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segunda-feira, dezembro 26, 2016

Pagamento de propinas por empreiteiras se consolidou durante ditadura, diz historiador

Muitas das grandes empreiteiras se beneficiaram de relações especiais com o Estado desde seu surgimento entre as décadas de 30 e 50, mas o pagamento de propinas se consolidou durante a ditadura, afirma o historiador Pedro Henrique Campos, em entrevista à BBC Brasil.

Aperto de mãos

Campos diz que não se surpreendeu "nem um pouco" com os detalhes da relação escusa entre empreiteiras e governantes revelada nas delações da Operação Lava Jato: "Não só sabia que existia, mas acho que era abertamente conhecido".
Ele pesquisou a história dessas empresas, e em especial seus laços com a ditadura militar (1964-1985), em sua tese de doutorado pela UFF, que deu origem ao livro Estranhas Catedrais.

Quando a Camargo Correa nasceu, por exemplo, em 1939, nota o pesquisador, um dos seus fundadores era cunhado de Adhemar de Barros, então governador-interventor de São Paulo que ficou historicamente atrelado ao bordão "rouba, mas faz".
Já a Odebrecht nasceu na Bahia em 1944, mas é a forte relação que ela constrói com a Petrobras, desde a fundação da estatal em 1953, que vai pavimentar o crescimento da empresa no país - é a empreiteira que mais cresceu durante a ditadura, segundo Campos.
"Na trajetória antes, durante e depois da ditadura, e até na ramificação da Odebrecht (para outros setores da economia, como o petroquímico, com a Braskem) existe a pauta dessa relação com a Petrobras", nota o pesquisador, atualmente professor do Departamento de História e Relações Internacionais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).
Apesar de reconhecer o ineditismo da Lava Jato ao aprofundar as investigações sobre essas relações escusas, Campos manifesta ceticismo com os efeitos da operação na redução da corrupção envolvendo empreiteiras.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil: As recentes revelações da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, sobre a troca de favores e propina entre a empresa e políticos te surpreenderam ou confirmaram o que você já tinha observado na sua pesquisa?
Pedro Henrique Campos: Não me surpreende nem um pouco, pelo contrário. Essas delações estão desnudando um processo que, não só eu sabia que existia, mas acho que era abertamente conhecido. Só que agora estão sendo revelados os detalhes.
Na minha pesquisa eu me detive sobre o período da ditadura. Por mais que existissem práticas ilegais, de corrupção naquele período, era diferente. Era um sistema menos complexo, não havia um conjunto de instituições públicas funcionando no país, e a atenção dos empreiteiros estava muito mais voltada para o Poder Executivo.
O Congresso, os partidos e a sociedade civil naquela época não tinham muito poder. Então, a relação era diretamente com os militares, ministros, presidentes de estatais.
Enquanto hoje, eles buscam acessar o Poder Legislativo, os partidos, os parlamentares, para conseguir projetos de lei, emendas parlamentares, aprovação de medidas provisórias, para ter acesso às diretorias de estatais (muitas vezes cargos nomeados pelo presidente, mas seguindo indicações de partidos e parlamentares).
Na minha pesquisa, eu vi que na década de 80, o movimento de passar as ações do Executivo para o Legislativo não foi feito de maneira arbitrária. As empresas planejam esse deslocamento das atividades.
Eu cheguei a ler documentos internos do sindicato dos empreiteiros, o Sinicon, em que eles falam isso, "temos que mudar nossas ações, parar de falar com os militares, com os ministros, presidentes e diretores de estatais, para falar mais com parlamentares, com os partidos, com o Congresso e com a imprensa".
Agora, a prática de pagamento de propinas, é algo anterior à ditadura e se consolida naquele período. Só que não aparecia tanto porque os mecanismos de investigação que temos hoje não existiam ou estavam amordaçados.
BBC Brasil: Pelo que você pesquisou, seria correto dizer que essas empreiteiras investigadas na Lava Jato sempre foram corruptas? Seria inerente ao setor?
Campos: A maior parte das empreiteiras grandes hoje foi formada entre as décadas de 30 e 50, quando a industrialização criou toda uma demanda por infraestrutura, com rodovias, hidrelétricas. Elas vão nascer dedicadas a esse tipo de obras.
Aí tem uma particularidade do capitalismo brasileiro que é uma centralidade muito evidente do Estado no processo de desenvolvimento de acumulação de capital. Essas empresas, seus dirigentes, seus donos, em geral partem de uma relação prévia com o aparelho de Estado.
Vou citar dois casos. A Mendes Júnior foi fundada em 1953 por um ex-funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil e da Secretaria de Viação de Minas Gerais, que era o José Mendes Júnior. Ele começa a ver que pode ganhar muito dinheiro do outro lado do balcão, porque tem um mundo a se fazer de rodovias no início da década de 50. A Mendes Júnior já foi a maior empreiteira brasileira.
A Camargo Corrêa é fundada em São Paulo por dois grandes sócios, o Sebastião Camargo e o Sylvio Corrêa, que era cunhado do Adhemar de Barros, em 1939. E o Adhemar era interventor (nomeado por Getúlio Vargas para governar o Estado) de São Paulo. Então essa relação política da empreiteira é decisiva para ela obter desde o princípio contratos, relação de obras.
Eu, particularmente, acho que o termo corrupção é muito abrangente, já que são várias práticas que entram sob esse guarda-chuva da corrupção. Mas está claro que esses empresários dispõem de um poder político muito expressivo, com práticas ilegais, no sentido de pautar as políticas publicas.
Pedro Henrique CamposImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image caption'Delações estão desnudando processo que, não só eu sabia que existia, mas acho que era abertamente conhecido', afirma Campos
BBC Brasil: Segundo sua pesquisa, a Odebrecht foi a empresa que mais cresceu na ditadura. Pode falar um pouco do histórico da empresa e como ela se adapta na transição para a democracia?
Campos: Sua trajetória é muito particular. Ela nasceu na Bahia, em 1944, fundada pelo Noberto Odebrecht, e originalmente tinha atuação muito local.
Com a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, criada em 1959), cresce, mas ainda fica restrita à região nordestina. Consegue obras contra a seca, a hidrelétrica do rio São Francisco, e de agências públicas federais que demandam investimentos no Nordeste, sendo a principal delas a Petrobras.
A Petrobras é uma empresa fundada em 1953 no Rio, porém as atenções da empresa originalmente estão muito concentradas no Nordeste, particularmente na Bahia. E Juracy Magalhães, primeiro presidente da estatal, era um militar baiano (na verdade radicado na Bahia, ele é nascido no Ceará), com toda uma associação com empresários locais, que são desde então muito presentes na dinâmica interna da Petrobras.
A Odebrecht, na sua própria memória, se gaba de ter contratos com a Petrobras desde os anos 1950, como gasodutos e pequenas obras no Nordeste.
Na explosão de obras que a gente teve antes da ditadura, no governo JK (Juscelino Kubitschek, presidente de 1956 a 1961), com as obras de Brasília e as rodovias do plano de metas, a Odebrecht não fez nada disso. Ela não tem nenhuma relação com esses grandes empreendimentos, que eram mais restritos naquele momento a empreiteiras mineiras, paulistas e cariocas.
A Odebrecht vai crescendo então consoante à própria expansão da Petrobras. Na trajetória antes, durante e depois da ditadura, e até na ramificação da Odebrecht (para outros setores da economia) existe a pauta dessa relação com a Petrobras.
BBC Brasil: Como no caso da Braskem (empresa controlada pela Odebrecht em que a Petrobras tem participação de 36% das ações)?
Campos: Isso, não é a toa que o principal eixo de diversificação das ações do grupo Odebrecht sejam no âmbito da petroquímica. A Braskem (criada em 2002 a partir da fusão de outras empresas do grupo Odebrecht) tem tudo a ver com a parceria antiga e profunda que a Odebrecht tem na Petrobras mesmo.
O principal produto que a Braskem consome é o nafta (derivado de petróleo utilizado como matéria-prima para vários produtos como eteno, propeno, benzeno e gás doméstico) da Petrobras. Então, tem todo um jogo em torno do preço do nafta que a Petrobras vai praticar e é decisivo para a lucratividade da Braskem. E a Odebrecht confia no poder que ela tem dentro da estatal.
Inclusive a Braskem hoje é muito maior que a construtora Odebrecht. Mas antes disso é emblemático que a primeira obra principal da empresa fora do Nordeste seja o edifício sede da Petrobras no Rio de Janeiro.
No início dos anos 1970, a Camargo Corrêa é a maior empreiteira da ditadura, e a Odebrecht não consta nem entre as dez primeiras nacionais. Aí, tem duas obras que mudam radicalmente o perfil e o tamanho da Odebrecht, o Aeroporto Internacional do Galeão e a usina nuclear de Angra dos Reis. São obras que exigem grau de confiança dos militares que outras empreiteiras não dispõem.
BBC Brasil: Mas por que ela ganha esses dois contratos e não outra empreiteira?
Campos: Eu não tenho detalhes, documentos para comprovar isso. Mas a minha hipótese é que a Odebrecht ganha as obras justamente por sua inserção na Petrobras e pelo fato da Petrobras ser uma empresa controlada por uma direção em boa medida militar, antes e durante a ditadura.
O presidente da Petrobras no período Médici (general que presidiu o Brasil de 1969 a 1974) era o Ernesto Geisel (general que após presidir a estatal sucedeu Médici no comando do país, de 1974 a 1979).
Geisel é uma figura que detém poder político na ditadura muito forte, e parece ter uma relação de confiança com a Odebrecht muito intensa. Ele é um dos que vão sinalizar pela indicação da empreiteira para fazer essas duas obras.
São obras de segurança nacional. A ditadura tinha o projeto do Brasil potência com controle da arma nuclear. E o aeroporto internacional do Rio seria o maior do Brasil, para receber aviões militares e civis. Não é qualquer empresa que eles iam deixar construir. A Camargo Corrêa, por exemplo, tinha conexões internacionais. Isso gerava uma aversão.
A Odebrecht tradicionalmente tem um discurso nacionalista que obviamente é muito instrumentalizado. Não necessariamente ela tem aversão ao capital estrangeiro, mas tem esse discurso, lastreado um pouco nessa relação com os militares.
Fachada da Odebrecht em São PauloImage copyrightREUTERS
Image captionOdebrecht tinha contratos da Petrobras desde os anos 1950 e cresceu juntamente com a expansão da estatal
BBC Brasil: Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 2014, você manifestou ceticismo com a Lava Jato. Mudou sua percepção? Está mais otimista?
Campos: Inicialmente achei que era mais um escândalo envolvendo empreiteiras, como inúmeros que tiveram antes. Eu realmente mordi minha língua e ela foi muito mais longe do que eu imaginava. Eles primeiro prenderam executivos, o que já era impressionante, mas depois prenderam os proprietários das empresas, algo supreendente.
Por outro lado, eu não diria que estou otimista. Pelo contrário, eu estou mais pessimista ainda. Primeiro, que a impressão que tenho é que a Lava Jato começa interessante, desmonta um esquema envolvendo empreiteiras e Estado, mas ela parece ser usada com certas finalidades políticas. Não é só isso a operação, mas os desdobramentos dela parecem ter algum grau de instrumentalização política.
Segundo, não parece que os mecanismos institucionais que permitem essas práticas estão sendo atacados. Ninguém está falando de rever leis de licitações. Ninguém está falando de rever o sistema de obras públicas no país de modo que as obras sejam mais sérias, mais baratas, menos corruptas, de maior qualidade.
A gente tem sistemas no exterior em que seguradoras fiscalizam se a obra está sendo feita no prazo, com qualidade, sem desvio de recurso e feita com o preço justo. Eu não vejo essa discussão.
Não vejo discussão sobre como funcionam as emendas parlamentares.
BBC Brasil: Algo que aumente a transparência do lobby?
Campos: Sim, a questão do lobby também, que é uma prática institucionalizada nos Estados Unidos e aqui não.
E por outro lado, os efeitos da Lava Jato, são danosos em certa medida. Será que uma punição rigorosa vai mudar a forma como ocorre (a corrupção), sem mudança legal, da estrutura do processo.
Aí vão quebrar as empreiteiras do país e vão vir empresas de fora. Essas empresas estrangeiras são menos corruptas? Eu tenho dúvidas se é uma questão moral das empresas. São empresas capitalistas que buscam lucro e vão usar de artifícios diversos para isso.
O histórico que a gente tem é que as estrangeiras são tão corruptas quanto. A gente tem a SBN (empresa holandesa que aluga navios-plataforma) com a Petrobras, a gente tem o cartel das empresas de metrô e trem em São Paulo, com a Alston, francesa, e a Siemens, alemã.
A diferença é que elas vão mandar lucros para fora, vão contratar engenheiros estrangeiros, trazer mais equipamentos, material, de fora. Eu vejo na verdade com muito receio e inquietação os desdobramentos da Lava Jato.
Fonte BBC de Londres

quinta-feira, dezembro 22, 2016

Os golpes de Estado do Século XXI

Houve um tempo em que se defendia no Brasil a ideia de que já não havia espaço para golpes de Estado na América Latina. Supostamente, as ditaduras nos haviam ensinado o que não queríamos, e nos Anos 90, alguns comentaristas políticos diziam isso, com uma segurança contagiante.
Os sete mais recentes golpes de Estado latino-americanos – um a cada dois anos e meio. Antes de analisar algumas características deles, recordemos, por ordem cronológica, quais foram e como ocorreram:
Venezuela, 2002
O interessante do cenário que se viveu na Venezuela há treze anos atrás é que talvez ele não seja muito diferente do Brasil atual. A começar pelo fato da disputa política envolver a PDVSA (estatal petroleira venezuelana, a Petrobrás deles).

No terceiro dia da greve, os manifestantes opositores mudaram o trajeto da marcha, o que causou temor por um possível confronto. Antes que isso pudesse acontecer, foram percebidos disparos contra as duas manifestações, que produziram 19 mortes, a maioria com tiros na cabeça. A oposição acusou o presidente Chávez pelas mortes e o exército invadiu o Palácio Miraflores na noite de 11 de abril, saindo de lá com o presidente preso. Horas depois, Pedro Carmona Estanga, líder dos empresários, jurava como presidente imposto pelos grupos que apoiaram o golpe, e dissolvia o Parlamento, a Corte Suprema, o Ministério Público e o Conselho Nacional Eleitoral.Durante os primeiros três meses daquele ano, a oposição, junto com os meios de comunicação hegemônicos, começaram uma campanha de desprestígio contra a empresa, questionando seus resultados e sua gestão. Alguns dos principais gerentes da PDVSA apoiavam as críticas e convocaram uma greve geral a partir do dia 9 de abril. A resposta do presidente Hugo Chávez foi a demissão dos gerentes que convocaram a greve, a nomeação de um novo diretor para a empresa e o anúncio de manifestações em defesa da soberania venezuelana sobre o petróleo, em locais diferentes dos protestos pela greve.
Porém, seu mandato durou algumas horas. Uma multidão de centenas de milhares de chavistas se reuniu nos bairros carentes de Caracas e foi até o palácio presidencial, exigir a restituição do presidente. O clamor popular levou alguns grupos militares a desobedecerem o alto mando, o que permitiu o regresso de Chávez ao poder.
Análises de criminalística e dos vídeos relacionados ao dia do confronto das marchas provaram que os disparos haviam partido de franco-atiradores da polícia localizados estrategicamente nos edifícios contíguos, e que faziam parte do golpe. Alguns chefes policiais foram condenados, mas anistiados, em 2007, por decreto do próprio Hugo Chávez.

O documentário Chávez; Inside the Coup (Chávez: Bastidores do Golpe), das cineastas irlandesas Kim Bartley e Donnacha O´Brian, que na América Latina foi chamado La Revolución no Será Transmitida (A Revolução Não Será Televisionada), é o melhor trabalho jornalístico, contendo riqueza de detalhes sobre o contexto do golpe de Estado na Venezuela, em 2002.
Haiti, 2004
Após a morte de um de seus líderes, em setembro de 2003, a guerrilha Frente para a Liberação e Reconstrução Nacional inicia uma série de ataques em regiões do interior do país.

Logo, o país sofreu intervenção de forças da ONU. cujo objetivo declarado era o restabelecimento da ordem democrática, em missão que contou com o apoio de diversos países latinoamericanos, incluindo o Brasil. Após a queda de Aristide, o presidente Boniface Alexandre governou o país interinamente, até 2006, quando foi eleito René Preval.No dia 5 de fevereiro de 2004, conseguiram tomar a cidade de Gonaïves, terceira cidade mais populosa do Haiti, no litoral norte do país, e duas semanas depois dominaram Cap-Haïtien, segunda cidade mais importante. No dia 29 de fevereiro, os rebeldes invadiram a capital Port-Au-Prince. Horas depois, o então presidente Jean-Bertrand Aristide era derrubado, mas não necessariamente pelas milícias. Uma vez no exílio, na África do Sul, Aristide assegurou que nunca havia renunciado, acusando os Estados Unidos de terem-no sequestrado e levado à força para fora do país. Os opositores ao presidente deposto contestaram a versão, e responsabilizaram Aristide pela crise econômica e a miséria que assolava o país, e o acusaram de não conter a corrupção nas instituições públicas.
Bolívia, 2008
No segundo semestre daquele ano, uma série de confrontos entre grupos apoiadores e opositores ao presidente Evo Morales começam a acontecer em departamentos no leste do país, os que compõem a chamada Meia Lua, principalmente nos quatro (Pando, Beni, Santa Cruz e Tarija), onde a população indígena não é maioria – o que revelou o preconceito étnico como uma das origens do enfrentamento.
Indígenas sepultam as vítimas do massacre de Pando, em 2008.
Indígenas sepultam as vítimas do massacre de Pando, em 2008.
Durante cerca de vinte dias, os grupos opositores, liderados por prefeitos da região da Meia Lua, organizaram bloqueios de estradas, greves, ocupação de prédios estatais e até mesmo a sabotagem de um dos principais gasodutos do país. Alguns dirigentes opositores pediam a derrubada de Morales. Outros, principalmente os de Santa Cruz, tentaram organizar um referendo para independência do departamento ou de toda a região da Meia Lua.
No dia 11 de setembro, um grupo de dezesseis camponeses indígenas que apoiavam o presidente foram assassinados, no departamento de Pando, o que foi seguido por outros ataques racistas contra populações indígenas nas regiões insurgentes. A oposição afirmou que presidente perdia o controle do país, e tentou derrubá-lo.
Michelle Bachelet, então presidenta do Chile e presidenta pró-tempore da Unasul, convocou um encontro extraordinário dos presidentes. A entidade classificou os ataques como uma tentativa de desestabilização da democracia boliviana, e anunciou uma série de medidas em conjunto para apoiar o governo boliviano. Diante da total falta de apoio dos demais países do continente, a oposição boliviana decidiu baixar a guarda, desarmar os bloqueios, e até mesmo a ideia de referendo separatista foi abandonada.
Honduras, 2009
Zelaya foi sequestrado em pijamas pelo exército hondurenho, que o abandonou em um aeroporto na Costa Rica.
Zelaya foi sequestrado em pijamas pelo exército hondurenho, que o abandonou num aeroporto da Costa Rica.
No dia 28 de junho, estava programado um referendo para decidir sobre a viabilidade ou não de uma assembleia legislativa para a reforma política do país. Durante a madrugada, um grupo de militares, comandado pelo general Ramón Vásquez Velásquez, invadiu a tiros a casa presidencial e sequestrou o presidente Manuel Zelaya, levando-o de pijamas a um aeroporto, onde foi despachado de avião até a Costa Rica.
Através de uma manobra legislativa, o presidente do Congresso, Roberto Micheletti, conseguiu colocar a si mesmo na presidência, e governou durante seis meses, até a realização de eleições, em novembro, onde foi eleito o opositor Porfirio Lobo.
Manuel Zelaya tentou regressar a Honduras em ao menos três ocasiões, e obteve sucesso na terceira vez, onde conseguiu asilo na Embaixada do Brasil durante cinco meses, até ser definitivamente condenado ao exílio.
Após o golpe, diferentes organizações denunciaram aos organismos internacionais uma escalada de atentados contra comunidades de bairros pobres, cidades da zona rura, movimentos sociais e pequenos meios de comunicação alternativos. Atualmente, o país é apontado pela ONU como o de maior índice de homicídios no mundo.
Equador, 2010

Os líderes do movimento, insatisfeitos com a negativa presidencial, realizaram rapidamente um ataque a comitiva presidencial, com granadas de gás lacrimogênio. Membros da guarda presidencial conseguiram salvar Correa, resguardando-o no Hospital Militar, que ficava próximo ao quartel. O edifício foi cercado pelos policiais grevistas, que chegaram a abrir fogo.Setembro é mesmo um mês preferido para golpes de Estado, principalmente na América do Sul. Neste caso, o confronto aconteceu no dia 30, durante uma greve de policiais. O próprio presidente Rafael Correa foi até um quartel principal da polícia negociar com os grevistas, mas não obteve resultados.
Manifestantes em favor de Correa foram ao local do conflito, protestar contra os ataques, e também receberam disparos. Após a intervenção do Exército, a situação foi controlada, embora tenha terminado com as mortes de dois membros da Guarda Presidencial, dois policiais grevistas e um estudante que estava entre os manifestantes em favor do governo, além de 274 feridos.
Paraguai, 2012

Lugo tentou se defender com o argumento de que não havia nenhum tipo de manifestação popular contra o governo pelas mortes em Curuguaty e que toda a pressão emanava dos partidos opositores e da imprensa paraguaia, que defendia os interesses dos latifundiários e do agronegócio, mas não conseguiu comover os legisladores. Foi substituído no poder pelo seu vice, Federico Franco, cujo partido PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico) já sinalizava uma ruptura com o governo, desde a criação da esquerdista Frente Guasú, em 2010.Em maio, a desocupação de uma chácara, na localidade de Curuguaty, no sudeste do país, levou a um confronto entre policiais e camponeses sem-terra, que terminou com um saldo de dezessete mortes (onze camponeses e seis policiais). As críticas ao manejo da situação por parte do governo levou a um pedido de julgamento político do presidente Fernando Lugo, que finalmente aconteceu no dia 22 de junho, e terminou com 39 votos a favor (apenas 4 contra) de declará-lo culpado por uma suposta crise institucional, cuja pena era a sua destituição do cargo.
No ano seguinte, novas eleições presidenciais levariam ao poder o empresário Horacio Cartes, um dos articuladores da derrubada de Lugo – que foi eleito senador, no mesmo pleito.
Daqui por diante
Fazendo um balanço dos sete golpes , pode-se observar que cinco deles conseguiram a destituição do presidente, embora um deles tenha sido revertido no dia seguinte. Os outros obtiveram resultados políticos permanentes.
Outra característica importante dos cinco golpes concluídos, sobretudo em comparação com os do século anterior, é que geraram substitutos civis, ainda havendo evidente participação militar em pelo menos dois deles.
Cinco desses golpes ocorreram contra países da chamada Alba (Alternativa Bolivariana Para os Povos da América), embora a Venezuela tenha sofrido seu golpe antes da entidade existir – o Haiti, que é somente membro observador, também sofreu seu golpe antes, e Honduras deixou de ser membro depois da queda do seu presidente.

Atualmente, três países vivem situações simultâneas de instabilidade institucional. Na Argentina, a oposição e o grupo de mídia Clarín derrotaram a presidenta Cristina Kirchner . O venezuelano Nicolás Maduro, herdeiro político de Chávez, enfrenta uma forte crise, com intensa confrontação política nas ruas, desde janeiro de 2014. Além dos golpes de Estado, os presidentes latino-americanos também estão tendo que enfrentar neste século uma macabra coincidência (ou talvez não seja mera coincidência, segundo algumas teorias) com respeito a sua saúde – e, outra coincidência, todos os casos envolvendo governantes de com alianças de esquerda ou centro-esquerda. Hugo Chávez terminou falecendo em 2013, vítima de um câncer, o mesmo mal que afetou Lula da Silva (2011), Dilma Rousseff (2009), Cristina Kirchner (2011) e Fernando Lugo (2010). A exceção dos brasileiros, os outros três enfrentaram a doença em pleno exercício de seus mandatos. Também houve a morte de Néstor Kirchner, em 2010, após um inesperado ataque cardiorrespiratório, quando o ex-presidente argentino exercia o cargo de secretário-geral da Unasul. Em 2013, Cristina Kirchner passaria por um novo susto, sendo levada a uma cirurgia de emergência, para retirada de um coágulo no cérebro.
Enquanto isso, Dilma Rousseff teve o seu mandato golpeado em 2016, .
Durante os 13 anos de governos do PT, Lula e Dilma venceram o câncer e defenderam um projeto baseado na distribuição de renda. Agora, enfrentam uma oposição que já não titubeia ao falar em impeachment.
Todos os golpes foram tentados ou concluídos, com apoio financeiro, logístico e planejado pelos banqueiros, rentistas e credores internacionais. Visam a precarização da mão-de-obra, transformando os trabalhadores em análogos ao escravo,
Não se mexe nos privilégios das castas do legislativo, judiciário, executivo e militares, apenas, retira-se as conquistas sociais dos trabalhadores.
Não há desenvolvimento humano ou de qualidade de vida dos que vivem de salário, o que visa os golpes é jogar a maioria na barbárie, longe dos avanços intelectuais, científicos e tecnológicos, para garantir a lucratividade da banca.
Fonte: Rede Latina Americana

domingo, dezembro 18, 2016

DEU NO GLOBO: A jararaca está viva e fabrica postes

 Pesquisa Datafolha mostra crescimento de intenções de votos em Lula

Lula pode ser candidato em 2018 (ou em 2017), mas namora-se a ideia da sua inelegibilidade

Lula pode ser candidato em 2018 (ou em 2017), mas namora-se a ideia da sua inelegibilidade. Jogo arriscado, porque o papel que ele desempenha com maior brilho é o de coitadinho perseguido pela elite.
Os depoimentos de empresários que compraram políticos igualaram os prontuários de notáveis, consolidando a ideia de que são todos farinha do mesmo saco. O PSDB, com suas vestes angelicais e processos que claudicam na Justiça (como o do cartel das obras do metrô e das ferrovias) paga o preço de ser parte do atual governo. Ajudou a projetar a “Ponte para o Futuro” e está numa pinguela.
O massacre que os maus costumes do PMDB e das escolhas que Michel Temer fez para compor seu Ministério feriram a alma do “Monstro” que foi para a rua pedir a saída de Dilma Rousseff.
Com cinco denúncias nas costas, Lula pode ser condenado, ou mesmo preso, mas só ficará inelegível depois da confirmação da sentença na segunda instância. Sua defesa tem feito de tudo para espichar o andamento do processo. Se a Constituição for emendada e Michel Temer deixar o cargo, haverá uma eleição direta em 2017. Nessa hipótese, bastante remota, Lula será candidato, pois não estará condenado na segunda instância. Num processo normal, com a eleição em 2018, pode-se chutar que ele tem apenas duas chances em dez de preservar sua elegibilidade por não ter sido julgado na segunda instância.
Com a entrada do PMDB na ciranda da Lava-Jato e com o mau desempenho da economia, Lula cimentou sua posição de coitadinho. Num primeiro momento ele poderia ser condenado pelas malfeitorias em que se meteu. Aos poucos, fica a impressão de que se busca a condenação para obter a inelegibilidade, uma versão elegante do banimento. Na Argentina, com Juan Perón, deu no que deu. No Brasil o banimento de Leonel Brizola por 15 anos terminou com sua eleição para o governo do Rio de Janeiro em 1982.
Por puro exercício do raciocínio, admita-se que a eleição será em 2018 e Lula estará inelegível. Como a jararaca não terá morrido, poderá apoiar uma nova versão de seus postes. O candidato não deverá sair do PT, também não poderá ter passado pelo índice onomástico da Lava-Jato. Será melhor que nunca tenha se metido em política partidária. Quem? Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo que abriu as portas da cadeia para os comissários petistas.

* Elio Gaspari

domingo, dezembro 11, 2016

1%

O ano é 2057, aquele Professor, prestes a completar seus noventa anos de idade, tomado pela lembrança que no ano de 2016, considerado o ano do domínio total do mercado sobre o país, morrera um ícone planetário de resistência ao imperialismo e portador moral da autodeterminação dos povos, o ´proibido de ser citado nas terras tupiniquins, Fidel Castro.

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Ao entrar na sala de aula real, em um Centro de Readaptação de Jovens, cujo no pré-natal o DNA havia sido detectado genes que poderiam a levar a atitudes inconvenientes a paz reinante e conectado ao mundo virtual por hologramas que penetravam nas residências da geração acrítica, Ele decide não fazer os protocolos que no ano de 2036, sobre o governo do bilionário das comunicações e tutor geral da nação, Roberto Marinho III, tinha decidido; 01) Ler com seus alunos a oração da Nova Era, 02) Cantar o hi-tech pop com a musa teen Titica e consistia na letra "Sim, Sim, Sim, Aceito, Aceito, Aceito meu Senhor!"; 03) Todos confirmarem suas crenças no sistema e jamais acreditarem em lendas do passado.

Mas, naquele dia, o Professor nonagenário, lembrou do viço da juventude, dos planos da aposentadoria roubada por uma quadrilha denominada PMDB/PSDB/DEM, do salário perdido com uma tal PEC 55, das disciplinas desaparecidas com a proposta da Escola Sem Partido, do financiamento da Central de Inteligência Americana (CIA) que pelas redes sociais transformou negros, pobres e analfabetos funcionais em zumbis úteis e defensores da intelectofobia e, sem questionar, repetirem o mantra do inimigo invisível chamando de "Monstro Comunista".

Sua amada companheira, ao vê-lo acordar naquele dia, percebeu que havia algo em seus pensamentos que o colocariam em risco. No entanto, ao se despedir lhe deu a senha necessária: "Faça o que lhe faz feliz, sirva a sua consciência libertária que os Boçalnaros tentaram apagar.!".

Os Boçalnaros era o partido que havia tomado o país em 2024 e pela repressão, desaparecimento e toque de recolher, "livrado" os tupiniquins dos comunas malditos.

Contudo, em 2032 o 1% que dominavam a tecnologia, as fontes de riquezas e desenvolvera os robôs artificiais e os zumbis intelectofóbicos ganharam as eleições e fizeram o acordo de manterem os boçalnarianos com seus sádicos desejos de bater, torturar, esquartejar e sumirem com os inimigos do sistema imposto.
Resultado de imagem para desenhos de zumbis no computador

Existia apenas 1% de chances de algum membro daquela sociedade se rebelar, os 1% que viviam em condomínios de alto padrão de consumo, suspensos em ilhas artificiais sabiam disto. Os demais 99% que tinham suas vidas controladas por micro-chips implantados em seus corpos jamais iriam se rebelar pensavam.

Contudo, aquele nonagenário Professor estava decidido e em um ato de coragem quebrou todos os protocolos, iniciando a aula com a maiêutica socrática: 01) Vocês sabem o que é descanso semanal?; 02) Vocês sabem o que é férias remuneradas?; 03) Vocês sabem o que é auxílio-doença?; 04) Vocês sabem o que é Licença Maternidade/Paternidade?; 05) Vocês sabem o que é História, Filosofia, Sociologia, Artes, Educação Física e Utopia?; 06) Vocês sabem o que significa a palavra pensar?; 07) Vocês sabem o que é escravidão?; 08) Vocês sabem(Bum!) o professor toma uma granada de gás alienante na cara e fica imóvel. Seus alunos atônitos com o que havia ocorrido não disseram nada, só ficaram em choque.

O Professor foi levado para o hospício sobre os cuidados da tropa Boçalnariana, onde após o costume da terapia de choque, Ele está imobilizado em uma cama, onde a TV Marinho, mantida pelo governo, lhe passa 24 horas as informações de purificação e extasie das camadas que precisam alimentar os 1%.

Quanto aos alunos, sabe-se que os dois melhores, Rosa e Hilário, após os Boçalnarianos levarem o Professor, foram pesquisar sobre as perguntas que o velho educador fizera, foram além e descobriram que a síntese do gesto dele significava amor, palavra excluída dos dicionários e que Eles espalharam pelas redes sociais, convulsionando a juventude que até então não conhecia este sentimento, oprimido pela política do hedonismo/relativismo do sistema. Sabe-se que por este ato, os dois brilhantes alunos fugiram da urbe e nas terras desconhecidas, organizaram a resistência para irradiar o amor, mas, o 1% não deixaria esta ameaça permanecer sem uma reação forte.

Contudo, o efeito do amor já estava nas ondas cibernéticas e tomando mentes/corações. O discurso de ódio aos comunistas, socialistas, e istas de todos os conceitos já não mais inoculava a juventude. Pois, estes, iam buscar nos conhecimentos perdidos e proibidos pelos Boçalnarianos, as respostas a seus vazios existenciais e davam um fim as suas verdades absolutas.
 
A revolução do amor foi tomando conta daquele país tupiniquim, fazendo mesmo entre os jovens do 1% haver questionamentos aos seus mais velhos. Até que inevitavelmente, os 1% ruíram e toda a concentração de bem-estar social e qualidade de vida, foram de forma justa distribuídas. O conhecimento libertou a todos, para os boçalnarianos foi empregada a terapia do abraço e de jogos lúdicos visando a integração do outro e dos diferentes.

Quanto aquele nonagenário Professor, agora com o centenário de vida, toma sua cerveja artesanal (Proibida nos Tempos dos Boçalnários) com os jovens, maduros e amigos de longa data, praticando a pedagogia do amor, único parágrafo da nova constituição da terra tupiniquim.


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