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terça-feira, março 01, 2016

Periodização e História.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume dez., Série 20/12, 2010, p.01-07.

Muitas vezes, os alunos mais atentos do ensino médio e fundamental, ao notarem que determinados fatos não se encaixam aos contextos padronizados pelos períodos tradicionais da história, terminam elaborando questões embaraçosas.
Perguntam ao professor, por exemplo, por que determinada região da Europa ainda possuía castelos e feudos no século XVI, já que a Idade Moderna marca o fim do feudalismo.
Sendo a história uma ciência que estuda a experiência humana, é óbvio que compartimentar o conhecimento simplifica fenômenos que são complexos.
No entanto, para refletir sobre o passado para tentar entender o presente e preparar para o futuro; é fundamental dividir o tempo para sistematizar e organizar a análise.
Assim, embora nem sempre seja possível categorizar o objeto do estudo dentro do âmbito de um tempo especifico, o historiador é sempre forçado a trabalhar com períodos para organizar seus estudos.
Por outro lado, está realidade complexa que precisa ser transformada em discurso para que possamos discuti-la, sempre gera confusão na hora de delimitá-la em períodos.
O estudante brasileiro possui dificuldade em localizar cada era na linha do tempo, fica perdido nas datas e fatos que simbolizam cada época.
Mesmo alunos no ensino superior, em muitos casos, não têm noções claras em mente.
Percebemos isto ao lecionar ao longo de dez anos em diversas faculdades e, comprovando esta hipótese, podemos afirmar que até alunos do primeiro ano curso de história ainda fazem confusão com a cronologia.
Assim, é interessante retomar alguns conceitos, como a questão da periodização na história, mostrando o porquê das datações.
Pretendemos aqui, portanto, contribuir com alunos e professores no entendimento mais aprofundado da história, despertando o gosto pela grande aventura que representa.


A periodização na história.
A cronologia é a ciência da contagem do tempo, permitiu elaborar os calendários e, por sua vez, organizar o trabalho humano, possibilitando a evolução da espécie.
A divisão cronológica da história, tal como conhecemos hoje, foi desenvolvida a partir do século XIX.
Visava facilitar o estudo das ações do homem através dos tempos, sendo baseada então no calendário cristão, uma vez que foi criada a partir da cultura européia Ocidental grego-romana.
Obviamente, o tempo passou a ter como marco zero o nascimento de Cristo, ou ao menos o ano que se supunha Jesus teria nascido.
É interessante ressaltar que outras culturas possuem diferentes marcos iniciais para o inicio de seu calendário.
Os gregos antigos tinham como ponto de partida os primeiros jogos olímpicos, os romanos a mítica fundação da cidade de Roma.
Os muçulmanos ainda contam o tempo a partir da data da fuga de Maomé da cidade de Meca para Medina, o que aconteceu no ano 622 pelo nosso calendário, o que faz com que eles estejam muito atrás do ano 2.000, seiscentos anos.
Igualmente, os chineses e judeus também contam o tempo diferente do mundo Ocidental.
De qualquer forma, o calendário cristão dividiu o tempo em séculos, períodos de cem anos.
O que serviu de base para que a cronologia dividisse o tempo em grandes períodos, com inicio e final marcados por fatos significativos para a humanidade.


A pré-história.
Para designar o período da história da humanidade que escrita ainda não existia e que, portanto, não possui registro dos fatos e acontecimentos, convencionou-se chamá-la de pré-história.
Uma época em que, teoricamente, não existiria ainda história, já que não haveria registros escritos, sendo este o que caracteriza a história propriamente dita.
Entretanto, apesar da nomenclatura estar convencionada e a ser adotada cientificamente, este um conceito está ultrapassado, pois muitas sociedades que não possuíram escrita, nem por isto não deixaram de ter história.
 Os indígenas da América do Sul, por exemplo, não conheciam a escrita, mas preservavam sua história oralmente.
Os arqueólogos são responsáveis pela coleta de indícios matérias destas sociedades sem escrita, recompondo sua história.
A rigor, a pré-história abarca desde o surgimento dos ancestrais supostamente mais antigos do homem, cerca de um milhão de anos a.C até o aparecimento da escrita entre 6.000 a.C e 3.500 a.C.


A Idade Antiga.
A antiguidade só passou a ser considerada assim posteriormente, é claro que quando os gregos viveram não se consideram antigos, na sua ótica eles eram contemporâneos.
No entanto, foi convencionado chamar de Idade Antiga o período da história em que se desenvolveram as primeiras civilizações.
Por este último termo devemos entender a formação de uma cultura mais complexa, com componentes sociais, políticos e econômicos; onde o trabalho começou a ser organizado em beneficio da humanidade, implicando na construção de cidades e no entrelaçamento de redes comerciais e intercâmbios de várias ordens entre os povos.
Existe uma controvérsia para delimitar o inicio da antiguidade, alguns teóricos defendem o ano 3.500 a.C, quando surgiram as primeiras civilizações Ocidentais.
Esta é a datação mais aceita, aquela ensinada nas escolas e presente nos livros didáticos.
Porém, outros consideram o ano 6.000 a.C como o inicio da antiguidade, quando surgiram as primeiras civilizações na Mesopotâmia e a escrita cuneiforme.
Já com relação à data que marca o final da Idade Antiga existe um consenso, é o ano 476, quando a cidade de Roma foi invadida pela primeira vez pelos chamados bárbaros.
Uma data importante que simboliza o fim do Império romano, apesar da influência romana e vários de seus domínios terem continuado existindo depois deste ano.
Trata-se apenas de uma data que tenta ajudar a delimitar o fim da antiguidade, embora não deva ser entendida literalmente como o final do período romano, pois houve, como no caso de qualquer da passagem de uma era a outra, um longo período de transição.
De qualquer modo, antiguidade é cronologicamente dividida em três períodos.
Primeiro a antiguidade Oriental, até 400 anos a.C.
Depois a antiguidade Clássica, o período do predomínio da cultura grega e parte da romana, com delimitação controversa, em geral fixada entre 400 anos a. C até o ano 300 d.C.
 E finalmente a antiguidade Tardia, um período de transição que ultrapassa a Idade Antiga e entra na medieval, vai do ano 300 até o inicio do século VI, note que 476, final do século V, é o marco do fim da antiguidade.


A Idade Média.
O conceito de Idade Média remete a um período que estaria entre um e outro, foi pensado para separar uma era de ouro, no caso a antiguidade, da retomada do crescimento do progresso humano na modernidade.
Um erro teórico que não é mais aceito pelos historiadores, pois o período medieval foi tão ou mais rico de realizações que a antiguidade, registrando importantes avanços técnicos e culturais.
As universidades, por exemplo, surgiram na Idade Média.
Em todo caso, a medievalidade está intimamente relacionada com a história da Europa, marcada pelo feudalismo no Ocidente, ignorando outros povos que viveram em contextos distintos e com avanços mais significativos.
Teoricamente o inicio da Idade Média é delimitada pelo ano de 476, a queda de Roma, indo até 1453, quando caiu Constantinopla, portanto, o fim do Império romano do Oriente, chamado de bizantino.
Na ocasião, Constantinopla foi invadida pelos otomanos, permanecendo em seu poder até 1922, quando a cidade foi renomeada como Istambul e passou a pertencer à Turquia.
A Idade Média costuma ser dividida em dois períodos cronológicos.
Temos primeiro a chamada Alta Idade Média, um período que vai de 476 até o ano 1.000, marcado pelo feudalismo em boa parte da Europa.
Depois a Baixa Idade Média, a qual marca o colapso do sistema feudal e a transição para a modernidade, incluindo o Renascimento.
Este último, um termo que designa uma retomada da antiguidade a partir do século XIII, com diversos avanços artísticos e culturais, ultrapassando a Idade Média, indo até o século XVII.


A Idade Moderna.
Dentro do âmbito do renascimento, a Idade Moderna é chamada assim por ser considerada como um período de resgate da antiguidade, depois de um suposto período de trevas, no caso a Idade Média.
O termo modernidade remete a grandes mudanças que possibilitaram a aceleração do desenvolvimento humano na Idade Contemporânea.

O inicio desta era é repleto de controvérsias quanto sua periodização, vários historiadores defendem marcos diferentes para o começo e o fim do período.

A corrente francesa, aquela que acabou cunhando a data tradicionalmente aceita para o inicio e final da Idade Moderna, defende 1453, a queda de Constantinopla.
No entanto, datas mais significativas são defendidas como marco inicial por outras vertentes teóricas.
Entre elas 1415, a conquista de Ceuta pelos portugueses, uma cidade no norte da África inserida no comercio de especiarias intermediadas do Oriente para a Europa.
Um marco que denota o começo da expansão ultramarina e o incremento do sistema capitalista nascente, através do mercantilismo.
Também inserido no contexto das especiarias é o ano de 1497, data em que Vasco da Gama chegou à Índia navegando pelo Atlântico, um feito que permitiu ampliar as fronteiras social, econômicas e culturais da Europa.
Outra data é 1492, com a descoberta da América por Cristovão Colombo, algo que alterou profundamente o panorama do mundo conhecido.
Podemos notar que qualquer que seja o marco escolhido, a semelhança das outras periodizações, a cronologia é eurocentrista.
A controvérsia também existe com relação à datação do final da Idade Moderna.
A corrente francesa delimita o fim da modernidade em 1789, ano da queda da Bastilha, prisão política do poder absolutista, um tradicional marco tido como inicio da Revolução Francesa.
Porém, existem historiadores que defendem 1760 como uma data mais apropriada, pois é o ano que tem começo a Revolução Industrial, alterando o ritmo da evolução tecnológica da humanidade.
Existem aqueles que preferem ainda 1776, quando foi assinada a declaração da independência dos Estados Unidos da América, em quatro de julho na Virginia.
Destarte, apenas uma minoria, em geral historiadores norte-americanos, considera a data significativa em termos globais.
Uma visão eurocêntrica tem como proposta 1814, data do Congresso de Viena, quando as fronteiras políticas da Europa foram redefinidas, o que, alongo prazo, conduziria a primeira e segunda guerra mundial.
O ponto de discórdia, com relação à Idade Moderna, não se limita a datação do inicio e final da modernidade.
Existe uma corrente historiográfica inglesa que prefere trabalhar com o conceito de Tempos Modernos ao invés de Idade Moderna, dividindo as sociedades em pré-industriais e indústrias.
Simultaneamente, a historiografia marxista tende a estender o conceito de Idade Média até as revoluções liberais que terminaram com o poder absolutista dos reis, considerando o mercantilismo e o comercio de especiarias como parte das cruzadas.
Os marxistas deslocam a Idade Moderna para o período chamado tradicionalmente de Contemporâneo.
Devido a esta confusão, justifica-se iniciar o estudo da história moderna a partir da crise do sistema feudal, enfatizando a formação do sistema capitalista, encerrando com os processos de independência das colônias americanas e o Congresso de Viena.


A Idade Contemporânea.
O período contemporâneo denota aquele que vivemos hoje, daí o termo, sendo caracterizado pelo capitalismo norteando as ações do Estado, com o liberalismo e o neoliberalismo em seu interior.

Obviamente começa com o final da Idade Moderna e segue até nossos dias, não tem uma data que delimite seu fim, já que estamos ainda vivendo a contemporaneidade.

No entanto, existe uma discussão em volta da demarcação de seu fim, implicando em rediscutir a tradicional cronologia que atualmente delimita os períodos históricos.


Concluindo.
A primeira vista pode parecer pouco relevante conhecer os marcos que delimitam as eras históricas e a discussão ao redor de datas alternativas.
Porém, ao adentrar a rica aventura da humanidade desde seus primórdios até os dias atuais, é interessante conhecer a cronologia para que possamos nos situar no tempo.
Localizando as Idades da história podemos passear por ela mais facilmente, contextualizando tempo e espaço.


Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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