Um partido fundado ao final da ditadura militar e que soube canalizar todo um caldo de cultura pró-democracia, tornando-se o maior partido da esquerda brasileira, não chegou a atual situação sem ter cometido uma série de erros até seu isolamento atual.
Não será a legenda que faz linha auxiliar, PC do B, que terá condições de jogar a boia salvadora a um partido que um dia fez "A esperança vencer o Medo".
A curva para o rumo atual da legenda, começa, segundo os seus críticos, nos anos de 1990 quando o seu grupo majoritário denominado Articulação (Atual Construindo um Novo Brasil - CNB), transformou a legenda em máquina interna eleitoral, com a substituição de Convenções e Congressos de voto por temática com crachá e o transformando no Processo Eleitoral Direto (PED), onde o filiado vota em cédulas e é carreado como nas eleições gerais, para ter uma maioria hegemônica a CNB utilizou todos os recursos de uma eleição a cargos proporcionais/majoritários (Inclusive Financeiro), expulsou grupos internos considerados muito "puristas" como a convergência socialista (PSTU) e causa operária (PCO) e se aproximou de partidos ao centro como PSB, PMDB e em alguns lugares com o PSDB.
Montada a máquina partidária que viabilizou as suas movimentações com vistas eleitorais, o próximo passo foi ampliar o arco de alianças com todos os setores partidários que nos Estados fortalecesse seu projeto central de eleger Lula presidente, bem como seu projeto de poder.
Paralelo a esta montagem da máquina eleitoral, o PT se posicionava contrário a qualquer agenda, mesmo as mais palatáveis a sua militância, se esta viesse do partido que disputava o centro do poder, o PSDB.
Com a aliança com as oligarquias nos Estados e Municípios e, sendo uma aposta nova no espectro político nacional, o PT foi abrindo mão de seus princípios e valores programáticos fundadores e ficando refém de um pragmatismo eleitoral sem limites.
Mandatos legislativos, executivos nas esferas municipal e estadual foram sendo conquistados com seus aliados e alimentando a máquina que vinha sendo azeitada para a grande conquista final, a Presidência da República.
Mas, com o trator montado contra os críticos internos e adversários externos, viciando sua base e a terceirizando, deixando esta de ser militante e tornando-se funcionária, as sementes do estágio atual estavam sendo regadas.
Uma aristocracia partidária se formou, onde os chamados "capas pretas" determinavam os rumos e que o alvo a ser retirado no caminho, mesmo que ideologicamente fossem coerentes e sérios militantes por um país mais justo, deveriam ser abatidos e condenados a invisibilidade.
Antigos adversários se tornaram amigos de banhos de ofurô e sócios do poder. Os movimentos sociais que eram uma aposta de sustentação em caso de uma reação conservadora, foram instrumentalizados e burocratizados, tornando-se meras correias de transmissão das vontades da aristocracia partidária.
Enquanto isto, os que não concordaram com os novos rumos, saíram ou foram expulsos e deram segmento as suas bandeiras e ideais.
A chegada do PT e de Lula a Presidência da República, para além destes engendramentos da legenda, foi fruto de um momento mundial favorável e da evolução política da classe trabalhadora que através de outros aparelhos ideológicos foi aumentando sua consciência de classe.
Ao chegar a Presidência da República o PT, ao abandonar sua agenda política, se fiar nas alianças oligarcas e parlamentares,não trabalhar pela organização de base e tomados de grande arrogância, passaram a ignorar os sinais emitidos sobre as fragilidades de sustentação política de longa duração em um país crivado pelo pensamento conservador.
Muitos militantes e organizações da esquerda continuaram a serem desqualificadas pelo partido da presidência e parte considerável das direções do PT se acharam os novos "Donos do Poder", esquecendo que o capitalismo mundial e os burgueses são os verdadeiros donos deste.
Encerrou-se no domingo dia dezessete de abril de dois mil e dezesseis um ciclo, com Ele fechasse um modo de fazer-se política à esquerda. A arrogância, as alianças nada programáticas, a ocupação de espaços institucionais para satisfazer egos e interesses financeiros, as cotoveladas e tentativas de condenar à invisibilidade os que pensam diferente, mesmo sendo do campo de esquerda e por fim, o erro de apostar na conciliação de classe está sepultado.
A ofensiva conservadora e a sua máquina midiática, colocam novamente o campo democrático popular no ambiente de onde não deveria ter saído, o trabalho de base, com formação, formulação, síntese e respeito a divergência e ao pensar diferente.
Que o PT reconheça seus erros, se reinvente e esteja convencido que a sua aliança estratégica deve ser com a classe trabalhadora.
Nós que defendemos a democracia, sem sermos do PT ou eleitores de Dilma, reconhecemos a importância histórica da legenda. Contudo, não seremos claque de erros que não são reconhecidos nem corrigidos, mas, parceiros nas lutas que venham avançar o processo político do país.
Se todo processo político é uma etapa a ser superada, a etapa agora é de aglutinar as forças do campo democrático popular para o embate que iremos travar contra agenda conservadora, ironicamente chamada "Ponte para o Futuro".
Mãos a Obra!
Samuel Maia
Mestre em História Social
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