Observação: Este
texto foi editado originalmente na Revista Estudos — publicação clandestina do
PCB, no início da década de 70 — nº 4, de junho de 1972, com introdução e notas
de Thomaz Ramos Neto ("nome de guerra” de Fragman Carlos Borges), a partir
de manuscritos deixados por Astrojildo Pereira. Estes manuscritos constituem o
roteiro preparado por Astrojildo para uma conferência que pronunciou na
Associação Brasileira de Imprensa, ABI, no Rio de Janeiro, em julho de 1947,
com o objetivo de angariar fundos para a imprensa comunista, promovida pelo
Movimento de Auxílio à Tribuna Popular (diário do PCB). Sua republicação
deve-se, em primeiro lugar, ao fato de ter sido editado numa revista de
circulação extremamente restrita; em segundo, o fato de fornecer um excelente esboço
para compreensão da história da imprensa operária brasileira e, por fim, como
homenagem — no centenário de seu nascimento — a este que foi um dos mais
importantes dirigentes do movimento operário do país, fundador do PCB e um dos
introdutores do marxismo no Brasil.
Fonte: Revista Novos Rumos; Fundação
Dinarco Reis
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução:
licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Ao receber a incumbência de fazer uma palestra, nesta série
organizada pelo MATP, logo me acudiu o seguinte assunto: a imprensa operária no Brasil. Pareceu-me que seria de não pouco interesse
lembrar os predecessores da nossa Tribuna
Popular, isto é,
os jornais que no passado se consagravam, de uma forma ou de outra, à obra
histórica de esclarecimento das massas trabalhadoras e de luta pelo progresso
do Brasil.
Evidentemente, não caberia nos limites de uma simples conversa
entre amigos, como a que estou fazendo, traçar a história da imprensa operária
em nosso país. A matéria daria para todo um curso ou para um livro, que seria
ao mesmo tempo uma verdadeira história do movimento operário brasileiro, desde
os meados do século passado até os dias de hoje. Devo restringir-me. por
conseguinte, a algumas indicações mais significativas, valendo-me. para tanto,
dos dados colhidos cm pacientes pesquisas por Maurício Vinhas de Queiroz, e
também, no tocante a datas mais recentes, da minha própria memória.
“O Socialista da Província do Rio de
Janeiro”
O jornal mais antigo, que nos pode interessar aqui, intitulava-se O Socialista da Província do
Rio de Janeiro, publicado em Niterói, a partir de 1 de agosto de 1845. Saía de
três em três dias, e a sua coleção, não sei dizer se completa, se encontra na
Biblioteca Nacional, em perfeito estado, impresso em papel de qualidade
superior ao dos jornais de hoje. Em seu número inaugural, é assim definida a
significação da palavra que lhe serve de título:
“O vocábulo — Socialista — sob cuja denominação sai hoje à luz a
nossa folha, define exuberantemente o objetivo principal com que ela é
publicada: a conservação e melhora do pouco de bom que existe entre nós; a
extirpação de abusos e vícios provenientes da ignorância, falsa educação e imitação
sem critério; a introdução de novidades do progresso universal; enfim, todo o
aperfeiçoamento de que for suscetível a sociedade, provincial, nacional e
universal, quer na parte moral, quer na material, em que naturalmente está
dividida a morada humana no mundo terreno. Assim, pois, o Socialista tratará de agronomia prática, economia
social, didática jacobista, política preventiva e medicina doméstica, e
sobretudo do Socialismo, ciência, novamente explorada, da qual basta
dizer que seu fim é ensinar os homens a se amarem uns aos outros”.
[... Faltando no original] cia socialista, desde Fourier, progride a
passos agigantados...”
Estas coisas, escritas e publicadas em Niterói, no ano de 1845,
convenhamos que são na realidade surpreendentes. Mas outra coisa me surpreendeu
também, ao folhear a coleção d’O
Socialista da Província do Rio de Janeiro — o fato de ter parado no 3º número do
periódico a propaganda das ideias socialistas, enchendo-se as suas páginas
quase que inteiramente, daí por diante, com os debates travados na Assembleia
Legislativa da Província. Que teria acontecido? Não sei, e só alguma pesquisa
mais demorada poderia talvez responder à indagação. Como não há tempo para tal
pesquisa, passemos adiante.
“O Progresso”
No Recife encontraremos, pela mesma época, outro periódico de
tendência socialista. Intitulava-se O
Progresso, e
apareceu como publicação mensal, em forma de revista, tendo saído o 1º número
em julho de 1846 e o 11º e último em setembro de 1848. Era seu editor Antônio
Pedro de Figueiredo, professor adjunto do Liceu de Pernambuco. Alfredo de
Carvalho, historiador da imprensa pernambucana, refere-se à formação mental de
Figueiredo, familiarizado com as teorias econômicas de Saint Simon, Fourier e Owen.
O Progresso era um periódico que correspondia
plenamente ao seu título, e refletia com fidelidade o pensamento progressista
do seu diretor, homem arguto e bem informado acerca dos problemas econômicos e
políticos do seu tempo. As tendências socialistas reveladas em seus artigos
decorrem, naturalmente, da sua receptividade às ideias de Fourier, Saint-Simon, Owen e outros da mesma natureza.
Cabe aqui lembrar o nome do engenheiro francês Vauthier, que viveu
no Recife, de 1840 a
1846, contratado pelo governo da Província para dirigir as obras públicas da
capital pernambucana. Vauthier era um adepto fervoroso de Fourier, e como tal exerceu não pequena
influência nos meios em que vivia, conforme se pode verificar do seu diário
íntimo, editado pelo Sr. Gilberto Freyre, que também lhe dedicou um livro, onde
se lê:
“Vauthier concorre para a irradiação das ideias socialistas
francesas nesta parte da América. Empresa livros. Indica autores. Assina
gazetas. Consegue assinantes para revistas francesas. Há que associar à sua
ação a voga de Saint-Simon,
de Fourier,
de Owen,
no Recife intelectual da época”.
Digamos, por fim, que Vauthier foi colaborador assíduo da revista
de A.P. de Figueiredo.
“O Jornal dos Tipógrafos”
Já vimos que o “socialismo” d'O
Socialista da Província do Rio de Janeiro durou muito pouco, embora o jornal
sobrevivesse até... Mais importante, sem dúvida, foi O Progresso, como expressão do que podia haver de mais
progressista na imprensa brasileira de meados do século XIX. Mas nem O Socialista de Niterói, nem O Progresso do Recife foram publicações operárias. Não
o poderiam ser, tampouco, visto que a própria classe operária como tal mal
começava a formar-se entre nós.
O primeiro jornal realmente operário, feito por operários, que se
publicou no Brasil, foi o Jornal
dos Tipógrafos. Sua
importância histórica não resulta apenas do fato de ter sido o primeiro, mas
sim do fato de ter surgido como um órgão de luta operária, como o porta-voz de
trabalhadores em greve.
Maurício Vinhas de Queiroz contou a história do Jornal dos Tipógrafos, em artigo muito interessante aparecido na Revista do Povo. Resumirei os dados contidos nesse artigo.
Os maiores jornais do Rio, na época em que ocorreu a greve, eram o Diário do Rio de Janeiro, o Correio
Mercantil e o Jornal do Comércio. Os operários gráficos, que trabalhavam nas
oficinas desses jornais, pediram um pequeno aumento nos respectivos salários.
Os patrões, depois de protelarem a resposta durante um mês inteiro, acabaram
negando o modesto pedido. Esta resposta negativa foi dada a 8 de janeiro de
1858. No dia seguinte, 9 de janeiro, nenhum jornal saiu à rua. Mas os grevistas
não se limitaram a abandonar as oficinas onde trabalhavam. Não: reuniram-se,
recorreram a todos os recursos disponíveis e resolveram publicar o seu próprio
jornal. Era seu intuito não deixar o público em falta e ao mesmo tempo utilizar
o novo órgão como instrumento de defesa na luta que haviam iniciado. Saiu assim
o 1º número do Jornal
dos Tipógrafos no
domingo, 10 de Janeiro de 1858.
A luta, nada fácil, como se pode imaginar, prolongou-se durante
pelo menos dois meses, segundo é de supor à vista da coleção de 60 números
publicados diariamente pelo Jornal
dos Tipógrafos. Os
patrões lançaram mão de todos os meios para liquidar o movimento: a polícia, o
ministro da Justiça, o ministro da Fazenda, a Imprensa Nacional, o suborno, a
intriga, a difamação, e acabaram vencendo; mas a resistência e a combatividade
dos grevistas ainda hoje constituem motivo de admiração, levando-nos a recordar
o fato como um dos mais gloriosos episódios da história das lutas operárias em
nossa terra.
No artigo de Maurício Vinhas de Queiroz, que estou resumindo,
ressalta-se, com toda a razão, que a greve de 1858, tal qual se desenrolou,
teria sido impossível se não fosse a existência, já então, de uma organização
profissional dos tipógrafos, a Imperial Associação Tipográfica Fluminense,
fundada desde 1853, e certamente um dos primeiros agrupamentos operários
surgidos no país. Era uma associação de caráter mutualista, com finalidades
meramente beneficentes; mas o próprio fato da organização dos operários, unidos
pelo sentimento de solidariedade profissional, levava-os, por sua vez, pela
natureza mesma do desenvolvimento associativo, a uma consciência de classe cada
vez mais clara. A greve, ação de classe, produziu o “momento” necessário à
manifestação prática da consciência. A Associação Tipográfica possuía em caixa
a importância de 12 contos de réis, destinados normalmente aos fins de
beneficência associativa. Pois bem, a Associação empregou 11 contos — quantia
elevada para a época e que representava quase todo o seu patrimônio em dinheiro
— na manutenção do Jornal
dos Tipógrafos. De
órgão limitado a simples atividade mutualista, a Associação adquiria de pronto
o caráter de legítima representante dos interesses de classe.
Não por acaso estampava o Jornal
dos Tipógrafos, em
artigo escrito em plena batalha, as palavras que se seguem:
“Já é tempo de acabarem as opressões de toda a casta; já é tempo
de se guerrear por todos os meios legais toda exploração do homem pelo mesmo
homem.”
Até ao Advento da República
Compreende-se que os operários gráficos, trabalhando em
tipografias e fazendo jornais para os outros, tenham sido os primeiros a pensar
em fazer jornais para a própria classe. Depois da admirável experiência do Jornal dos Tipógrafos, e passados quase dez anos, coube ainda aos
gráficos a iniciativa de um periódico operário: O Tipógrafo,
publicado aqui no Rio nos anos de 1867 a 1868. Encontramos outro título de
jornal, em 1881, provavelmente feito também por tipógrafos: Gutemberg. E, já nas vésperas
da República, em
1888, apareceu a Revista
Tipográfica, que
alcançou o novo regime. Em artigo assinado por seu diretor, Luiz de França, no
qual se encarecia a necessidade de se organizar o partido operário brasileiro,
lemos estas informações:
“Só em uma província do ex-Império do Brasil organizou-se um
partido operário que tem conseguido eleger vereadores e deputados à Assembleia
provincial. É o Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre tem a sua sede o Partido
Operário e em quase todas as localidades da província existem núcleos...”
Com o título O
Trabalho, as fichas existentes na Biblioteca Nacional indicam 3 periódicos
publicados antes do advento da República, ou sejam respectivamente, o primeiro
de 1868 a 1873, denotando uma certa estabilidade, o segundo em 1879 e o terceiro
em 1881. Do segundo menciona o Sr. Gondim da Fonseca, no seu livro Biografia do
Jornalismo Carioca, que era uma
“revista histórica, literária e científica de artes e ofícios,
exclusivamente consagrada aos interesses das classes operárias.”
Mais importante, porém, foi a Gazeta dos Operários,
jornal diário de propriedade de operários, publicado em 1875. Tratava das más
condições de vida dos trabalhadores dos arsenais, combatia o aumento do preço
do pão, explicava a razão das greves. De um artigo estampado em seu número 17
são as seguintes palavras:
“Em quase todo o universo começa a erguer-se, se bem que vagaroso
mas robusto, o proletariado; os operários, os filhos do trabalho, reclamam o
lugar que de direito compete-lhes ocupar no todo social e que por tanto tempo
lhes tem sido extorquido e daí nasce a maior barreira, a maior das lutas —
negação do direito...”
A Gazeta dos Operários durou pouco.
De 1877 a 1878 publicou-se O Proletário, em 1881 O Operário e a Gazeta Operária, em 1883 O Artista e em 1885 o Jornal dos Alfaiates.Desses, O Artista é o que revela um conteúdo político mais
definido, como se pode verificar na leitura do seu programa, do qual destacarei
os seguintes trechos:
“Com todo o talento compatível com as condições de seus redatores,
tratará de todas as questões momentosas que afetam a vida e o bem-estar da
sociedade e em particular a condição do operário e do povo — máquina que ainda
não se elevou à altura do princípio agente e dirigente. Tomará como tema de
seus artigos editoriais, entre outras, as questões que têm relação com o
elemento servil, a questão do trabalho nos arsenais e oficinas do Estado e
particulares, reformas do sistema de instrução, sistema eleitoral, a ciência,
as artes e a indústria...”
“O Artista fraternizará com todas as grandes ideias
que atualmente trabalham em nosso meio social e tendem a melhorar o estado em
que jazemos, e com o abolicionismo, principalmente, que nos dará melhores dias
em um futuro não longe.”
Referindo-se à “imprensa sadia” daquele tempo, O Artista afirmava o seguinte, em artigo no seu
número 11:
“A imprensa, potência poderosa e útil, muitas vezes, porém, hoje
quase toda ao serviço do poder e da riqueza, não deixa um só dia de dizer em
linguagem mais ou menos lastimosa, que as convulsões, agitando todos os países
da Europa, onde uma má forma de governo e um péssimo sistema econômico têm
acumulado causas e organizado elementos, são obra de petroleiros, comunistas,
internacionalistas, niilistas, da mão negra, etc.; que esses ferozes
partidários querem destruir todas as conquistas do trabalho, da ciência, o
trono, o altar e a riqueza. Adula os poderosos, falta à verdade, nega a luz da
história essa imprensa que assim se prostitui.”
Por onde se vê que a sem-vergonhice é coisa velha na imprensa
reacionária.
O índice cronológico de jornais cariocas, que se encontra no livro
do Sr. Gondim da Fonseca, menciona O
Socialista com a
data de 1878. Antes, porém, saíram a lume outros periódicos, cujo teor pode ser
avaliado pelos respectivos títulos: A
Revolução Social em
1876, A
Barricada em
1877, O
Carbonário em
1881, A
Revolução em 1881
-1882, O
Nihilista, em 1882-1883, declarando-se este último “órgão
dos operários do Exército e da Armada”. É de supor que se referia aos operários dos
arsenais de guerra e da marinha.
De 1889 a 1910
Com a abolição da escravatura e o advento de República, o
movimento operário brasileiro alcança um certo grau de independência, ganhando
corpo e ampliando-se, principalmente nos centros urbanos mais importantes. Os
periódicos operários crescem de importância e são um reflexo vivo do progresso
que se vai acentuando, de ano para ano, nas organizações corporativas e nas
lutas de classe, greves e reivindicações, sustentadas não raro com
extraordinária bravura e tenacidade. Repetem-se, no Rio, em São Paulo e noutros
pontos do país, as tentativas de organização partidária socialista. Mas já nos
primeiros anos deste século, as tendências anarquistas e anarcossindicalistas,
favorecidas pelas próprias condições econômicas do país, em que predominam formas
artesanais de trabalho, começam a penetrar nos centros operários e também em
certos meios intelectuais e pequeno-burgueses.
E o que se passa no Rio de Janeiro repete-se por todo o país, em
maior ou menor escala, conforme as condições locais de desenvolvimento
econômico e político. Já me referi, de início, a O Socialista de Niterói e a O Progresso do Recife. Os dados de
que dispomos mostram que depois da República, principalmente, os periódicos
operários multiplicaram-se por toda a parte, desde o Amazonas até o Rio Grande
do Sul. Citarei apenas alguns mais característicos, que apareceram antes de
1908:
Do Amazonas se conhece apenas um — O Operário, publicado no ano de
1892, em Manaus. Em Belém do Pará surgiram vários, entre 1889 e 1907, entre os
quais A Confederação
Artística, “órgão
das classes operárias”, em 1888-1889, O
Trabalho, semanário
que durou de 1901 a 1907, e O
Socialista, “órgão
democrático da confraternização operária”, de que saíram dois números anuais,
no dia 12 de maio de 1906 e 1907. No Maranhão publicava-se em 1908, o Jornal dos Artistas, “órgão dos interesses operários”. O título O Artista, muito usado até certo tempo, se encontra na
cidade do Crato, no Ceará, em 1891, na Paraíba em 1893-1894 e no Piauí em 1902. A Fênix Caixeiral, órgão da antiga associação do mesmo título
existente em Fortaleza, começou a sua publicação em 1893.
Em Maceió, onde havia em 1870 uma Associação Tipográfica Alagoana
de Socorros Mútuos, de que era órgão O
Século XIX, publicou-se O
Proletário, no ano
de 1902, com a seguinte legenda: “Proletários de todos os países, uni-vos!” A
mesma legenda se repetiu numa folha comemorativa, que saiu a 11 de Novembro de
1905 — Os
Mártires de Chicago. Ainda
em Maceió publicou-se O
Trabalho, em
1904, tendo como um dos seus redatores o operário Virgílio de Campos, que eu
conheci pessoalmente aqui no Rio, durante o Congresso Sindical de 1913. Em
Aracaju o título O
Operário aparece
duas vezes, em 1891 e 1896, nesta última data como "órgão da União
Operária Sergipana".
Pernambuco, naturalmente, apresenta a maior e mais importante
quantidade de periódicos operários. De anos anteriores à República, devemos
lembrar A
Locomotiva, órgão de uma associação beneficente de empregados da Companhia
de Trilhos Urbanos do Recife a Olinda e Beberibe, publicado em 1872, e O Operário, de 1879, que estampava como legenda as
seguintes palavras de Lemercier:
— "A legislação civil deve abandonar os princípios do direito
romano e do direito feudal para apoiar-se nas doutrinas da filosofia
moderna".
Depois da República apareceram no Recife, entre outros, a Gazeta dos Operários em 1890; O Socialista, órgão do Centro Social do Estado de
Pernambuco, número único em 8 de Maio de 1898: O Clarim Social,
mensário consagrado à propaganda do socialismo, em 1900; Aurora Social,órgão
do Centro Protetor dos Operários do Recife, de 1901 a 1907.
As informações escasseiam da Bahia para baixo, relativamente ao
período que temos em vista. Podemos apontar A Voz do Operário, órgão do Centro Operário da Bahia, em 1894.
De Minas, em datas não mencionadas, citaremos: “O Socialista”, em
Ouro Preto e São José do Paraíso; e com o mesmo título O Operário vários periódicos em numerosas cidades, a
começar por Belo Horizonte. No Estado do Rio, havia O Operário, órgão de Centro Operário de Campos, em
1895; e depois, não sei em que cidade, o Avante! em 1904 e novamente O Operário em 1909.
De São Paulo, a informação mais antiga que pudemos colher, aliás
do maior interesse, é a da revista Questão
Social, que se publicava em Santos aí por volta de 1895. Um dos seus
redatores era o Dr. Silvério Fontes, médico estimadíssimo naquela cidade, pai
do poeta Martins Fontes. Através deQuestões
Social ficamos
sabendo que [... falha no orginial]
[... falha no orginial] Benoit Malon, Bakunine, Kropotkine, Letourneau, Tabarant,
Bellamy, dos portugueses Oliveira Martins e Magalhães Lima, e dos brasileiros
Carlos Escobar (O que é
o Socialismo) e Eugênio George. A este último cheguei ainda a
conhecê-lo no meu tempo de ginasiano, em Niterói, onde o apontavam como um tipo
estranho, esquisitão. meio maluco, fazendo propaganda contra o uso do fumo e em
favor de uma sociedade protetora dos animais... Nesse mesmo ano em 1895
publicou-se na Capital do Estado um número único do Primeiro de Maio. Cinco anos mais tarde, isto é, no primeiro
ano do século, aparece em São Paulo o periódico em castelhano El Grito del Pueblo, defensor dos interesse do proletariado, e
na cidade de Ribeirão Preto o órgão anarquista La Canaglia, em
italiano.
Igualmente em língua italiana e também de orientação anarquista,
se bem que sob cabeçalho muito menos agressivo, Il Diritto saía a lume em Curitiba, na mesma época.
Digamos de passagem que a publicação desse e de outros periódicos
em língua estranha — espanhol, italiano, alemão, etc. — se explicava pela
afluência, nos Estados do Sul, de imigração europeia.
Quanto ao Rio de Janeiro, encontramos, entre 1890 e 1910, os
seguintes títulos e datas: Voz do
Povo. em
1890; O
Operário. 1895: O Operário Italiano. 1897-1989; O Mensageiro, 1898; O Protesto, 1899; Tribuna Operária, 1900; Gazeta Operária, 1902-1903: Brasil Operário, 1903; A União Operária, órgão da União Operária do Engenho de
Dentro, 1904; O
Libertário, 1904; O Artista. 1905: novamente a Gazeta Operária, 1906;Semana
Operária, 1907; A Voz do Trabalhador. 1908-1909; O
Operário, 1908-1910.
A respeito de alguns deste periódicos existem dados de não pequeno interesse.
Voz do Povo, por
exemplo, estampou em seu 1º número a 6 de Janeiro de 1890, o convite seguinte:
"Tendo de ser eleita em setembro de 1890 a Constituinte dos
Estados Unidos do Brasil, são convidados todos os artistas. operários e trabalhadores
que souberem ler e escrever, a inscreverem-se no Partido Operário para, oito
dias antes das eleições, escolherem os candidatos que devem sufragar em nome
dos seus interesses.
“Esperamos que nenhum dos nossos confrades se esquivem de o fazer,
pois acreditamos que todos sabem que é do interesse comum haver na Constituinte
opiniões de todas as classes, de modo que a lei seja uma verdadeira emanação do
povo. e não de algumas classes privilegiadas, como foram todas as leis do
império".
O Operário, cujo
primeiro número surgiu a 12 de outubro de 1895. publicou longo noticiário da
formação do Partido Operário Socialista, seu programa e estatutos. O diretor
desse jornal e membro do diretório do Partido era o operário cigarreiro Mariano
Garcia, que redigiria mais tarde outros periódicos do mesmo gênero. Eu o
conheci pessoalmente, aí por 1913, e lembra-me de ter escrito em jornais
anarquistas muito desaforo contra ele e os seus companheiros — entre os quais,
de resto, havia muitos sujeitos da pior espécie, dessa mesma espécie de que são
feitos os atuais "chefes” trabalhistas ligados ao gabinete do Ministro do
Trabalho.
O Protesto, ao que parece, foi o primeiro jornal de
tendência anarquista publicado no Rio de Janeiro, em Í899-1900. Proclamava-se
"periódico comunista-livre”, avisando aos leitores que “sai quando pode,
por subscrição voluntária”. Seu diretor — o operário gráfico Mota Assunção, que
ainda vive e é autor de vários livros. Em seu número datado de 4 de fevereiro
de 1900, encontra-se um artigo intitulado A Greve dos Cocheiros que começa assim:
“Os dias 15 e 16 de Janeiro de 1900 marcam, pode dizer-se, a maior
greve no Brasil. Parecia uma revolução. Os exploradores sabiam que cerca de
25.000 explorados se declaravam em parede..."
Diz em seguida o articulista que parou tudo quanto era veículo —
bondes, tílburis, carros, carroças, carrinhos de mão, e comentava:
“A cidade esteve morta durante esses dois dias...”
No primeiro número do Brasil
Operário, datado de 1º de maio de 1903, lemos a notícia de que um grupo de
eleitores apresentou três candidatos operários para próximas eleições
municipais.
Voz do Marmorísta, órgão do Centro dos Operários Marmoristas,
publicou o seu 1º número em 1903 e durou mais de 20 anos.
Recordações e Experiências Pessoais
A influência anarquista nos sindicatos operários aumentou
enormemente a partir do Congresso Operário de 1906, reunido no Rio de Janeiro.
É claro que daí por diante essa influência havia de se refletir com igual
intensidade na imprensa operária. Novos jornais socialistas se fundaram, no Rio
e nos Estados, depois de 1906; mas é um fato que nenhum pôde manter-se nem
competir com alguns periódicos anarquistas, que chegaram, sobretudo de São
Paulo, a adquirir uma larga ascendência entre as camadas mais avançadas da
classe operária.
Datam desse período os jornais anarquistas Novo Rumo, editado no Rio, La Battaglia, em língua italiana, e Terra Livre, ambos editados em São Paulo. Terra Livre foi o primeiro jornal operário que me caiu
nas mãos e veio a decidir do meu destino, justamente no momento em que a
desilusão da campanha civilista de 1908-1910 me deixara perplexo e
desamparado... Igualmente em São Paulo se publicava Lanterna, que
durou ainda muitos anos e em cujas colunas publiquei os meus primeiros artigos
revolucionários. Era um
jornal anticlerical, mas de feição popular e muito combativo,
dedicando boa parte das suas páginas ao movimento operário, o que explica o
prestígio de massas que chegou a ter, não só em São Paulo como nos Estados
vizinhos. O Livre
Pensador, também anticlerical e também de São Paulo, viveu de 1902 a 1914
ou 1915.
Lembra-me também de um semanário de grande formato, A Vanguarda, órgão socialista, porta-voz do partido
então organizado no Rio, em 1911, e do qual eram redatores, entre outros, dois
antigos anarquistas que vinham do Novo
Rumo. A Vanguarda e o
partido socialista duraram poucos meses.
Novo Rumo também
já não existia desde alguns anos, e Terra
Livre dera os
seus últimos números em 1910. No fim de 1911 começou a sair um novo semanário,
impresso em São Paulo, mas com redatores lá e aqui no Rio, onde estava a sua
administração. A coisa era um pouco complicada e em Janeiro de 1912 instalou-se
tudo aqui no Rio, numa pequena sala do andar térreo do sobradinho da rua do
Senado nº 196. O semanário chamava-se nada menos que isto — A Guerra Social:
tradução brasileira do jornal de um
socialista ultra-esquerdista de Paris, Gustave Hervé, o qual, ao deflagrar da
guerra de 1914, se converteu num feroz chovinista. Estou fornecendo estes
detalhes todos acerca do terrível semanário pela simples razão de que, ao
instalar-se ele na saleta da rua do Senado, o seu redator e gerente era o mesmo
cavalheiro que está contando agora estas coisas, com a diferença, bem
entendido, de 35 anos a mais...
A Guerra Social morreu
ao cabo de nove meses. Apareceu em seguida A Voz do Trabalhador, órgão da Confederação do Congresso Sindical
Nacional, que se reuniria no ano seguinte. Em Porto Alegre, se não me falha a
memória, já se publicava por essa época A Luta, órgão da Federação Operária local. Em São
Paulo nasceu, no mês de março de 1913, uma publicação dupla ou de duas cabeças
numa só folha de 4 páginas: duas páginas em português sob o título Germinal, “jornal anarquista”, e as outras duas em
italiano com o nome de La
Barricata, "periódico
anárquico”. La
Barricata vinha a
ser uma continuação de La
Battaglia, cuja
saída fora suspensa pouco antes, depois de nove anos de existência. Ainda em
São Paulo, a 1º de Maio de 1914, veio a lume A Rebelião “semanário de propaganda
socialista-anarquista, escrito por trabalhadores e para os trabalhadores”.
Muitos outros e efêmeros pequenos jornais surgiam e desapareciam,
então mais ou menos por todos os Estados e seria impossível, à falta de
informações seguras, tentar sequer uma simples relação de títulos.
No Rio, em 1914 e 1915, apareceram duas revistas — A Vida e Na Barricada, ambas de tendência que esta última com a
feição de panfleto, redigido pelo engenheiro e jornalista gaúcho Orlando Corrêa
Lopes, convertido ao anarquismo e por isso mesmo egresso da imprensa burguesa.
Durante a primeira gerra mundial surgiram quatro quatro novos periódicos, que
merecem especial menção. Seguindo a ordem cronológica, devo lembrar
primeiramente a Tribuna
do Povo, impressa
nalgum velho prelo perdido na cidade de Viçosa, Alagoas, terra de Otávio Brandão e dos Mota Lima. Seu número inaugural tem a
data de 17 de agosto de 1916. Apresentava-se como “órgão dos interesses do
povo” e seu redator-tipógrafo chamava-seAntônio Canelas, jovem
operário que eu conhecera em Niterói, pouco antes e que não sei como foi parar
em Alagoas. O caso é que a Tribuna
do Povose publicou durante uns seis meses, quando Canelas mudou-se para a capital do Estado e aí
iniciou, a 30 de março de 1917, a publicação de outro semanário, A Semana Social, de formato um pouco maior e também melhor
apresentado. Otávio Brandão poderá contar a maneira dramática pela qual
terminou A
Semana Social de
Maceió, onde governava um digno antecessor do atual Silvestre Péricles. Mas Antônio Canelas era cabeçudo e possuía um temperamento de
aventureiro: ei-lo, pois, à frente de uma nova Tribuna do Povo, porém agora no Recife, a partir de 1º de
março de 1918 e sem o nome do redator-tipógrafo no cabeçalho.
O terceiro jornal a que me quero referir intitula-se A Plebe, “periódico comunista-libertário”, cujo
primeiro número saiu em São Paulo, a 6 de Junho de 1917, em vésperas do grande
movimento grevista de Julho daquele ano. A Plebe,
editada pelo mesmo grupo da antiga A
Lanterna, teve
vida longa e cheia de peripécias, da qual também eu participei durante algum
tempo. Sua publicação tem sido interrompida e retomada repetidamente e ainda
agora está saindo de novo. Mas os seus redadores não aprenderam nada com o que
aconteceu no mundo nestes vinte anos, e A Plebe de hoje nada mais tem de comum com o
proletariado, preocupando-se principalmente em combater o comunismo e a União
Soviética.
Já depois da revolução russa, em meados de 1918, registrou-se nos
anais da imprensa brasileira o aparecimento de um minúsculo semanário, composto
e impresso nas grandes oficinas do católico Jornal do Brasil, com este título nada ameno — Crônica Subversiva. Pelo nome logo se vê que era anarquista,
mas defendia a revolução russa com unhas e dentes, e unhas e dentes bem
afiados, posso dizê-lo sem maior ofensa à modéstia. ACrônica Subversiva distinguia-se pelo fato de possuir um único
redator, que era ao mesmo tempo o seu revisor, gerente e vendedor. Não é
preciso que eu decline o nome de tal indivíduo, segredo de polichinelo
impossível de ocultar depois das intimidades que estou revelando.
Depois da Crônica
Subversiva, de que
saíram apenas 16 números, apareceu no Rio um grande semanário, Spártacus,
título inspirado pelas lutas revolucionárias da organização chefiada por Liebknecht e Rosa Luxemburgo, em 1419, na Alemanha.
Politicamente, Spártacus refletia o espírito reinante então nos
meios operários brasileiros de tendência revolucionária: tradição
anarco-sindicalista com profunda simpatia pela revoluçãobolchevique.
Sabe-se que após a primeira guerra mundial, o movimento operário
no Brasil — como aliás no mundo inteiro — tomou um impulso tremendo. Reflexo
imediato desse movimento de massas, os jornais operários surgiram às dezenas
por toda parte, grandes e pequenos, com a particularidade muito importante de
aparecerem, na sua absoluta maioria, como órgãos sindicais c corporativos.
Citarei alguns títulos como exemplo:
O Extremo Norte, de Manaus, 1920; de Belém,
Pará, o Jornal
do Povo em 1918, A Revolta, em
1919 a A Voz do Trabalhador em
1920; O
Artista, de Parnaíba, Piauí, em 1919; A Sentinela, órgão
da União Ferroviária do Nordeste, 1922; A Vanguarda, órgão
da União Geral dos Trabalhadores de Pernambuco, 1920; O Escravo, órgão
da Federação Operária de Alagoas. 1920; Voz do Operário. Aracaju, 1920: O Operário, de Juiz de Fora. 1920; O Proletário, de
Curitiba. 1919: O Nosso
Verbo, órgão
da União Geral dos Trabalhadores, da cidade do Rio Grande. 1919: O Sindicalista, da Federação Operária do R. G. do Sul,
Porto Alegre, 1919; em São Paulo apareceram diversos no ano de 1920: O Trabalhador Gráfico,O Internacional (dos trabalhadores na indústria hoteleira), O Grito Operário (da Construção Civil), O Metalúrgico. Observemos que em São Paulo surgira em 1919, A Vanguarda, “periódico socialista”, em cujo segundo
número começou a publicar-se o Manifesto
Comunista de Marx e Engels;
mas não sei informar se continuou a sair.
Eis uma relação incompleta dos que saíram no Rio, entre 1918 e
1923: O
Gráfico (que
vinha aliás de 1915), O
Panificador, Voz Cosmopolita (da
indústria hoteleira), Renovação (quinzenário
sindicalista e comunista), O
Metalúrgico, A Voz do Sapateiro, O Alfaiate.
Devemos salientar, nessa época, o aparecimento do jornal diário Voz do Povo,
propriedade e órgão da Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, cujo
primeiro número saiu a 5 de fevereiro de 1920. Composta a mão, tipo a tipo, e
impressa numa velha almanjarra, uma dessas antigas Marinoni, já gastas e
cansadas de tanto imprimir jornais, a Voz do
Povo representava
na realidade um imenso esforço da classe operária, que pretendia ter o seu
próprio jornal, feio, mal feito, mas independente, — verdadeiro e legítimo
porta-voz das massas trabalhadoras, sustentado até às últimas pela vontade de
luta e pelo sacrifício de milhares de operários. Não me compete averiguar,
neste momento, as causas do seu fracasso, depois de 10 meses de uma luta
extremamente árdua. Na verdade, o movimento operário estava em declínio, depois
das grandes greves de 1917 a 1920, e é compreensível que em tais condições não
poderia a Voz do
Povo sobreviver
por muito tempo. Seja como for, a Voz do
Povo correspondeu
a um momento histórico muito importante, espelhando em suas colunas, de maneira
ainda informe e confusa, os mais sentidos interesses e aspirações do
proletariado, e bem assim as grandes debilidades, os erros fatais resultantes
de uma orientação política que só podia conduzir ao fracasso.
A Imprensa Comunista
1921 foi um ano de pausa forçada, de balanço das batalhas
perdidas, de revisão de métodos, de autocrítica e sobretudo de busca de novos
caminhos. A bancarrota do anarquismo na direção do movimento operário
tornara-se patente, e dos seus escombros, sairiam os materiais de construção do
partido da classe operária, estruturado segundo os ensinamentos e as
experiências de Marx, Engels, Lênin.
Com o primeiro agrupamento de operários comunistas nasceu também o
órgão de imprensa correspondente — o Movimento
Comunista, pequena
revista mensal e depois quinzenal, que se editou nesta cidade, a partir de
Janeiro de 1922 até Junho de 1923. Dois anos depois, justamente a 1º de Maio de
1925, apareceu um novo jornal, destinado a marcar o início de uma nova época na
imprensa proletária do Brasil. Já se percebe que estou me referindo à nossa
muito gloriosa A
Classe Operária. Sua
história é conhecida por todos vós, e, mais do que conhecida, vivida por mais de
um camarada presente a este ato. Por ela, em anos duros de luta contra a
reação, deram a vida alguns heroicos companheiros cujos nomes permanecerão para
sempre gravados na história das lutas populares em nossa terra. Perseguida,
batida, suprimida cem vezes, cento e uma vezes ressuscitou A
Classe Operária e não
se extinguirá jamais, porque é imortal como a própria classe que ela encarna e
representa na imprensa deste país.
Outros jornais comunistas, de maior ou menor importância, se
publicaram no Brasil entre 1925 e 1945. Poderia também citar as experiências de
jornais populares do tipo do vespertino A Nação, em 1927, e do matutino A Manhã, em
1935. Mas a hora já vai longa, e é forçoso que eu dê um salto de 10 anos para
chegar a 22 de Maio de 1945, dia histórico da Tribuna Popular, véspera de outro dia histórico, 23 de maio
de 1945, dia de festa popular, dia de encontro do povo com o seu amado líder — Luís Carlos Prestes.
Não é necessário que eu vos fale da Tribuna Popular. E o nosso jornal, o
jornal nosso de cada dia, tão necessário à nossa vida como o ar que respiramos,
a água que bebemos e o pão que comemos. Por ela estamos aqui, nesta noite fria,
com o frio a gelar-nos a epiderme, mas, dentro de nós, com a chama inextinguível
de uma dedicação que não conhece limites.
Devo terminar, mas não posso furtar-me, antes, a pelo menos
lembrar os títulos dos nossos jornais atuais, genuínos porta-vozes das massas
populares do Brasil: O
Momento, da
Bahia; Hoje, de São Paulo; O Democrata, do Ceará; Folha do Povo, do
Recife; Tribuna
do Pará, de Belém;Jornal
do Povo, da
Paraíba; O
Estado de Goiás, de
Goiânia; O
Democrata, de
Campo Grande, Mato Grosso; Jornal
do Povo, de Belo
Horizonte;Tribuna
Gaúcha, de Porto Alegre; Jornal do Povo, de Aracaju; A Voz do Povo, de Maceió; Folha Capixaba, de Vitória; Voz do Povo, Caxias do Sul. E ainda e sempre, para todo
o Brasil, a veterana A
Classe Operária.
Do relato incompleto e imperfeito, que acabo de fazer, podemos
desde logo concluir o seguinte: que a história da imprensa operária é a própria
história da classe operária, das suas lutas, dos seus sofrimentos, das suas
esperanças. Desde os primeiros periódicos, aparecidos há cerca de um século,
quase todos de vida curta e difícil, até aos nossos diários de hoje, o que
vemos palpitar em suas colunas é sempre o mesmo pensamento generoso voltado
para o futuro, para uma pátria livre e independente, em que o trabalho seja a
lei comum, a condição primeira e última do bem-estar para todos.
Nos primeiros tempos, ainda em regime de escravidão, os pequenos
periódicos refletem sentimentos elementares e obscuros. Depois, já na
República, começam a surgir, aqui e ali, os primórdios de uma afirmação
socialista, cujo eco se perde no tumultuar de vagas e incertas aspirações.
Segue-se a vaga de violências verbais e de ação caótica, durante a qual
predomina a orientação anarquista. Ao cabo da primeira guerra mundial,
concentrações operárias, já consideráveis nas principais cidades, jogam-se em
grandes ações de massa, com ímpeto poderoso, que leva o pânico às classes
dominantes; mas a direção anarquista mostrou-se incapaz, como não podia deixar
de ser, de levá-las à vitória. As derrotas de então serviram, contudo, de lição
fecunda — e uma vanguarda mais esclarecida de combatentes tomou o rumo que a
própria experiência mundial indicava — rumo ditado, pela ciência marxista. A
distância percorrida desde então pode ser medida, em termos de imprensa, pela
comparação entre o Movimento
Comunista, modesta
e magra revistinha mensal com algumas centenas de leitores, e a Tribuna Popular,
grande jornal de massas, que é hoje, sob a orientação do Senador Luiz Carlos Prestes, o baluarte
inexpugnável da democracia brasileira em marcha para a frente.