Telegramas revelam intenções de veto e ações dos EUA contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro com interesses de diversos agentes que ocupam ou ocuparam o poder em ambos os países
Em 23 de fevereiro de 2011, o site pragmatismo politico já denunciava ação do imperialismo dos EUA. Leia:
Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks
revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedir, dificultar e
sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas:
energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel
anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa,
a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colhido em uma
exuberante sintonia com os interesses estratégicos do Departamento de Estado
dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em relação à independência
tecnológica brasileira. Segue o artigo do jornalista Beto Almeida.
O
primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA
pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto
conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes
Cyclone-4 – de fabricação ucraniana – no Centro de Lançamentos de Alcântara ,
no Maranhão.
Veto imperial
O
telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford Sobel, enviado aos EUA em
fevereiro daquele ano, relata que os representantes ucranianos, através de sua
embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo americano revisse a
posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite
fabricado nos EUA. A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria
comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que os EUA “não quer”
nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.
Leia mais
“Queremos
lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de
uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não
resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”, diz um trecho
do telegrama.
Em
outra parte do documento, o representante americano é ainda mais explícito com
Lokomov: “Embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto
ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA)
entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento
espacial do Brasil”.
Guinada na política externa
O
Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em 2000 por Fernando
Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro após a chegada de
Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa brasileira, a mesma
que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição o parlamento brasileiro
considerou que seus termos constituíam uma “afronta à Soberania Nacional”. Pelo
documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para uso exclusivo dos EUA sem
permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da ocupação da área e da proibição
de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro nas áreas de lançamento, o tratado
previa inspeções americanas à base sem aviso prévio.
Os
telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam do veto norte-americano
ao desenvolvimento de tecnologia brasileira para foguetes, bem como indicam a
cândida esperança mantida ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja,
finalmente, implementado como pretendia o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo mandatário esforçaram-se pela
grave limitação do Programa Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas
ONGs, normalmente financiadas por programas internacionais dirigidos por
mentalidade colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto tecnológico
brasileiro para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países com capacidade
para a exploração econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites.
Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a gravíssima confissão de
sabotagem norte-americana contra o Brasil, provavelmente porque tal atitude
contraria sua linha editorial historicamente refratária aos esforços nacionais
para a conquista de independência tecnológica, em qualquer área que seja.
Especialmente naquelas em que mais desagradam as metrópoles.
Bomba! Bomba!
O
outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado pelo Wikileaks e que
também revela intenções de veto e ações contra o desenvolvimento tecnológico
brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista Veja, e fala da preocupação
gringa sobre o trabalho de um físico brasileiro, o cearense Dalton Girão Barroso, do Instituto Militar de
Engenharia, do Exército. Giráo publicou um livro com simulações por ele mesmo
desenvolvidas, que teriam decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear
dos EUA, a W87, cuja tecnologia é guardada a 7 chaves.
A
primeira suspeita revelada nos telegramas diplomáticos era de espionagem. E
também, face à precisão dos cálculos de Girão, de que haveria no Brasil um
programa nuclear secreto, contrariando, segundo a ótica dos EUA, endossada pela
revista, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, firmado pelo Brasil
em 1998, Tal como o Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA, sobre o uso da Base de
Alcântara, o TNP foi firmado por Fernando Henrique. Baseado apenas em uma
imperial desconfiança de que as fórmulas usadas pelo cientista brasileiro
poderiam ser utilizadas por terroristas , os EUA, pressionaram a Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exigiu explicações do governo
Brasil , chegando mesmo a propor o recolhimento-censura do livro “A física dos
explosivos nucleares”. Exigência considerada pelas autoridades militares
brasileiras como “intromissão indevida da AIEA em atividades acadêmicas de uma
instituição subordinada ao Exército Brasileiro”.
Como
é conhecido, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, vocalizando posição do setor
militar contrária a ingerências indevidas, opõe-se a assinatura do protocolo
adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que daria à AIEA,
controlada pelas potências nucleares, o direito de acesso irrestrito às
instalações nucleares brasileiras. Acesso que não permitem às suas próprias
instalações, mesmo sendo claro o descumprimento, há anos, de uma meta central
do TNP, que não determina apenas a não proliferação, mas também o desarmamento
nuclear dos países que estão armados, o que não está ocorrendo.
Desarmamento unilateral
A
revista publica providencial declaração do físico José Goldemberg, obviamente,
em sustentação à sua linha editorial de desarmamento unilateral e de renúncia
ao desenvolvimento tecnológico nuclear soberano, tal como vem sendo alcançado
por outros países, entre eles Israel, jamais alvo de sanções por parte da AIEA
ou da ONU, como se faz contra o Irã. Segundo Goldemberg, que já foi secretário
de ciência e tecnologia, é quase impossível que o Brasil não tenha em andamento
algum projeto que poderia ser facilmente direcionado para a produção de uma
bomba atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para reforçar a linha de vetos e
constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como mostram os telegramas divulgados
pelo Wikileaks. Por outro lado, tudo o que os EUA querem esconder do mundo é a
proposta que Mahmud Ajmadinejad , presidente do Irà, apresentou à Assembléia
Geral da ONU, para que fosse levada a debate e implementação: “Energia nuclear
para todos, armas nucleares para ninguém”. Até agora, rigorosamente sonegada à
opinião pública mundial.
Intervencionismo crescente
O
semanário também publica franca e reveladora declaração do ex-presidente
Cardoso : “Não havendo inimigos externos nuclearizados, nem o Brasil
pretendendo assumir uma política regional belicosa, para que a bomba?” Com o
tesouro energético que possui no fundo do mar, ou na biodiversidade, com os
minerais estratégicos abundantes que possui no subsolo e diante do crescimento
dos orçamentos bélicos das grandes potências, seguido do intervencionismo
imperial em várias partes do mundo, desconhecendo leis ou fronteiras, a
declaração do ex-presidente é, digamos, de um candura formidável.
São
conhecidas as sintonias entre a política externa da década anterior e a linha
editorial da grande mídia em sustentação às diretrizes emanadas pela Casa
Branca. Por isso esses pólos midiáticos do unilateralismo em processo de
desencanto e crise se encontram tão embaraçados diante da nova política externa
brasileira que adquire, a cada dia, forte dose de justeza e razoabilidade
quanto mais telegramas da diplomacia imperial como os acima mencionados são
divulgados pelo Wikileaks.
Nenhum comentário:
Postar um comentário