Uma das treze cidades que compõem a Baixada Fluminense, Nova Iguaçu foi a origem da região que, atualmente, cerca a capital do estado. Antes habitada por indígenas que utilizavam os rios para locomoção e, posteriormente, usada pelos portugueses para a produção de cana de açúcar, feijão e mandioca, a ocupação da cidade, a partir do século XIX, foi pautada na interiorização do Império no território brasileiro.
O início desse processo se deu no Ciclo do Ouro, quando as pedras preciosas extraídas no interior eram escoadas para o Rio de Janeiro através da Estrada Real, que terminava em Paraty. No entanto, episódios de roubo das pedras, que vinha, pelo mar, da cidade até o Rio de Janeiro, motivaram a construção da Estrada Real do Comércio, que ligava as minas, de forma direta e segura, ao Porto de Iguassú, de onde seguia pelos rios à capital do Império.
– O grande fator para a ocupação de Nova Iguaçu e, por consequência, da Baixada, por mais de um século, foi a vocação da região em ser uma passagem segura no sentido da interiorização nacional – explica Allofs Daniel Batista, mestre em História e coordenador na Superintendência de Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico de Nova Iguaçu.
O processo de ocupação seguiu pelo século XIX, acompanhando a chegada de inovações trazidas da Europa. No ano de 1854, o imperador Dom Pedro II permitiu a construção da Estrada de Ferro Mauá, primeira ferrovia do Brasil, que substituiu as estradas no transporte da carga vinda do interior, proporcionando economia de mão de obra e de tempo. Quatro anos mais tarde, chegou à região o investimento que mexeu com a dinâmica local e foi fundamental para o desenvolvimento da cidade.
A Companhia de Estrada de Ferro D. Pedro II ligava a capital do país à área onde hoje fica o município de Queimados e tinha paradas estratégicas para abastecimento em diversos pontos do trajeto. Foi neste momento que a Vila Iguassú, criada em 1833, às margens do Rio que leva o seu nome, perdeu o posto de centro econômico da região.
– O que hoje chamamos de Nova Iguaçu era um povoado, uma fazenda incipiente, conhecido como Arraial de Maxambomba. Ali havia uma parada de trem, que começou a crescer porque os moradores mais abastados da vila queriam estar perto da linha férrea – explica Allofs.
Explosão populacional
As paradas do trem foram reunindo cada vez mais moradores no seu entorno. A partir daí, começou um período de ocupação exponencial de Nova Iguaçu, que teve seu auge no século XX. O crescimento da região coincidiu com uma onda migratória que preencheu a área da Baixada Fluminense com a miscigenação de povos. De um lado, escravos recém-libertos pela Lei Áurea que, com seus descendentes, deixavam o interior do estado em busca de trabalho. Do outro, nordestinos que fugiam das secas que assolaram o Nordeste e chegavam ao Rio em busca de emprego. Do exterior, chegavam imigrantes italianos, alemães, libaneses que escapavam da I e II Guerra Mundial.
O então presidente Nilo Peçanha (1909-1910) quis fazer do entorno do Rio de Janeiro um polo de abastecimento e investiu na produção de cítricos, como abacaxi, limão e laranja, que se destacou entre as décadas de 1930 e 1940 e deu à Nova Iguaçu o apelido de “Cidade Perfume”.
– A região oferecia emprego nas lavouras, terra e lugar para morar. Eram várias as formas de trabalho, não necessariamente assalariadas – muitos trabalhavam em troca de comida ou casa. Com o declínio da produção de laranja, algumas terras foram loteadas e o governo, já na Era Vargas, incentivou a população a morar na região. Criou-se, então, uma ideia de que ali havia terra e trabalho – conta Allofs.
Antes da explosão demográfica do século passado, Nova Iguaçu tinha 20 mil habitantes. Atualmente, a área da Baixada Fluminense tem cerca de 4 milhões de moradores. Entre 1943 e 1999, o município sofreu duas ondas emancipatórias. Da grande cidade que ocupou quase todo o território da Baixada Fluminense saíram os municípios de Duque de Caxias, Nilópolis, São João de Meriti, Belford Roxo, Mesquita, Japeri e Queimados. Ainda assim, hoje com uma população estimada de 800.000 pessoas (2017), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade continua carregando um enorme peso político e cultural.
Você sabia?
No século XVIII, foi construída, na região denominada Calhamaço, a Igreja de Santo Antônio da Freguesia de Jacutinga. Com o crescimento do arraial de Maxambomba e a transferência da sede da Vila do Iguassú para lá, foi construída a igreja que hoje é a Catedral da cidade. A imagem do santo que dava nome à igreja da freguesia foi migrada para a nova construção, que ganhou o nome de Igreja de Santo Antônio de Jacutinga. A primeira igreja, que hoje fica localizada no bairro da Prata, acabou sendo renomeada de Igreja de Santo Antônio da Prata.
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