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domingo, junho 28, 2020

O racismo nosso de cada aula

As pesquisas mostram que pretos e pardos estão em desvantagem. O problema é cultural, não pedagógico. Quebre esse ciclo

POR:
Wellington Soares, Lucas Magalhães e Paula Peres
Aos 28 anos, William Victorino de Castro é dançarino e morador do Capão Redondo, bairro na periferia da Zona Sul de São Paulo. Como toda pessoa negra, ele tem na ponta da língua os efeitos do racismo: "Em uma entrevista de emprego, se os candidatos são um branco e um preto, do mesmo lugar, com a mesma formação, o branco tem mais chance".
Na 4ª série, William não sabia ler nem escrever. Repetiu de ano quatro vezes e desinteressou-se pela escola até abandoná-la, na 8ª série, aos 18 anos. Ainda sem saber ler. "Me diziam que se era para ficar bagunçando na escola, que eu fosse embora e desse a oportunidade para outra pessoa que aproveitaria melhor", conta. Já adulto, o bailarino de hip-hop percebeu que precisava voltar a estudar. Matriculou-se na EJA em 2015, quando finalmente aprendeu a ler e escrever.
O caso do jovem é um exemplo de como o racismo está presente na escola: falhamos em matricular crianças negras, em garantir que elas permaneçam e, quando elas não largam os estudos, falhamos em fazer com que elas aprendam. Dados levantados pelo movimento Todos pela Educação com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015 mostram que, apesar de 54% da população se declarar preta ou parda (os dois grupos formam, para as estatísticas, o conjunto dos negros), a proporção de pessoas brancas matriculadas em todos os segmentos é sempre maior. Além disso, dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2015 também mostram diferença na aprendizagem: no 5º ano do Ensino Fundamental, enquanto 63,1% das crianças brancas tiveram aprendizado adequado em Língua Portuguesa, 56,3% dos pretos tiveram o mesmo desempenho e 41,5% dos pretos aprenderam o que tinham direito (veja mais informações no quadro mais abaixo).
A diferença pode ser explicada por diversos motivos, como o fato de que a população negra, em geral, é mais pobre. Mas não há como negar que há algo na rotina escolar que também contribui para a construção desses índices.
O racismo da sociedade também é refletido na escola, segundo William

A COR NA ESCOLA

EDUCAÇÃO INFANTIL 91,6% das crianças brancas de 4 e 5 anos são atendidas, enquanto 89,8% das pardas e 87,3% das pretas frequentam a escola.
ENSINO MÉDIO 71% dos brancos frequentam, mas 57,8% dos pardos e 56,8% dos pretos são matriculados.
PORTUGUÊS 37,5% dos brancos e cerca de 22% dos negros têm aprendizado adequado no 3º do Ensino Médio.
MATEMÁTICA 12,2% dos brancos terminam a escola com aprendizagem adequada. Entre os negros, são 5% no máximo.
MATRÍCULAS NA EJA 36% são negros, somente 15% são brancos e 43% não declaram cor.
ESCOLARIDADE MÉDIA dos negros de 18 a 29 anos: 9,5 anos. Entre os brancos: 10,8 anos.
Um estudo conduzido por Paula Louzano, professora da Faculdade de Educação da USP, mostra que o fracasso escolar é maior entre alunos negros. Um exemplo é que 14% dos jovens negros apresentam mais de dois anos de atraso escolar, o dobro da proporção entre brancos (7%). "Podemos argumentar que o processo de escolarização de algumas crianças brasileiras é mais tortuoso que o de outras", conclui a especialista.
Faça um exercício e tente observar, na sua escola: nas turmas de reforço e recuperação, quantos alunos são negros? No conselho de classe, alunos brancos são avaliados da mesma maneira que os que possuem a pele mais escura?
Chegar à universidade, se formar, conquistar bons empregos, se tornar chefe ou simplesmente sobreviver: muito disso é um grande desafio para a maioria dos brasileiros, mas para os alunos negros é ainda maior. Os dados mostram que as barreiras enfrentadas por mulheres e homens se tornam cada vez mais difíceis conforme a cor da pele escurece. Essas informações têm se tornado mais conhecidas recentemente, mas o que ainda parece difícil de enxergar são os obstáculos que nós mesmos criamos para que as trajetórias desses estudantes sejam histórias de sucesso.

Racismo estrutural

Desde o início do século 20 se difundiu a ideia de que o Brasil vivia em uma democracia racial. Diferentemente dos Estados Unidos e de outros lugares onde o conflito marcava as relações entre grupos de diferentes descendências, no Brasil o convívio supostamente harmônico entre portugueses, negros e índios era a prova de que não haveria racismo por aqui. Parte dessa comparação surgia do fato de que nos Estados Unidos haviam leis, por exemplo, que obrigavam negros a sentar só na parte de trás dos ônibus. Bastou dar ouvido aos negros brasileiros para notar que a nossa democracia racial nunca foi verdade.
De obras surgidas no pós-abolição, como as de Lima Barreto (1881-1922), a músicas de grupos de rap como Racionais Mc?s, é possível ver como a cor da pele é um central nas histórias pessoais. "O Brasil foi forjado na violência contra negros e indígenas. Há um estado organizado a partir do racismo", explica Maria Lucia da Silva, psicóloga do Instituto AMMA Psiquê e Negritude.
Aqui, cabe diferenciar preconceito e racismo. O primeiro se refere a um julgamento feito com base em alguma informação superficial que se tem sobre alguém, como ao dizer que todo negro é preguiçoso ou malandro. Mas o racismo é mais profundo: as estruturas que compõem a sociedade passam a se organizar de maneira a colocar negros em desvantagem. Daí vem o termo racismo estrutural ou institucional.
Para Mirian, as pessoas se incomodam com negros em cargos de liderança

A gestora invisível

A década é 1970. Na sala de aula da antiga primeira série de uma escola pública, uma criança percebe que nunca é chamada por sua professora para ir ao quadro ou receber algum auxílio para resolver um exercício. Ela era a única negra da turma. "Eu não sabia, mas estava passando pelas primeiras experiências de racismo da minha vida", conta Mirian Bernardo, hoje supervisora pedagógica do Colégio Municipal Dr. José Vargas de Souza, em Poços de Caldas, Minas Gerais.
Esse é um exemplo de como a convivência dos professores com os alunos impacta os jovens negros. Um estudo conduzido pelo professor da USP Ricardo Madeira comprova: ao comparar estudantes brancos e negros em mesmas condições - da mesma turma, de mesmo nível socioeconômico, com histórico escolar semelhante --, havia uma diferença fundamental entre os dois grupos. Alunos negros eram muito pior avaliados pelos próprios professores do que brancos (assista a entrevista em bit.ly/live-racismo). A sensação de discriminação sentida por William, o dançarino do início da reportagem, não é apenas impressão.
Para Valter Silverio, professor do departamento de Sociologia da UFSCar, pelo menos parte desse resultado é influenciado pelos estereótipos que pairam sobre sobre alunos negros. "Tem-se a ideia de que todo japonês é bom aluno, e de que todo negro não é inteligente, e sim malandro", afirma. Essas visões preconceituosas interferem nas expectativas que os docentes têm sobre os alunos de pele mais escura. Por consequência, eles são tratados de maneira diferente e acabam aprendendo menos. "Em ambientes de estudo e trabalho, há uma relação profunda entre racismo e práticas cotidianas", diz Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco.
Mirian aprendeu a impor sua presença onde chega para evitar questionamentos. "Nós temos que mostrar que merecemos estar ali, não temos que dar explicações a ninguém."
Ainda assim, Mirian sente o racismo das famílias e dos alunos. "Tenho duas professoras negras em uma escola com 52 turmas. Se eu não apresento a docente, percebo que a família discrimina", lamenta. Mirian sofre algo parecido em sua função. "Já teve gente que não acreditou que eu era a gestora de uma escola mesmo quando eu afirmava mais de uma vez."

Vestibular como militância

Foi difícil encontrar um espaço na agenda da vestibulanda Lilith Passos, 17 anos, para fazermos a sessão de fotos para este texto. Pela manhã, ela frequenta as aulas do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública em São Paulo. À tarde, assiste aulas de cursinho pré-vestibular popular e, aos sábados, participa de um preparatório específico para alunos que, como ela, querem estudar teatro no Ensino Superior. Naquela terça-feira, suas aulas da manhã tinham sido canceladas. Mesmo assim, tivemos pouco tempo.
O compromisso da tarde pertencia a outra parte importante da vida da jovem: a militância no movimento negro. Dias antes, um colega havia sido agredido por seguranças de um restaurante e um grupo de jovens retornaria ao local para fazer um protesto em frente ao empreendimento.
No último ano, as atividades da militância têm ficado um pouco de lado na rotina de Lilith. É que a pressão do vestibular demanda mais dedicação. E, para ela, ser aprovada tem tudo a ver com o combate ao racismo. "Penso muito sobre quem tem acesso às universidades públicas", diz ela, se referindo à baixa presença de pessoas pretas pardas no ambiente. "Ocupar esse espaço também é a minha luta", diz ela.
Para Lilith, 17 anos, estudar para entrar na universidade pública também é militância

ACREDITE MUITO

NA EDUCAÇÃO INFANTIL, observe o nível de atenção que você oferece a seus alunos brancos e negros.
OUÇA seus estudantes e professores pretos e pardos para saber como a relação com a escola pode melhorar.
INCENTIVE seus alunos negros a compartilhar conhecimentos com a turma e liderar projetos e atividades em grupo.
CONVERSE sobre carreira, sonhos e planos com os alunos. O que querem fazer quando acabar a Educação Básica?
MUDE O CURRÍCULO para inserir contribuições da cultura afro-brasileira para a sociedade.
MOSTRE EXEMPLOS de pretos e pardos bem-sucedidos em suas áreas de conhecimento.
A motivação de Lilith para conquistar esse espaço é um grande diferencial para que ela de fato tenha chance de ser aprovada no vestibular. Mas isso só é possível por dois motivos: a crença que ela própria tem em sua capacidade - a tão falada autoestima, mas dessa vez não restrita a características físicas - e o apoio de adultos e colegas que também acreditam no potencial dela.
A situação, como vimos, não é a mesma para a maioria dos estudantes. Para superar esse problema, é preciso trazer o racismo para o centro do debate. Na Zona Norte do Rio de Janeiro, no bairro do Acari, uma escola com nome de rainha angolana desenvolveu um projeto para promover a cultura afro-brasileira e também ajudar os alunos a refletir sobre a própria identidade deles.
O CIEP 173 Rainha Nzinga de Angola tem 678 alunos, dos quais 360 são negros. "Eles não se reconheciam negros no censo que realizamos anualmente, diziam ser morenos", conta Tânia de Lacerda Gabriel, diretora. Os alunos associavam a identificação negra com algo ruim. Piadas e apelidos sobre cor eram frequentes e quando questionados sobre o porquê de não realizarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), eles justificavam: "Essa prova é coisa de branco".
Tânia e a coordenadora pedagógica Isa Mirian da Silva Santos elaboraram um projeto que mexeu com o currículo e com as relações na escola. Os professores receberam formação para abordar conteúdos afro brasileiros e lidar com o racismo. "O objetivo era que todos entendessem que ser negro não é uma coisa ruim. Eles chegavam a achar que brancos e negros aprendiam de maneiras diferentes, e mostramos que, biologicamente, não há diferenças." Debates francos como esse ofereceram uma nova visão aos estudantes.
Dois anos depois, os resultados. A autoestima dos alunos melhorou, muitos assumiram seus cabelos naturais, e o censo realizado anualmente já mostra que os alunos têm mais segurança para indicar sua cor. "Elevar a autoestima é a questão primordial. Hoje, percebemos que eles têm orgulho de ser negros e isso aumentou o interesse pela escola", resume Tânia.
Em sala, o tratamento diário também tem efeito: incentivá-los a prestar o Enem ou na formulação de um projeto de vida, cobrar que se esforcem e garantir todo o apoio para que avancem nas suas aprendizagens faz toda a diferença. No fim das contas, o trabalho dos educadores é uma força poderosa contra o racismo.
Isa (à esquerda) e Tânia (à direita) se mobilizaram para recuperar a autoestima dos alunos negros
Fotos: TOMÁS ARTHUZZI

sexta-feira, junho 19, 2020

DUQUE DE CAXIAS TEM NOVO PRÉ-CANDIDATO À PREFEITO

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

PC do B anuncia Gestor Público e Professor Samuel Maia como pré-candidato a prefeito de Duque de Caxias/RJ

Da Redação News


O diretório municipal do  PC do B  de Duque de Caxias/RJ decidiu, na tarde desta segunda-feira (15), pela pré-candidatura do gestor público e professor, Samuel Maia, à prefeitura de Duque de Caxias. O encontro foi realizado por videoconferência e teve duração de mais de 3 horas.

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Segundo o presidente Mauricinho, o diretório do PC do B de Duque de Caxias foi pioneiro ao realizar um encontro deliberativo por meio da internet. Ele afirmou que, com o parecer favorável do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a realização de convenções partidárias via internet, o PC do B de Cuiabá sai na frente nessa corrida.
“Como o TSE ainda não se manifestou sobre o adiamento das eleições, preferimos seguir o calendário aprovado pelo diretório municipal, e fizemos as deliberações respeitando o distanciamento social, cada um em sua casa, de forma segura”, disse Mauricinho.
Participaram também o presidente estadual da sigla, deputado estadual João Batista e o Secretário Estadual de Organização Natanael, que parabenizaram os dirigentes da sigla de Duque de Caxias/RJ pelo encontro, a deputada federal Jandira Feghali, uma das principais apoiadoras da candidatura de Samuel Maia, além dos observadores do diretório nacional e estadual do PC do B.
“O partido está de parabéns, e cada vez mais fortalecido se adaptando aos novos tempos e aos novos métodos de fazer política. Agora o PC do B está focado em construir um plano de governo para apresentar ao povo de Duque de Caxias nas próximas eleições”, ressaltou Mauricinho. (Com Assessoria)

quarta-feira, junho 17, 2020

História Crítica da Educação

VIDEOAULAS YouTube HISTEDBR
Disciplina ED-316 Turma A (2010)
História Geral da Educação e da Pedagogia

Aula 01 - Apresentação do plano de curso
Prof. Dr. José Claudinei Lombardi
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula01

Aula 02 - Educação e Ensino em Marx & Engels
Prof. Dr. José Claudinei Lombardi
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula02

Aula 03 - Vladimir Ilitch Lenin e a Educação Soviética
Prof. Dr. Francisco Máuri de Carvalho Freitas
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula03

Aula 04 - Educação e Pedagogia na Rússia revolucionária: o Comissariado do Povo
Profa. Dra. Nereide Saviani
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula04

Aula 05 - Anton Semionovitch Makarenko
Prof. Dr. Luiz Bezerra Neto
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula05

Aula 06 - Moisey M. Pistrak
Prof. Dr. Luiz Carlos de Freitas
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula06

Aula 07 - Escola como Aparelho Ideológico do Estado: Louis Althusser
Prof. Dr. Marcos Cassim
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula07

Aula 08 - Teorias da Reprodução: Pierre Bourdieu, Jean-Claude Passeron, Baudelot e Establet
Profa. Dra. Ana Maria Fonseca de Almeida
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula08

Aula 09 - Antonio Gramsci e a Educação: primeiras aproximações
Prof. Dr. Renê J. Trentin Silveira
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula09

Aula 10 - Pedagogia Marxista da Alegria: Georges Elmer Snyders
Prof. Dr. José Carlos de Souza Araújo
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula10

Aula 11 - Educação e Pedagogia na Rússia Comunista
Prof. Dr. Amarílio Ferreira Jr.
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula11

Aula 12 - A Psicologia Cultural-Histórica e a Pedagogia: Luria, Leontiev e Vygotsky
Profa. Dra. Alessandra Arce
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula12

Aula 13 - Educação e Pedagogia na China Comunista
Prof. Dr. Hai Guoqiang
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula13

Aula 14 - Educação e Pedagogia na Cuba Revolucionária
Profa. Dra. Maria do Carmo Luiz Caldas Leite
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula14

Aula 15 - Pedagogia Histórico-Crítica
Prof. Dr. Dermeval Saviani
https://tinyurl.com/ED316A2010-Aula15

sábado, junho 13, 2020

10 Compromissos Para um Prefeito Inovador



Em poucos meses, iremos eleger o prefeito(a) e estará assumindo em janeiro seu mandato. o cenário que o aguarda está mais para drama do que para comédia.

Isto por que,  há um imenso descompasso entre as legítimas demandas da sociedade e a capacidade do poder público em atendê-las. Dificuldades de gerenciamento, aliadas a um processo civilizatório excludente, resultaram  em  uma triste realidade na qual poucos municípios brasileiros possuem, em pleno século XXI, índices de desenvolvimento humano - IDH considerados satisfatórios pela Organização das Nações Unidas - ONU. Duque de Caxias, apesar de ser o 3º mais rico do Estado do RJ e 16º mais rico do país, tem uma sequencia de governos conservadores e reacionários, transformando o PIB de Inglaterra em IDH de gana. Onde o INGANA  virou costumas. 

Bem, a choradeira para por ai. O que gostaríamos de falar, daqui para a frente, para o prefeito(a) bem intencionado(a) e que queiram, de fato, mudar o filme, é que as grandes alterações que estão ocorrendo no mundo, estão abrindo novas oportunidades para os municípios, não importa onde estejam, nem o seu tamanho.

A globalização da economia, a Internet e uma série de outras novas tecnologias, cada vez mais em conta, criaram uma realidade, ainda pouco percebida pelas administrações municipais, na qual o acesso a  informação, o estímulo a criatividade e a inovação são  tão importantes como os recursos financeiros disponíveis.

Sem a pretensão de construir cenários ilusórios que, em um simples passe de mágica,  apaguem as crônicas carências municipais, esta postagem se propõe, à luz de nossa experiência em assuntos municipais e em inovação em gestão pública, a dar 10 dicas para o prefeito(a) sérios que se interessem em iniciar uma longa jornada para dar à sua cidades uma nova perspectiva.


1. Não tenha medo da tecnologia 💅

O prefeito não precisa necessariamente entender de computador e não deve ter nenhuma vergonha disto. Por outro lado, deve ter a sensibilidade de perceber que a tecnologia é hoje instrumento indispensável para levar qualquer município para frente.  Assim sendo, é fundamental, logo de cara, montar uma equipe boa que saiba mexer com essas geringonças e que atue diretamente sob o comando do prefeito. Há uma série de programas federais e estaduais que podem ajudá-los a treinar seus funcionários, a criar uma boa infra-estrutura de comunicação, a obter bons equipamentos a preços competitivos, e tudo o mais. Na era do conhecimento, uma rede de banda larga vale tanto quanto uma nova indústria ou estrada.

2. Transforme cidadãos em colaboradores 💞

Não se assuste, você não precisa contratar ninguém para isso. Hoje, existem milhões de pessoas dispostas a colaborar, de forma gratuita, para melhorar a vida nas cidades. Na Internet há uma série de programas e serviços gratuitos que podem ajudá-lo na zeladoria da cidade. Com eles,  seus munícipes podem colaborar na fiscalização do funcionamento de hospitais, escolas, creches, conservação das ruas, etc. Existem diversas organizações sociais sérias que podem ajudá-lo na tarefa de localizar e por para funcionar esses programas. Ponha sua turma de tecnologia para ir atrás delas.

3. Não fique acomodado em sua sala 💢

Não tente resolver tudo a partir de seu gabinete ou de dentro da prefeitura. Os computadores, por melhor que sejam, não valerão nada se não forem ocupados com projetos importantes. Para descobri-los, visite cada pedaço de seu município e imagine como você e seus munícipes gostariam de vê-lo daqui 10 anos. Participe de congressos e seminários. Converse com outros prefeitos. e lideranças importantes.  Peça a sua turma de tecnologia que crie um banco de dados com todas as entidades públicas e privadas que podem ajudá-lo não só a resolver os problemas do dia a dia como, também, a criar o município de seus sonhos. Você irá se surpreender como o número de organismos que poderão ajudá-lo.

4. Junte ideias e ponha-as para funcionar 👨👩👩👨💬💬💬💬

Ideias simples postas para funcionar podem solucionar muitos dos problemas do seu município, sem que você precise gastar muito dinheiro com isso Consulte seus funcionários e a população. Colete ideias, tire-as do papel, e premie aquelas que derem certo. Hoje há muitas técnicas, bem em conta, que facilitam esse processo. A sua turma de tecnologia pode descobri-las para você.

5. Estimule a economia criativa 💫💫💫

O que  o desenvolvimento de aplicativos para smartphones, os grupos de rock e a fabricação de bijuterias têm em comum? Todas elas fazem parte de um dinâmico segmento da economia que abriga atividades ou ocupações criativas. Este conjunto de atividades e ocupações tende a ser um dos maiores geradores de riqueza e de novas oportunidades de emprego ao longo do século XXI. Engate seu município nesse trem do futuro. Crie incentivos para atrair pessoas talentosas para sua cidade. Quanto mais facilidades você oferecer, mais talentos você atrairá e mais empregos irá gerar.

6.Melhore a prestação de serviço usando as novas tecnologias e as mídias sociais 👂👀

Quase todos os serviços municipais podem ser melhorados com o auxílio das novas tecnologias (computadores, tablets, smartphones, etc) e das mídias sociais (twitter, blog, youtube, facebook, etc.). Use os serviços de sms  - os chamados torpedos - e o twitter para avisar a população sobre campanhas de vacinação, emergências em caso de enchentes, incêndios, etc., para agendar idas a hospitais, matrículas em escola. Crie unidades que concentrem diversos serviços, e que facilitem a vida dos munícipes. Use sua imaginação que a tecnologia dará suporte.

7. Ponha a administração para conversar 💬💬💬💬

Os problemas municipais estão cada vez mais difíceis de serem tocados dentro de uma só secretaria, departamento ou unidade. Eles envolvem o esforço de diversas especialidades. Por exemplo, um programa habitacional não pode se esquecer da segurança, das creches, do uso do solo, do transporte e por aí vai. Para que essas ações não tragam dores de cabeça depois, pense nisso enquanto eles estão no papel. Ou seja, junte todos os envolvidos para fazer um bom projeto que não perca nenhum detalhe que possa significar atrasos ou dinheiro jogado fora. Programas de um dono só geralmente não dão certo. Trabalhar em equipe é fundamental nos dias de hoje. Comande sua turma e ponha-os para conversar e elaborar conjuntamente os projetos. Depois disso, defina os gerentes que conheçam o problema e que saibam trabalhar em equipe. Dá trabalho antes, mas evita a UTI, depois.

8. Compre bem 👀

Comprar bem, usando a legislação adequada, constitui uma das mais importantes atribuições dos prefeitos. Uma compra cuidadosa permite não só esticar os normalmente escassos recursos colocados à disposição das prefeituras, como promove a transparência dos atos públicos. Felizmente, essa nobre missão, hoje em dia, está muito facilitada. O governo federal e administrações estaduais possuem hoje sites específicos, de ótima qualidade,  para orientar as compras públicas. O Governo de São Paulo, por exemplo,  mantem uma página na Internet, o CADTERC - Cadastro de Serviços Terceirizados, a mais importante referência nacional sobre esta questão. Nela, as prefeituras interessadas irão encontrar os preços referenciais para os principais serviços a cargo das municipalidades, estudos sobre formação de preço dos mesmos, simuladores de gastos e economia, além de links que apontam para a legislação que regula essa matéria, informações sobre pregões, manuais de editais, etc. O site e seus links são um autêntico consultor on-line trabalhando descanso para sua prefeitura sem cobrar nada por isso. Não deixe de usá-lo.

9. Transforme seu município em uma grande escola 💃💨

Prover educação de boa qualidade a todos os brasileiros é provavelmente o maior desafio nacional. Somente por meio de ações sérias e continuadas nessa área, conseguiremos diminuir, de forma consistente, as desigualdades que ainda nos envergonham e entrar pela porta da frente na emergente sociedade do conhecimento. As prefeituras tem papel fundamental nesse esforço. A escola no século XXI não pode se  limitar a um determinado espaço físico para o qual as pessoas se dirigem em determinado horário. A aprendizagem, em nossos dias, precisa muito mais do que isso. A escola tradicional é apenas um dos locais destinados ao ensino. Aprender hoje é atividade continuada que abrange todo o ciclo de vida, desde o maternal até a melhor idade. Para tanto, qualquer próprio municipal, as relações de vizinhança, a casa dos munícipes, os pontos gratuitos de acesso a Internet, o celular de cada um, as empresas instaladas em sua cidade  e, obviamente, as escolas tradicionais devem formar uma grande rede de aprendizagem no ar 24 horas por dia 7 dias por semana que impulsione ações pedagógicas inovadoras  que englobem a alfabetização, a reciclagem profissional, a  preparação  para as novas ocupações que estão nascendo, entre outros desafios. Vá atrás de quem esteja interessado em revolucionar seu município. Você irá encontrar muitos sócios nessa empreitada. Também aqui, a Internet irá ajudá-lo a descobrir parceiros.

10. Crie uma marca Positiva para o Município 👍👍

Lembre-se que, no Brasil, existem 5562 municípios, além do seu. Por isso, é de todo conveniente criar uma marca que o distinga dos demais e que deixe bem claro os enormes desafios que você está abraçando para prepará-lo para o século XXI. Envolva toda a municipalidade nesse esforço criativo e premie as melhores sugestões. Para conseguir patrocínios fale com o coração e explique seus sonhos. Se você acreditar neles e estiver firmemente empenhado nessa revolução não faltarão organismos que queiram ajudá-lo.


Relembramos, para acabar, que essas dicas não são saídas milagrosas que irão transformar sua vida em um mar de rosas e sua cidade em um paraíso sobre a terra. Isso, infelizmente, não existe. Mas uma coisa podemos assegurar, se você tiver vontade política de implementá-las, ao cabo de 2 anos, seu município terá mudado de patamar e começará enxergar novas oportunidades para as atuais e futuras gerações que pareciam impossíveis no dia de sua posse.

Racismo ambiental: o que é importante saber sobre o assunto

A ativista Stephanie Ribeiro fala sobre o conceito de racismo ambiental e como é importante que a população negra se preocupe com os impactos da ação humana no meio ambiente: "Pensar sobre racismo ambiental é importante para considerar tantas questões antes de achar que pautas de meio ambiente são 'coisa de branco'. Crianças negras levam tiro da polícia, sim. Assim como morrem de toxoplasmose em áreas insalubres, contaminadas em áreas que são lixões industriais e vão morrer ainda mais nas secas, fome e processos de imigração."

Jovem durante a greve pelo clima (Foto: Getty Images)
                      Jovem durante a greve pelo clima (Foto: Getty Images)

Desde que o meio ambiente e Greta Thunberg ganharam notoriedade nas manchetes, muitas pessoas estão usando a pauta racial para desvalidar a pauta ambiental, por isso nesse texto vou tratar sobre racismo ambiental, e mostrar como as coisas se relacionam. Afinal, mesmo que há anos ativistas negros venham mostrando como as pautas de gênero, classe e raça afetam toda a estrutura em que estamos inseridos, ainda é complexo entender como isso se dá associado ao meio ambiente. Então, o que é racismo ambiental?
É um termo cunhado por uma pessoa negra, para que ninguém tenha dúvidas da importância de sua origem na luta racial, no caso pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr. Ele, que é um líder negro pelos direitos civis, chegando em sua juventude a ser assistente de Martin Luther King Jr., no ano de 1981 cunhou o termo a partir de suas investigações e pesquisas entre a relação de resíduos tóxicos e a população negra norte-americana.
Segundo sua própria fala,"racismo ambiental é a discriminação racial no direcionamento deliberado de comunidades étnicas e minoritárias para exposição a locais e instalações de resíduos tóxicos e perigosos, juntamente com a exclusão sistemática de minorias na formulação, aplicação e remediação de políticas ambientais."
Vamos entender que existe toda uma lógica de poder na escolha de áreas que serão exploradas e como essas áreas serão exploradas, danificando a vida e saúde de povos marcados por sua identidade racial, como negros, indígenas, latinos e asiáticos. Dado que o conceito se ampliou em seu entendimento sobre afetados, mesmo que tenha surgido com um homem negro focado nas questões envolvendo a comunidade negra norte-americana, hoje o conceito e suas aplicações são mais diversas, inclusive no que diz respeito à identidade racial das vítimas, como explica o texto de Maíra Mathias O que é racismo ambiental.

Inúmeros cientistas sérios estão alertando para uma série de mudanças climáticas com impactos diretos na vida e sobrevivência humana, o que chamam de colapso climático e que são frutos do superaquecimento do planeta pelas ações humanas de imprudente devastação e exploração. Algumas das possíveis consequências segundo esse artigo são:

• Ondas de calor pelo mundo;
 Secas e incêndios;
 Ciclones devastadores e simultâneos;
 Chuvas e enchentes;
 Um milhão de espécies em risco de extinção.

Considerando todas essas implicações previstas por uma série de especialistas de universidades renomadas, de diferentes países e até da própria ONU, estaremos num colapso também social. É importante ressaltar que são perspectivas de futuro que, se você não pesquisa esse tema, não pode colocar juízo de valor sobre sua importância/veracidade, estamos falando de dados e não do que achamos. Eu realmente gostaria de achar que tudo seria lindo e melhor, contudo não é isso que alertam para o nosso futuro próximo. E é diante disso que especialistas da ONU já usam termos como:
Apartheid climático: Imaginando uma realidade escassa, seca, cheia de conflitos, ausência de comida e com muito calor, as regiões do planeta serão diferentemente afetadas conforme sua posição física, econômica e social. Países com mais recursos, mesmo que muito afetados, poderão lidar melhor com os danos disso, diferente de países que ainda enfrentam dívidas e economia instável. Outro ponto é que as áreas menos afetadas ou com clima mais agradável serão de disputa. Com isso, os mais ricos vão se sobressair no acesso a esses territórios. O que nos leva para o segundo ponto:

Gentrificação climática: Hoje em dia já usamos o termo gentrificação para nos referir a áreas que passam a se tornar interessantes para a classe média e/ou elite e geram a expulsão de antigos moradores com o aumento do preço da terra. Imagine isso numa escala global, com a mudança de clima e aumento do calor, ricos vão mudar para áreas mais frescas, menos inóspitas e com menores impactos de desastres. Isso irá aumentar o valor da terra nesses territórios, expulsando nativos e impedindo o acesso de pessoas mais pobres.

Refugiados climáticos: Vão se ampliar os casos de pessoas tendo que fugir de seus países, de sua origem e cultura visando sobreviver diante de suas terras devastadas ou improdutivas por conta das mudanças climáticas advindas desse processo do colapso ambiental.

E como isso se transforma numa questão racial? Não preciso nem lembrar que os mais ricos e os mais pobres possuem identidades raciais muito bem definidas num sistema como o nosso. E aí entra novamente a questão do racismo: seremos alvos fáceis. Conseguir asilo será mais difícil para aqueles que já são “marcados” (já vemos isso acontecendo na Europa em relação a africanos e árabes). Pela ausência de recursos, não teremos chance de escolher como e onde viver, seremos expulsos de nossas terras caso elas se tornem mais interessantes para quem tem mais dinheiro. Populações serão extintas. Ao pensar em mulheres, já se sabe que em catástrofes ambientais, elas são afetadas de forma diferente: se tornam alvos mais vulneráveis para violência sexual e tem seu fazer mais afetado, já que muitas são camponesas, assim como negros, pobres, indígenas, asiáticos e latinos.

Pensar sobre racismo ambiental então é importante para considerar essas e tantas outras questões, antes de achar que pautas de meio ambiente são "coisa de branco". Crianças negras levam tiro da polícia, sim. Assim como morrem de toxoplasmose em áreas insalubres, contaminadas em áreas que são lixões industriais e vão morrer ainda mais nas secas, fome e processos de imigração. Por isso, é e sempre será uma pauta racial a discussão sobre meio ambiente, bem viver e território. Genocídio não é só a morte por tiro, é toda a lógica de exclusão baseada na nossa identidade racial que faz com que nossas vidas sejam descartadas dentro do sistema. Seja no tiro direto, seja pelo não acesso a tratamentos de saúde, por contaminação do meio, pelo não cuidado com doenças psicológicas, etc, nós somos e continuamos alvos fáceis desse jogo em que alguns são vistos como dignos do direito à vida e outros como descartáveis para manutenção do sistema.

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