JMA-Jornal
Meio Ambiente
No início de maio
do corrente ano, já me reportei a este tema. Escrevi a respeito da possível
vinda de médicos cubanos para atuarem nas regiões mais remotas e carentes deste
imenso país. Dizia, então, que a minha preocupação não era a respeito do
preparo profissional dos médicos cubanos. Aliás, em 2012, 884 pessoas de várias
partes do mundo se inscreveram para o Revalida, e apenas 77 (menos de 9%)
conseguiram a aprovação no exame. O Brasil respondeu pela grande maioria dos
inscritos, foram 560, mas apenas 7% dos candidatos foram aprovados, deixando o
Brasil na sexta colocação no ranking de índice de aprovação. Os países que
obtiveram o maior êxito neste quesito foram Venezuela (27%) e Cuba (25%), apesar
de o número absoluto de inscritos ter sido pequeno. Nenhum candidato com
nacionalidade de países da Ásia, África e América do Norte conseguiu passar na prova do
MEC.
O próximo exame para o Revalida será aplicado também para uma
pequena amostra de alunos formados no Brasil. De acordo com o Instituto de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), uma edição do exame
será aplicada para uma amostra de estudantes do sexto, portanto, do último ano
de medicina no Brasil, e funcionará como “pré-teste”. Como o índice de
reprovação do Revalida é muito alto, a intenção do governo é aplicar as provas
para os alunos brasileiros que estudam no país para testar habilidades e
competências. Porém, desconheço os critérios que serão usados para a escolha
dos alunos que participarão do exame. Mas não sou a favor de inscrições
espontâneas, pode ser uma ferramenta perigosa…
Sou da opinião de que todos os estudantes deveriam fazer o exame
para poderem exercer a profissão, assim como a OAB exige de todos os bacharéis
em Direito o exame para atuarem como advogados. Aliás, todos os cursos deveriam
aplicar um exame de todas as disciplinas estudadas, para todos os alunos, no
final dos respectivos cursos; todos os candidatos a cursos que lidam
diretamente com a vida deveriam passar por uma avaliação psicológica e teste
vocacional. O objetivo seria humanizar mais os profissionais, colaborando para
a humanização da sociedade.
O Revalida é um exame nacional, criado pelo Ministério da
Educação, que representa a porta de entrada tanto para estrangeiros quanto para
brasileiros que se formaram no exterior que desejam terreconhecido o direito de
exercerem a medicina no Brasil.
Porém, no meu parecer, o foco principal não está no Revalida, como
comentei no artigo anterior. A preocupação está na falta de infraestrutura, ou
seja, faltam hospitais e laboratórios bem equipados para atender o povo nos
rincões desta enorme nação.
Com certeza muitas pessoas dirão: não precisamos ir muito longe
para encontrar situações calamitosas nos centros de saúde. Também é verdade,
mesmo nos grandes centros urbanos vamos encontrar instalações precárias, e
dificuldades de todo tipo, quando o atendimento é pelo SUS. Realmente a
situação da saúde neste país é vergonhosa, em se tratando dos pobres que
dependem do sistema. Salvo exceções.
Evidente que o problema já vem de muito longe. Uma amiga do Rio de
Janeiro, faz pouco tempo, me relatou a realidade sofrida pelo seu irmão médico.
Ele, recém- formado, fez concurso público e passou. Foi trabalhar como
plantonista em um hospital público da capital do Rio, há mais de 30 anos.
Defrontou-se com uma realidade muito dura, desumana, pela falta de
infraestrutura, até que chegou ao seu limite: entraram dois pacientes em estado
grave, ambos precisando de cirurgia de emergência, mas só havia material capaz
de atender a um deles. Como escolher a quem operar? Ele entrou em grave crise
de consciência e optou por pedir demissão, por não se sentir capaz de fazer
este tipo de escolha. Continuou a exercer sua profissão no seu consultório,
atendendo, também, pessoas carentes, e atuando em várias frentes sociais.
A situação não mudou quase nada. Semana passada, uma pessoa muito
próxima a mim, em uma grande cidade do Estado de Santa Catarina, foi atropelada
de forma violenta por um motoqueiro que pilotava velozmente. Ela ficou muito
machucada e com muitas escoriações. Não teve fratura, mas bateu fortemente com
a cabeça no asfalto, chegando a perder momentaneamente a memória. Porém, teve
duas fraturas no tornozelo. Ficou dias internada num hospital público e não foi
atendida por nenhum médico. Com muitas dores não recebia nem medicação; a
situação obrigou sua filha a deixá-la em uma maca para sair e comprar
medicamentos fora, a fim de que pudesse ter suas dores amainadas e assim
dormisse um pouco. Vendo que não adiantava lutar, teve que levar sua mãe para
um hospital particular para poder fazer a necessária cirurgia, buscando
recursos com empréstimos, pois todos na família dependem de salário mínimo para
viver.
Evidente que a classe médica deixa muito a desejar em se tratando
de atender ao pobre. Conversei com uma amiga, que atualmente vive na Alemanha.
Ela conhece a classe médica de Santa Catarina como a palma da sua mão, e me
garantiu que tira o chapéu para 10% dos médicos deste Estado. É tão bom
encontrar um médico bom, humano! Com esses, metade dos problemas já fica
solucionada! Também conheço e reconheço estes profissionais, verdadeiramente
vocacionados a salvar vidas…
E a saúde, como vai? Vai muito bem para quem tem dinheiro e
convênios. E para os pobres, que são a quase totalidade neste país, um dos mais
desiguais do mundo, vai muito mal. E onde, ironicamente, os parlamentares são
os mais bem pagos do mundo, depois dos EUA, e ainda legislam em causa própria,
de tal forma que para eles não existem limites de gastos no que se refere a
tratamento de saúde. Pode isso? Os que deveriam servir o povo, dele se servem,
sorvendo até o último centavo que já não possui. Se paga aqui uma das mais
altas cargas tributárias do mundo, para os pobres morrerem nas filas de espera.
É a injustiça institucionalizada que clama em todo o universo.
E as manifestações nas ruas silenciaram a respeito de todos os que
ocupam cargos nos primeiros escalões dos três poderes, que recebem orçamentos
de milhões de milhões para satisfazer todas as suas necessidades, muitas
extremamente desnecessárias, diante de um dos povos mais miseráveis do planeta.
Enquanto um ministro do STF de dá o direito de tomar o avião para assistir ao
futebol no Rio de Janeiro, ou de fazer tratamento de saúde na Alemanha,
enquanto alguns parlamentares e outros de altos escalões tomam o avião da FAB
para assistir futebol e participar de festa de casamento, os pobres têm que
depender de transporte público caro, e de qualidade péssima, sofrendo todas as
agruras da vida, pelo fato de que os detentores do poder determinaram
“democraticamente” que o povão tem que dar duro, derramar o sangue na senzala para
que vida dos palacianos se mantenha com todas as mordomias existentes e por
existir. Até quando?
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