Professores da rede municipal denunciam perda de autonomia pedagógica e aprovação automática
>> Após assembleia, professores decidem manter greve
A coordenadora afirma que enquanto, em 2009, 13,6% dos alunos do 4°, 5° e 6° ano (antigas terceira, quarta e quinta séries) apresentavam leitura deficiente, agora, o percentual se restringe a 4,1%, o que superou a meta da secretaria de chegar a 2012 com um índice de 5%. Ela comenta que, desde 2009, o município tem um currículo unificado para a rede, com materiais de apoio pedagógico e acompanhamento das necessidades dos alunos. Salas de aula receberam bibliotecas com 120 títulos e salas de leitura. Em 2012, complementa, a SME também assinou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, reforçado pela criação do Pacto Carioca pela Alfabetização no 1° ano do Ensino Fundamental.
Para professores do Ensino Fundamental, no entanto, o acompanhamento e a melhora apresentada pelos números não é real. Marcia Santos, professora da rede municipal no Ensino Fundamental, acredita que o resultado positivo apresentado pela secretaria é uma mentira. Ele reclama do sistema de aprovação garantida no 1° e no 2° ano, que garante que os alunos cheguem ao terceiro ano com um acúmulo de dificuldades por um tempo que não pode mais ser recuperado. Ela comenta que 32% dos alunos que chegam ao quarto ano, por exemplo, não conseguem ler corretamente.
"São três anos defasados. Esse sistema de não poder reprovar no 1° e no 2° ano, sem considerar as dificuldades encontradas pelos alunos, faz com que eles cheguem ao 3° ano com um ensino atrasado. E, quando chegam ao terceiro ano, quando podem repetir, se repetirem muitas vezes, somos forçados a aprová-los. A situação não melhorou em nada nos últimos anos, está tudo igual", ressaltou.
A coordenadora de Ensino Fundamental da SME avalia que as dificuldades ainda são muitas, mas que a secretaria tem a preocupação de manter uma orientação constante de alunos e professores. "O terceiro ano [do Ensino Fundamental] é um ano que sempre nos preocupa. Por isso temos cuidado em oferecer consultorias e formação aos professores para que nenhum menino seja reprovado. Os desafios são muitos, temos 700 mil alunos, mas a gente está trabalhado com essa crença de promover a alfabetização na idade certa".
As professoras Monica Santos, Sonia Cristina, Shirley Ortiz e Sanda Santos, destacam ainda outros problemas, além da aprovação automática nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Para elas, o material oferecido pela Prefeitura não é bom e ainda aprisiona os professores aos seu conteúdo, que muitas vezes não condiz com a realidade de determinados alunos.
De acordo com elas, o reforço oferecido aos alunos pelo novo sistema não é realizado em todas as escolas e, quando acontece, não é suficiente, já que se restringe a uma hora de aula por semana a diversos alunos ao mesmo tempo. Outro problema é o desrespeito da rede municipal à decisão do Conselho Nacional de Educação de permitir que os professores tenham 1/3 de sua carga horária destinado ao planejamento das aulas.
Outros números completam o panorama da educação no Rio de Janeiro. No Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), anunciado em julho, a capital fluminense, que em 1991 aparecia entre os dez maiores do país, agora está no 45º lugar. O IDHM mede a qualidade de vida da população a partir dos critérios de renda, saúde e educação.
No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por sua vez, a cidade do Rio alcançou a meta, com crescimento de 6%, acima dos 5.1 pontos registrados no ano anterior. De cada cem alunos, nove foram reprovados. A curva também é ascendente, ao contrário da curva das escolas públicas estaduais do Rio de Janeiro, que subiu para 5.1 pontos em 2007, foi caindo ao longo dos anos e em 2011 ainda não havia atingido o patamar anterior.
A taxa de analfabetismo também está melhorando, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE 2000/2010. No período, a porcentagem de maiores de 15 anos analfabetos na cidade do Rio de Janeiro saiu de 4,4% para 2,9% - melhor que o da capital paulista, que ficou com 3,2%, e de Porto Alegre, que ficou com 3,5%.
A questão, porém, esbarra na eficiência da alfabetização das crianças. Da alfabetização rudimentar à plena, há um grande caminho a ser percorrido. Costuma-se considerar quatro níveis de aprendizado: analfabetos, que não conseguem realizar leituras simples; alfabetizados em nível rudimentar, que identificam informações em textos curtos e familiares, leem e escrevem números e realizam operações simples; alfabetizados em nível básico, que leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações, leem números na casa dos milhões; e, por fim, os alfabetizados em nível pleno, que podem ler e analisar textos longos, distinguem fato de opinião, realizam sínteses.
No mundo, 774 milhões de adultos não sabem ler e escrever
Mais de 84% dos adultos (maiores de 15 anos, para a Unesco) do mundo inteiro estão alfabetizados, de acordo com a última pesquisa do Instituto de Estatísticas da Unesco (UIS, na sigla em inglês). O número representa um avanço de oito pontos percentuais desde 1990, mas revela que ainda existem 774 milhões de adultos que não conseguem ler nem escrever - mais de toda a população do Brasil, dos Estados Unidos, da Argentina e do México, juntas. Dois terços dessas pessoas são mulheres.
A maioria dos analfabetos estão concentrados no Sul e Oeste da Ásia e na África Subsaariana. Mas, mesmo em regiões consideradas desenvolvidas, a situação é complicada. Na Europa, um em cada cinco jovens tinham fracas habilidades de leitura, em 2009.
Para a Unesco, as estatísticas reforçam a dificuldade de reduzir os índices de analfabetos, e realça a necessidade de melhorar a qualidade da educação - do treinamento dos professores à relevância do conteúdo e método de ensino, que, reforça a Unesco, demonstram que as políticas do governo estão dando certo.
"A situação fica exacerbada com o avanço das novas tecnologias e sociedades mais complexas que fazem da habilidade de ler e escrever o que há de mais essencial", diz o diretor-geral da Unesco, Irina Bokova. "A alfabetização é a primeira condição para o diálogo e a comunicação para novas sociedades conectadas. Pessoas jovens precisam de novas habilidades para entrar e ter sucesso no mercado de trabalho: conhecimento de diversas línguas, conhecimento da diversidade cultural, aprendizagem ao longo da vida. (...) No século XXI, mais do que nunca, a alfabetização é a pedra angular da paz e do desenvolvimento", complementou.
Um colóquio internacional será realizado na nesta segunda-feira (09/09), em Paris, como parte das celebrações do Dia Internacional da Alfabetização.
Pamela MascarenhasFonte: Jornal do Brasil
Um comentário:
Deveria ser proibido a aprovação automática nas escolas. Assim, alunos passam de série sem conhecimento nenhum, e isso é totalmente prejudicial.
Beatriz Silva, n°7 T: 2002
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