O ano de 1986 foi um divisor de águas para o Estado do Rio de Janeiro: é o desdobramento da decadência iniciada com a fusão de 1975; uma fusão a fórceps feita pela ditadura empresarial-civil-militar, que uniu o antigo Distrito Federal ao Estado do Rio de Janeiro, Estado de características rurais e oligárquicas.
No ano de 1986, com a derrota de Leonel de Moura Brizola, através de seu candidato, o antropólogo Darcy Ribeiro, consolidou-se o ‘Chaguismo’ no Estado, através da vitória de Moreira Franco (PMDB), o famoso “Gato Angorá”, apelido dado por Brizola ao PMDBista por seu notório saber em subtrair dinheiro público para si e seu grupo político.
Desde então, ao derrotar o Brizolismo, o Estado do Rio de Janeiro, descambou para a tragédia que tornou-se, onde não se debate projeto de Estado e sociedade, , tornando-se um prisioneiro de pautas de costumes e fiscalização da genitália alheia, tão bem feita por narcoevangélicos, narcomilicianos e os chaguistas do MDB.
Naquela eleição, o candidato do PT, migrado na última hora do PV, foi instrumentalizado pelo Chaguismo, para amedrontar a sociedade do Estado com as Fake News, dizendo que se Gabeira fosse eleito iria liberar a maconha, o homossexualismo iria ser pregado nas Escolas…. Ou seja, a mesma pauta que tomou corpo a partir de 2013 nas manifestações de essência ultradireitista.
A candidatura de Gabeira, tirou votos de Darcy Ribeiro, principalmente na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, e, como não tínhamos dois turnos, possibilitou a vitória de Moreira Franco.
Moreira Franco em sua campanha dizia que acabaria com a violência em 6 meses, resolveria o problema da educação em 6 meses, todos teriam saúde de qualidade em 6 meses…. Ou seja, tudo seria resolvido em seis meses, porém, o que Ele fez foi destruir todos os programas sociais que Brizola tinha implantado, inclusive os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), uma revolução que em átimo de anos o Estado conheceu.
Naquela eleiçao o então candidato Fernando Gabeira fez uma declaração infeliz sobre a vereadora Lucinha, que, segundo ele, teria uma “visão suburbana” a respeito da instalação de um lixão na Zona Oeste da cidade. A infelicidade da declaração consiste em ter ela propiciado um aproveitamento político por parte do adversário, que por seu intermédio transformou Gabeira em “candidato da elite”, preconceituoso, “contra o subúrbio” etc.
Mas, bem compreendida, a declaração de Gabeira não carregava qualquer preconceito. Ele empregou a expressão “visão suburbana” no sentido de “visão provinciana”, isto é, uma visão limitada, demasiadamente local e contingencial de um problema. Nesse sentido, não se tratava de um preconceito contra determinada origem sócio geográfica, mas sim de um juízo político contra uma vista obliqua. Teria sido melhor, portanto, empregar a palavra “provinciana”, que já traz imediatamente em seu sentido corriqueiro esse deslocamento do geográfico para o existencial: ser provinciano não é um problema de origem, é uma forma de ver o mundo. Que forma?
Darcy Ribeiro também fez, em debate na TV Bandeirantes, uma declaração que foi utilizada por Moreira Franco para derrotá-lo; foi quando Darcy mostrou a sua formação acadêmica e títulos que tinha, chamando Moreira Franco de um mero genro de Amaral Peixoto e Prefeitinho de Niterói sem nada substancial… Isto mexeu no provincialismo dos niteroienses, que por ter Niterói sido ex-capital do antigo Estado do Rio de Janeiro, viram seu orgulho ferido pelo candidato Brizolista.
Danuza Leão, certa vez concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo, por ocasião do lançamento de seu livro ’Fazendo as Malas’, uma espécie de relato de viagens contendo reflexões sobre temas como moda, elegância, consumo, dinheiro etc. A certa altura da entrevista, ela comenta, em tom de superioridade, que em qualquer lugar do mundo pede-se um copo de vinho ou champanha – “un verre de vin”, “a glass of wine”. “Só no Brasil existe o hábito de pedir uma taça de vinho, ou uma tacinha, pior ainda”. É curioso que um livro que se pretenda tão cosmopolita contenha uma visão tão provinciana.
Acredito em aprendizado, descoberta, encantamento, entrelaçamento de culturas, perspectivas de desenvolvimento e projetos arejados.
A Baixada Fluminense, naquela eleição de 1986, teve eleito como vice-governador Francisco Amaral de Nova Iguaçu, o que para a região nada representou de melhorias.
Apesar de estarmos ao lado da cidade maravilhosa, nestes últimos 35 anos nenhuma estação de metrô foi inaugurada na região e a Maria Fumaça, mesmo com a privatização da ferrovia, se ouve seu apito em terras do recôncavo da Guanabara. Política Habitacional e formação de uma classe média nem pensar, equipamentos culturais precários, ou seja, vivemos ainda no Estado de Abandono.
Porém, apesar de deputados estaduais e federais da região serem eleitos, não há um movimento no sentido de integrar a região metropolitana em uma urbe moderna.
O menosprezo ao “centro” pela sua condição de centralidade. É uma espécie de provincianismo esclarecido. Creio que isso não chega a formar critérios éticos – políticos, estéticos, poéticos – que possamos afirmar como dignos de orientar nossas ações no mundo.
Criarmos uma visão cosmopolita e moderna nos cidadãos das cidades da Baixada Fluminense, uma classe média progressista e antenada com as evoluções Técnicos e Científicas, deve ser um caminho a ser pavimentado para deixarmos de ser província, ou colônia da metrópole.
Paz e Bem
Fonte: https://www.portalb.com.br/cidadaos-da-baixada-fluminense-como-superar-o-provincialismo-do-estado-do-rio-de-janeiro/ , 19/11/2021
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