática não pode tratar do ensino, por parte do professor, sem considerar simultaneamente a aprendizagem, por parte do aluno. O estudo da dinâmica da aprendizagem é essencial para uma Didática que tem como princípio básico não a passividade, mas sim a atividade da criança. Por isso, podemos afirmar que a Didática é o estudo da situação instrucional, isto é, do processo de ensino e aprendizagem, e nesse sentido ela enfatiza a relação professor – aluno.

Diante dessas exposições há mais uma autora, que nos faz repensar sobre a Didática, saindo da Didática Instrumental para uma Didática Fundamental sendo a mesma que utilizamos para nos situar nos momentos históricos da Didática no Brasil.

A autora é Candau, (2012, p. 13) que afirma: “este é, a meu ver, o desafio do momento: a superação de uma Didática exclusivamente instrumental e a construção de uma Didática Fundamental”. Para melhor compreensão vamos buscar ainda em Candau (2012, p. 13 e 14) as definições para cada perspectiva.

A Didática numa perspectiva instrumental é concebida como um conjunto de conhecimentos técnicos sobre o “como fazer” pedagógico, conhecimentos esses apresentados de forma universal e, consequentemente, desvinculados dos problemas relativos ao sentido e aos fins da educação, dos conteúdos específicos, assim como do contexto sociocultural concreto em que foram gerados”.

A Didática Instrumental tem como embasamento as técnicas, meramente mecanizadas, ela chega a ser entendida como Comenius apresentava em seu tratado “Didática Magna” – “um artifício universal para ensinar tudo a todos” (CANDAU, 2012, p. 14).

Para Candau (2012, p. 14-15), a Didática Fundamental, passa a ser uma didática alternativa, a qual busca como ponto de partida a multidimensionalidade, que trata o processo ensino e aprendizagem dentro de três dimensões: “técnica, humana e política” (CANDAU,1984, p, 21 apud CANDAU,2012, p. 15). Ainda para Candau (2012, p. 15) a “dimensão técnica da prática pedagógica, objeto da Didática, tem que ser pensado à luz de um projeto ético e político-social que a oriente”.

Para que a Didática Fundamental tenha sequência e êxito, é necessária que se tenha como ponto de partida as problemáticas educacionais concretas, a preocupação com a contextualização da prática pedagógica, procurar analisar as diferentes abordagens metodológicas, buscar análise de experiências concretas – trazendo a ligação da teoria com a prática e a busca de uma eficiência pedagógica, com o compromisso de transformação social (CANDAU, 2012, p. 15-17).

Após várias definições de grandes personalidades da educação brasileira, podemos perceber que a Didática suscita muitos debates em nosso cotidiano. Para tanto se faz necessário um aprofundamento por parte de todos os profissionais da educação no sentido de compreender a Didática como instrumental e fundamental, pois assim teremos condições de reformular nossos trabalhos enquanto profissionais da educação.

Caro acadêmico! Podemos compreender que a Didática segue seu percurso, dando possibilidades de mudanças, não se mantendo engessada no processo ensino e aprendizagem.

Daremos, na próxima unidade, sequência as outras questões que são de extrema necessidade visualizarmos e refletirmos. As questões a serem evidenciadas estão relacionadas ao professor dentro do contexto didático.

RESUMO DO TÓPICO

Neste tópico, você estudou que:

• Na linha histórica da Didática temos alguns pensadores a serem evidenciados como: Sócrates (século V a.C.). Para este filósofo, não ocorre uma mera transmissão de ideias, para ele o “saber, o conhecimento, é uma descoberta que a própria pessoa realiza. Conhecer é um ato que se dá no interior do indivíduo” (HAYDT, 2006, p. 15).

• Sócrates construiu um método que é conhecido como método socrático que foi nomeado de “ironia”, que possui dois tempos: a refutação e a maiêutica.

• João Amós Comenius (1592-1670) é conhecido como o pai da didática.

• Podemos ainda perceber que para Comenius, “o homem não pode chegar a ser homem se não for educado”. “Ninguém pode crer que é verdadeiro homem a não ser que haja aprendido a formar-se” (LUZURIAGA, 1985, p. 139).

• Comenius teve uma longa caminhada como professor, e dentro dessa sua vivência educacional, escreveu uma de suas maiores obras, que ainda hoje se busca referência, a “Didática Magna”, que é vista como um tratado e publicada em 1632.

• Para Comenius o objetivo da Didática é investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os alunos aprendam mais; nas escolas haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e sólido progresso; na Cristandade haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, mais luz, mais ordem, mais paz e mais tranquilidade (COMENIUS, 2001, p. 12).

• Johann Heinrich Pestalozzi preocupava-se com a formação do homem integral, acreditava que a formação do homem se dá de forma natural, do “aprender fazendo”.

• Cabe ressaltar que o método partia do que já era conhecido para algo novo, do concreto, para o abstrato.

• O Método de Pestalozzi consiste em: do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo, do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, o ideal é aprender fazendo. O processo educativo deve englobar três dimensões humanas para uma formação também tripla: intelectual, física e moral. O método de estudo deveria reduzir-se a seus três elementos mais simples: som, forma e número (posteriormente a linguagem); nas suas escolas não havia notas ou provas, castigos ou recompensas; mais importante que o conteúdo, o desenvolvimento das habilidades e dos valores.

• John Frederick Herbart (1776-1841): o ser humano é uma unidade e não um ser compartimentalizado, a partir de seu nascimento passa a conviver com todas as possibilidades de situações, conseguindo assim reagir “de forma global” (HAYDT, 2006, p. 20), através do amadurecimento de seu sistema nervoso.

• Herbat, na atividade educativa, aponta três momentos cruciais. São eles: o governo, a instrução e a disciplina. Ele é o criador do Método de Interesses.

• Os cinco passos que caracterizam um ensino eficaz para Herbart são:

a) Preparação: ao professor cabe instigar seu aluno pelo que sabe e assim conseguir abrir novas possibilidades na obtenção de novos conteúdos.

b) Apresentação: Com a estimulação do aluno junto ao que sabe, o professor apresenta novo conteúdo que tenha ligação com o que já foi obtido pelo aluno.

c) Associação: O aluno realiza neste momento uma junção do que já sabia com o novo conteúdo.

d) Sistematização: O aluno ao assimilar o conteúdo realiza uma ligação do que já sabe com o novo e assim constrói novos conhecimentos.

e) Aplicação: Ao aluno é realizada avaliações através de provas que determinam se o mesmo adquiriu novos conhecimentos.

• Friederich Froebel (1782-1852) é considerado o “pai do jardim de infância”. Possuía uma maneira romântica de ver a sua filosofia pedagógica (HILGENHEGER, 2010, p. 11).

• Froebel é considerado o Pai do Jardim da Infância. Froebel vê: “o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas – ideia hoje consagrada pela psicologia, ciência da qual foi precursor”.

• Froebel via os jardins de infância como forma criativa de visualizar as brincadeiras. Os materiais utilizados e elaborados por Froebel, eram em formas geométricas, de fácil manuseio, leves e macios.

• Escola Nova: a sociedade estava passando por transformações econômicas e políticas, fazendo com que as pessoas buscassem as cidades para melhores condições de vida, através de trabalhos na indústria.

• A Escola Nova trazia em sua filosofia práticas educativas voltadas para uma nova visão de homem e de mundo.

• Dentro da Didática, podemos observar que a Psicologia passa a ser vista com maior ênfase a partir do século XX através dos psicólogos Jean Piaget e Lev Vygotsky.

• O homem, para conseguir repassar suas informações e conhecimentos as gerações futuras utilizou-se inicialmente da linguagem, passando para a escrita e assim chegando a necessidade de ordenar estas informações, cria a escola, “instituição social criada, especificamente, para educar e ensinar” (HAYDT, 2006, p. 12).

• Para Libâneo (2010) a Didática tem como objeto de estudo o processo de ensino na sua globalidade, isto é, suas finalidades sociopedagógicas, princípios, condições e meios de direção e organização do ensino e da aprendizagem pelos quais se assegura a mediação docente de objetivos, conteúdos, métodos, em vista da efetivação da assimilação consciente de conhecimentos.

• Para Haydt (2006) ensinar e aprender são como duas faces de uma mesma moeda. A Didática não pode tratar do ensino, por parte do professor, sem considerar simultaneamente a aprendizagem, por parte do aluno. O estudo da dinâmica da aprendizagem é essencial para uma Didática que tem como princípio básico não a passividade, mas sim a atividade da criança. Por isso, podemos afirmar que a Didática é o estudo da situação instrucional, isto é, do processo de ensino e aprendizagem, e nesse sentido ela enfatiza a relação professor – aluno.

• Para Candau (2012) a Didática necessita ser reformulada, saindo da Didática Instrumental, para uma Didática Fundamental. A Didática Instrumental é vista como mera utilização de técnicas. Já a Didática Fundamental busca seu embasamento dentro de um projeto ético, político e social.

AUTOATIVIDADES

UNIDADE 1 TÓPICO 2

Com relação à Didática, como você compreende essa disciplina. Ela necessita de reformulação ou pode ser mantida de maneira meramente instrumental? E cabe a quem essa reformulação?

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