"Eu prefiro ser a partir da indignação e da luta do povo brasileiro, uma Suécia, do que ser uma Cuba, com Ditadura. Não conheço historicamente um país moderno e educado com governos ditatoriais. A herança ibérica nos faz acreditar que devemos ser tutelados por um Estado super-poderoso e paternalista!"
Samuel Maia
E tudo surgiu com a morte de Dom Sebastião.
Uma das heranças da influência portuguesa no Brasil, com sua permanência no inconsciente coletivo, é o culto à personalidades e a visão que ser tutelado trás as garantias da paz, harmonia e controle dos hábitos/costumes. Uma das análises da História, nos remete a uma figura que tornou-se mítica com sua morte e que nas terras brasileiras de norte a sul fez surgir seitas e cultos a sua figura, sendo inclusive incorporado a casas de santo.
Rei de Portugal (1557-1578) nascido em Lisboa, que desapareceu na África gerando o sebastianismo, uma espécie de crença messiânica no seu retorno ao país. Neto e sucessor de D. João III, herdeiro do trono português, foi coroado rei aos três anos de idade e durante a menoridade ficou sob a tutela do cardeal D. Henrique, seu tio-avô paterno, e da avó, D. Catarina. Educado austeramente pelos jesuítas, logo demonstrou concentrar seus interesses nas artes da guerra e da conquista e ter como grande ambição a vitória sobre os muçulmanos para a glória do cristianismo. Assumindo o trono (1568) deu início ao projeto de criar um império português no norte da África e combater os mouros em nome de Cristo.
Comandou uma primeira expedição contra o Marrocos (1574) e numa segunda, à frente de um exército de mais de 15.000 homens, desembarcou novamente no litoral marroquino (1578). Seu projeto terminou tragicamente, pois na batalha de Alcácer-Quibir, no dia 4 de agosto, os portugueses foram esmagados pelas forças superiores do sultão Abd al-Malik e o rei desapareceu misteriosamente em combate, quando tinha apenas 24 anos de idade. Com seu sumiço e por não ter herdeiros, foi proclamado rei o velho cardeal D. Henrique, seu tio, que reinou dois anos. Esgotada a linha masculina da casa de Avis, recorreu-se à feminina, mediante várias manobras da nobreza e dos espanhóis.
Assim se facilitou a anexação de Portugal pela Espanha (1580), que deixaria o país sob o domínio espanhol, ao mesmo tempo que evoluía o mito sebastianista de que o jovem rei sobrevivera e voltaria para libertar seu povo. Essa crença sobreviveu por três séculos como símbolo do nacionalismo português. Subiu ao trono de Portugal (1581), contra a vontade popular, Filipe II, rei da Espanha, viúvo de uma filha de D. João III e o reino só readquiriu a independência sessenta anos depois (1640) quando teve início o reinado de D. João IV, fundador da dinastia de Bragança.
Muitos dos comportamentos atuais na política nacional podem ser entendidos a partir deste fato histórico, são as permanências da História que se dão no sentido simbólico, por isso, vemos a percepção de setores da sociedade brasileira que o que a salvará das mazelas será o "Salvador da Pátria", seja Ele na personificação de um ser-humano ou na "sacra-santa" instituição militar. O personagem Dom Sebastião é a expressão das duas a figura mítica e a figura militar.
Samuel Maia
E tudo surgiu com a morte de Dom Sebastião.
Uma das heranças da influência portuguesa no Brasil, com sua permanência no inconsciente coletivo, é o culto à personalidades e a visão que ser tutelado trás as garantias da paz, harmonia e controle dos hábitos/costumes. Uma das análises da História, nos remete a uma figura que tornou-se mítica com sua morte e que nas terras brasileiras de norte a sul fez surgir seitas e cultos a sua figura, sendo inclusive incorporado a casas de santo.
Rei de Portugal (1557-1578) nascido em Lisboa, que desapareceu na África gerando o sebastianismo, uma espécie de crença messiânica no seu retorno ao país. Neto e sucessor de D. João III, herdeiro do trono português, foi coroado rei aos três anos de idade e durante a menoridade ficou sob a tutela do cardeal D. Henrique, seu tio-avô paterno, e da avó, D. Catarina. Educado austeramente pelos jesuítas, logo demonstrou concentrar seus interesses nas artes da guerra e da conquista e ter como grande ambição a vitória sobre os muçulmanos para a glória do cristianismo. Assumindo o trono (1568) deu início ao projeto de criar um império português no norte da África e combater os mouros em nome de Cristo.
Comandou uma primeira expedição contra o Marrocos (1574) e numa segunda, à frente de um exército de mais de 15.000 homens, desembarcou novamente no litoral marroquino (1578). Seu projeto terminou tragicamente, pois na batalha de Alcácer-Quibir, no dia 4 de agosto, os portugueses foram esmagados pelas forças superiores do sultão Abd al-Malik e o rei desapareceu misteriosamente em combate, quando tinha apenas 24 anos de idade. Com seu sumiço e por não ter herdeiros, foi proclamado rei o velho cardeal D. Henrique, seu tio, que reinou dois anos. Esgotada a linha masculina da casa de Avis, recorreu-se à feminina, mediante várias manobras da nobreza e dos espanhóis.
Assim se facilitou a anexação de Portugal pela Espanha (1580), que deixaria o país sob o domínio espanhol, ao mesmo tempo que evoluía o mito sebastianista de que o jovem rei sobrevivera e voltaria para libertar seu povo. Essa crença sobreviveu por três séculos como símbolo do nacionalismo português. Subiu ao trono de Portugal (1581), contra a vontade popular, Filipe II, rei da Espanha, viúvo de uma filha de D. João III e o reino só readquiriu a independência sessenta anos depois (1640) quando teve início o reinado de D. João IV, fundador da dinastia de Bragança.
Muitos dos comportamentos atuais na política nacional podem ser entendidos a partir deste fato histórico, são as permanências da História que se dão no sentido simbólico, por isso, vemos a percepção de setores da sociedade brasileira que o que a salvará das mazelas será o "Salvador da Pátria", seja Ele na personificação de um ser-humano ou na "sacra-santa" instituição militar. O personagem Dom Sebastião é a expressão das duas a figura mítica e a figura militar.
Um comentário:
Querido Samuel, admiro a sua delicadeza e propósito de evitar atritos, atributos muito necessários ao afazer político com vista a aglutinação. Parabéns pela reflexão do artigo, sobre a chamada à realidade, sobre os riscos democráticos que atravessamos. Fico apenas com um pouco de dúvida sobre a pertinência de dar nome aos bois e a identificar com mais clareza aos movimentos em curso. Estamos juntos, chega de redenção militarista e suposição a salvadores exógenos à política. A crise é grave e nada é mais necessário que o exercício aprofundado e radical da política no seu sentido ético e dialógico da busca por soluções que respondem aos anseios da coletividade. Parabéns!
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