A Constituição Federal assegura ao educador o direito a liberdade de cátedra, que se resume em sua liberdade de atuação em sala de aula. Portanto, qualquer lei que viole esse direito se torna inconstitucional e portanto não passível de promulgação pelo presidente da República. O art. 205 da CF assegura a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. O mesmo princípio é reforçado no terceiro artigo da Lei de N 9.394 – de Diretrizes e Bases Nacional. Portanto, os professores que se sentirem constrangidos, censurados em sala de aula, podem e devem fazer o uso da legislação existente sobre o assunto para salvaguardar seu direito à liberdade de cátedra. De modo que devem buscar ajuda jurídica e proteger seus direitos.
A liberdade de Cátedra – ou de ensino – surge no nível constitucional na carta magna de 1934 em seu artigo 155. Posteriormente, na CF de 1946, em seu artigo 168. Reafirmado pela constituição de 1988 – conhecida como a constituição cidadã, o docente tem plena autonomia para escolher os métodos didáticos que respeitem a pluralidade de idéias e a não-discriminação.
O que fazer se a sua sala de aula for invadida?:
1.Exigir a presença de testemunhas, como a diretora, coordenadora pedagógica e outros docentes da escola. Não saia da sala de aula, para isso basta pedir para um ou dois alunos chamar a presença deles. Sempre estar munido com o número do sindicato e/ou de um advogado. 2.A entrada de terceiros só pode ocorrer com a autorização prévia do professor, ninguém pode invadir a sala de aula. Se aparecer alguém não convidado simplesmente feche a porta. Caso o invasor force a entrada, disque 190 e acione a polícia. Peça a presença de uma ronda escolar.
3. Caso alguém grave vídeos na sala de aula, o docente pode entrar com processo por difamação, calúnia e uso indevido de imagem. A pena para o crime de difamação é de detenção, de três meses a um ano, e multa.
4.Em caso de ofensas e ameaças diante de alunos, peça para registrarem o episódio, reúna duas testemunhas e acione o advogado do seu sindicato.
5.Ninguém pode entrar no local de trabalho do professor de modo a constrangê-lo ou censurá-lo. Isso configura ameaça e assédio ao servidor público. O que também é passível de pena.
6. O que fazer se publicarem um vídeo te difamando, com uma suposta “denúncia” de doutrinação em sala de aula ?
Peça ajuda jurídica ao seu sindicato para denunciar as postagens em redes sociais (Facebook, Youtube e Google tem botões e formulários para denunciar postagens indevidas).
Reunir um grupo de professores que também foram difamados e/ou ameaçados e entre com um processo coletivo pedindo indenização por danos morais.
Envie cartas registradas para a sede do Google e do Facebook, explicando o ocorrido e solicite a retirada do conteúdo do Sr.
Procure veículos de mídia livre e alternativa como a Agência Pressenza, o QuatroV, Outras Palavras, Agência Ponte e Justificando, para dar sua versão do que ocorreu, pois os veículos de mídia tradicional geralmente distorcem e manipulam os fatos.
Os professores não estão desamparados pela lei com relação a posturas fascistas que certos indivíduos podem tomar. Sua liberdade é assegurada em nível constitucional. Ao se depararem com situações onde sua liberdade está ameaçada, tem como recurso a legislação vigente para sua defesa.
Nesta breve introdução sobre a Escolástica, falaremos rapidamente sobre sua história, alguns de seus principais pensadores e suas principais características.
Veremos também sua importância para o pensamento ocidental e sua influência em movimentos posteriores, assim como sua influência nos dias de hoje.
A escolástica é parte da época que, por muito tempo, foi compreendida como a Idade das Trevas, mas que, na verdade, de trevas não teve nada.
Seria melhor que chamássemos a Idade Média – período de que a escolástica faz parte – de Idade da Luz, pois foi lá que muito da estrutura social e intelectual que temos hoje surgiu.
Por isso, faremos aqui um breve resumo das informações mais importantes que você precisa saber sobre a escolástica, sua história e seus pensadores.
Ao fim deste texto, indicaremos alguns livros para você conhecer mais sobre a escolástica, sua história e seus pensadores. Se quiser saber mais sobre a escolástica, leia este texto até o fim!
O que é Escolástica? (Conceito e Significado)
A Escolástica surgiu na época que pode ser compreendida como o ápice da cristandade.
A Idade Média foi a época em que o cristianismo alcançou uma estabilidade institucional e intelectual que não é comparável à de nenhuma outra época.
O período conhecido como Idade Média – embora existam algumas divergências entre historiadores quanto às datas – é comumente delimitado entre os séculos IX e XVI.
Embora a Escolástica possa ser considerada uma escola de pensamento, se olharmos com exatidão, veremos que ela não é.
Na verdade, o escolasticismo é um método filosófico que foi extremamente utilizado e aprimorado nas universidades da Idade Média.
A Escolástica visou, sob grande influência do platonismo e principalmente do aristotelismo, a responder às diversas questões que a fé cristã suscita.
(…) a escolástica representa um período de máxima importância da filosofia. (…) Mas o que a tornou imensamente válida, e de uma importância ímpar, foi a realização da mais extraordinária análise que se conheceu na história do pensamento humano. A análise, levada em extensão e intensidade, permitiu que surgissem novos veios para o filosofar, veios que ainda não foram devidamente explorados.
Santo Tomás de Aquino foi um dos principais pensadores da Escolástica. Foi ele que, na esteira dos comentários produzidos pela filosofia árabe da época, “batizou” o pensamento do filósofo grego Aristóteles.
Tomás de Aquino, como afirmou o filósofo Eric Voegelin em sua História das Ideias Políticas, foi o ápice intelectual da Escolástica.
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Foi o famoso “boi mudo da Sicília” quem mostrou para o mundo que fé e razão não são incompatíveis, mas, ao contrário, são duas irmãs inseparáveis, que caminham juntas.
Características do Método Escolástico
O método escolástico consistia, basicamente, em dois gêneros de discussão filosófica, chamados Lectio e Disputatio.
A Escolástica foi um período especialmente livresco, ou seja, um período completamente dado ao estudo e à leitura.
O mestre levava seus alunos a fazerem primeiramente a Lectio do texto, em seguida a Cursorie e, por fim, a Expositio propriamente dita.
Esta última consistia fundamentalmente na observação e análise da construção gramatical (Littera); em seguida, do sentido imediato (Sensus); e, por último, do sentido doutrinal do texto (Sententia).
A Sententia abarcava três tipos de interpretação, que eram a histórica, a alegórica e a sacra.
Por fim, a Disputatio consistia em submeter certos temas a debate, do que poderia resultar uma Questio. Em Santo Tomás, este gênero se desenvolve como uma reunião de artigos, por sua vez estruturados conforme o esquema: argumentos iniciais, sed contra, corpo da resposta e objeções aos argumentos iniciais.
Patrística e Escolástica
Embora consistam em épocas distintas, a era da Patrística e a era dos escolásticos são tidas como os principais momentos para a história do pensamento e a história do próprio cristianismo.
Foi na Patrística que o cristianismo começou a ter sua doutrina sistematizada e a desenvolver uma teologia mais robusta. E na Escolástica, a teologia cristã alcançou o seu ápice.
É comum observarmos nos doutores escolásticos citações dos Pais da Igreja. Os escolásticos constantemente utilizavam-se dos escritos da Patrística como fonte de autoridade.
Embora a Escolástica abarque autores que estruturaram linhas próprias de pensamento, é possível afirmar que grande parte do trabalho deles é uma derivação dos escritos da Patrística.
Ainda que Santo Tomás de Aquino tenha desenvolvido uma linha de pensamento que hoje é chamada tomista, é nítida a influência que Santo Agostinho teve sobre seu trabalho.
É perceptível essa influência, por exemplo, no uso que estes autores fazem da literatura tida como pagã. Se quiser saber mais: Hugo Langone concebeu uma cuidadosa investigação sobre o assunto no livro Chorar por Dido é Inutil.
Acontecimentos Notáveis do Período Escolástico
Entre os muitos episódios notáveis do período escolástico, podemos destacar a disputa entre o monge franciscano Duns Scot e o frade dominicano Santo Tomás de Aquino a respeito do dogma da imaculada conceição de Maria.
Duns Scot foi um grande filósofo medieval e um dos responsáveis pela defesa do hoje conhecido dogma da imaculada conceição de Maria.
Embora Santo Tomás de Aquino seja mais conhecido que Duns Scot, foi Duns Scot, e não Santo Tomás de Aquino, quem defendeu o importante dogma católico da imaculada conceição de Maria.
Para Duns Scot, Maria foi remida de seus pecados pelos méritos de Cristo antes mesmo de nascer e, por isso, nasceu sem pecado.
Nessa famosa Questio, a posição que prevaleceu foi a do venerável Duns Scot, e não a de Santo Tomás de Aquino.
Crise e Decadência da Escolástica
A crise escolástica começou perto do fim da Idade Média, com a ascensão do nominalismo e os primórdios do movimento de reforma da Igreja.
O filósofo Eric Voegelin, em Idade Média Tardia, entende do mesmo modo, e identifica uma considerável influência do pensamento de Ockham sobre Martinho Lutero.
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A excepcional unidade cultural alcançada no século XIII não estava destinada a ser permanente, nem estava tão aperfeiçoada como poderíamos supor a partir do espetáculo dos grandes feitos da arte, da filosofia e da organização eclesiástica. Foi o resultado de um grande empenho espiritual deliberado que teve como consequência um grau de tensão muito elevado, seguido de uma inevitável reação em que elementos da cultura ocidental, reprimidos ou ignorados, voltaram a se afirmar.
Christopher Dawson, A Formação da Cristandade, p. 375
Como bem pontua o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos, a Escolástica se destaca por, de certa forma, ter esgotado e analisado com enorme minúcia os assuntos de sua época. Contudo, Voegelin mostra que foi exatamente neste momento que começou a decadência da Escolástica.
Essa exaustão levou a uma reação oposta, buscando não mais gerar divagações filosóficas sobre os diferentes assuntos, mas ater-se ao texto bíblico. Foi aí que surgiu a Reforma Protestante, tendo início a ascensão da modernidade.
O presente artigo procura em seu desenvolvimento apresentar aos seus respectivos leitores o quão importante foi à metodologia de ensino aplicada na Grécia antiga e o verdadeiro objetivo que permeava tal concepção pedagógica. Também neste breve texto é encontrada a figura de uma das personalidades mais intrigantes da humanidade, Sócrates. Como e porque ele conseguia tantos adeptos aos seus ensinamentos? O que Sócrates possuía de tão cativante para os seus interlocutores? Qual era o segredo que ele possuía para ser um grande pedagogo em sua época? E como é vista a educação e nossos educadores nos dias atuais? O que falta para despertar em nossos alunos o senso de pertença do ensino como força transformadora da realidade vigente? As respostas para tais indagações serão encontradas ao longo deste peregrinar nos caminhos da sabedoria que hoje se inicia com esta pesquisa.
1. A EDUCAÇÃO GREGA COMO EXEMPLO PARA OS DIAS ATUAIS
Ao se fazer uma analise sobre a formação do homem grego na antiguidade para servir de comparativo com a atual educação, nota-se algo muito curioso. E que seria o quanto perdemos com o passar dos séculos no quesito educação de qualidade. Ou pelo menos o sentido mais puro e verdadeiro que por traz deste ideal estaria. A educação grega em seus primórdios e principalmente em seu auge já era muito avançada em relação aos tempos atuais. Faz-se necessária a explicação de que tal comparativo não leva em conta a gama de conhecimentos que hoje se tem e nem muito menos as várias tecnologias. Mas sim o "espírito grego" - como diria Werner Jaeger - o desejo, a vontade de evoluir e com qualidade e principalmente assegurar tal desejo e condições para as gerações futuras. Era o mais puro desejo de educar para o bem, pois eles sabiam que cuidando bem de suas futuras gerações teriam um futuro bem assegurado. Quanto melhor educadas as pessoas melhor o Estado Grego seria administrado. Pois, "o Estado Grego, cuja essência só pode ser compreendida sob o ponto de vista da formação do homem e de sua vida inteira..." (JAEGER, 2003, pag. 14). Em outras palavras, os gregos antigos tinham como ideal aquela preocupação com a formação de seres humanos integrais e de modo pleno. Para Werner Jaeger (1888 ? 1961) grande filólogo alemão e que escreveu uma belíssima obra intitulada "Paidéia ? A formação do homem Grego" de 1936, era esta a intenção primeira dos gregos antigos, um constante aperfeiçoar-se e isso obviamente teria seu reflexo nas gerações posteriores. E se tal fato não fosse real, já haveria se perdido nos porões do esquecimento da história da humanidade. O que ocorre é que os sintomas da assim chamada "Paidéia" estão presentes na cultura ocidental até os dias atuais, ou pelo menos o que sobrou de tal ideal.
Contudo essa história vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não tivesse criado a sua forma perene. Criou-se como expressão da altíssima vontade com que trabalhou seu destino. Nos estádios primitivos de seu crescimento não teve a idéia clara dessa vontade; mas, á medida que avançava no seu caminho, ia-se gravando na sua consciência, com clareza cada vez maior, a finalidade sempre presente em que sua vida se assentava: a formação de um elevado tipo de homem (JAEGER, 2003, pag. 7).
Basicamente o que ocorreu foi à evolução gradual da mentalidade das pessoas referentes à educação e que resultou na construção de um individuo integral, completo e bem estruturado. O que este antigo e precioso sistema de ensino pretendia era "colocar os conhecimentos como força formativa a serviço da educação e formar por meio deles verdadeiros homens, como o oleiro modela a sua argila e o escultor as suas pedras..." (Cf. JAEGER, 2003, pag. 13). Talvez tal comparação entre escultor e oleiro se deva ao fato de existir uma observação do cotidiano e de como construir uma educação que se aplica perfeitamente a esta realidade. Um exemplo clássico é o próprio surgimento da filosofia que em primeiro momento era uma forma de explicar os fenômenos naturais e as relações que mantinham com os seres humanos. A esta filosofia e aos seus seguidores ficou-se rotulados como filósofos da natureza. Pois era uma forma de edificar o ser humano, para estar atento a realidade e assim torná-lo capaz de desvendar o universo. Portanto, isto tem a ver "com a educação ser um processo de construção consciente do ser humano" (JAEGER, 2003, pag. 13). O método grego de educação foi tão importante que até em outros períodos da história, incluso o nosso, foi e é observado, interpretado com admiração.
Finalmente teve a pedagogia grega enorme energia procriadora. A civilização ocidental volta vistas, periodicamente para ela, como ocorreu na Renascença e no século XVIII e como, em parte, ocorre em nossos dias. Essa faculdade criadora tem sido interpretada de varias maneiras, quase todas, porém coincidentes no reconhecer-lhe valor humanístico, de afirmação da personalidade livre sobre todas as circunstancias políticas (LUZURIAGA, 1985, pag. 44).
É preciso ainda salientar que não se trata aqui de um saudosismo, mas si, um exemplo clássico de como foi vista e definida a educação para os antigos. Educar, para eles era algo muito mais profundo, precioso e que infelizmente com o passar dos séculos foi-se perdendo tal ideal. E para a humanidade este é um grande prejuízo. Nas palavras de Schmitz "o homem é um eterno insatisfeito. Ele quer a perfeição. Ele quer o absoluto. E sempre continua procurando" (SCHMITZ, 1984, pag. 183). A busca de superação é inerente ao ser humano de todas as épocas, bem como sua sede de conhecimento e as duas são semelhantes à necessidade de respirar. Ou seja, se o ser humano não respira ele morre, se não conhece e com isso se supera, definha até o seu aniquilamento total. A perda, portanto, de uma educação cuja única meta é a edificação do homem leva-o para longe da sua grande vocação que é ser mais do que foi ontem.
Se não fosse assim os seres humanos não haveriam conquistado e destruído reinos e assimilado suas culturas e impostas outras ao longo dos séculos. Nem teriam feito as descobertas dos assim chamados "Novos mundos" antes inimagináveis. Por sua vez o ser humano haveria conquistado o espaço.
Enfim o desejo de saber o que está do outro lado do muro é natural, intrínseco e arraigado no cerne da humanidade. Arrancar isso ou pelo menos plantar idéias falaciosas neste terreno fértil e abundante é o mesmo que aniquilar a vida da humanidade.
2. A FIGURA DE SÓCRATES
Como foi visto apriori os gregos ao longo de sua história e principalmente com mais efervescência no século IV antes de Cristo, desenvolveram um ideal de transformação de sua sociedade por via do ensino. Para eles a educação era muito mais do que apenas um comércio com finalidade lucrativa. Pelo contrário a educação para os gregos era a oportunidade de construir indivíduos integrais. Ou seja, as pessoas tinham a oportunidade de desenvolver suas várias possibilidades nos locais de ensino da época. As pessoas aprendiam sobre poesia, filosofia, matemática, geometria, astronomia, medicina, artes, esportes etc. Parece muito com o nosso curriculum nos dias de hoje, no entanto esta é uma visão que já existia na Grécia a muitos e muitos séculos atrás. E o que tornava o ensino de tantas diciplinas agradável era o método de ensino claro, objetivo e fundamentado.
A principal característica dessa nascente pedagógica é a claridade e transparência, como sucede com quaisquer correntes tomadas na fonte. As idéias aparecem expostas de forma essencial, elementar, isto é, em seus fundamentos. Daí seu valor pedagógico, didático, clássico (LUZURIAGA, 1985, pag. 44).
Pois bem, é neste contexto fabuloso e próspero da humanidade e que deixou suas marcas na civilização ocidental até os nossos dias que se insere a personalidade de Sócrates. Sócrates (469 ? 399 a. C) nasceu em Atenas e lá morreu é considerado por historiadores e filósofos como um dos grandes responsáveis pela criação da filosofia ocidental como a conhecemos hoje. Também é conhecido como um dos três nomes da filosofia grega antiga juntamente com Platão seu discípulo e Aristóteles.
2.1 TESTEMUNHOS
Sócrates, porém, nada deixou escrito de próprio punho para a posteridade. Tudo o que sabemos sobre seus feitos são por via de três contemporâneos seus: O primeiro é o próprio discípulo Platão (428/ 427 ? 348/347 a. C) ateniense e fundador da Academia de Atenas no ano de 387 a. C. em Atenas. Platão retrata a figura de Sócrates em suas obras: "Defesa se Sócrates" ou "Apologia de Sócrates", em seus diálogos "O Banquete", "Fédon", "Sofista", "Político" e por ultimo, mas não menos importante na "A República".
Outros testemunhos são relatados por outro discípulo de Sócrates, Xenofonte (430 ? 355 a. C) historiador de seu tempo escreve duas obras de suma importância sobre a manifestação de Sócrates em seu tempo, são elas: "Ditos e feitos Memoráveis de Sócrates" e a "Apologia de Sócrates".
E por ultimo temos Aristófanes (447 ? 385 a.C) dramaturgo grego e que escreveu diversas obras e dentre elas "As Nuvens" na qual satiriza a pessoa de Sócrates, visto que Aristófanes e Sócrates eram inimigos.
Enfim, é por via dos escritos destes celebres homens é que podemos ter acesso a real identidade deste Proto Filósofo, um filosofo anterior. Ou seja, Sócrates. Sócrates era filho de um oleiro e de uma mãe parteira. Era casado com Xântipe, que segundo alguns historiadores, era cerca de quarenta anos mais nova do que ele. Sócrates com Xântipe teve três filhos Lamprocles, Sophroniscus e Menexenus.
2.2 A MAIÊUTICA SOCRÁTICA
Por Maiêutica entende-se o método socrático de ensino e persuasão que nada mais era do que um "jogo" de perguntas e respostas aos interessados. Tal movimento dialético levava os interlocutores para o caminho que Sócrates deseja-se que eles caminhassem, ou seja, o conhecimento total das coisas. Este método por vezes era constrangedor por que as pessoas se julgavam conhecedoras plenas daquilo que praticavam. No entanto, quando perguntadas sobre os fundamentos de suas ações e percebiam que nada sabiam se sentiam inquietas e medíocres.
O significado de tal palavra é "dar a luz", ou seja, essa idéia de fazer as pessoas parirem intelectualmente vem possivelmente da comparação que fazia com a profissão de sua mãe, parteira. Ele por sua vez grego - e como muitos em sua época um bom observador da realidade ? desenvolveu de imediato um método simples de perguntas e respostas. A maiêutica como assim ficou rotulada era uma forma muito simples de fundamentar as argumentações dos presentes em uma educação. Sócrates, portanto, em relação ao "parto das idéias", maiêutica era uma espécie de médico, não do corpo, mas do espírito. Sua preocupação principal era a edificação do ser humano e seu bem estar, aliás, o ser humano é o centro de seu pensamento. O fato de sua presença ser tão agradável e cativante é dado pelo testemunho de Xenofonte em seus Memoráveis, onde vemos Sócrates retratado como uma espécie de médico, que literalmente "cura" a quem o procura e o modo como influenciava os seus: "Tampouco fazia de seus discípulos homens cúpidos, pois curando-os das outras paixões não pedia a menor paga aos que lhe procuravam a companhia" (XENOFONTE, 1972, pag. 43). Xenofonte em seu texto por diversas vezes ressalta que Sócrates era um homem desprendido das coisas materiais. Que buscava unicamente o bem das pessoas como fim ultimo e desprezava toda e qualquer forma de exploração comercial por via do ensino: "Sócrates se mostrava abertamente amigo do povo e filantropo. De fato, era cercado de discípulos, atenienses e estrangeiros, jamais auferiu proveito deste comercio, transmitindo a todos e sem reserva o que sabia" (XENOFONTE, 1972, pag. 49). E em outra passagem Sócrates, segundo Xenofonte, chama de "... escravizadores de si mesmos os reclamam salários por suas palestras, visto se imporem a obrigação de conversar com os que lhes pagam" (XENOFONTE, 1972, pag. 43).
Esta classe de indivíduos eram chamados de sofistas. Famosos e dotados de uma grande capacidade de persuasão. Talvez tamanha capacidade de persuasão esteja mai ligada ao seu exibicionismo do que propriamente aos conteúdos expostos. O historiador holandês Johan Huizinga autor da obra "Homo Ludens" assim os define:
As proezas dos sofistas são chamadas epideixis ? exibição. Cada um destes tem... um repertório, e recebe honorários por seus ensinamentos. Algumas de suas peças têm preço fixo, como as conferencias de cinqüenta dracmas de Pródico. Górgias, por exemplo, ganhou tanto dinheiro com sua arte que pode dedicar uma estátua de si mesmo ao deus de Delfos, toda em ouro maciço (HUIZINGA, 2001, pag. 164).
O modo como tudo isso era praticado na visão de Sócrates era terminantemente abusivo, visto que o conhecimento para ele era algo que se era recebido de graça e do mesmo modo deveria ser passado. A prova disso e também a grande diferença entre Sócrates e seus opositores sofistas era o seu próprio modo de ensinar. Os sofistas davam suas aulas particulares nas residências dos pagantes, como nos testemunha Werner Jaeger:
É por dinheiro que ministram os seus ensinamentos. Estes versam sobre disciplinas ou artes específicas e dirigem-se a um publico seleto de filhos de cidadãos abastados, desejosos de se instruírem. O palco onde, em longo solilóquio, brilham os sofistas é a casa particular ou a aula improvisada (JAEGER, 2003, pag. 523).
Sócrates em contrapartida freqüentava lugares públicos como os banquetes e os ginásios e a todos os interessados os instruía sem nenhuma paga. Tais lugares segundo Werner Jaeger já se praticava um novo tipo de ginástica, a do pensamento: "Surgiu assim uma ginástica do pensamento que logo teve tantos partidários e admiradores como a do corpo, e não tardou a ser reconhecida como o que esta já vinha sendo há muito tempo: como uma nova forma de paidéia"( JAEGER, 2003, pag. 523).
Deste modo surge um novo modelo de ensino muito mais cativante pelo simples fato de não haver cobranças e cujo único comprometimento era com o ensino da verdade para a construção de homens muito melhores. Não é por acaso que "em face dele, estava o grande numero de pais que a Sócrates iam pedir conselho para a educação de seus filhos" (JAEGER, 2003, pag. 553).
Portanto, este é o exemplo mais perfeito para nós hoje de amor e comprometimento com a verdade. Verdade esta que é preciso se colocar acima de todas as outras coisas. É bem verdade que o desejo habitante nas entrelinhas do método socrático é uma educação política e é por isso mesmo que Sócrates tanto se preocupava com a formação das pessoas. Por que ele sabia que somente por meio de uma educação exemplar é possível moldar o caráter de futuros governantes e por conseqüência ter um Estado muito mais bem governado. Uma coisa leva a outra, basta parar por um instante e refletir.
3. O CONCEITO ATUAL DE EDUCAÇÃO
Com certeza a conceituação presente de educação é totalmente distinta de conceitos antigos elaborados pela humanidade ao longo das épocas. A educação hoje passou a ter uma conotação muito voltada ? por parte dos governos principalmente ? para o comercial. Ou seja, "neste mundo de estilo empresarial, racional, num mundo em que se procura o lucro instantâneo, a administração das crises e a limitação dos danos, qualquer coisa que não possa provar eficácia instrumental é ?um tanto evasiva?" (BAUMAN, 2009, pag. 39). Portanto, não existe mais aquele ideal, aquela preocupação com a formação de seres humanos integrais e de modo pleno. Pois era este o ideal grego, uma educação que trabalhasse o ser humano de todos os modos. Seja de modo físico, intelectual e também espiritual. Basicamente o que ocorreu foi à evolução gradual da mentalidade das pessoas referentes à educação e que resultou na construção de um individuo integral, completo e bem estruturado. É preciso ainda salientar que não se trata aqui de um saudosismo, mas si, um exemplo clássico de como foi vista e definida a educação para os antigos. Educar, para eles era algo muito mais profundo, precioso e infelizmente com o passar dos séculos foi-se perdendo tal ideal. A educação as portas deste novo século que se abre é vista muito mais com motivos políticos e comerciais do que realmente preocupada com a evolução saudável do ser humano. Tal afirmação reside nas entrelinhas dos discursos apoteóticos do estado e da sociedade. Segundo Zygmunt Bauman, "para a maioria dos estudantes, a educação é acima de tudo uma porta de entrada para o emprego. Quanto mais ampla a passagem e melhores as recompensas do árduo trabalho, melhor" (BAUMAN, 2009, pag. 41). Nenhum governo em sã consciência deseja criar em seus domínios seres inteligentes o suficiente a ponto de contestar as decisões estatais. Não é a toa que o ensino do pensar reflexivo, filosofia, fora banido do Brasil no período da ditadura. Criou-se em nossa sociedade uma cultura em que: "História Antiga, música, filosofia e coisas que afirmam fortalecer o desenvolvimento pessoal, e não a vantagem comercial e política, dificilmente engrossam os números e índices de competitividade" (BAUMAN, 2009, pag. 40). Com esta limitação do grau de visão do ser pela busca de uma educação maior fica evidente que cada vez será mais fácil governar sem oposição. E no fundo quem sempre sai perdendo são as novas gerações que vão crescendo com conceituações e visões de mundo defasadas, como é o caso da educação cujo único significado hoje é o de abrir portas para um bom emprego. O ser humano existe para muito mais, segundo Aristóteles, "todos os homens tem por natureza o desejo de conhecer..." (ARISTÓTELES, 1979, pag. 11). Mas se em uma cultura o ensino é apenas repassado com uma segunda intenção sem grande perspectiva ? além é claro de uma perspectiva mecanicista como já fora mencionado ? logo se aprende como foi ensinado. A Paidéia contemporânea não tem mais o objetivo de "colocar os conhecimentos como força formativa a serviço da educação e formar por meio deles verdadeiros homens, como o oleiro modela a sua argila e o escultor as suas pedras..." (Cf. JAEGER, 2003, pag. 13). Muito pelo contrário, a Paidéia contemporânea tem por único objetivo "... ajudar o governo a vencer a próxima eleição" (BAUMAN, 2009, pag. 40). Como já fora dito não existe, portanto, a preocupação "com a educação ser um processo de construção consciente do ser humano" (JAEGER, 2003, pag. 13). Mas sim, no como a maquina estatal e os demais interessados podem se beneficiar de tal realidade. Infelizmente enquanto houver este jogo mesquinho de interesses será impossível termos uma educação de qualidade voltada para a edificação do ser humano. Sempre estaremos presos aos grilhões ditatoriais semelhantes aos que alegorizou Platão no livro VII da Republica. Donde só veremos e ouviremos o que os detentores da "verdade" quiserem que vejamos. Este totalitarismo intelectual, invisível, sorrateiro e venenoso é o que vem matando lentamente nossa sociedade, impedindo-a de avançar cada vez, mas rumo ao desconhecido e obscuro futuro que nos assombra. Segundo Zygmunt Bauman: "Precisamos da educação ao longo da vida para termos escolha. Mas precisamos dela ainda mais para preservar as condições que tornam essa escolha possível e a colocam ao nosso alcance" (BAUMAN, 2009, pag. 166). A educação, portanto, é o passaporte para a preservação de nossas escolhas e as nossas responsabilidades que surgem devido a tais escolhas.
CONCLUSÃO;
Finalizando esta obra nota-se o como o sentido da educação mudou ao longo dos séculos. Isto quer dizer, que a educação de modo geral passou de uma preocupação com a edificação de futuros lideres que realmente aprendiam ? pois os conteúdos eram passados de forma clara e objetiva além é claro do compromisso de uma formação sólida ? para uma educação cujos únicos objetivos são reeleger governos e apresentar novos dados "avançados" a comitês internacionais. É preciso antes de tudo de resgatar aquele desejo antigo que pairava na Grécia, de formar cidadãos capazes de bem administrar o estado e estarem conscientes do que fazem. E é somente por meio da educação que podemos alcançar isto. Mas a educação que aqui se diz é uma educação apaixonada, onde as crianças, os jovens se sentem cativados e gostam do que fazem. Com a figura de Sócrates só temos a aprender com os seus riquíssimos ensinamentos, mas também por via de seu exemplo a por todos esses desejos de uma reforma educacional em ação. E com isso tornar os educandos mais apaixonados e curiosos com o ensino. Uma educação apaixonada, sim, é disso que a nossa sociedade precisa para se reerguer com dignidade e compromisso para com o futuro.
Referências:
ANDRADE, Líbero Rangel de. Xenofonte: Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1972. BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 2008. JAEGER, Werner. Paidéia ? A formação do Homem Grego. São Paulo: Martins Fontes, 2003. LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1985. SCHMITZ, Egídio F. O Homem e sua Educação ? Fundamentos de Filosofia da Educação. Porto Alegre: Sagra, 1984. VALLANDRO, Leonel; BORNHEIM, Gerd. Aristóteles II: Ética a Nicômaco. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.