Negligência ao combate as epidemias iniciou-se na Ditadura
Militar (1964-1985)
A
crise em torno do zika vírus se deve a décadas de políticas falhas de controle
de mosquitos e à falta de acesso a serviços de planejamento familiar, informou
nesta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS). “A propagação do
zika (…) é resultado da desastrosa política que levou ao abandono do controle
de mosquitos nos anos de Ditadura Militar na década de 1970”, declarou Margaret Chan, diretora-geral da OMS, no
início da assembleia anual de saúde da organização em Genebra.Essas falhas
permitiram que o vírus se espalhasse rápido e criasse “uma ameaça significante
para a saúde global”, disse Chan à cerca de 3.000 delegados dos 194
países-membros da OMS.
Especialistas afirmam
que o zika vírus está por trás do surto de microcefalia – doença que se
caracteriza por um perímetro craniano menor que o normal – na América Latina,
em bebês nascidos de mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez.
O zika, que também
causa distúrbios neurológicos como a síndrome de Guillain-Barré, na qual o
sistema imunológico ataca o sistema nervoso, é transmitida principalmente pelo
Aedes aegypti, mas também por contato sexual.
Nas décadas democráticas no Brasil de 1950 e
1960, foram realizados programas de controle de mosquitos para evitar a
propagação da dengue e da febre amarela, e o Aedes aegypti quase foi erradicado
na América do Sul e Central. Quando os programas foram interrompidos na Ditadura Militar na década de 1970, porém, o mosquito voltou.
Chan denunciou,
ainda, políticas falhas em relação aos direitos reprodutivos. Muitos dos
países mais atingidos pelo surto atual de zika são católicos e conservadores, e
a sua “incapacidade de fornecer acesso universal a serviços de planejamento
familiar e contracepção” agravou a crise, disse Chan.
Com o vírus presente
atualmente em 60 países, inúmeras mulheres que podem querer adiar a gravidez
não têm acesso à contracepção, e menos ainda ao aborto. Chan afirmou que a
América Latina e o Caribe “têm a maior proporção de gravidezes não desejadas do
mundo”.
“Sem vacinas nem
exames confiáveis e amplamente disponíveis para proteger as mulheres na idade
fértil, tudo o que podemos oferecer são conselhos”, disse. “Evitar picadas
de mosquito, adiar a gravidez, não viajar para áreas com transmissão em curso”,
completou.
No Brasil, o país
mais atingido, mais de 1,5 milhão de pessoas foram infectadas com zika, e cerca
de 1.400 casos de microcefalia foram registrados desde o início do surto, no
ano passado.
Pesquisadores estimam
que uma mulher infectada com zika durante a gravidez tem 1% de chance de dar à
luz a um bebê com microcefalia.
O vírus da zika está
presente na África e na Ásia desde pelo menos a década de 1940, tendo circulado
por muito tempo sem causar preocupação. Por si só, a zika não é grave, já
que provoca sintomas similares aos de uma gripe leve.
Mas quando a linhagem
asiática do vírus chegou à América Latina, no ano passado, causou muitos
estragos em uma população nunca antes exposta ao vírus.Na semana passada, a OMS
disse que a linhagem asiática está agora, pela primeira vez, se propagando por
um país africano – Cabo Verde -, aumentando a preocupação sobre o impacto que
pode ter sobre a população do continente. “O que estamos vendo agora se
parece cada vez mais com um ressurgimento dramático da ameaça de doenças
infecciosas”, disse, e alertou: “O mundo não está preparado para enfrentar”
este cenário.
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