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quarta-feira, dezembro 18, 2024

LUCIANO HANG O CORRUPTO DÁ JANTAR E MIMOS A JUÍZES QUE O IRÃO JULGAR

 

GOVERNO BOLSONARO PRODUZIU RELATÓRIO 

Agiotagem, sonegação, contrabando: o que a Abin diz sobre Luciano Hang

Com vários processos e crimes comprovados, desembargadores de Santa Catarina que podem julgar o empresário, recebem jantar e mimos dele. É imparcial o comportamento deste judiciário?



Luciano Hang (ao fundo, de pé) oferece jantar de Natal a desembargadores e juízes de Santa Catarina em sua mansão em Brusque (SC) 

Agência produziu um documento de 15 páginas em junho de 2020 para alertar o Planalto sobre os ricos da proximidade pública de Bolsonaro com o dono da Havan

Um relatório produzido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), entregue à CPI da Covid no Senado, coloca em dúvida a lisura dos negócios do dono da Havan, Luciano Hang. O documento foi elaborado em junho de 2020 e faz um compilado das investigações e suspeitas que recaem sobre o empresário catarinense para alertar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre os riscos políticos da proximidade entre eles.

 

Alguns dos possíveis crimes apontados pelo documento são: agiotagem, contrabando, evasão de divisas e sonegação. De acordo com o documento, só na Justiça de Santa Catarina há 25 processos em aberto envolvendo o braço financeiro dos negócios de Hang.

O documento é classificado como ‘reservado’, grau mais baixo de sigilo na escala da Abin, mantendo um segredo de cinco anos sobre suas conclusões. Apesar disso, ele foi repassado a um membro da CPI da Covid e as informações divulgadas pelo portal Uol nesta terça-feira (22/6).

Detalhes

No texto, que tem 15 páginas, os investigadores traçaram um panorama histórico da carreira empresarial do dono da Havan. Foram levantados fatos desde a entrada de Hang no mundo dos negócios, quando ele tinha 21 anos, até as polêmicas recentes — como a investigação na CPI das Fake News por suspeita de integrar o chamado gabinete do ódio.

Entre os pontos mais detalhados do relatório, está uma análise dos dados contábeis da empresa produzida ainda no ano 2000 por uma estudante de economia da Universidade Federal de Santa Catarina. Na pesquisa, ela destacava que, já naquela época, o custo fixo mensal das lojas era cinco vezes maior que o faturamento, o que deveria inviabilizar os negócios.

A Abin também relatou ao presidente Bolsonaro que Hang foi investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por lavagem de dinheiro, remessa de dinheiro de origem ilegal ou duvidosa, sonegação fiscal, contrabando de importados e evasão de divisas. Na época, ele foi acusado de usar o primo Nilton Hang como ‘testa de ferro’. Os fatos datam da época do 'Escândalo do Banestado', que estourou em meados de 2003.

Influência e polêmica

Apesar da natureza sigilosa do relatório, parte das acusações é bastante conhecida pela opinião pública. O envolvimento de Hang com disparos de mensagens em massa durante as eleições de 2018, por exemplo, levou-o a ser um dos principais investigados na CPI das Fake News. Em dezembro de 2020, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal do dono da Havan para amparar a investigação sobre possíveis irregularidades cometidas por ele.

Hang também foi condenado em segunda instância pela sonegação de R$ 2,5 milhões por não recolher a contribuição patronal à previdência devida aos trabalhadores, entre outras verbas não declaradas ou não pagas.

Ainda segundo o Uol, é comum que a Abin produza esses documentos sobre figuras próximas à presidência.

Núcleo ideológico de Bolsonaro 

O dono da Havan faz parte do chamado núcleo ideológico do governo Bolsonaro, composto pelos apoiadores do presidente que se aproximaram dele por afinidades de pensamento em contrapartida à ala militar. Apesar de não ter cargo público na gestão, Hang é sabidamente influente no Planalto. Em maio de 2020, por exemplo, a ex-presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Kátia Bogéa denunciou que a própria demissão teria sido um pedido direto do catarinense depois que o instituto interditou obras de uma das lojas da rede, no Rio Grande do Sul.

E o prestígio junto ao presidente Bolsonaro não é gratuito, uma vez que Hang foi um dos principais apoiadores da campanha do político ao Planalto em 2018. Inclusive, o empresário foi investigado por coagir funcionários das lojas Havan para que votassem em Bolsonaro. Além disso, o grupo de donos de capital é usado por Bolsonaro para pressionar outros poderes e a opinião pública quando precisa de adesão a ideias impopulares. Como o caso da ‘caminhada’ feita até o Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2020.

JUÍZ QUE JANTA E ACEITA PRESENTES DE INVESTIGADO E COM PROCESSOS NÃO PODE DECIDIR OU JULGAR SOBRE O DO MESMO

empresário catarinense Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, recebeu em sua mansão em Brusque (SC) nesta semana, mais de dez juízes e desembargadores do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em um jantar de Natal.

A reportagem confirmou a presença dos seguintes membros do Poder Judiciário catarinense: desembargadores Stephan Klaus Radloff, Saul Steil, José Everaldo Silva, Tulio José Moura Pinheiro, Haidée Denise Grin, Ernani Guetten de Almeida (ex-procurador do Ministério Público de Santa Catarina), Gilberto Gomes de Oliveira, André Carvalho (ex-procurador do MP-SC) e Jairo Fernandes Gonçalves, além dos juízes Sérgio Agenor de Aragão e Leandro Passig Mendes.

Alguns dos magistrados presentes no evento julgam ou já julgaram processos envolvendo Hang ou sua rede de lojas, dando ganho de causa ao empresário.

É o caso, por exemplo, do desembargador Saul Steil, que aparece sorrindo e brindando na foto do jantar de Hang, em primeiro plano, à direita.

O desembargador do TJ-SC Saul Steil (crédito: divulgação)

Em decisão monocrática que proferiu em setembro de 2021, ele determinou que o jornal “Folha de S.Paulo” publicasse um texto a título de direito de resposta a Luciano Hang. O motivo: a publicação de reportagem que informava que o empresário teria sido alvo de um relatório elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência, a Abin.

No processo, o jornal afirmou que “o relatório da Abin foi obtido por meio de um integrante daquela agência e teve a sua veracidade corroborada por outras fontes da própria Abin, da Polícia Federal, do GSI – Gabinete de Segurança Institucional – e pelo senador Renan Calheiros, relator da CPI da Pandemia”.

Para o desembargador e comensal de Hang, porém, o fato de a Abin (então sob o comando do general Augusto Heleno) ter negado oficialmente a existência do relatório provava que se tratava de uma notícia que não poderia ter sua veracidade garantida, ainda que Renan Calheiros tivesse confirmado a existencia do relatório.

“Somado à veracidade e ao interesse público, a mídia tem o dever de evitar que o conteúdo difundido afronte os direitos da personalidade de outrem. A liberdade de informação não pode ser exercida com o intuito de difamar, injuriar ou caluniar.”

Outro que já deu vitória a Luciano Hang contra a mesma “Folha de S.Paulo” é o desembargador Jairo Fernandes Gonçalves, que figura sorridente (à esquerda, em primeiro plano) na imagem do jantar bancado pelo empresário.

O desembargador do TJ-SC Jairo Fernandes Gonçalves (crédito: reprodução)

Em abril de 2021, ele julgou procedente um recurso de Hang que buscava obter direito de resposta contra o jornal, que havia publicado reportagem sobre disparos ilegais de mensagens via WhatsApp na eleição presidencial de 2018. O título e o subtítulo da reportagem eram: “Empresas bancam disparo de mensagens anti-PT nas redes – Serviços contratados efetuam centenas de milhões de disparos no WhatsApp e ferem a lei eleitoral”.

Para o magistrado, na ocasião, houve “ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa, assim como do princípio da cooperação, preceitos fundamentais do atual Código de Processo Civil.”

Desembargador fã de Olavo de Carvalho estava entre os comensais

O desembargador do TJ-SC Stephan Klaus Radloff (crédito: divulgação)

O desembargador Stephan Klaus Radloff, que figura no fundo à esquerda na foto do jantar de Hang, erguendo sua taça para o brinde, era um fã declarado do escritor falecido Olavo de Carvalho. O magistrado frequentemente comentava as postagens nas redes sociais do ideólogo da extrema direita.

Em uma delas, em que Olavo dizia que “a putada comunista universitária” era incapaz de refutar seus argumentos sobre as contradições do socialismo, o desembargador e comensal de Hang fez coro ao escritor, enaltecendo a “exatidão de sua sentença”, como pode se ver em reprodução abaixo.

Crédito: reprodução

Já em outra postagem, Olavo de Carvalho afirmava que Sigmund Freud, pai da psicanálise, “não entendia porra nenhuma” de assuntos ligados à sexualidade. “Ele só comia a cunhada”, afirmava o escritor, o que foi reputado como verdade pelo magistrado catarinense. Veja reprodução abaixo.

Crédito: reprodução

Nas redes sociais do convidado de Hang ainda é possível ler postagens de conteúdo negacionista em relação aos métodos preventivos utilizados durante a pandemia de covid-19 e foto do desembargador utilizando farda do Exército dos Estados Unidos, além de imagens que mostram seu gosto por artigos de luxo, como bebidas e charutos importados. Veja exemplo abaixo.

Crédito: divulgação

Tribunal de Justiça de Santa Catarina não se pronuncia

No início desta manhã (17), o DCM tentou contato telefônico e enviou mensagem de e-mail para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, convidando o órgão e os desembargadores citados nesta reportagem a comentarem o episódio. As seguintes perguntas foram enviadas à assessoria de imprensa do TJ-SC:

– O TJ-SC considera correto, do ponto de vista ético, que tantos magistrados sejam recebidos em jantar oferecido por empresário que possui dezenas de processos julgados neste tribunal?

– É algo corriqueiro que magistrados deste tribunal atendam a jantares com pessoas que têm processos por eles julgados?

Até a publicação desta reportagem, não houve qualquer resposta. Caso o órgão venha a se pronunciar, o conteúdo será incluído nesta página.

Com informações do Diário do Centro do Mundo

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