Por Waldeck
Carneiro
Os riscos de se analisar, de forma
superficial ou incompleta, o golpe de estado que as forças conservadoras e
reacionárias tentam perpetrar no Brasil, nos dias de hoje, não são pequenos.
Afinal, pode-se invocar, como razão desta tentativa de golpe, o ressentimento
dos partidos derrotados nas eleições presidenciais de 2014, que, inconformados
com a quarta derrota consecutiva, decidiram não reconhecer o resultado e
enveredaram por um terceiro turno, desde o início do segundo mandato de Dilma
Roussef. Essa análise procede, mas não explica tudo.
Também é possível atribuir a
tentativa de golpe de Estado à vingança engendrada pelo atual Presidente da
Câmara dos Deputados, quando se confirmou que os três deputados petistas no
Conselho de Ética daquela Casa não apoiariam suas manobras para se livrar da
cassação, que, de forma estarrecedora, ainda não ocorreu. Aliás, a Câmara
Federal já votou a admissibilidade do processo de impedimento de uma presidenta
sobre quem não pesa nenhuma acusação de corrupção, mas segue blindado, contra o
protesto de uma minoria de deputados, o Sr. Eduardo Cunha, que é réu em vários
processos que se arrastam no Supremo Tribunal Federal, por crimes de corrupção,
lavagem de dinheiro, entre outros. Essa análise igualmente procede, mas também não
explica tudo.
É fundamental
trazer para o centro da análise as razões mais profundas do golpe ora em curso
para entender o que ocorre hoje no Brasil. Tais razões têm a ver com os
interesses do grande capital transnacional, tal como ocorreu no contexto do
golpe civil-militar desfechado em 1º de abril de 1964. Por um lado, com os
interesses contrariados do grande capital, face à insistência de vários países
da América Latina em praticar, nos últimos doze anos, políticas igualitaristas,
que alargam direitos, promovem cidadania e incluem socialmente os mais pobres.
Esse “mau exemplo” dado por países como Argentina (na era Kirchner), Uruguai
(governo Mujica), Venezuela, Equador, Bolívia e Brasil precisava sofrer uma
interrupção. Prova disso é o documento “Uma ponte para o futuro” – já
popularizado como Uma pinguela para o passado -, que resume as
propostas de Temer para o Brasil, pautado por uma clara perspectiva de
desconstrução de direitos dos trabalhadores. Outro interesse contrariado: os
BRICS se atreveram a avançar na ideia da construção de um banco internacional
independente, confrontando os “sacrossantos” FMI e Banco Mundial, líderes da
agiotagem internacional e credores vorazes de grande parte do globo.
Por outro lado,
cabe ressaltar os interesses que o capital transnacional deseja impor: o
controle, pelas petrolíferas internacionais, das grandes reservas de petróleo
na camada do pré-sal, patrimônio inalienável do povo brasileiro. Não é
coincidência que um dos principais representantes daqueles interesses no
Brasil, o Senador tucano José Serra, tenha apresentado no Senado um Projeto que
desmonta o regime de partilha, de modo que a gestão das reservas de petróleo no
Brasil saia da órbita do Estado Brasileiro e fique sob controle privado
internacional. Afinal, a queda vertiginosa e surpreendente do preço do petróleo
no mercado internacional de commodities, que afetou drasticamente a economia
brasileira e, em especial, do estado do Rio de Janeiro, não é apenas um
fenômeno meramente econômico, mas antes tem fortes dimensões geopolíticas.
Portanto, sem considerar os
interesses do grande capital internacional e dos Estados que o representam,
situados no centro do capitalismo mundial, não será possível compreender esta
tentativa de golpe contra a ainda frágil experiência democrática brasileira.
Não terá sido a primeira vez que o capital, no intuito de fazer com que
prevaleça sua lógica, atenta contra a Democracia, a Constituição e a Soberania
Popular de um país, como faz agora na República Federativa do Brasil.
Waldeck Carneiro, deputado estadual
(PT-RJ), é professor da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFF, PhD pela Universidade de Sorbonne.
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