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sexta-feira, julho 05, 2013

Estudo aponta quem são os donos do poder no Brasil

Economista da UFSM critica visão de empresários brasileiros













Um levantamento inédito, realizado pelo Instituto Mais Democracia (IMD) deverá revelar “Quem são os proprietários do Brasil?”, ou seja, os grupos econômicos que são recordistas em concentração de poder no país. O estudo identifica todas as empresas que se articulam com as grandes corporações brasileiras: Vale, Gerdau, Votorantim, JBS, Grupo Ultra, entre outras. Além disso, um ranking vai explicitar nomes e sobrenomes dos proprietários finais dessa intricada rede de poder empresarial.
O objetivo do instituto é também mostrar que essas empresas recebem dinheiro público de estatais brasileiras sem a necessária transparência e controle social. A pesquisa completa já publicada mostra como se dá a concentração de riquezas no Brasil.
“Quem são as famílias? Quem são as pessoas? Normalmente se diz que o capitalismo não tem rosto, não tem nome. Pelo contrário, na maioria dos casos tem nome, sobrenome e endereço. São pessoas que se beneficiam de toda essa estrutura vigente e inclusive de todo o recurso público que é carreado através das estatais e do financiamento público”, explicou um dos coordenadores da pesquisa, o cientista político e professor universitário João Roberto Lopes Pinto.
O professor do departamento de Ciências Econômicas da UFSM, Sérgio Prieb, a convite da Sedufsm, aceitou opinar sobre esse levantamento inédito. Segundo ele, a construção do capitalismo brasileiro ocorreu historicamente através do Estado, seja a partir de toda a infraestrutura montada e que serviu ao grande capital, exemplo das grandes siderurgias estatais e depois privatizadas bem aquém do que valiam, seja através de isenções e incentivos de todo tipo à instalação de empresas transnacionais no país e da transferência de recursos públicos, principalmente via BNDES para utilização como investimento pelas grandes empresas.
Contra-ranking
Diferente de outros rankings divulgados pelo jornal Valor Econômico e revista Exame, o foco do ‘Mais Democracia’ não é mostrar os maiores faturamentos, mas, analisar a estrutura de poder por trás das empresas que se articulam com esses grandes grupos. “Com outra perspectiva, o ranking da concentração de poder econômico é um paralelo a esses rankings convencionais, é um ‘contra-ranking’. A primeira diferença é que  explicitamos, renomeamos e colocamos novos nomes no debate público com base no Índice de Poder Acumulado (IPA). E todas as empresas que estão no topo do ranking são irrigadas pelo dinheiro público”, explicou Pinto.
O professor Sérgio Prieb avalia que empresas privadas serem irrigadas com dinheiro público é um tanto quanto natural. “Na verdade, o capital não consegue sobreviver sem a proteção do Estado, basta olharmos para a Europa pós-crise (de 2008) e suas medidas keynesianas, e também o socorro dos EUA aos bancos falidos. Historicamente, os empresários tem se valido da máxima ‘Privatizar os lucros e socializar os prejuízos’”, atesta o economista.
Geralmente difusas e de difícil acesso, as informações analisadas pelos pesquisadores constam em uma base de dados que está sendo construída por uma cooperativa de jovens desenvolvedores, a Eita – Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão. O ranking está sendo elaborado com base nos dados de 400 empresas de sociedade de capital aberto que foram fornecidas para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado acionário brasileiro. Além disso, informações disponíveis nas bases de dados Economática e Econoinfo também serão incorporadas. Dessas 400 empresas iniciais, os pesquisadores já estão monitorando mais de cinco mil empresas que atuam no interior delas. O instituto tem como referência uma metodologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Zurich que realiza o cruzamento do faturamento líquido dessas empresas com dados sobre a participação acionária dos proprietários.
O pesquisador revelou algumas empresas que controlam alguns grupos econômicos brasileiros, cujos nomes não costumam ser divulgados. “Não é Odebrecht é Kieppe, não é Vale é Bradesco e Previ, não é JBS é FB Participações, que também controla a Vigor Foods, empresa que controla todo o setor lácteo no Brasil, não é Camargo Corrêa é a Morro Vermelho”, antecipou Pinto. O pesquisador também revelou que no ranking dos maiores proprietários, ao lado do homem mais rico do Brasil, o empresário Eike Batista, está uma das controladoras da Camargo Corrêa, a empresária Dirce Navarro Camargo, com patrimônio de 13,1 bilhões de dólares.
O instituto costuma utilizar o caso da Odebrecht para mostrar o emaranhado de articulações empresariais que compõem os grandes grupos econômicos no modelo capitalista contemporâneo. “A Braskem e a construtora Odebrecht são controladas pela Odebrecht Participações, que por sua vez é controlada pela Odebrecht Sociedade Anônima, que por sua vez é controlada pela Odebrecht Investimento, que por sua vez é controlada Kieppe Participações, depois Kieppe Patrimonial. Ou seja, Kieppe Patrimonial é o nome da Odebrecht e por trás da Kieppe está a família Odebrechet”, explicou João Roberto ao “Brasil de Fato”.
Participação
“O enfrentamento das corporações é um debate necessário, isto está no limite da democracia contemporânea. Com este grau de concentração, não se pode mais tratar essas empresas como se fossem atores individuais. São atores complexos que envolvem atores públicos. E essa rede complexa ninguém conhece ou discute”, afirmou o cientista político.
Em 2013, o Instituto Mais Democracia pretende cruzar o ranking dos proprietários com os dados oficiais sobre financiamento de campanha das últimas eleições. A ideia é analisar o retorno que essas empresas têm com a eleição dos políticos. Além disso, uma plataforma colaborativa com todas as informações utilizadas pelos pesquisadores serão disponibilizadas para a sociedade.

Texto: Fritz R. Nunes com informações do Brasil de Fato
Ilustração: Clauber Sousa
Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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