Foto: “Shanty town in Ica” de Graeme Law (bit.ly/Z0wyhc) CC BY 2.0 via Flickr
A AMARRIBO Brasil / Transparency International acredita que a corrupção barra o desenvolvimento e prejudica de forma mais severa os mais vulneráveis.
A
Carta Anual da Fundação Gates (Bill & Melinda Gates Foundation) menosprezou a “corrupção de pequena escala”, como por exemplo, pequenas propinas e subornos realizados por funcionários públicos, como se fossem aceitáveis, as comparando como um pequeno imposto. Os comentaristas Jason Hickel da
Al Jazeera e Charles Kenny da
Bloomberg Businessweek afirmaram que a corrupção não é uma barreira tão grande assim ao desenvolvimento como dizem.
Porém, os fatos demonstram o contrário. Esclarecemos aqui cinco mitos sobre a corrupção e o desenvolvimento.
MITO 1: A "corrupção de pequena escala" é insignificante
Em vários países pelo mundo, pagar um funcionário público para ter uma vaga no hospital, acesso à escola ou até mesmo segurança, é algo rotineiro e muito mais comum do que se imagina.
Mais de uma, em cada quatro pessoas, das 114.000 pessoas entrevistadas no
Barômetro da Corrupção 2013, relataram terem pagado suborno para terem acesso a serviços básicos que deveriam ter por direito. Enquanto o pagamento individual pode ser pequeno, a soma deles durante o tempo mostra outra realidade. Um
estudo de 2012 mostrou que os mexicanos pagaram o equivalente a 2,5 bilhões de reais em subornos para terem acesso a serviços básicos em 2010.
Esse tipo de suborno representa uma oneração financeira maior para as pessoas mais pobres, que não só perdem uma
parcela maior de sua renda do que as pessoas mais ricas, como possuem o
dobro de chances de terem que pagar um suborno.
MITO 2: A corrupção não impacta no desenvolvimento humano
Onde prevalece a corrupção os níveis de desenvolvimento humano
são menores. A pesquisa da Transparency International demonstra que nos países onde o
suborno é comum, o alcance aos
Objetivos do Milênio é menor e o número de pessoas sem acesso aos serviços básicos é maior.
Existem diversos estudos de diferentes lugares do mundo que corroboram essas questões. Por exemplo, a
corrupção nas Filipinas reduz as taxas de imunização da população contra doenças, atrasa a vacinação de recém-nascidos e aumenta o tempo de espera por diferentes tratamentos nos hospitais e clínicas de saúde.
Nos
Estados Unidos, um estudo descobriu que a corrupção reduz o investimento na educação superior. Outra pesquisa na Indonésia demonstra que os recursos públicos da educação não aumentaram as taxas de matrícula das escolas e foram canalizados em áreas de alto nível de corrupção.
MITO 3: A corrupção não aumenta a desigualdade
A corrupção aumenta a distância entre ricos e pobres. Ela cria um sistema político e social que favorece riscos e bem relacionados, e dessa forma, perpetua a desigualdade. Em 2001, um
estudo dos países africanos revelou que a perda de um ponto no
Índice de Percepção da Corrupção (o que significa que a percepção da corrupção no país ficou maior) está associada ao aumento de até sete pontos no coeficiente de Gini (o que significa maior desigualdade), a medida mais comumente utilizada para mensuração da desigualdade.
De forma simples, quando mais corrupto é um país, mais desigual ele é. Isso também vale para os países desenvolvidos. Outro
estudo dos EUA demonstra que o aumento dos níveis de corrupção em um país não só aumenta o coeficiente de Gini como também diminui o crescimento da renda da população.
É interessante observar ainda que, embora Thomas Piketty não mencione
a palavra corrupção em seu livro best-seller sobre desigualdade, “Capital no Século 21”, suas recomendações para diminuir a distância entre ricos e pobres incluem muitos das
mesmas recomendações que a
Transparency International faz para o combate à corrupção.
MITO 4: A corrupção é boa para o desenvolvimento econômico
Existem inúmeras evidências que demonstram que, definitivamente, a corrupção não possui qualquer impacto positivo para o crescimento econômico. A corrupção está
diretamente relacionada com menores taxas de crescimento e renda per capita, assim como menor igualdade econômica.
A corrupção ainda
desencoraja investimentos e afasta oportunidades de negócios: mais de 35% das empresas
entrevistadas em 2006 disseram que haviam desistido de um investimento atraente devido à corrupção do país onde ele seria realizado. Propinas e subornos
minam a produtividade das empresas e aumenta a burocracia. Portanto, a corrupção é
economicamente ineficiente para qualquer empresa e país.
MITO 5: A corrupção combate a ineficiência governamental
A corrupção coloca em risco a integridade das leis e regulamentações e permite que políticos corruptos manipulem o ambiente regulatório em beneficio próprio. Estudos
demostram que a corrupção cria incentivos para que políticos e funcionários públicos busquem criar mecanismos, via leis, para poderem agir legalmente de forma a desviar recursos e garantir a impunidade.
A corrupção ainda enfraquece o Estado de Direito e
corrói a confiança e a legitimidade pública do Estado e do sistema político. A cultura do suborno demonstra ao público que as regras são fracas e que o “jeitinho” deve prevalecer.
As pessoas que são afetadas diretamente pela corrupção e a enfrentam no seu dia-a-dia sabem claramente o quanto isso afeta suas vidas. Não é nenhuma surpresa que as pessoas ao redor de todo o mundo estejam demandando melhor governança dentro e fora de seus países.
AMARRIBO BRASIL / Transparency International