- Dilma se ausenta de reunião do PT por causa da visita do Papa
- Presidente justificou por carta à militância sua decisão de não ir ao encontro do diretório nacional
- Reunião debateu posição do partido sobre a reforma política
CRISTIANE JUNGBLUT
LUIZA DAMÉ
BRASÍLIA - O racha dentro do PT sobre quem representa o partido nas discussões da reforma política e plebiscito nos debates do Congresso tomou conta neste sábado da reunião do Diretório Nacional. Depois de um debate tenso, o PT resolveu encampar a posição do líder petista na Câmara, José Guimarães (CE) que, na véspera, divulgou nota informando que o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) não representava a bancada de 89 deputados e nem o partido na comissão especial que discute a reforma política. Para o PT, quem representa o partido é o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). Para mostrar afinidade com a presidente Dilma Rousseff — que nem foi ao encontro —, o PT manteve o discurso de que é possível realizar um plebiscito este ano e de aplicar a reforma política em 2014.
— Para nós as mudanças devem ser já para 2014. Foi isso que nós sentimos quando a população nas ruas manifestou seu desagrado com relação ao sistema político atual. Pelo menos o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais, que favorece o poder econômico e induz à corrupção, entendemos que deveria valer já para 2014. Também as listas partidárias para fortalecer a organização dos partidos — afirmou o presidente do PT, Rui Falcão.
Segundo ele, os protestos de junho, as manifestações organizadas pelo movimento sindical e o pacto proposto pela presidente aos governadores e prefeitos também foram abordados na reunião do Diretório Nacional, que durou cerca de sete horas.
— A reunião revelou uma unidade grande do partido em torno do plebiscito e que uma das questões da consulta seja a respeito de uma Constituinte exclusiva. Foi um debate muito rico sobre os acontecimentos de junho, sobre as manifestações do movimento sindical e sobre os cinco pactos que a presidente propôs — disse o presidente do PT, Rui Falcão.
Na prática, o PT reconheceu que Vaccarezza é o presidente da comissão — até porque foi escolhido pelo presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) —, mas deixou claro que ele não representa o partido. O Diretório Nacional rejeitou, por 43 a 27 votos, uma moção proposta por Joaquim Soriano, que queria afastar Vaccarrezza da comissão.A aprovação da nota de Guimarães como posição do PT foi a saída mais light, menos traumática, para o caso de Vaccarezza. Inicialmente, alguns defenderam que fosse aprovada uma moção contra ele. Vaccarezza está sendo criticado porque expressou justamente o pensamento político predominante de que uma reforma política só terá efeitos em 2018. O petista não participou do encontro.
— A bancada emitiu uma nota dizendo que as posições que o deputado firmara publicamente não representavam a opinião do PT. O deputado mandou uma nota se comprometendo com plebiscito e a coletar assinaturas em defesa do plebiscito. O diretório entendeu que a nota da bancada era suficiente para que publicamente nos posicionássemos a respeito — afirmou Falcão
O clima de tensão era visível mesmo do lado de fora da sede do PT. Na porta, um grupo de cinco manifestantes segurava cartazes contra Vaccarezza. "A minha reforma não é a do Vaccarezza. Vaccarezza não me representa", diziam os cartazes. O pequeno grupo de manifestantes chegou a gritar "Fora Vaccarezza!".
— Ele representa a reforma do PMDB — reclamavam os manifestantes.
Na chegada, o ex- presidente José Eduardo Dutra foi um dos poucos a defender Vaccarezza, afirmando que é impossível fazer plebiscito agora. Ele defendeu que seja aprovada a proposta da OAB sobre reforma política, que proíbe financiamento por empresas, por exemplo. Ao contrário do discurso do PT, Dutra disse que concorda com Vaccarezza de que não é possível realizar um plebiscito este ano.
— Plebiscito é inviável e comissão da Câmara existe desde 1995 (sem resultados). O mais viável, é fazer uma mobilização para aprovar a proposta da OAB. Esta proposta tem eleição em dois turnos, com votação primeiro na lista e depois no candidato. Esta proposta dá tempo de aprovar até outubro, para valer em 2014 — disse Dutra.
Na saída, o líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), foi quem anunciou a aprovação da carta de Guimarães como posição do Diretório. Ele disse que o PT vai apoiar todas as propostas em discussão, como a da OAB.
— O PT reafirmou no Diretório a posição de apoio ao plebiscito. E entendemos que a nota da bancada já resolvia o assunto — disse Wellington Dias.
Além da nota de Guimarães, 39 deputados divulgaram nota de apoio ao deputado Henrique Fontana (PT-RS), a quem preferiam como representante do PT. Como não foi escolhido por Henrique Alves para coordenar a comissão especial, Fontana saiu do grupo e foi substituído por Berzoini.
Ontem, no twitter, o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), saiu em defesa de Vaccarezza.
— Se Fontana fosse o coordenador, seria difícil alguém participar. O PMDB, por exemplo, não participaria — disse Eduardo Cunha.
Em tom irônico, ele lembrou que Fontana foi relator da reforma política em outra comissão, por dois anos, e não conseguiu aprovar texto algum.
Por Papa, Dilma falta em reunião
Em carta de quatro páginas dirigida ao PT, a presidente Dilma Rousseff disse aos dirigentes e à militância do partido que está "junto" com o ex-presidente Lula e continuará ouvindo as ruas, de "onde viemos". Na carta, Dilma justifica sua ausência no encontro nacional do partido, alegando que está em reuniões sobre a visita do Papa.
A presidente afirmou que as ruas pediram um novo sistema político, " mais transparente, oxigenado e mais aberto à participação popular, que só a reforma política balizada pela opinião das ruas, por meio de um plebiscito, poderia criar".
"Desde o inicio, eu ouvi. Nós ouvimos. Ouvimos as ruas, porque nós viemos das ruas. Nos formamos no cotidiano das grandes lutas do Brasil. A rua é o nosso chão, a nossa base. Mas não basta ouvir, é necessário fazer. Transformar esta extraordinária energia em realizações para todos", disse a presidente na carta, acrescentando:
"Juntos, eu, Lula e vocês, ouvindo as ruas, como sempre fizemos, continuaremos a construir um Brasil melhor. Nós apenas começamos. Afinal, o Brasil que as ruas sonham é o Brasil com que sonhamos. Um Brasil de todos, para todos e construído por todos os brasileiros".
Sobre a reforma política, Dilma disse que as manifestações exigem o aperfeiçoamento do que vem sendo feito há dez anos.
"Questionam, sobretudo, os limites e os graves problemas da nossa democracia representativa. Eles querem um novo sistema político, mais transparente, mais oxigenado e mais aberto à participação popular, que só a reforma política balizada pela opinião das ruas, por meio de um plebiscito, poderia criar", destacou.
"Fizemos o mais urgente e o mais necessário para o nosso momento histórico, mas agora somos cobrados a fazer ainda mais".
Dilma inicia a longa carta se dirigindo aos " caros dirigentes" e à "querida militância". E finaliza com um " grande e forte abraço".
Ela comentou sua ausência: "Infelizmente não poderei estar presente nesse importante encontro. Não poderei estar perto de vocês, como desejo. A vinda do papa Francisco, que estão tão próxima, me impõe deveres aos quais eu não posso faltar. O Encontro Da Juventude Católica, que congregará milhares de jovens de todo o mudo, demanda organização e segurança e compromisso de todo o governo".
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