Um dos
debates centrais hoje para se construir uma nova visão de mundo, uma nova
perspectiva de sociedade, é o debate sobre a relação dos seres humanos com o
meio ambiente que os circunda.
Não a toa
o debate é relativamente recente; só após um momento de desenvolvimento
relativamente amplo do capitalismo em sua época imperialista a humanidade pode
perceber que as forças produtivas liberadas pela ação humana associada podem
ter efeitos grandemente destrutivos, com capacidade inclusive de ameaçar
própria existência da sociedade, se essas forças se desenvolvem de forma
anárquica e alienada, como se dá com o modo de produção burguês.
Pelas
contradições próprias do processo histórico essa percepção do quão degradante
ao meio ambiente é o desenvolvimento capitalista foi praticamente concomitante
a derrota do último grande ascenso operário, impedindo assim que se desse a
necessária fusão entre o discurso ecológico e a única classe capaz de realizar
um desenvolvimento econômico que tivesse como perspectiva uma relação
harmoniosa com o ecossistema.
Some-se a
isso o papel altamente degradante ao meio ambiente que teve o desenvolvimento
da URSS sob a direção stalinista e temos a realidade de que hoje grande parte
da retórica ecológica é levada à frente por setores pequeno-burgueses ou
diretamente capitalistas (os segundos de forma totalmente hipócrita, para se
apropriar do novo fenômeno do "marketing verde") com uma lógica de
"desenvolvimento sustentável" que na boca dos mais sinceros só pode
soar como uma utopia.
O capitalismo leva
necessariamente a destruição do meio ambiente
O que se
coloca aqui não é um problema moral, mas da lógica efetiva de desenvolvimento
do capitalismo, da relação que este sistema tem que estabelecer entre os seres
humanos e, a partir disso, desses com seu meio ambiente. A finalidade da
produção capitalista não são as necessidades da maioria da humanidade, o bem
estar e a qualidade de vida dos trabalhadores, daqueles que produzem realmente
o conjunto da riqueza social, mas a busca desenfreada e irracional de lucro por
uma pequena parcela da sociedade, os capitalistas.
Apesar da
aparente racionalidade, toda a técnica e ciência utilizada pela burguesia na
sua gananciosa caçada pelo aumento de seu capital são irracionais. O meio
ambiente, a natureza, o ecossistema que nos circunda não é visto como
insuperável palco de nossa existência, mas espaço onde se possa realizar o
maior ganho, onde se possam efetivar os maiores lucros.
Na relação
com a natureza se reflete a relação central que se estabelece entre os próprios
seres humanos, relação baseada não no bem estar coletivo e desenvolvimento
comum, mas antes na exploração desenfreada.
Assim como
a maioria da população mundial é vista pela burguesia como mão de obra barata a
ser explorada visando o maior ganho possível posteriormente, a natureza, o
ecossistema, é visto como fornecedor de matéria prima, a mais barata e
abundante, não importando seus impactos ambientais, visando o lucro
capitalista. Se o tempo de reprodução e recuperação do ecossistema é mais lento
e não responde aos ditames e necessidades da reprodução ampliada do
capitalismo, se para lucrar cada vez mais e mais rápido é necessário desmatar
florestas, poluir o ar e os rios, extinguir espécies inteiras: abaixo a
natureza e viva o lucro desenfreado!
A única
via para que possamos impedir essa degradação do meio ambiente é construindo
uma sociedade nova, em que a finalidade da produção seja a qualidade de vida e
o bem estar da maioria da população, dos trabalhadores e dos oprimidos em
geral. Em que a produção do conjunto da sociedade e sua relação com o
ecossistema seja pensada e planejada de forma democrática, a partir dos
organismos dos próprios trabalhadores associados visando o bem estarem de nossa
geração e das gerações futuras e não só as necessidades imediatas e mesquinhas
de uns poucos burgueses.
A produção
agrícola deve buscar a alimentação da maioria da população e não a especulação
e o lucro dos latifundiários. Para tal, o agronegócio deve ser expropriado e
gerido por comitês de operários agrícolas. E uma reforma agrária deve ser feita
para que todos os sem-terra e os camponeses pobres possam cultivar se assim o
quiserem, com o estado garantindo crédito e insumos baratos, e comprando sua produção
para abastecer as cidades. A criação de “cordões verdes” no entorno das grandes
cidades, a partir da expropriação dos imóveis utilizados para a especulação,
constitui um passo fundamental para aliviar o adensamento das favelas e
permitir uma solução de fundo para o grave problema habitacional e de
saneamento básico que atinge diretamente a natureza. O desenvolvimento
científico no campo da agronomia, da pecuária etc., deve estar a serviço da
sociedade de conjunto e não de uma pequena camarilha.
Aqueles
que podem realmente construir essa alternativa não são os burgueses com
discurso “socialmente responsável” ou eco capitalista”. São sim os
trabalhadores através de sua organização e ação independente na luta de
classes.
*Santiago
Marimbondo – Esquerda Diário
http://www.esquerdadiario.com.br/Breves-consideracoes-sobre-socialismo-e-ecologia
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