A parceria entre Chineses e Brasileiros se dá bem antes dos conceitos: Direita X Esquerda, Comunista X Capitalista, Vírus X Verme....
Uma parceria que se dá pelo trabalho, arte, inspiração e afetos. Nos 12 Profetas em Congonha?MG, por nunca ter ido á Ásia, o gênio Aleixadinho usou para talhar o rosto destes, a aparência de chineses, pois, estes é que com suas mãos extraiam o ouro das Minas Gerais.
Independente de aloprados deputados, ela continuará presente
“Quando os portugueses chegaram ao Brasil, outra nau desembarcou na região de Macau, na Ásia, nos anos 1500. E nas viagens de exploração, muitos portugueses trouxeram para cá chineses. Eram pessoas habilidosas com as artes e que foram contratadas para fazer a finalização das pinturas nas igrejas”
Por Rafael Sette Câmara Postado em 09-10-2018 | Atualizado em
10-10-2018
No pequeno templo de uma cidade do interior, torres, flores e pássaros
chineses ornamentam as paredes. As pinturas, com séculos de existência,
transportam o turista para o Oriente, mas estão em Minas Gerais. Embora seja
uma relação pouco conhecida, a cultura chinesa deixou marcas fortes em várias
igrejas do período colonial. São as chinesices, termo que fala da imitação ou
adoção de padrões chineses na arquitetura – e que tiverem seu auge durante o
Ciclo do Ouro.
Dentre as igrejas mineiras, nenhuma é mais rica em chinesices que a de
Nossa Senhora do Ó, em Sabará, a apenas 15 quilômetros de Belo Horizonte.
Construída no século 18 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, essa simpática igrejinha guarda um interior impressionante,
a ponto de ter sido chamada pelo arquiteto e historiador Sylvio de
Vasconcellos (1916 – 1979) de “o próprio ouro das Minas”.
Por fora, cascalho rude; por dentro o mais valioso metal. Por fora posta
em modéstias; por dentro esplendendo em belezas
Sylvio de Vasconcellos, no livro Minas: cidades barrocas
Na Igreja do Ó, detalhes em dourado mostram os pagodes, templos chineses
com várias beiradas. Também em Sabará, a Igreja Matriz da Conceição guarda mais
chinesices, desde pinturas vermelhas e com motivos orientais, que se destacam
nas laterais da capela‐mor, até santos com olhos puxados e
colunas nos formatos de dragões.
Catas Altas e Barão de Cocais, cidades que ficam nos arredores da
capital mineira, também têm igrejas coloniais com pinturas e obras de
influência chinesa. Em Milho Verde, a 250 km de Belo Horizonte, as chinesices
marcam presença na Capela de Nossa Senhora dos Prazeres, embora algumas
das obras tenham sido cobertas com tinta branca, como mostra um estudo de
Alessandra Rosado, Marcos Gohn e Luiz Souza, da Escola de Belas Artes da UFMG.
Na base de uma pilastra, um inconfundível dragão deixa claro a presença
chinesa. O que é curioso, já que, como os pesquisadores lembram:
Para os cristãos, o dragão está associado a uma forma demoníaca, como
aparece nas iconografias de São Miguel e de São Jorge. No leste asiático, ele é
considerado uma divindade benevolente e está associado à fortuna, prosperidade
e poder. É representado, geralmente, sem asas, na cor amarela e com corpo de
serpente, sendo o restante do corpo constituído por partes provindas de outros
oito animais.
Em Mariana, dromedários, elefantes e tigres mostram um pedaço da Ásia,
enquanto em Ouro Preto as capelas do Padre Faria e de Bom Jesus das Flores
do Taquaral têm trabalhos de influência chinesa. Mas ali a maior quantidade
delas pode ser encontrada na Igreja Matriz de Santa Efigênia, que fica no alto
da ladeira de mesmo nome.
Segundo a tradição, esse templo foi construído por encomenda do
escravo alforriado Chico Rei. Além de obras e traços chineses, a igreja
conta com a pintura de um Papa Negro e vários elementos da religiosidade
africana.
Quando a China chegou ao Brasil
“Quando os portugueses chegaram ao Brasil, outra nau desembarcou na
região de Macau, na Ásia, nos anos 1500. E nas viagens de exploração, muitos
portugueses trouxeram para cá chineses. Eram pessoas habilidosas com as artes e
que foram contratadas para fazer a finalização das pinturas nas igrejas”, diz a
historiadora Margareth Monteiro, que é vice-diretora do Museu da Inconfidência,
em Ouro Preto.
Ela explica que, como a maioria desses profissionais não estava no
Brasil na condição de escravos, eles não eram vigiados e conseguiam colocar
elementos chineses em suas obras. Após trabalharem por um tempo no Brasil,
muitos chineses voltaram para sua terra. Alguns acabaram ficando por aqui, seja
por escolha própria, seja por falta de condições para pagar a viagem de volta.
É preciso que a pessoa conheça um pouco da arte chinesa para entender o
que são aqueles pássaros, pagodes, tigres, cavaleiros chineses e flores. Só
assim para entender por que aquilo ali está presente numa arte barroca e cujos
elementos são basicamente europeus.
O auge das chinesices ocorreu antes de nomes consagrados da arte
brasileira começarem a trabalhar, como Aleijadinho e Mestre Ataíde. “Os
chineses trabalhavam muito com preto, dourado e vermelho. É uma composição
maravilhosa e que está nas igrejas mais famosas. Ali existe uma miscelânea das
culturas negra, europeia e asiática.
Para achá-las, é preciso um olhar cuidadoso, já que as chinesices estão
espalhadas pelos templos. “Quando se observa atentamente cada detalhe, você
encontra uma planta, uma casa, o traço fino da influência chinesa, tudo isso se
misturando com o elemento do barro”, diz ela, que destaca que os artistas
chineses usavam muito marfim, conchas e madrepérolas, produtos que chegavam ao
Brasil nos mesmos navios que os artistas.
Olhar com atenção foi o que fez o fotógrafo Eduardo Trópia, que há
45 anos vive em Ouro Preto. Ao perambular pelas igrejas da cidade com uma amiga
que é historiadora, ele descobriu as chinesices da Igreja de Santa Efigênia.
“São quatro painéis enormes, no altar principal, muitas vezes ficam escondidos,
porque é escuro, tem móveis na frente”, diz ele.
Convidado para participar de uma Bienal na China, o fotógrafo percorreu
as igrejas de Ouro Preto para fotografar a influência oriental no Brasil
Colônia. O resultado foi a Exposição Barroco x Chinesice, que ocorreu em 2017
no Museu da Inconfidência e conta com 13 fotografias. Para Eduardo Trópia,
a recepção deixou claro que esse assunto é pouco conhecido até pelos moradores
da cidade. “A exposição trouxe a curiosidade. Muita gente já tinha ouvido falar
das chinesices, mas nunca tinha visto. E a maioria não sabia que isso existia.
Como é algo muito pouco falado, quem sabe disso são historiadores ou gente
ligada à área”, explica ele, que destaca que esse é “um pedaço da história
brasileira que está num estágio muito embrionário de conhecimento”.
Agora, Eduardo planeja viajar pelo Brasil em busca de outras igrejas
onde as chinesices estão presentes. E não só em Minas Gerais, mas também em
Embu das Artes, município de São Paulo, e também em Pernambuco e na Bahia.
Enquanto planeja para que o trabalho seja apresentado em Belo Horizonte e
outras capitais brasileiras, o fotógrafo expõe os quadros de forma permanente
em seu ateliê, em Ouro Preto.
Alguns dos lugares onde podem ser encontradas chinesices. Sabe de
outras? Deixe um comentário!
Igreja Igreja Matriz de Santa Efigênia, em Ouro
Preto.
Capela do Padre Faria, em Ouro Preto.
Capela de Bom Jesus das Flores do Taquaral, em Ouro
Preto.
O Museu
da Inconfidência, em Ouro Preto, tem em seu acervo peças que
recontam a história chinesa do Brasil colonial, como telhas. Mas a obra mais
importante – e que hoje faz parte da reserva técnica do museu – é uma liteira
cujos suportes de madeira são dragões.
Ateliê Eduardo Trópia:
Rua São José, 165, Ouro Preto. Exposição Barroco x Chinesice.
Catedral da Sé, em Mariana.
Igreja de Nossa Senhora do Ó, em Sabará.
Igreja Matriz da Conceição, em Sabará.
Capela de Nossa Senhora dos Prazeres, em Milho
Verde, distrito do Serro.
Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Catas Altas.
Igreja de Sant’ana, em Barão de Cocais.
Chinesice – para
saber mais:
A China do Brasil: influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas
na sociedade e na arte brasileiras, de José Roberto Teixeira Leite.
Editora Unicamp, 1999.
Aspectos de uma pintura
retabular com chinesice, na capela de Nossa Senhora dos Prazeres, Distrito de
Milho Verde. De Marcos Gohn, Alessandra Rosado e Luiz
Souza, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.
Fonte: Medidional 360
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